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Sweet Tooth: entenda as diferenças entre a série e os quadrinhos de Jeff Lemire

Sweet Tooth já estreou na Netflix fazendo sucesso. Contando com 8 episódios, a série é baseada na consagrada obra da Vertigo, antigo selo adulto da DC Comics. Escrita e ilustrada por Jeff Lemire, Sweet Tooth começou a ser publicada em 2009, finalizando com 40 edições em 2013. Aqui no Brasil, a obra foi disponibilizada no mercado pela editora Panini.

Como boa parte das adaptações, Sweet Tooth também conta com mudanças em relação à obra original. Confira abaixo as principais diferenças e não fique por fora de nenhum acontecimento dos quadrinhos.

Atmosfera

Podemos começar dizendo que esse é a diferença mais marcante entre as duas mídias. A série, tanto pela classificação etária escolhida como também pela própria intenção de seus realizadores, optou por estabelecer um tom mais alegre, de mais esperança e sem violência gráfica. Mesmo mantendo o gênero de futuro distópico assolado por um vírus mortal, a adaptação consegue deixar tudo mais leve, mais colorido e menos amedrontador.

Por outro lado, os quadrinhos seguem o caminho do medo e da constante insegurança dos personagens. Em um mundo completamente devastado e com sobreviventes humanos totalmente desesperados, temos cenas de violência explícita, terror psicológico e tensão extrema. Sentimos que os personagens estão cansados, tristes, e que já aceitaram o fato de que, mais cedo ou mais tarde, vão ser contaminados pelo vírus e acabar morrendo. A própria arte de Lemire contribui para a ambientação mais soturna e melancólica dos quadrinhos; com um traço bem singular e expressivo, o autor consegue nos passar uma sensação de angústia e desconforto característicos do ambiente em que a obra se passa.

Tommy Jappered

O personagem que acompanha Gus em sua jornada também sofreu uma mudança grande. Na série, Jappered é um antigo jogador de futebol americano que perdeu sua esposa e seu filho logo no início do vírus. Após sua esposa dar a luz a um bebê híbrido, ambos desaparecem do hospital, e Tommy nunca mais os encontra. Agora um sobrevivente errante, o homem acaba salvando Gus de caçadores, sendo seguido pelo garoto e convencido à levá-lo até o Colorado.

Nos quadrinhos, a moral e o caráter do personagem são postos à prova em diversos momentos. Gus e Jappered se conhecem como na série, quando o homem salva o garoto dos caçadores na floresta. No entendo, é Jappered quem convence o menino cervo a sair de casa e ir com ele, dizendo que o local não é mais seguro e que iria levá-lo à “reserva“. Descobrimos, logo mais, que a tal reserva não existe e que tudo não passava de uma mentira de Jappered, que tinha como objetivo entregar o menino híbrido para a milícia em troca dos ossos de sua esposa falecida.

Como complemento, vemos o passado do personagem, sua vida como jogador de hóquei antes do vírus, bem como ele e sua esposa enfrentando os anos iniciais do Flagelo. Ambos acabam sendo enganados por Abbot, líder da milícia, indo para a base do vilão achando que estariam em segurança. Contudo, a esposa de Jeffered, que estava grávida, acaba sendo utilizada em experimentos, morrendo após dar a luz; a criança, que inicialmente não aparece, também é dada como morta. Posteriormente, descobrimos que o filho de Tommy está vivo, e que também é um híbrido.

Doutor Singh e as experiências com híbridos

Na adaptação da Netflix, somos apresentados ao médico Aditya Singh, um personagem que tem bastante destaque e uma linha narrativa própria. Junto com sua esposa Rami, os dois moram em uma comunidade de sobreviventes muito bem organizada e que tem métodos bem radicais de contenção do vírus. Após a médica do local abandonar as funções, Singh se torna o responsável, tendo acesso à todos os documentos do soro que sua antecessora estava desenvolvendo. Usando híbridos vivos, a antiga médica conseguiu desenvolver um bloqueador do Flagelo, mas que não dura muito tempo e o infectado precisa consumi-lo constantemente para não desenvolver a doença. Na série, Rami acaba sendo contaminada e faz o uso do medicamento, conseguindo ser a pessoa que mais viveu com a doença no organismo. Importante frisar que na adaptação, nenhum híbrido é mostrado morto ou sofrendo experiências.

Na HQ, por outro lado, não temos nenhum medicamento ou cura para a doença. O doutor Singh é o responsável pelas pesquisas na milícia e busca incansavelmente, há anos, achar alguma solução para o Flagelo, não alcançando nenhum sucesso. Os híbridos, após serem capturados, são colocados em uma espécie de prisão e são tratados das piores formas possíveis; quando algum é levado ao laboratório de Singh, nunca mais retorna.

Após Gus ser enganado por Jappered e entregue a Abbot, o menino acaba conhecendo outros híbridos que também foram capturados e estão ali para servirem de cobaia. Alguns desses personagens se tornarão grandes amigos de Gus e serão importantes durante toda a trama dos quadrinhos; inclusive, o filho de Jappered também se encontra preso na base da milícia. De uma forma bem mais explícita e grotesca do que na série, os quadrinhos nos mostram cenas de híbridos mortos, abertos e sendo experimentados.

Exército Animal

Mesmo sendo presente tanto na HQ como na série, as versões do Exército Animal são extremamente diferentes, tanto em composição, objetivo e visual. Na adaptação, temos adolescentes que buscam proteger e resgatar híbridos; morando em um parque de diversões abandonado, os jovens nutrem uma repulsa por adultos e usam roupas e adereços que representem visualmente um animal de sua escolha. Liderados pela “Ursa“, esta acaba saindo do grupo e se unindo a Gus e Jappered e embarcando na viagem até o Colorado.

