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O Grande Gatsby de Baz Luhrmann: exuberância visual e tragédia antemporal

Escrito por Daniel Estorari

O Grande Gatsby (2013), dirigido por Baz Luhrmann, é uma adaptação visualmente deslumbrante e exagerada da icônica obra de F. Scott Fitzgerald. A extravagância da direção de Luhrmann, marcada por sua assinatura carnavalesca, encontra um casamento perfeito com a proposta original do romance, destacando a opulência de uma Nova York que fervilhava com festas luxuosas e sonhos impossíveis. A energia frenética e excessiva que o cineasta imprime nas grandes festas de Jay Gatsby reflete de forma vívida a era do jazz e os excessos da sociedade americana na década de 1920, oferecendo ao público uma experiência visual impactante e envolvente.

Em um filme que transborda exageros, seja pela trilha sonora anacrônica ou pelo visual quase surreal, Luhrmann consegue capturar a essência das celebrações extravagantes de Gatsby, fazendo da obra um espetáculo visual que seduz tanto quanto choca. As luzes ofuscantes, os cenários grandiosos e a opulência exagerada transportam o público para uma Nova York emergente, onde riqueza e status eram o centro das atenções. Essa abordagem vívida não só enriquece a narrativa, mas também eleva o tom teatral da história, trazendo à tona o caráter ilusório do mundo que Gatsby criou ao seu redor.

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Nick Carraway (Tobey Maguire) tinha um grande fascínio por seu vizinho, o misterioso Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio). Após ser convidado pelo milionário para uma festa incrível, o relacionamento de ambos torna-se uma forte amizade. Quando Nick descobre que seu amigo tem uma antiga paixão por sua prima Daisy Buchanan (Carey Mulligan), ele resolve reaproximar os dois, esquecendo o fato dela ser casada com seu velho amigo dos tempos de faculdade, o também endinheirado Tom Buchanan (Joel Edgerton). Agora, o conflito está armado e as consequências serão trágicas.

O fascínio de Nick Garraway por Jay Gatsby é um dos pilares mais intrigantes da narrativa. Nick, interpretado por Tobey Maguire, se vê irresistivelmente atraído pela figura misteriosa de Gatsby, um homem cuja vida de festas luxuosas oculta segredos profundos. À medida que o jovem narrador mergulha na vida de Gatsby, a busca por conhecer o verdadeiro motivo por trás das festas de arromba revela camadas inesperadas. Diferente do que se poderia esperar de um melodrama convencional, a motivação por trás das festas não se limita à busca de poder ou fama. O desejo de Gatsby por reencontrar sua amada Daisy Buchanan, e o sonho de recriar um passado idealizado, traz uma profundidade emocional inesperada para a história.

Essa revelação sobre as festas de Gatsby, ao invés de soar clichê, adiciona complexidade ao personagem-título, vivido por Leonardo DiCaprio com uma combinação perfeita de charme, mistério e vulnerabilidade. Gatsby, ao invés de ser apenas mais um magnata festeiro, é um homem trágico, obcecado por um ideal inatingível. Suas festas, repletas de brilho e grandiosidade, são apenas uma fachada para uma dor profunda e um desejo impossível de realizar. Esse contraste entre a exuberância externa e o sofrimento interno faz de Gatsby um personagem inesquecível, e a relação entre ele e Nick Garraway ganha nuances emocionais ricas que afastam a trama dos padrões previsíveis.

A interação entre Nick e Gatsby não só revela o lado humano por trás da fachada glamorosa do anfitrião, mas também coloca Nick em um dilema moral. Ao descobrir o real motivo por trás das festas, Nick se torna mais do que um mero espectador; ele passa a ser um confidente, alguém que compreende a tragédia por trás da luxúria. O filme explora essa dualidade de forma intrigante, permitindo que o público veja o quanto Gatsby, no fundo, é um homem solitário, preso a um passado inalcançável. O roteiro, nesse sentido, é bem-sucedido ao mostrar como os sentimentos e motivações dos personagens fogem dos estereótipos, trazendo frescor à história.

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Apesar de Luhrmann conduzir com maestria a estética exagerada e teatral do filme, o uso excessivo de CGI em certas sequências compromete o impacto visual da obra. Há momentos em que o apelo estético, tão bem manejado em muitas cenas, é quebrado pela artificialidade dos efeitos digitais, afastando o espectador da sensação de imersão total. Em festas que já eram naturalmente grandiosas e cenas de paisagens urbanas que poderiam ser impressionantes por si só, a dependência excessiva de CGI cria uma barreira entre o público e o mundo que o filme tenta apresentar.

Em vez de recorrer a cenários práticos ou efeitos mais sutis, o filme acaba se perdendo em um excesso visual que prejudica o seu ritmo em alguns momentos. A extravagância estilística de Luhrmann, que é uma de suas marcas registradas, poderia ter sido ainda mais impactante se o diretor tivesse optado por elementos palpáveis em vez de depender tanto de tecnologia. Isso não chega a ofuscar a grandiosidade do filme como um todo, mas certamente há momentos em que o CGI desnecessário tira parte da mágica e da autenticidade que poderiam ter sido alcançadas com uma abordagem mais contida.

THE GREAT GATSBY (2013) movie review – Splatter: on FILM

No fim, O Grande Gatsby de Baz Luhrmann é uma obra visualmente estonteante e emocionalmente poderosa, que captura com precisão a essência da sociedade americana dos anos 1920. O exagero estilístico de Luhrmann, embora às vezes prejudicado pelo excesso de CGI, entrega uma adaptação moderna e vibrante de um clássico literário, trazendo nova vida a uma história que, mesmo quase um século após sua publicação, continua a fascinar. Com performances marcantes e uma direção ousada, o filme se destaca como a melhor versão cinematográfica da obra de Fitzgerald, proporcionando ao público uma experiência memorável e única.

NOTA: 4/5

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Sobre o Autor

Daniel Estorari

With great powers...

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