Seguindo os planos da Disney de transformar suas animações clássicas em live-action, Mulan foi mais um blockbuster afetado este ano pela pandemia de covid-19: semanas antes de seu lançamento nos cinemas, a quarentena se iniciou e sua estreia foi cancelada. Por conta disso, a Disney decidiu lançar o longa no seu serviço de streaming por 30 dólares – o que gerou algumas polêmicas. Como o aplicativo não estava disponível aqui no Brasil, o título só chegou agora dia 4 de Dezembro. Mas será que foi uma boa decisão lançar um filme desse porte na Disney Plus e não nos cinemas?
Mulan conta a mesma história vista na animação de 1998, entretanto com algumas diferenças: no longa, não há a presença de Mushu e nem canções durante sua exibição. Tais decisões foram tomadas para que o título se assemelhe com a lenda chinesa e agrade tanto o público ocidental como o oriental, que criticou duramente a forma caricata que a balada foi retratada no desenho. Mesmo com a tentativa de se aproximar do público chinês, Mulan ainda apresenta uma visão hollywoodiana em sua exibição e isso faz com que o filme tente agradar os dois lados e não consiga agradar nenhum. O principal ponto negativo do longa está em seu roteiro, que não consegue sustentar a trama e falha em desenvolver diversos aspectos do título.
Começando pela vilã, a bruxa Xianniang apresenta uma subtrama extremamente mal desenvolvida que faz com que o seu plot no terceiro ato não tenha nenhum valor para o telespectador. Sua motivação não se sustenta em nenhum momento, fazendo com que seu papel fique restrito apenas a ser uma antagonista para que a protagonista possa enfrentar eventualmente. Não só a vilã como também Bori-Khan, o vilão principal, se torna limitado a apenas isso. Além disso, todos os outros personagens secundários também são mal aproveitados no decorrer do filme apresentando pouco ou quase nenhum desenvolvimento em suas subtramas, fazendo com que não haja simpatia por eles.
Liu Yifei não consegue sustentar bem o peso da protagonista, fazendo com que a personagem não tenha o carisma necessário para que o telespectador sinta seu peso dramático – ela apenas está lá para fazer com que a história progrida. Entretanto, a atriz merece destaque por ter dispensado os dublês em todas as cenas de ação realizadas.
O roteiro falha também ao transformar Mulan em uma pessoa com poderes. No filme a personagem apresenta uma força interior denominada ”chi”, sendo assim, a protagonista já nasce com suas habilidades e não progride elas com treinamento assim como na animação. Em tese, é interessante pois durante a exibição observamos que a protagonista cresce ouvindo o discurso que ela não deve usar seus poderes até que finalmente toma coragem para quebrar esta corrente e se tornar independente para seguir seu destino – mas, por outro lado, isso ajuda na falta de desenvolvimento da personagem e não vemos tanta transformação no decorrer da trama.
Por fim os efeitos especiais são nitidamente ruins em alguns momentos e isso acaba sendo injustificável, tendo em vista o alto custo da produção – não é difícil de ver, em algumas cenas, o fundo em cgi. Além disso, a montagem do longa nas cenas de batalha (principalmente na luta final do terceiro ato) apresenta diversos cortes e acaba ridicularizando completamente a sequência.
Mas o longa não é completamente ruim: seus figurinos são bem feitos, suas cenas de ação são épicas e sua fotografia é espetacular, dignos de serem vistos na tela grande do cinema. Infelizmente, com a pandemia, o título foi lançado diretamente na plataforma de streaming da Disney. Por fim o longa deve ser parabenizado também por se diferenciar ao máximo das outras adaptações live-action da empresa, procurando uma identidade própria ao não ser uma cópia exata da animação original.
Então, é bom?
A adaptação live action de Mulan toma diversas decisões erradas no decorrer da sua execução. Graças ao nítido problema estrutural em seu roteiro, o longa apresenta vilões que não passam nenhuma ameaça, personagens que passam batidos, uma protagonista que não possui nenhum carisma fazendo com que o público não consiga se apegar com a mesma e uma péssima montagem, principalmente nas cenas de batalha e no terceiro arco do título. O objetivo do filme não é ser igual ao desenho, mas sim procurar um equilíbrio entre o original e a história da heroína, de forma que agrade tanto o mercado ocidental como o oriental – este que, por sua vez, problematizou a animação da Disney lançada em 1998. Entretanto, não agradou.
De qualquer forma, a experiência poderia ter sido um pouco melhor caso vista no cinema – afinal é inegável que as batalhas presentes no filme são épicas. Infelizmente o roteiro mal construído e a pandemia atual da Covid-19 ajudaram a sabotar o filme.
Nota: 2/5