Em paralelo, temos o Exército Animal dos quadrinhos, um grupo bem violento de sobreviventes que dominou uma cidade inteira. Glebhelm, um homem que usa seus 5 filhos híbridos como animais de caça e também é líder do grupo, acaba convencido por Jeppered a atacar a base da mílicia; em troca, poderiam pegar todos os híbridos do local. Este, no entanto, era apenas um blefe de Tommy, que precisava do exército justamente para conseguir resgatar Gus.

Motivação de Gus

Enquanto na série o nosso protagonista quer ir ao Colorado em busca de sua mãe, nos quadrinhos o menino cervo tem como destino o Alasca. Após o doutor Singh ter acesso a escritos e documentos do pai de Gus que mencionavam o local – e após o menino ter vários sobre lá também -, nossos personagens seguem rumo ao norte, achando que lá encontrariam explicações sobre o passado do garoto e também sobre a origem do vírus.

Personagens

Podemos começar esse tópico citando duas personagens muito importantes nos quadrinhos e que acabaram de fora da série: Becky e Lucy. Resgatadas por Jeppered e Gus de uma casa onde eram obrigadas a se prostituir, as duas mulheres fazem parte do resgate de Gus e também da jornada até o Alasca.

Becky e Lucy, respectivamente.

A série, por outro lado, acabou acrescentando vários personagens novos. Como exemplo, temos Aimee, a mulher que adota uma menina híbrida e que é a responsável pela criação da Reserva, local que na adaptação realmente existe e que serve para abrigar e proteger os híbridos.

Aimee.

Origem do vírus e dos híbridos

Esse é um ponto complexo tanto na adaptação como nos quadrinhos, então vamos por partes. Na série, vemos que um laboratório estava fazendo pesquisas biológicas a fim de desenvolver novas vacinas. O pai de Gus trabalhava na limpeza da instalação, e é lá que conhece a “mãe” de Gus, Birdie. A moça era, na verdade, a virologista responsável pelo projeto, este que acabou gerando o primeiro bebê híbrido: Gus – sigla para Genetic Unit Series 1. Certa noite, o exército entra nas instalações e começa a confiscar o projeto; numa tentativa de salvar a vida da criança e impedir que ela seja alvo de experiências, Birdie entrega Gus ao homem que viraria a seu pai e pede que ele cuide do menino.

Birdie segurando Gus, ainda no laboratório.

Agora, nos quadrinhos… o buraco é bem mais embaixo. Tudo em 1910, no Alasca, onde um rapaz que outrora foi ao gélido território com o objetivo de catequizar os nativos, acabou sendo conquistado pelo povo e resolveu permanecer no local. Um dia, no entanto, o homem acaba entrando em uma caverna, onde encontra várias espécies de “túmulos“, cada um com um animal esculpido na porta. Por curiosidade, resolve abrir um deles, se deparando com um esqueleto híbrido de um humano com um cervo.

Rapidamente, outros membros da tribo o tiram de lá, explicando que aquele lugar era sagrado e que o que ele viu ali eram os corpos de Deuses. Tal perturbação, contudo, deixaria um preço. Pouco tempo depois, o povo que ali morava começou a adoecer e a morrer, e a esposa do rapaz, que estava grávida, deu à luz a um menino híbrido de cervo.

Em outra edição, vemos o pai de Gus antes da epidemia. Assim como na série, o homem também trabalhava na limpeza de uma instalação de pesquisa; a diferença é que essa instalação ficava no Alasca, e foi construída propositalmente em cima da caverna onde se localizavam os túmulos dos Deuses híbridos.

Vemos que o laboratório estava utilizando os esqueletos dos túmulos para gerar vidas híbridas artificialmente, através de incubadoras. Um dia, quando o pai de Gus foi até a instalação trabalhar, percebeu que todos os funcionários do local estavam mortos; ao andar pelas salas, avista um berço, e nele estava um bebê híbrido. Não podendo deixar o pequeno ali sozinho, o homem resolve levá-lo consigo e criá-lo como filho.


Como provavelmente teremos uma 2ª temporada, vou parar por aqui e não contar o final dos quadrinhos. Mesmo com várias mudanças e com um tom bem diferente da HQ, a adaptação de Sweet Tooth consegue ser uma série bem empolgante e divertida, mantendo a premissa chave de uma nova espécie nascendo e “tomando o lugar” dos seres humanos. Para os fãs ferrenhos e que não são muito adeptos à modificações, sugiro que assistam a série e deixem-se levar pela mensagem leve e otimista que a adaptação trás consigo, afinal, é plenamente possível gostar das duas obras ao mesmo tempo. Aos que ainda não leram os quadrinhos, deixo aqui a minha sincera recomendação; Lemire consegue nos entregar uma trama cheia de drama, mistérios, reviravoltas e quadros de ação muito, mas muito bem desenhados. Garanto que, ao começar a leitura, você não vai conseguir parar… eu, pelo menos, não consegui (risos).

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Conheça “Chainsaw Man”, o mangá sobre um… adolescente motosserra!

Antes de eu entrar de cabeça no mundo otaku, sempre ouvia (e não entendia) quando me diziam que existem animes e mangás sobre literalmente qualquer assunto, por mais improvável que pareça.

Escrito e ilustrado por Tatsuki Fujimoto (Fire Punch), Chainsaw Man foi publicado no Japão pela Weekly Shōnen Jump entre 2018 e 2020, sendo a sua primeira parte concluída em 98 capítulos. Contando com 4.181.650 cópias vendidas no Japão durante o primeiro semestre de 2021 e ocupando o 5º lugar no pódio de vendas, o jovem motosserra ultrapassou títulos como Boku no Hero, Haikyuu!! e One Piece. Aqui no Brasil, a obra está sendo publicada pela editora Panini.

