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Projeto Manhattan | O real e o imaginário de mãos dadas

Quando você começa a ler o Projeto Manhattan, pode não reparar, pode ignorar, ou simplesmente, pode não saber que está tendo uma aula de história, ou algo perto disso.

O escritor Jonathan Hickman deita o leitor em uma rede informações reais e nos embala para relaxarmos e curtirmos toda a “licença poética” que a obra apresenta. Com personagens que realmente existiram, sendo que alguns deles nunca se encontraram em vida, o autor molda a divisão do governo americano e apresenta histórias que vão desde combate ao Nazismo, Kamikazes do Japão Feudal, inteligências artificiais, portais de teletransportesrobôs soviéticos e extraterrestres. E incrivelmente tudo acaba fazendo muito sentido.

Antes de tudo, estimado e amigo leitor vigilante, você deve saber que o Projeto Manhattan realmente existiu. O intuito do governo do presidente Franklin D. Roosevelt era que a organização, que no começo se chamava Distrito Manhattan, construísse a primeira Bomba Atômica. E isso aconteceu. O ponto que Hickman brinca muito bem é que: e se a Bomba Atômica foi só uma fachada para uma coisa maior? Seguindo essa premissa, o caldo na panela começa a engrossar.

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Em uma incrível mistura entre realidade e imaginário, Hickman, nos apresenta os Torii (aqueles arcos/portões vermelhos típicos no Japão) que são portais mágicos que podem teletransportar pessoas ou até exércitos inteiros, para qualquer lugar do planeta ou fora dele. A fonte de poder dos portais é a força mental de monges budistas. A história se encontra logo após o final da Segunda Guerra Mundial, mas constantemente somos levados a flashbacks de antes ou durante o conflito para a melhor compreensão da narrativa em si. E essas “viagens” ocorrem muitas vezes na mesma página de forma ordenada e de fácil entendimento.

O primeiro número começa quando o físico Robert Oppenheimer, um dos inventores da Bomba H, é recrutado pelo General Leslie Groves (duas figuras que existiram de verdade) para ingressar no Projeto Manhattan. Logo de cara a mistura de ficção e realidade surge, pois sabemos de um irmão gêmeo de Oppenheimer que possui tendências comunistas e hábitos estranhos (não vamos falar para não soltar spoiler). Também temos na equipe Albert Einstein que é taxado como gênio-esquisitão-beberrão, o alemão Werner Von Braun, que na vida real teve um grave problema no braço esquerdo e na HQ tem o mesmo membro mecanizado, Harry Daghlian que morreu depois de sofrer uma irradiação tornou-se uma espécie de “poeira nuclear”, Richard Feynman, Enrico Fermi, entre outros. Todos com suas peculiaridades que tiveram na vida real, e que se transformaram em características criadas pelo escritor. Um grande exemplo é a solução incrível pós-morte que ele dá para o presidente Roosevelt.

O jogo de cores brinca representando passado/presente, real/imaginário ou simplesmente comunismo/capitalismo.

A narrativa de Hickman não esconde muito os spoilers, e sempre entrega seja logo de cara ou na mesma edição alguma revelação estrondosa. O que poderia tirar atenção do leitor por já ter sido entregue de bandeja, acaba atiçando a curiosidade para continuar a leitura. E essa visão meio “malucada” é materializada com os desenhos de Nick Pitarra, que antes do Projeto Manhattan, era um artista desconhecido do grande público, mas que já tinha trabalhado com Hickman antes. A arte de Pitarra meio cartunesca, meio crua, impressiona e faz um casamento perfeito com o que a história propõe. Os devaneios de alguns personagens, como as cenas de violência (que não são poucas) e as cenas de ação (que também não são poucas) lembram em alguns momentos os traços, em devidas proporções, de Simon Bisley.

Pode esperar muita violência e sangue nas edições

Contudo, o roteiro é o ponto forte de Projeto Manhattan. Jonathan Hickman passa a sensação de que apesar de vários eventos acontecendo, há alguma coisa misteriosa ao fundo, um perigo maior para ser combatido. Algumas pontas às vezes são deixadas soltas em diversos momentos das HQ’s, mas que no futuro elas reaparecem e causam um grande estrago, ou simplesmente acabam se tornando um caminho para outra história. Por manter um mistério e envolver seus personagens tão magistralmente, o leitor fica grudado querendo saber qual o rumo vai tomar. E ao saber que aquelas pessoas realmente existiram, algumas pessoas (como eu por exemplo) acabam pesquisando pelas figuras históricas.

A obra é leitura obrigatória para quem curte quadrinhos e gosta de uma boa produção. O roteiro de Jonathan Hickman envolve, os desenhos de Nick Pitarra são bastante funcionais na história e as cores de Jordie Bellaire são a cereja do bolo. Projeto Manhattan é publicado nos EUA pela Image Comics, e aqui no Brasil é distribuído pela Devir, que lançou o quarto volume recentemente.

Dentro da proposta da HQ, o título original The Manhattan Projects (Os Projetos Manhattan) faz mais sentido devido as diversas equipes trabalhando ao mesmo tempo em diferentes projetos. Aqui no Brasil, a série foi traduzida como Projeto Manhattan.

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No site da editora você encontra todos os volumes pelo preço de R$ 49,00, no formato 17 x 26 cm, com 152 páginas coloridas em papel couchê em um acabamento em brochura e laminação brilhante. Você também pode adquirir as edições clicando no banner da Amazon logo abaixo.

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Por Ricardo Ramos

Gibizeiro, escritor, jogador de games, cervejeiro, rockêro e pai da Melissa.

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