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Crítica | Ghost in the Shell: Vigilante do Amanhã

Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell, talvez uma das transposições para live-action mais aguardadas dessa temporada de blockbusters, chega aos cinemas com a difícil missão de melhorar a imagem das adaptações orientais no ocidente, visto que nunca tivemos a experiência de presenciar obras derivadas de mangás e animes que fossem bem vistas aos olhos do público, principalmente aos fãs dos materiais originais.

Na animação de 1995, a mente e a alma de um ser original brilhante são extraídas, preservadas e realojadas em um novo corpo, elegantemente desenvolvido, tecnologicamente avançado, aprimorando suas habilidades originais com algum custo para sua identidade. Esta também é a premissa do mangá criado por Masamune Shirow em 1989, utilizado como conceito na animação, que sempre estará marcada como uma referência à Matrix, mas que também é uma descrição suficientemente adequada para a adaptação de 2017 dirigida por Rupert Sanders, fator que já provoca um ponto positivo para o live-action.

Esteticamente o filme faz jus aos seus antecessores animados, principalmente fazendo grandes referências ao longa dirigido por Mamoru Oshii (que até prestou consultoria) e também à série Stand Alone Complex, que trabalha muito em cima do conceito de quem é Motoko Kusanagi.

A questão visual é assustadoramente deslumbrante. Ver a cidade de New Port City, que parece mais uma Tóquio que bebeu de conceitos de Blade Runner, Akira e Cowboy Bebop (menos suja) traça paralelos palpáveis para admiradores de bons sci-fi. Há uma poluição visual espantosa, porém nas cenas que se passam a céu aberto durante o dia, como a memorável luta na poça d’água, você percebe o quanto a película é fiel à estética da obra original, apesar de exageros, principalmente as famosas câmeras lentas nas sequências de ação.

O roteiro sempre foi o ponto mais temido deste filme, pois no visual as produções hollywoodianas quase nunca decepcionam, e o que vemos na película são insights da complexidade da obra original. Fazer uma união de conceitos da animação de 1995 e também da série Stand Alone Complex sempre foi um dos temores deste longa, pois Ghost in the Shell é uma obra que ao mesmo tempo consegue ser algo empolgante e contemplativo. Nós seguimos a luta pessoal de Major com o questionamento sobre sua identidade ao mesmo tempo que desvendamos um mistério com a Seção 9.

De início, a narrativa é bastante desajeitada pois há muito diálogos e também uma necessidade de explicações de como funciona tal mundo corporativista, exposição feita principalmente para aqueles que nunca tiveram contato com as animações ou com o mangá, afinal este é um blockbuster e ele deve funcionar também para quem não conhece tais referências.  Apesar de seu começo torto, a adaptação do roteiro funciona, criando uma certa simetria na linha narrativa e desenvolvendo algo aceitável ao longo das quase duas horas restantes.

A maneira como vemos a perspectiva de Major (Scarlett Johansson) é feita de forma crescente, enquanto também move a história para a frente e colabora com a visibilidade da Seção 9 trabalhando como uma unidade, junto do competente Batou (Pilou Asbaek)O grande vilão da trama, Kuze (Michael Pitt), consegue entregar um personagem com certa desenvoltura e muita profundidade para o seu tempo de tela.

Entre os pontos fracos do longa, muitos estão na questão corporativa da trama, principalmente com relação ao CEO da Hanka, que soa como um personagem muito genérico. A atuação da Scarlett Johansson lembra muito uma junção de seus últimos trabalhos, como uma especie de Viúva Negra mesclada com Lucy, o que faz parecer como se ela estivesse num lugar comum.

Outro ponto que não cria uma identidade para o filme é a ausência da trilha sonora clássica que ficou marcada na animação. O filme consegue até fazer algumas referências às composições de Kenji Kawaii, mas é algo que infelizmente passa despercebido e a trilha como um todo não soa tão memorável.

Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell consegue ser um ponto fora da curva de algo que tem a capacidade de ser maior e mais profundo. Porém, dado o lugar comum em que os blockbusters de Hollywood sempre se repetem, vemos ao menos algum vislumbre de esperança no futuro para tal tipo de entretenimento, e se existe uma ideia para o desenvolvimento de continuações, é bem provável que o lado mais questionador e reflexivo da franquia ganhe ainda mais destaque. Não decepciona, porém poderia ser algo além.