Choque. Medo. Ceticismo. Negligência. Omissão. Esperança. Tensão.
É completamente natural o ser humano entrar num misto desses sentimentos e atitudes quando se depara com uma grande catástrofe. É como um mar o afogando e não conseguir ver a superfície. Suas próprias emoções podem atrapalhar o seu julgamento. O pior é quando essa confusão emocional permite decisões falhas em prol do Estado e sem saber das consequências desses atos. Pensando que está fazendo um bem para o seu povo, pois este mesmo governo tem tudo sobre o controle. Esse é o clima que o Piloto de Chernobyl passou para o seu telespectador.
Pripyat, abril de 1986. A rotina de todos seguia de forma natural até o início de tudo. O início do fim. O incêndio pode ser visto por quilômetros e os habitantes locais começaram a se preocupar. Ninguém sabia o que estava acontecendo. Já no interior da usina, a equipe de engenheiros cientes do problema começam a traçar planos para conter o incidente. Nisso entra o Camarada Dyatlov. Apesar dos relatos cada vez mais desesperadores sobre a explosão do núcleo, ele permaneceu cético e seguiu o episódio inteiro com uma opinião contrária sobre o ocorrido. Até porque era impossível fisicamente um núcleo explodir, certo?
Dyatlov expôs uma reação já conhecida de alguém que acredita ter a resposta para tudo nessas situações e jamais concluiria algo que fosse o contrário de sua ideia. Essa arrogância misturada com ceticismo são como veneno servido. Tapa os olhos para a verdade. E isso leva para uma outra camada que o episódio apresentou muito bem: A forma como o Estado soube lidar com a situação.
Sempre que acontece um evento desta magnitude é criado um Conselho de Crise com os principais representantes para lidar com o ocorrido e planejar de forma imediata planos de ação. O conselho deste episódio conseguiu deixar o telespectador indignado com a resolução dada, uma vez que souberam ser egoístas o suficiente para concluir de forma rápida que estava tudo tranquilo, apesar do protesto de apenas um membro. Foi como se fosse uma voz no meio da multidão. Foi em vão e essa negligência custou caro.
De um lado, bombeiros apagando o incêndio, segurando partes dos destroços contendo radiação e sofrendo queimaduras. De outro, crianças brincando e adultos olhando para cima enquanto são revestidos por fuligem contaminada. Além dos trabalhadores se tornando vítimas fatais. São cenas fortes que dão agonia por mostrar a falta de preparo de profissionais e a inocência destes moradores, mesmo sabendo que o caos foi iniciado no interior de uma usina nuclear.
“Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade.”
Essa célebre frase foi dita pelo ministro nazista Joseph Goebbels e se encaixa como luva quando encontramos Valery Legasov, que após esconder gravações contendo todo o seu relato sobre Chernobyl decide cometer suicídio. Ao longo dessa cronologia de dois anos conheceremos inúmeras mentiras sendo ditas assumindo o poder da verdade e Valery será testemunha de tudo como o engenheiro que fez parte do comitê de investigação.
A minissérie convenceu em dar um grau de realismo ao capturar para as telinhas o maior desastre nuclear da história e seus efeitos são sentidos até hoje pela Ucrânia. HBO conseguiu deixar o telespectador compartilhar dos mesmos sentimentos dos personagens em toda a sua duração e o melhor é que os personagens são reais, dando mais veracidade para a trama. Tem tudo para manter a qualidade ao longo dos próximos episódios.
Sendo assim, finalizo mostrando atualmente como está a região afetada pela radiação.
Chernobyl terá apenas 5 episódios.