No mundo de Chainsaw Man, os demônios já fazem parte do dia-a-dia da humanidade. Estes, que são dos mais diversos tipos (tem demônio tomate, demônio katana, demônio pistola, demônio tubarão…), se alimentam dos seres humanos, também podendo possuí-los ou usá-los como desejarem. Por oferecerem tamanho risco para a população, os demônios são caçados, tanto por civis como pelo próprio Governo. Além da caça, o Governo também realiza “contratos” com alguns demônios, oferecendo algo em troca do uso das habilidades do infernal.

Demônio Tomate: o terror das saladas.

Nosso protagonista, Denji, é um jovem de apenas 16 anos que, por dever uma enorme quantia de dinheiro à Yakusa (dívida essa que foi herdada do seu pai), trabalha cortando árvores e caçando demônios, usando os ganhos para tentar abater o valor que deve aos mafiosos. Em razão dessa dívida, o pobre adolescente já vendeu um olho, um rim e até um testículo para arrecadar ainda mais dinheiro, e vive em condições completamente miseráveis.

Denji em frente ao túmulo de seu pai. No carro, o chefe dos Yakusa.

Você deve estar se perguntando: ok, mas onde que a motosserra entra nessa história toda? Tudo começa quando, ainda criança, Denji encontra um demônio com a aparência de um cachorrinho, tendo o diferencial de ter uma motosserra na cabeça. Como o cachorrinho-serra estava quase morrendo, o jovem lhe oferece um pouco de seu sangue, ação que salvaria o pequeno demônio. Contudo, o salvamento não foi de graça: em troca, Denji usaria as serras do cachorro para trabalhar e conseguir ganhar dinheiro. Começa, então, a grande amizade dos dois, sendo o demônio batizado de “Pochita“.

Denji e Pochita.

É em uma noite, porém, que a vida de Denji muda completamente. Chamado pela Yakusa para matar um demônio, o jovem é levado até um prédio abandonado, sendo encurralado em uma armadilha. Os mafiosos, que tinham como objetivo ficarem mais fortes, decidem realizar um contrato com um demônio e entregam Denji à ele. O infernal, que tinha como poder transformar as pessoas em zumbis, manda a sua horda esquartejar o adolescente, que é rapidamente morto e jogado em uma lixeira.

Nesse momento, como única opção de manter seu parceiro vivo, Pochita se une ao corpo de Denji, dando a ele seu coração em troca do jovem lhe mostrar seus sonhos. Com seu corpo totalmente regenerado, Denji agora possui uma pequena corda em seu peito, que, ao ser puxada, lhe dá os poderes do pequeno demônio. Saindo da lixeira cheio de raiva, o jovem puxa a corda, se transforma em motosserra e dizima todos os zumbis em uma cena extremamente violenta. Após o massacre, caçadores de demônios do Governo chegam ao local e encontram Denji, lhe fazendo uma proposta: se o garoto aceitar trabalhar como um caçador para o Governo, será tratado como um humano e recebera comida, abrigo e um salário; se recusar, será considerado como um demônio e, consequentemente, morto. Em uma escolha nem um pouco difícil para o protagonista, este vê no novo “emprego” uma maneira de finalmente ter uma vida descente e não passar mais necessidades.

Denji se transformando em Chainsaw Man.

Agora que Denji virou um caçador de demônios do Governo, somos apresentados a mais personagens importantes do mangá. A primeira que temos contato é Makima, a mulher que encontrou Denji após sua primeira transformação e que lhe fez a proposta de emprego. Logo de cara, vemos que o jovem se apaixona pela moça, tendo em vista que ela é a primeira pessoa que o trata “bem”. Ao longo da história, vemos que Makima esconde grandes segredos e mistérios, nos fazendo duvidar de que lado ela realmente está. Sem se importar muito com os sentimentos de Denji, e mesmo tendo consciência do que o rapaz nutre por ela, a personagem não liga de iludir e dar esperanças amorosas ao adolescente.

Makima.

Como não pode faltar, temos o personagem estilo Sasuke em Chainsaw Man também! Aki Hayakawa é um jovem caçador do governo que trabalha em uma unidade experimental, unidade essa que tem como integrantes pessoas que possuem algum poder derivado de demônios, como Denji. Sua maior motivação para se tornar um caçador foi a trágica morte de sua família, que foi assassinada pelo temido Demônio Pistola (demônio que é de grande importância na trama).

Denji muito animado ao lado de seu colega, Aki.

Uma integrante um tanto quanto “diferenciada” também faz parte da equipe experimental. Sendo uma possessa, ou seja, uma humana que foi possuída por um demônio, Power se torna parceira de Denji nas patrulhas e missões. Com o passar da história, vemos como a relação entre ela e o protagonista vai se desenvolvendo, e como ambos fazem para lidar com as evidentes diferenças.

Power, a humana que foi possuída pelo Demônio do Sangue.

O interessante de Chainsaw Man -além das serras, é claro- é que nosso protagonista não é daqueles personagens clássicos de shonen: Denji literalmente não tem grandes ambições. Em decorrência da sua vida miserável, seu objetivo se torna o que para muitos é apenas o básico do básico. Tendo 3 refeições diárias, um teto sobre sua cabeça, uma cama para dormir e podendo tomar banho todos os dias, o jovem está pra lá de feliz. Além disso, como toda pessoa adolescente, Denji também pensa -e muito- em sexo; sem nunca ter beijado e muito menos ter feito atos além, o jovem sonha em ter uma namorada, e em finalmente poder tocar em seios. Não posso negar que as repetidas piadas em torno do assunto “seios” se tornaram, pelo menos pra mim -uma jovem de 22 anos-, um tanto quanto cansativas. Por outro lado, consigo entender perfeitamente que, para alguém de 16 anos, sexualidade é realmente um tópico que não sai da cabeça, afinal também já tive essa idade.

