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Graffic Noire Jersey | Scorsese, Tarantino e uma boa trilha sonora em quadrinhos

Uma leitura que passeia por influências de filmes de máfia de Martin Scorsese e os tiroteios violentos, tensos e uns tantos pastelões de Tarantino. Essa seria uma boa explicação para a Graffic Noire Jersey, HQ do estreante Gerson de Lima. Publicada esse ano via financiamento coletivo, a trama apresenta um jogo de assassinos nos melhores estilos dos filmes dos já citados cineastas, com reviravoltas, flashbacks, bom texto, excelente músicas (sim, isso mesmo) e muita ação.

A trama começa um dia após de um trabalho barulhento feito por Jack, nosso protagonista. Jack é um assassino profissional, à serviço de uma grande organização chamada de AGÊNCIA e Frank é o contato que lhe consegue os seus alvos. O encontro desses dois começa a destrinchar o que aconteceu no trabalho de Jack, que era para ser simples, e acabou se tornando um grande circo. O alvo era o poderoso Julian, um dos maiores matadores do mundo e um dos líderes do sindicato dos assassinos. E esse alvo, para Jack, é perfeito. Só que uma série de coisas acontecem no lugar e acaba até com um restaurante destruído. E Frank, a mando da AGÊNCIA, quer saber o que aconteceu.

A arte de Graffic Noire Jersey apresenta personagens que planam entre o realismo e o caricato. Mas o que realmente se destaca são os enquadramentos. Eles são praticamente personagens na história. Mas o casamento perfeito acontece entre os enquadramentos e a narrativa visual. As cenas de ação onde se misturam tiroteios, brigas e até lutas de espadas, são cinematográficas e não ficam cansativas e nem confusas para o leitor. Os detalhes como nomes dos personagens ou letras de músicas, como trilhas sonoras, em onomatopeias funcionam e não deixam perdido ao longo da história.

A trama em alguns momentos soa como um clichê, mas ela é funcional e prende. Apesar de ser um tema muitas vezes recorrente como uma organização de assassinos, sempre existem novas formas de serem contadas e criar o interesse de quem for consumir o produto. Gerson transforma Jack em um personagem destemido e sem muita complexidade. Sendo até mesmo simples demais, mas de forma proposital. Pois percebemos que Jack é um cara que sabe onde está e quer ficar ali. Assim como Julian que flerta entre o onipresente e o humano, como uma verdadeira estrela do rock intocável, mas que de repente está no meio do supermercado vivendo coisas normais de pessoas normais. E assim como Jack, Julian sabe de sua “supremacia de lenda-viva” e mantém a sua áurea poderosa.

Graffic Noire Jersey tem todo um ar, como eu disse antes, de grandes filmes de Scorsese e Tarantino misturados com o cinema chinês. E ela transmite um ar meio que noir e sua trilha sonora, que contém Johnny Cash, Bob Dylan, Pixies, Queen entre outros. contribui muito. Aconselho a lerem a HQ ouvindo a trilha no Spotify, faz a ambientação ficar muito mais agradável.

No balanço geral, Graffic Noire Jersey é uma das boas surpresas do ano no quadrinho independente nacional. É uma bela estreia do Gerson de Lima, que estará na CCXP 2019 com a continuação Graffic Noire Memphis.

Graffic Noire Jersey está sendo publicado pelo selo editorial Meia-Noite e para adquirir o seu exemplar, você pode entrar em contato direto com o Gerson de Lima em seu perfil no Twitter: @theimmigrantart.

[ATUALIZAÇÃO] Graffic Noire Jersey está sendo publicado pela Editora Skript em formato 25,8 x 10.8 cm e 80 páginas.

 

Por Ricardo Ramos

Gibizeiro, escritor, jogador de games, cervejeiro, rockêro e pai da Melissa.

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