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Precisamos de mais Histórias de Amor com a cor Azul

“Só o amor pode salvar o mundo. Por que eu teria vergonha de amar?”

Sempre que eu via algum texto, foto ou algo referente à graphic novel Azul é a Cor Mais Quente, sempre pensava com meus botões “preciso ler isso.” e isso ocorreu durante anos. Pois bem, o dia da leitura chegou, e agora mudo minha frase para um questionamento: “porque, diabos, eu demorei tanto para ler isso?”.

A francesa Julie Maroh, que é ativista do movimento pelos direitos dos homossexuais, começou a escrever a história com 19 anos e levou cinco para concluir. Azul é a Cor Mais Quente foi publicado em 2010, e conta uma história de amor que todos nós gostaríamos de ter vivido. O romance tem encontro e desencontros, brigas, momentos íntimos, felicidade, tristeza, tem o fator de lutar pelo amor, de sair do porto seguro, tem o medo de dar errado, o medo de estar errado e tem a recompensa de quando as coisas vão bem. Ele fala sobre as crises adolescentes, o medo de encarar a sexualidade, de o que a sociedade pode pensar, de viver o que se quer de verdade. E sobre amadurecimento. Tudo que sonhamos encontrar em uma grande história de amor, inclusive nas que gostaríamos ou queremos viver está lá.

No livro conhecemos a simpática Clémentine, uma jovem que leva uma vida normal, com a correria de provas, seus amigos, pais que se preocupam que horas ela vai chegar em casa e namoro escolares. Mas a cinzenta vida da garota ganha uma cor. A azul. Quando ela vê uma bela menina com os cabelos dessa cor que no meio da multidão sorrir para Clémentine. O que vemos daí para frente é uma bela história de idas e vindas pelo verdadeiro amor. O amor que você sente pulsar dentro de ti.

Esse amor é despido de preconceitos. Sejam eles sexuais, raça, estéticos, financeiros e até mesmo moral. O que Clémentine e Emma passam para os leitores é que o amor pode e deve acontecer, não importando o tsunami de coisas contrárias que possam surgir. Muitas vezes deixamos de amar e se permitir ser amados por motivos banais. De como comentários mesquinhos e maldosos. Ou do fato de queremos somente seguir as cartilhas que impõem como corretas, acabam condenando vidas à romances errados. No caso das nossas protagonistas, tudo é mais complicado. Ainda mais em um mundo em que o preconceito é forte e dolorido.

Azul é a Cor Mais Quente é uma grande ciranda de emoções. Quando eu digo que o preconceito é forte, é uma das latentes da trama. Ele brota dos amigos, dos pais e da própria Clémentine. Essa é a primeira ciranda. Ao mesmo tempo que ela se sente bem quando se propõe a amar de verdade, ela sente vergonha. Se sente cometendo um ato falho. E quando ela decide que quer ficar com Emma, que também tem seus problemas. E tem mais uma ciranda. Emma é mais velha, tem um relacionamento longo com outra mulher, ela sente medo de por Clémentine ser muito jovem, isso ser apenas uma fase. A cada página as emoções vão consumindo as duas e o leitor.

Uma coisa que conversa muito bem com o leitor em Azul é a Cor Mais Quente são os gestos. O silêncio em alguns quadros, mas que são gritantes com os gestos e movimentos dos personagens são tocantes e valorizam demais a narrativa. Esse silêncio, juntamente com a palheta de cores engrandecem a obra. O mundo extremamente cinza se contrasta com o azul do amor. Todo momento azul é uma explosão de emoções para Clémentine, mas quando o azul sai de cena, o mundo desmorona.

Falei mais acima que Azul é a Cor Mais Quente é uma lição de amor que todos devemos aprender. E realmente é isso e além. Ele também fala da vida a dois em momentos difíceis e até de fidelidade. De amadurecer rápido, de crescer e assumir responsabilidades que não eram planejadas quando se é apenas uma criança. Lutar contra tudo e contra todos. Até se preocupar com o momento sócio-político que a França passava na época em que Nicolas Sarkozy ganhou as eleições. Mas sempre para viver o amor. Essa é a maior lição de Azul é a Cor Mais Quente, sempre pelo amor.

Azul é a Cor Mais Quente tem formato 25 x 17 cm, 160 páginas e o preço de R$ 44,90. A graphic novel chegou ao Brasil em 2013 pela editora Martins Fontes.

 

Por Ricardo Ramos

Gibizeiro, escritor, jogador de games, cervejeiro, rockêro e pai da Melissa.

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