“Bela Vingança”, ou “Promising Young Woman” em inglês, alcançou cinco indicações ao Oscar deste ano, vencendo na categoria de Melhor Roteiro Original. Carey Mulligan (O Grande Gatsby; Drive) é a protagonista do longa escrito e dirigido por Emerald Fennell, e seu elenco apresentou algumas outras participações de figuras já conhecidas no cinema, como Adam Brody (Shazam!), Christopher Mintz-Plasse (Kick-Ass) e Alfred Molina (Homem-Aranha).
Na trama, Cassandra Thomas é uma mulher que, devido aos seus traumas do passado, passa as suas noites fingindo-se de bêbada com intenção de dar uma punição nos homens que tentam assediá-la ou aproveitar-se de sua “vulnerabilidade”, além de arquitetar sua vingança contra uma pessoa do seu passado.
O filme consegue passar a noção de começo, meio e fim de forma eficiente conforme apresenta gradativamente a narrativa dos personagens, bem como demonstra toda a atmosfera carregada do drama. É difícil não se compadecer da história de vida de Cassandra e sua perda e sofrimento, de forma que não conseguimos deixar de apoiar suas ideias de castigo, por mais perturbadoras que sejam. Suas motivações parecem dignas, e toda a complexidade emocional da protagonista é totalmente compreensível e profunda, resultante de uma sociedade machista e baixa, fato retratado de forma maestral e que ainda manifesta a realidade consternada das mulheres.
A atuação de Mulligan não é de deixar pasmo, mas é digna de aplausos. A frieza que a atriz consegue transmitir para sua personagem e suas rápidas mudanças de expressão são impressionantes. É ainda mais empolgante como consegue passar a sensação de nervosismo e inquietação para o telespectador durante suas artimanhas. Sua vingança prende a nossa atenção para o que virá a seguir ao passo que torcemos para que ela a cumpra, se tornando talvez uma heroína, dependendo do ponto de vista.
Suas críticas sociais são bem claras desde a sinopse até trailers, e a cultura do estupro é o tema central a ser analisado e criticado na película. Quando se chega ao final da história, a mensagem a ser passada fica inteiramente clara. No entanto, quem acha que o filme se apoia no suspense ou até mesmo um pouco de terror pode se decepcionar. O longa se concentra muito mais em suas críticas e piadas ácidas com um grande fundo de verdade do que na composição do suspense em si, ainda que suas poucas cenas desse tipo consigam instaurar a agonia necessária para faltar palavras, assim como seu final, que pode dividir opiniões e te deixar boquiaberto.
Em suas partes técnicas, a fotografia possui um perfeito enquadre, e as músicas também tem seu papel na instauração da sensação de suspense.
Em suma, Bela Vingança é um daqueles filmes necessários para contextualizar a atualidade social, seus problemas de gênero e abusos que, infelizmente, ainda se fazem presentes. Seu roteiro original escancara essa problemática de forma singular e criativa, sem fugir ou perder a força do seu argumento, e graças a isso teve seu devido reconhecimento na premiação mais famosa.
Veredito: 3/5 – prata