Mesmo sendo um mangá publicado pela Shonen Jump, Chainsaw Man usa e abusa da violência, tanto gráfica como nos próprios diálogos. A situação de vida do protagonista, por si só, já é algo bem pesado, e a forma como ele inicialmente encara a vida nos mostra um adolescente que já perdeu quase que completamente a ambição e até mesmo a própria dignidade. Conforme a história se desenrola, novos personagens aparecem, novos demônios e muitas, mas muitas lutas. Carregado no senso de humor um tanto quanto ácido, o mangá consegue transitar de forma muito satisfatória entre os gêneros do humor, da ação, do drama e até mesmo do mistério, nos entregando uma obra viciante e que nos prende até o último capítulo.

Recentemente, foi anunciado que a obra ganhará uma adaptação em anime pelo estúdio MAPPA, mesmo estúdio que produziu Jujutsu Kaisen e Attack on Titan: Final Season. Sem uma data de estreia definida, temos pelo menos a data de lançamento do trailer oficial, que será em 27 de junho, no Japão.


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Requiem: a morte (e vida) do Surfista Prateado

De todas as histórias do Surfista Prateado, Requiem foi a que mais me emocionou. Talvez eu seja ligeiramente suspeita para falar, já que Norrin Radd é, e sempre foi, meu personagem favorito da Marvel. Mas o que torna essa graphic novel tão especial? A resposta é simples: aqui, não temos mais a inviolabilidade do até então “indestrutível” corpo do Sentinela das Estrelas; tendo seus dias de vida contados, adentramos completamente em sua alma, sentindo seus medos, tristezas, alegrias e emoções. Sendo publicada pela primeira vez em 2007, essa obra prima em forma de quadrinhos é escrita por Michael Straczynski e desenhada por Esad Ribic, contando com apenas 4 edições.

Diagnóstico

A história começa com Surfista refletindo sobre a existência – a própria e a do universo. A morte, constata, faz parte de um ciclo, e é justamente ela a responsável para que a vida possa existir.

Com o intuito de investigar uma condição ainda desconhecida, Norrin vai à Terra para se encontrar com Reed Richards, seu amigo de longa data, e a quem sabe que pode confiar até mesmo seus temores. Depois de dolorosos testes, temos o resultado: o Surfista Prateado está morrendo; o material que recobre e protege seu corpo das mais perigosas adversidades está se desgastando, e resta à Norrin cerca de um mês de vida.

Em uma lembrança de tempos muito distantes, vemos a origem do Sentinela das Estrelas; vemos a chegada do temido Galactus a Zenn-La, e a decisão que mudou para sempre a vida do personagem. Em troca da preservação de seu planeta, Norrin se oferece para ser arauto do Devorador de Mundos, procurando planetas para que seu mestre pudesse devorar e saciar sua fome. É nesse momento que Norrin vira o Surfista; nesse momento, Norrin perde suas memórias e sua consciência, sofrendo a metamorfose que seria a responsável pela destruição de incontáveis vidas em nome de seu mandante.

Porém, é na sua primeira vinda à Terra que a chama esquecida do antigo Norrin Radd se acende. Vendo a relutância e a voracidade com que os humanos lutam pela sua sobrevivência, o Surfista percebe o mal que irá fazer se permitir que Galactus devore o planeta. Unindo forças com o Quarteto Fantástico, consegue expulsar seu mestre da Terra, deixando finalmente de ser seu servo.

Tais lembranças, além da função de ambientar o leitor no cânone do personagem, servem principalmente para nos mostrar toda a angústia e arrependimento que cercam o Surfista. Requiem não é apenas uma história sobre a morte; é uma história de redenção, um conto reflexivo sobre erros e acertos, sobre guerra e paz, sobre encontrar a plenitude que por anos foi incansavelmente buscada. Depois dessa retrospectiva, vem a pergunta: o que Surfista irá fazer nesse tempo de vida que lhe resta?

Bom… ele irá viver.

Encontro com o Homem-Aranha

Na segunda edição da história, temos esse épico encontro entre os dois heróis da Marvel. Enquanto Peter está tendo dificuldades em acabar com um vilão na cidade, surge o Surfista para lhe dar um auxílio. Após o embate, temos o início de uma conversa entre os personagens, que culminaria em uma experiência única para toda a humanidade.

No topo de um prédio, Surfista explica a Peter que não lhe resta mais muito tempo para ficar na Terra, e que gostaria de fazer uma última ação ao planeta que o acolheu por tanto tempo. Nesta cena, temos um dos diálogos mais incríveis que já tive o prazer de ler em uma história em quadrinhos, com o Aranha dando diversas sugestões ao Sentinela, cada uma com alguma ideia de como Norrin poderia agraciar as pessoas com seus poderosos dons. Neste momento, vemos o quanto o Surfista se importa com os humanos, o quanto gostaria que nós pudéssemos ter a capacidade de enxergar a vida com a mesma importância que ele enxerga; o quanto os humanos, mesmo com os mais diversos defeitos, ainda merecem a bondade e a paz.

Durante a conversa, o Surfista fala para Peter como é maravilhosa a sensação de liberdade que tem ao percorrer o cosmos com sua prancha e pergunta se o mesmo gostaria de experimentar. A escolha, contudo, acaba sendo de dar a oportunidade a outra pessoa: Mary Jane.

