No nosso segundo episódio dessa série de postagens sobre as dublagens nacionais de animês da Crunchyroll, podemos pular a introdução cheia de ladainhas e ir direto ao assunto, que dessa vez, é um outro tipo de comédia: Recovery of a MMO Junkie.
Caso não tenha visto, a primeira postagem foi sobre a versão brasileira de KonoSuba, que você pode ler clicando aqui.
MMO Junkie é, convenhamos, muito mais family-friendly que KonoSuba. Por ser uma comédia-romântica, ter maior parte do elenco com adultos, e explicar muito bem a sua própria ambientação, o animê se torna muito mais fácil de ser engolido.
Com isso, vejo MMO Junkie como uma boa escolha para a dublagem: é brando o bastante para agradar gregos, e específico o suficiente para agradar troianos. E como comentei na primeira postagem, acredito que a receptividade de um show seja um ponto essencial para o sucesso de sua versão nacional.
Fazendo a ponte aérea, saímos do Rio e vamos para São Paulo, onde o animê foi dublado: no estúdio Unidub, que trabalhou em Dragon Ball Super, Grand Chase e Bob Esponja (entre outros diversos títulos). A direção foi feita por Úrsula Bezerra, ninguém mais, ninguém menos que Naruto Uzumaki e Son Goku (criança) em pessoa.
No elenco, nomes já conhecidos (ou melhor, vozes familiares) da Imprensa Especializada(TM):
- Priscila Franco como Morioka Moriko (Eternizada como Saber em Fate/Stay Night [2006], mas que provavelmente é mais lembrada como Sharon Carter do MCU);
- Michel Di Fiori como Sakurai Yuta (O Neji de Naruto, e o Genos de One Punch Man);
- Fábio Lucindo como Hayashi (Que deu a voz ao Jin de Grand Chase, Shaoran de Sakura Card Captors e… Troy Bolton de Highschool Musical);
- Michelle Giudice como Lily (Já experiente em animês, dublou Mitsuha de Your Name e Serena de Pokémon XY);
- Caio Guarnieri como Homare Kowai (O dono dos vocais do Kouga de Pégaso em CdZ Omega, e do Kevin de Steven Universo).
Vou começar pelas reclamações, para não acharem que sou parcial. Meu único problema com a dublagem foi uma simples escolha de direção, que atrapalhou o meu divertimento por todos os episódios: o uso de honoríficos.
Eu sei que eu vivo reclamando disso, mas há momentos onde dá para aturar. Em legendas, por exemplo, eu até entendo quem goste delas. Afinal, você está ouvindo a personagem falar aquilo; já em mangás e novels, eu acredito que seu uso exija, no mínimo, uma nota de tradução; agora, numa dublagem? Onde as personagens estão falando português?
Vamos lá, de novo: para quem não sabe, honoríficos são partículas comuns no idioma japonês, que são adicionadas após nomes de pessoas, para indicar, de certa forma, a relação entre os indivíduos envolvidos no diálogo. Existem honoríficos que demonstram respeito, que demonstram amizade, que demonstram hierarquia… Até não utilizar um honorífico tem um significado. Acontece que isso é algo exclusivo do idioma nipônico. Isso não existe em português. E se você precisar traduzir esses significados descritos no último parágrafo, existem diversas formas de se fazer isso, com expressões que são nativas e naturais para a nossa língua.
O uso dos honoríficos torna a dublagem extremamente alienígena, por causa desses termos japoneses completamente diferentes de todo o resto que é falado. Acima de tudo, dublar uma obra tem como função trazer aquilo para a ambientação nacional. Mesmo que o show se passe no Japão, nós estamos nos dando ao trabalho de regravar todas as vozes de todos os episódios, para deixá-los em português, não estamos? Então qual o sentido de deixar expressões puramente japonesas no produto final?
E o que me deixou mais desconfortável nisso tudo, foi como o uso de honoríficos pareceu aumentar, do nada, já na metade do show. Personagens que se chamavam apenas pelo nome passaram a adicionar os honoríficos, sem razão alguma. Enquanto houve um ou dois casos nos primeiros episódios, ouvi pelo menos quinze nos últimos.
Porém, acho justo darmos o crédito quando assim é necessário, e todos os outros aspectos da dublagem merecem recomendações positivas. O elenco foi escolhido muito bem, tendo vozes que combinam com as personagens, e que conseguem bater de frente com os gigantes que fizeram a versão japonesa. Em especial, a atuação da Priscila Franco no papel principal foi monumental: a interpretação das cenas mais “exageradas” (típicas de animê, e que podem ser difíceis de fazer parecer naturais) ficou tão boa, que eu senti, pela primeira vez, que esse tipo de reação pode dar certo no nosso idioma.
A adaptação e direção também estão de parabéns, que exceto pelo que já foi discutido, fizeram um show ambientado no Japão passar uma impressão costumeira para os brasileiros, sem parecer careta (o que é muito importante!). Além disso, não vi muitos problemas de sincronia, volume ou desinformação, carimbando assim, uma excelente dublagem.
“Recovery of a MMO Junkie” está disponível dublado e legendado na Crunchyroll, e o primeiro episódio da versão nacional pode ser visto gratuitamente no canal do YouTube da Crunchyroll Brasil (que eu já linkei ali em cima, aliás!).