V/H/S consolidou-se como uma saga de terror que oferece aos seus criadores total liberdade criativa por se tratar de uma antologia, presenteando os fãs com sete filmes (além de dois spin-offs) que oscilam entre segmentos de qualidade impressionante e outros tão vergonhosos que nem deveriam ter saído do papel. O que começou como uma produção de baixo orçamento, rapidamente escalou para obras mais ambiciosas, com cineastas renomados do mainstream de horror se envolvendo na franquia e trazendo novas visões e ideias.
Com o passar dos anos, a franquia foi evoluindo e, em 2024, a Shudder lançou V/H/S/Beyond, a nona produção dessa mitologia rica, que não apenas veio para somar, mas também com a pretensão de ser o melhor filme da série; um objetivo que, sem dúvida, foi alcançado com maestria.
O grande diferencial de Beyond não é apenas o orçamento maior ou os nomes por trás das câmeras, mas a capacidade de resgatar a essência visceral do terror que fez a franquia ganhar notoriedade, misturando-se com ficção. Cada segmento não só busca provocar medo, mas também explorar novos limites do gênero, entregando uma experiência que, mesmo para os mais veteranos fãs de horror, consegue surpreender.
V/H/S/Beyond conta com seis novas fitas horripilantes, colocando o terror na vanguarda de uma paisagem infernal inspirada na ficção científica.
Inspirando-se nas artes de Oleg Vdovenko e até trazendo um “sucessor” espiritual de Tusk: A Transformação, V/H/S/Beyond oferece aos seus diretores e roteiristas um nível mais evidente de intimidade em comparação aos filmes anteriores da série. Isso ocorre porque a produção escolheu seguir um caminho mais coeso, focando em uma abordagem única e convidando cineastas experientes na ficção e no terror para dar vida a suas visões perturbadoras.
Como em qualquer antologia, alguns segmentos irão ressoar mais com certos espectadores do que com outros. Contudo, a Shudder e o Bloody Disgusting conseguiram a rara façanha de criar um longa-metragem onde todas as fitas mantêm um padrão de qualidade consistente. Cada história vai direto ao ponto, sem enrolação, e entrega exatamente o que se propôs desde o início: uma experiência aterrorizante, com atmosfera densa e história criativas.
O grande trunfo de V/H/S/Beyond está em sua capacidade de equilibrar o experimentalismo com o tradicional. Mesmo trazendo elementos inovadores para a saga, como temas mais introspectivos e camadas de comédia, o filme não perde o impacto visual e visceral que os fãs esperam. Cada segmento se encaixa perfeitamente no contexto da antologia, criando uma narrativa que, embora fragmentada, parece coesa e bem amarrada.
A grande inovação de V/H/S/Beyond reside na sua capacidade de pegar temas já amplamente explorados, como robôs e o conceito clássico de Frankenstein, e transformá-los em algo completamente imprevisível dentro do gênero de horror. O filme subverte as expectativas do público ao apresentar histórias que, à primeira vista, parecem seguir fórmulas conhecidas, mas logo se desviam para direções surpreendentes. Essa habilidade de impactar o espectador, mesmo em contextos familiares, é um dos pontos fortes da produção, intensificando a tensão e mantendo quem assiste sempre em estado de apreensão, sem jamais antecipar o que virá a seguir.
Além disso, a narrativa central, desenvolvida em formato de documentário, confere ao filme uma sensação de proximidade. Ao emular produções mais comuns em grandes estúdios, V/H/S/Beyond cria uma conexão imediata com o público, mas rapidamente desfaz essa segurança ao inserir elementos desconcertantes e sobrenaturais que desviam a trama de qualquer previsibilidade. Essa combinação entre o familiar e o perturbador torna o filme uma experiência singular, em que o espectador se sente constantemente desafiado, incapaz de adivinhar os próximos acontecimentos.