Após retornar de sua viagem transcendental, faltam palavras para M.J. relatar o que sentiu: a vivência, mesmo que por pouco tempo, do poder de Norrin, já foi suficiente para que a jovem se sentisse completamente livre, extasiada, e deslumbrada com o poder cósmico emanado pelo Sentinela, e que à ela foi concedido. Enquanto o Surfista se despede, Peter lhe diz que tem uma resposta para a pergunta que lhe fez mais cedo:

“Eu lhe disse que as pessoas não podem mudar o que são enquanto e a não ser que entendam o que podem ser. A não ser que elas saibam e sintam em seus corações. Se ele pôde estender o poder cósmico à M.J. e deixá-la sentir o que ele sente, deixá-la experimentar o tipo de liberdade que ele experimenta, deixá-la ver o mundo como ele vê… toda beleza, com o prospecto de paz sempre no centro disso… então não seria possível, por um mero momento, deixar o mundo todo sentir como isso é?”

E assim Norrin o faz. Em um esforço homérico, cede, por 5 minutos, seus poderes à todos os habitantes do planeta Terra, permitindo que toda a humanidade sinta o que ele é capaz de sentir, e que desfrute de toda a liberdade e entendimento que o Surfista Prateado possui. Em todos os cantos, por mais remotos que fossem, as pessoas foram agraciadas com o seu poder; em prisões, em lugares tristes e sem esperanças, em zonas de guerra e campos de tortura, a força do Sentinela das Estrelas conseguiu alcançar todas as almas humanas; nesses meros 5 minutos, a humanidade finalmente soube  – e Norrin também – o que é a paz e a esperança.

Stephen Strange e a batalha espacial

Logo antes de sair da Terra, Norrin é surpreendido com a presença de Stephen Strange, que diz estar ciente de sua condição graças a Reed. Nesse momento, soubemos através do Mago que as maiores mentes do universo Marvel estavam trabalhando para encontrar uma cura para o Surfista, embora não tenham obtido sucesso. Mesmo sem encontrar uma solução para o terminal problema, Stephen entrega ao amigo uma chama com todo o conhecimento da humanidade, dividida em duas partes: uma referente à vida na Terra antes da vinda do Surfista, e outra que foi criada após a sua chegada. Dessa maneira, além de uma forma de agradecimento por tudo que o Norrin havia feito em prol de seu lar adotivo e de seus habitantes, o Surfista teria noção de tudo de bom que conseguiu realizar com sua presença no nosso planeta.

Agora viajando pelo espaço e com destino à seu planeta natal, Zenn-La, Surfista se depara com um chamado vindo de uma grande nave. Ao adentrar o local, se depara com dois líderes, ambos de raças diferentes, que conversavam avidamente a respeito da guerra que ocorria há mais de 50 gerações entre seus povos. Os líderes, que tinham o conhecimento de que Norrin havia sido um arauto de Galactus, esperavam que o Surfista dissesse qual das raças estava mais evoluída, tendo em vista que se desenvolveram de forma paralela.

O grande ponto desta edição é o motivo pelo qual as duas raças estão brigando: intolerância. Por serem mundos que orbitavam a mesma estrela e que por eras não foram capazes de viajar de um planeta para outro, esperavam que o outro lado tivesse as mesmas crenças e dogmas. Contudo, quando conseguiram finalmente visitar seus conterrâneos, descobriram que eram completamente diferentes; tinham outros deuses, outros templos e outras ideologias. Dessa forma, ambas as raças decidiram investir anos e anos em armas de guerra, usando todos os recursos disponíveis e exigindo um enorme sacrifício das suas populações, no intuito de que um dia pudessem se enfrentar e impor o seu entendimento sobre o outro.

Durante gerações, a guerra se perpetuou, sendo mantida independente das mortes ou perdas. Os templos religiosos eram cada vez mais pomposos e engrandecidos, enquanto a população padecia. Ao saber desses fatos, Norrin questiona os líderes que o convocaram, perguntando qual o sentido de sacrificar o povo em nome de um conflito sem fim, e, porque, mesmo com toda a guerra que ocorria, os dois representantes estavam ali, sentados, conversando como se suas populações não estivessem sendo dizimadas em nome das desavenças.

Seguindo seu ímpeto de justiça e caráter, Norrin decide ele mesmo por um fim na interminável guerra. Destruindo as frotas armadas e, consequentemente impedindo os dois povos de se atacarem, partiu em direção aos planetas, um de cada vez. Com a intenção de mostrar que nenhuma das raças era superior à outra, destruiu seus templos até então invioláveis, fazendo com que as populações entendessem que haviam sido exploradas em prol de um conflito sem razão. Nesse dia, os povos finalmente se rebelaram contra seus líderes, e a “guerra sagrada” deu lugar à “paz sagrada”.

Como sua última mensagem, Norrin transmite seu suspiro de esperança e liberdade àqueles que antes estavam presos às amarras da dor e do sofrimento, mostrando que a violência da guerra jamais emergiria novamente.

“Se lugares sagrados são poupados das devastações da guerra, então façam de todos os lugares sagrados. E se o povo santo é mantido ileso da guerra, então façam de todos os povos santos”.

Zenn-La

De todos os destinos possíveis e existentes, dentre todos os mundos habitados pelas mais diversas raças e banhados pelas mais brilhantes estrelas, Zenn-La é aquele que outrora foi o berço da vida – e agora o leito da morte – do solitário Surfista Prateado. Desejando encontrar com sua amada e com seu povo, Norrin chega à sua terra natal, depois de viajar pelos confins do espaço. Seu estado terminal já é notável, e seus dias se tornam ainda mais curtos; mesmo empreendendo esforços para descobrir uma possível cura, os habitantes do planeta não encontram nada que sua ciência seja capaz de desenvolver.

Contudo, Norrin não foi à sua casa apenas para morrer: ele está em Zenn-La para viver seus últimos instantes. Já tendo aceitado e entendido seu destino, o Surfista quer aproveitar o tempo que ainda lhe resta ao lado daqueles que ama; quer garantir que, independentemente da sua morte, sua amada, Shalla-Bal, ainda será feliz.

