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Deslocamento: Um diário de viagem, vida e medo da morte

Ao decidir acompanhar seus avós em um cruzeiro para o Caribe, Lucy Knisley se depara com as dificuldades, físicas e mentais, da convivência com idosos a quem ela tem tanto apego emocional, e através de seu quadrinho autobiográfico Deslocamento: Um diário de viagem, publicado pela Editora Nemo, a autora narrou os sete dias desta longa, complicada e reveladora viagem.

Nascida em Nova York, vivendo em Chicago e superando o término de um relacionamento, Lucy Knisley decide acompanhar seus avós, Phyllis e Allen, no cruzeiro de sete dias para o Caribe. Artista formada na School of the Art Institute of Chicago e no Center for Cartoon Studies, Deslocamento não é sua primeira obra publicada, porém marca sua ótima estreia no Brasil.

Com uma narrativa que quase sempre se resume em páginas completas com imagens pintadas, narrando sentimentos ou acontecimentos, Deslocamento é uma história cheia de sinceridade. Ao contar seus problemas pessoais e familiares com franqueza e bom humor, Knisley estreita uma proximidade com o leitor, especialmente com aqueles que convivem com pessoas idosas e sabem pelo que a autora está passando.

Sua arte é simples, com linhas claras e belas cores, e sua narrativa é fluida em todas as páginas, onde os olhos do leitor deslizam pelas imagens e balões de fala com naturalidade. O choque entre as duas gerações também gera desconforto, especialmente quando analisado em comparação com a visão de outras pessoas, que fazem julgamentos sobre as dificuldades pelas quais os idosos passam ao longo da viagem, e Lucy aprende mais sobre o passado de seus avós e sobre o valor da vida como um todo.

Apesar de curta, Deslocamento é uma história sobre aprendizagem. Ao submeter-se a esta difícil tarefa, a autora – que passa seu tempo livre lendo as histórias de soldado do seu avô, enfrentando casos de vida ou morte constantemente – consegue entender mais sobre si mesma, sobre o futuro e sobre o amor ao próximo, especialmente dando valor às pessoas amadas, sempre com bom humor e muita paciência.

E apesar das principais palavras-chave para descrever Deslocamento serem autoconhecimento, amor e cuidado, os sentimentos são muito reais, frutos do sincero relato autobiográfico aqui presente. Os dias passam com páginas de transição poéticas, que representam o nível do mar subindo, fazendo um paralelo com o tempo em alto mar e também com as experiências vividas, que assim como as águas, são conduzidas em ondas e vão numa crescente de conhecimento até o fim.

As formas de falar e agir de Phyllis e Allen são constantes dos mais velhos, que necessitam de atenção especial para tudo que fazem, e isso torna a experiência de leitura ainda mais autêntica. Lucy é submetida constantemente ao pensamento do “medo da morte“, e motivada por este medo, passa a dar mais valor à vida.

Uma história necessária, verdadeira e bem contada, este Diário de Viagem de Lucy Knisley é um deleite gráfico, com belas páginas e uma temática que faz refletir sobre o que o futuro reserva para você, e como será sua forma de encarar os impedimentos, estorvos e dificuldades da idade avançada. Ao mesmo tempo, a principal mensagem que a obra passa é não deixar a negatividade vencer, e cada nova vivência pode ser um grande aprendizado, por mais banal ou impossível que possa parecer.

Deslocamento: Um diário de viagem possui 144 páginas encadernadas em formato 23,8 x 16,6 cm, com preço sugerido de R$ 44,90, e é um dos lançamentos de 2017 da Editora Nemo.

Por Gabriel Faria

Assistente Editorial, apaixonado por quadrinhos, redator da Torre de Vigilância, criador do blog 2000 AD Brasil e otaku mangazeiro nas horas vagas.