Todos possuem um monstro interior esperando a hora certa para despertar. Nas mãos de Marjorie Liu e Sana Takeda esse monstro existe no sentido literal e lembra muito um kaiju.
Monstress é um dos títulos regulares da Image Comics de maior sucesso. Foi indicado ao Eisner Awards 2016 na categoria de Melhor Série Estreante. Recentemente, foi indicado ao Hugo Awards 2017 na categoria Melhor História em Quadrinhos. O roteiro é de Marjorie Liu (X-23 e Viúva Negra: O Nome da Rosa) e a arte é de Sana Takeda (X-23 e Miss Marvel). O primeiro arco chama Awakening (Despertar) e compila as edições #1-6 do título.
Sinopse:
“Em uma Ásia fictícia e mística entre o final do século XIX e início do século XX, uma guerra civil devastou duas raças de seres que viviam em harmonia. Agora, o povo dos Arcânicos é escravizado pelos humanos e usado com extrema crueldade pela ordem das Cumea, que pretendem obter poderes mágicos através do lilium, substância extraída dos arcânicos. Neste enorme contexto – envolvendo sequelas de guerra, política, magia e escravidão – conhecemos Maika, uma jovem que sofreu perdas irreparáveis e foi transformada durante o conflito raças, e agora busca reparação usando métodos extremos.“
Antes de falar sobre a história é preciso conceituar o universo construído por Liu e Takeda.
Em Monstress, toda uma mitologia é criada usando elementos de fantasia e cultura japonesa. Neste mundo existem cinco raças: Gatos, Humanos, Antigos, Arcânicos e Deuses Antigos.
Os Gatos, a raça mais antiga, descendem de Ubasti, a primeira gata.
Os Humanos, que se arrastaram do mar e povoaram a terra. A magia é negada a eles, mas algumas mulheres nascem com um poder que imita o Arcano. As Cumea roubam essas crianças para sua ordem e também massacram arcânicos pelos seus poderes.
Os Antigos, imortais cuja origem é um mistério e não se sabe se descendem das feras ou se as feras descendem deles.
Os Arcânicos, híbridos de humanos e antigos. Poucos se parecem com humanos.
Os Deuses Antigos. Não se sabe muito a respeito desses seres, a não ser que são criaturas destrutivas com poderes imensos. Os poetas acreditam que um dia eles ameaçaram toda a existência, mas foram banidos do mundo, com exceção de um deles, o mais terrível. Um dia ele despertará…
Essa conceituação básica também é feita aos poucos no final de cada edição para que o leitor se ambiente nesse universo.
Awakening (Despertar) serve como uma introdução de todo o universo construído por Marjorie Liu e Sana Takeda. Liu nos apresenta muitos personagens e conceitos próprios desse mundo e Takeda dá identidade visual aos ambientes e personagens.
Como uma típica fantasia épica (Já explorei as dimensões de histórias épicas aqui), a narrativa começa no meio de uma trama maior. Uma série de eventos começa a se desenrolar envolvendo a misteriosa Maika Halfwolf. Além disso, há ainda a sombra de uma guerra passada entre arcânicos e humanos.
Maika é da raça dos arcânicos e faz parte da minoria de seu povo que possui aparência humana. A jovem possui um passado sombrio e vive um presente pior ainda, que envolve um monstro sinistro que vive dentro de si.
Algo bastante notável na trama é o protagonismo de personagens femininas. Elas são líderes, soldados, escravas, cientistas e até divindades. Mal há personagens masculinos na história e os poucos que existem tem papéis menores dentro da trama. Os homens existem e possuem seus papéis na história, mas o protagonismo é das mulheres. O mais interessante de tudo, e grande mérito da roteirista, é que isso soa de forma natural nesse universo.
Talvez um ponto negativo para alguns seja a grande quantidade de informações. Há muitas informações sobre a conceituação do mundo, e isso não é feito de uma vez. A escritora preferiu explicar seu mundo aos poucos. A história começa com uma série de acontecimentos que o leitor só virá a entender algumas coisas quando o arco estiver próximo ao fim. Portanto, é um pouco difícil acompanhar a trama e uma releitura pode ser necessária.
Em relação à arte de Sana Takeda, é possível resumir em: tudo é muito belo. O lápis, as cores, os painéis, a construção do mundo, o design dos personagens e as expressões faciais com influência dos mangas. Tudo é belo. Quando digo que tudo é belo, é tudo mesmo. Takeda transforma toda a conceituação de Marjorie Liu em algo bonito de se ver. A trama pesada e densa de Liu é muito bem retratada pela desenhista. Talvez os melhores momentos da arte sejam as aparições sinistras do monstro de Maika, que são cair o queixo parar para ficar observando.
Monstress é o resultado de quando duas pessoas talentosas se unem para criar um universo grandioso, bonito, representativo, misterioso e empolgante de se acompanhar.