Com o passar dos dias, a notícia do retorno de Norrin – e de sua morte iminente – se espelham pelo planeta. Os habitantes, como forma de agradecimento à tudo que o Sentinela fez em defesa do seu povo, prestam suas últimas homenagens, indo ao encontro do agora frágil Surfista. Em meio às despedidas, o planeta é novamente surpreendido, mas agora com a chegada do temido Galactus. Este, contudo, não tem a intenção de infligir nenhum mal àquelas pessoas: sua intenção é, assim como a de todos, poder se despedir do seu antigo arauto.

Ao conversar com Norrin, é lhe oferecida por Galactus uma tentativa de cura, afirmando, porém, que não sabe esta irá ou não funcionar. Mesmo com a oferta, o Surfista, que já fez de sua morte parte da sua jornada, nega; em contrapartida, pede ao seu antigo mestre que jamais tente destruir ou consumir o planeta, deixando que Zenn-La e seu povo vivam em paz.

E é com a promessa de Galactus que Norrin, finalmente, descansa. Entregando seu padecido corpo ao incontestável destino, o Surfista Prateado falece, deixando que sua alma siga para o plano do desconhecido. Pelos próximos três dias, Galactus permaneceu no planeta, velando o corpo de seu velho arauto juntamente com o povo que jurou proteger. Como uma última forma de honrar seu amado, Shalla-Bal pede ao Devorador de Mundos que, quando este partir e alcançar uma boa distância de Zenn-La, transforme o corpo de Norrin em uma estrela. E assim é feito.

Agora imortalizado como um astro brilhante, Norrin Radd virou a lembrança – e a esperança – de que tempos melhores sempre virão. Ao olharem para o céu noturno, os habitantes de Zenn-La se recordarão daquele que fez de sua jornada a própria busca pela paz, imortalizando a perseverança e a luta pelo que é certo.

“Quando ele morrer, leve-o e o corte em pequenas estrelas… e ele deve fazer a face do céu tão bela, que todo o mundo se apaixonará por esta noite, e não irão fazer adoração para o sol extravagante”. – Shalla-Bal


Mais do que uma indicação para fãs do personagem, Requiem é uma obra de arte que deveria ser lida e relida por todos. Sem a necessidade de conhecimentos prévios do Surfista Prateado ou mesmo do cânone da Marvel, essa graphic novel consegue entregar com uma maestria excepcional a mensagem que deseja passar. Como é de costume em histórias do Sentinela das Estrelas, a filosofia existencial e momentos profundamente reflexivos tomam conta das páginas, nos fazendo sentir, a cada palavra, um pouco do poder cósmico que os humanos experimentaram na história. Apenas leia… e sinta, por você mesmo, toda a lufada de esperança e liberdade que Norrin Radd sentiu em seus anos de vida.

Nota: Diamante.

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Golden Boy: o que te faz feliz?

Posso começar esse texto dizendo que sempre tive uma ideia quase que utópica de felicidade – e a palavra “estabilidade” foi predominante no meu conceito. Nós nascemos, crescemos um pouco, entramos na escola. Estudamos. Crescemos um pouco mais, nos formamos. Trabalhamos, e trabalhamos bastante. Se ousarmos escapar mesmo que de forma sutil dessa linha imaginariamente consensual, sofremos o risco do arrependimento ou até mesmo do medo de não estarmos seguindo o que se considera o mais aceitável. Mas… é só isso então? A vida é um corredor estático e segue apenas uma direção? O descobrimento de nossas próprias indagações não estaria entrelaçado unicamente à nós mesmos?

Ok, admito que essa foi uma introdução longa, mas no decorrer do texto vocês vão entender onde eu quero chegar.

Lançado em 1995, Golden Boy é um anime de 6 episódios, produzido pela Shueisha em conjunto com a KSS. Baseado no mangá de mesmo nome, o criador Tatsuya Egawa nos apresenta à jornada do jovem Oe Kintaro, um rapaz de 25 anos que optou por “largar tudo” e viajar com sua fiel bicicleta pelo Japão. Kintaro decidiu que iria aprender sobre a vida, percorrendo seu país não em busca de si mesmo, mas em busca de um aprendizado que só poderia ser conquistado através de uma vivência única.

Ao longo dos 6 episódios, vemos o personagem passar de cidade em cidade, de trabalho em trabalho, sempre buscando aprender o máximo que pode no lugar em que se encontra. O desapego que Kintaro tem com relação ao que a maioria considera como essencial é o que permeia toda a essência do anime, nos mostrando como a alegria pode ser encontrada nas menores e mais simples coisas.

No primeiro episódio, o jovem acaba conseguindo um emprego como faxineiro de uma empresa de informática comandada por mulheres. Mesmo ocupando uma função “simples” e que nada tinha a ver com a computação, Kintaro está sempre com um caderno em mãos, anotando tudo que as suas chefes lhe dizem e até mesmo tudo que elas falam entre si sobre programação e tecnologia. O ânimo em absorver o que o atual momento lhe proporciona é inclusive reparado pelas moças, que veem no jovem uma curiosidade excepcional.

Numa noite, ao estar sozinho no trabalho após o expediente, Kintaro vê um dos computadores ligados, e, numa falha tentativa de poupar energia e ajudar a natureza, desliga o aparelho. O ato ecológico, no entanto, acaba por jogar fora todo o trabalho de meses da empresa, que estava desenvolvendo um programa de computador para um exigente cliente. Perdendo o emprego, Kintaro sente que precisa, de alguma forma, compensar o erro e ajudar as mulheres, começando então a ele mesmo desenvolver o programa que havia deletado. Consultando suas próprias anotações do seu tempo na empresa e mais diversos livros, o jovem consegue criar do zero um software ainda melhor do que o deletado, entregando o arquivo na empresa com um pedido de desculpas e agradecendo por todos os ensinamentos que teve.

Ao perceberem o resultado e o talento de Kintaro, as empresárias procuram pelo jovem, que já havia subido em sua bicicleta e partido rumo à uma nova aventura. O rapaz sente que sua função ali já foi cumprida, que aprendeu o que podia e que conseguiu, de alguma forma, ajudar as pessoas que conheceu.

Em outro momento, vemos Kintaro agora trabalhando em um restaurante de massas artesanais. Morando provisoriamente em um quarto na casa dos proprietários, Oe fala que vai partir assim que o braço do responsável melhorar e o mesmo já puder preparar os pratos sem dificuldades. No decorrer desse tempo, percebemos como o jovem se importa com a família que o contratou – e o acolheu -, dando duro no trabalho, ajudando no que precisa e, o mais importante: vemos como ele está feliz em estar ali.

Sabemos – nós expectadores e a família do restaurante – que a estadia de Kintaro é passageira; sabemos que ele seguirá seu caminho e que as pessoas que ele conhecerá não embarcarão na mesma jornada. Entretanto, mesmo tendo ciência desses fatos, sentimos quando a despedida acontece. Novamente, ao sentir que ali cumpriu sua missão, Kintaro parte, carregando consigo a experiência que adquiriu e os laços que criou.

Kintaro nos faz refletir sobre nossos próprios conceitos de felicidade e aprendizado, nos ensinando (mesmo sendo ele quem está buscando aprender) a olharmos para as oportunidades como uma nova forma de encarar a vida. Percebemos como muitas pessoas irão passar pelos caminhos de Oe e que, mesmo que elas não permaneçam, suas marcas serão eternas. A  solidão de constantes separações acaba sendo compensada pelas belas paisagens que conhece, pelos lugares que visita e pelos encontros que essa incrível jornada lhe proporciona. E, uma coisa eu posso afirmar: Kintaro é feliz. Kintaro leva a felicidade aonde vai, e, do seu jeito, transforma a vida de quem cruza seu caminho, nos mostrando que parte da trajetória também é a partida.


Mesmo sendo um anime ecchi, com cenas de insinuação sexual e até mesmo nudez, Golden Boy consegue empregar a sexualidade de uma forma eficaz, sendo coerente com a narrativa, mesmo que as vezes acabe pesando um pouco na dose. Cabe ressaltar que, por ser uma produção de mais de 20 anos atrás, temos muitos conceitos e entendimentos da época, fazendo com que algumas cenas e piadas se tornem “datadas”. A animação é muito bem feita e produzida, tendo o estilo único que os anos 90 proporcionaram para os padrões estéticos e de traçado. Recomendo essa obra, do fundo do meu coração, não somente aos amantes de animações japonesas, mas à todos que procuram uma trama diferenciada quanto à mensagem que traz. O anime pode ser encontrado na Crunchyroll, clicando AQUI.

PS: se te der vontade de pegar uma bicicleta e sair pelo mundo… não esqueça: a vida é boa e merece ser vivida todos os dias.


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Invencível: principais diferenças entre a série e os quadrinhos

Você sabia que o novo sucesso da Amazon Prime Vídeo é baseado em uma HQ? Escrita por Robert Kirkman (The Walking Dead, The Oblivion Song) e ilustrada por  Cory Walker e Ryan Ottley, Invencível começou a ser publicada em 2003 pela Image Comics, sendo concluída com 144 edições e 25 encadernados nos Estados Unidos.

Mesmo mantendo um padrão de narrativa muito parecido, as versões apresentam algumas diferenças entre si.  Abaixo, listamos as principais mudanças ocorridas na série, para que você não fique por fora de nenhum acontecimento.

Traço

As 7 primeiras edições de Invencível foram desenhadas por Cory Walker. Podemos dizer que a pegada de Cory é bem característica, entregando uma identidade única à obra. Logo após, quem assume os desenhos é Ryan Ottley, mudando um pouco o visual.

Mark por Cory Walker e, ao lado, por Ryan Ottley.

Na série, temos um estilo mais “fluido”, que nos lembra várias animações clássicas de super heróis. A animação é super competente, nos entregando ótimos planos e movimentações, além pegar pesado nas cenas de violência.

Mark e seus colegas de colégio na animação.

 

Assassinato dos Guardiões do Globo

Na série, Omni-Man, ainda no primeiro episódio, mata todos os Guardiões do Globo em uma cena extremamente gráfica e de violência explícita. Após uma luta árdua com seus companheiros, o até então “herói” consegue realizar seu objetivo, porém, acaba sendo gravemente ferido.

Omni-Man após assassinar os Guardiões na série e, abaixo, nos quadrinhos.

Nos quadrinhos, essa cena só ocorre na edição número 6, e é bem mais curta e menos violenta. Em poucos quadros, já vemos todos os heróis sendo mortos rapidamente, e Omni-Man sai ileso.

 

Luta contra os Flaxans

Na HQ, a primeira aparição dos Flaxans acontece enquanto Omni-Man e Invencível estão voando juntos. Pai e filho lutam contra a invasão alienígena, e Omni-Man acaba sendo sugado pelo portal interdimensional dos invasores.

Na série, contudo, o ataque dos Flaxans ocorre enquanto Omni-Man ainda está no hospital, ferido após massacrar os Guardiões do Globo. É durante a invasão que somos apresentados a Tropa Teen e seus integrantes, que combatem os verdinhos.

Flaxons
Flaxans em sua primeira aparição na série.

 

Tropa Teen

A primeira aparição dos jovens heróis também muda de uma mídia para outra. Enquanto na série isso acontece na primeira luta contra os Flaxans, nos quadrinhos é Mark quem acaba se encontrando com a Tropa.

Tropa Teen
Invencível junto com a Tropa Teen.

À noite, enquanto testava seus poderes de voo pela cidade, Invencível acaba se deparando com vilões roubando aparelhos de vídeo game em uma loja. Logo em seguida, chega a equipe para combater o crime, e temos uma breve interação entre os adolescentes.

Primeira aparição da Tropa Teen nos quadrinhos.

 

Origem do codinome “Invencível

Na versão em quadrinhos, após uma briga com um valentão, Mark vai parar na diretoria. É conversando com o diretor que surge a ideia para seu nome de herói, após o mesmo dizer para Mark se lembrar de que “não é invencível”. Entretanto, na série, a ideia surge a partir de uma fala do Omni-Man, que diz para Mark que ele é “realmente invencível”.

 

Debbie e Amber

Nos quadrinhos, o desenvolvimento das personagens femininas é bem raso. Tanto Debbie – mãe de Mark – como Amber, tem seus papeis reduzidos a meros assessórios do protagonista. Debbie está sempre em casa, sendo bem passiva com relação aos acontecimentos envolvendo seu marido e filho. O início do relacionamento entre Amber e Mark também é bem vazio – nem sabemos o nome dela até Mark abrir um bilhete que a garota lhe entrega. O casal tem poucas conversas e Amber também tem uma posição complacente quanto as constantes ausências de seu namorado.

Primeira interação entre Mark e Amber.

Na série, temos uma participação mais ativa das duas. Debbie tem mais voz, conversa bastante com Mark e tem um papel bem relevante na vida do personagem. Amber, seguindo na mesma linha, tem bem mais atitude do que nas HQ’s. Seu interesse em Mark é mais desenvolvido e o casal tem uma química que faz bem mais sentido.

 

Os adolescentes-bomba

Logo nas primeiras edições dos quadrinhos, somos apresentados a uma curta trama envolvendo o professor de física de Mark e Eve. Nela, o professor sequestra e transforma alguns de seus alunos em bombas humanas, com a intenção de vingar o rumo que sua vida tomou após a morte de seu filho.

A série, contudo, deixou de lado essa parte da história, não citando o ocorrido. Cabe frisar que tal ato não prejudica de forma alguma o rumo da história, e é totalmente descartável.


É importante dizer que a série ainda está em sua primeira temporada. Os criadores optaram por pegar alguns acontecimentos que ocorrem posteriormente nos quadrinhos e incorporá-los logo de início, mas isso não causa nenhum prejuízo à história. Se você gostou da animação, deixo aqui a minha sincera indicação das HQ’s, tanto como um “spoiler” dos próximos episódios como também uma complementação ao que foi apresentado.

Os quadrinhos de Invencível podem ser encontrados na Amazon através dos links abaixo!

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4 versões em quadrinhos de livros famosos que você precisa conhecer

Você é do time que prefere livros ou graphic novels? Independente da sua preferência, tenho certeza que essa lista despertará 100% do seu One for All literário.

Fahrenheit 451

Situado em um futuro distópico, Fahrenheit 451 nos mostra uma sociedade em que ler e ter livros é estritamente proibido. Os “bombeiros”, funcionários responsáveis por cessar tais atos ilícitos, se encarregam de queimar os livros e perseguir aqueles que os possuem. O título da obra faz alusão à temperatura de queima do papel, em graus fahrenheits. Publicado pela primeira vez em 1953, o romance de Ray Bradbury ganhou uma adaptação em quadrinhos em 2009, escrita e ilustrada por Tim Hamilton e publicada aqui no Brasil pela editora Excelsior.

1984

Grande clássico de George Orwell, 1984 também se passa em uma realidade distópica, mais precisamente no ano que dá nome ao livro. Situado na “Pista de Pouso Número 1”, na província do superestado da “Oceania”, Orwell nos mostra uma vida completamente vigiada, pensamentos totalmente reprimidos, ideias cerceadas e um governo absurdamente totalitário. Tendo o “Grande Irmão” como líder do Partido regente, os cidadãos são direcionados a uma total obediência e submissão, não sendo permitida qualquer tipo de discordância e dissidência. Adaptado e ilustrado pelo artista brasileiro Fido Nesti, o quadrinho foi lançado em 2020 pela editora Quadrinhos na Cia..

A Revolução dos Bichos

Também de George Orwell, A Revolução dos Bichos é uma breve e potente fábula que aponta as ironias e contradições do regime socialista da União Soviética stalinista. A trama se passa em uma fazenda, e temos a percepção dos fatos através dos animais que habitam o local, bem como a sua indignação com o tratamento à que são submetidos pelos humanos da propriedade. Tendo como objetivo sua emancipação e liberdade, os animais, liderados pelos porcos, se “rebelam” contra os humanos e passam a viver em uma sociedade utópica. No entanto, com o passar do tempo, percebe-se que “todos os animais são iguaismas alguns animais são mais iguais do que os outros”. A adaptação foi realizada pelo também brasileiro Odyr, e publicada em 2018 pela editora Quadrinhos na Cia..

Sapiens – Uma Breve História da Humanidade

Baseada no best-seller homônimo de Yuval Harari, esta graphic novel nos conta, de forma didática e muito bem ilustrada, a evolução humana e, consequentemente, a evolução do mundo. Passando dos neandertais até o homo sapiens sapiens, temos um excelente panorama científico, histórico e cultural da até então espécie dominante do planeta Terra. Adaptada por Daniel Casanave e ilustrada por David Vandermeulen, Sapiens foi publicada pela editora Quadrinhos na Cia. em 2020.