Recentemente, comemoramos o 35° aniversário de uma das obras mais cultuadas do cinema e do gênero sci-fi: Blade Runner, o Caçador de Androides. Em sua época de lançamento no ano de 1982, o filme foi um fracasso de bilheteria e teve uma baixa receptividade por meio das mídias e dos espectadores. Porém, este se tornou um marco e inspiração para alguns diretores e autores que tentam explorar esse mundo nos cinemas e na literatura.
Ridley Scott adaptou a ideia de Phillip K. Dick em Androides Sonham com Ovelhas Elétricas? para o cinema de uma forma visualmente incrível e filosófica. Até hoje, vemos na internet e nas redes sociais citações de passagens conhecidas, principalmente a dita pelo replicante Roy Batty nos minutos finais do longa: “Todos esses momentos se perderão no tempo, como lágrimas na chuva.”. Após esse fantástico diálogo em que o filme tenta resumir questões sobre a existência da humanidade, há um encerramento com algumas perguntas deixadas no ar. (Dependendo da versão que você assistiu.)
Se Rick Deckard é um replicante, talvez não seja algo que precisa ser retomado ou explicado. Nem mesmo a história de Rachael e como foi o seu desfecho. O roteiro é fechado e tem as conclusões de personagens e conflitos. Contudo, nessa onda de reboots e continuações que estamos passando, Blade Runner foi um dos novos alvos da indústria.
O público em geral ficou muito receoso pelo anúncio. Desde os mais jovens até os mais velhos que foram aos cinemas prestigiar a história. Fazer um reboot já seria uma bomba, e fazer uma continuação direta seria uma bomba atômica… a famosa brincadeira de “pisar em um território sagrado.’’
Talvez Blade Runner 2049 não seja bom e resulte em um fracasso, além de se tornar um dos piores do ano. Entretanto, há uma equipe e um elenco talentosos que estão orquestrando tudo e por isso, eu repito: a continuação da obra de 1982 merece uma chance e a nossa atenção.
O nome é Dennis Villeneuve.
Villeneuve é um dos grandes nomes atuais no cinema. O diretor canadense tem um currículo invejável com filmes como: Sicario: Terra de Ninguém (2015), Os Suspeitos (2013) e O Homem Duplicado (2013). Mas há um que merece ser destacado, chamado A Chegada, que concorreu ao Oscar de 2017.
Essa obra do canadense tem tudo o que um filme de ficção científica precisa, com bastante diálogo, metalinguagem, simbolismo e as mensagens que transcendem à nossa sociedade, nossa evolução, nossa linguagem e o nosso tempo. A Chegada aborda todos esses temas com delicadeza e precisão, chamando atenção pela qualidade do roteiro e da estética deslumbrante.
O diretor aceitou a participar da continuação de Blade Runner e um dos motivos foi o roteiro escrito por Hampton Fancher (Blade Runner) e Michael Green (Logan). Se o canadense se sentiu atraído pelo roteiro, algo o deve ter chamado atenção. A junção do trabalho dele em A Chegada com uma história escrita por Fancher e Green, ambos competentes, pode render algo positivo.
O elenco não fica de fora.
O elenco também merece ser citado aqui. Além do retorno de Harrison Ford, que parece estar tão bem como nunca, Ryan Gosling (Drive), Dave Bautista (Guardiões da Galáxia), Robin Wright (House of Cards) e Jared Leto (Clube da Luta) são alguns dos nomes que vão compor a equipe e ambos são destaques em seus respectivos trabalhos.
Um elenco poderoso como esse pode criar uma excelente química e expor importantes conceitos através de seus personagens.
A questão não é ser melhor, mas fazer um filme decente que respeite o antecessor.
O astro Ryan Gosling e o diretor Dennis Villeneuve conversaram sobre a probabilidade de fracasso, confira:
“Ryan Gosling e eu fizemos as pazes com a ideia de que as chances de sucesso eram muito estreitas. Eu entrei no filme porque o roteiro foi muito forte. Mas não importa o que você faça, não importa o quão bom seja o que você está fazendo, o filme sempre será comparado ao primeiro, que é uma obra-prima. Então fiz as pazes com isso. E quando você faz isso, você é livre.“.
Até o mestre Ridley Scott deu uma chance à Villeneuve, conta o diretor:
“Ele me disse: é o seu filme. Eu estarei lá se você precisar de mim, do contrário estarei fora. E tenho que dizer que ele não estava no set fisicamente, mas eu sentia sua presença o tempo todo, porque eu estava lidando com o seu universo. Então ele não estava e estava lá ao mesmo tempo”.
Esse pensamento de aceitar a receptividade do público, mas também de entender o trabalho que foi feito com tanto carinho e dedicação merece uma chance de nós. Não importa se já saíram reações falando da lentidão (não é um problema) ou da história meio arrastada, nem das expectativas frustradas de alguns pelos trailer exibidos.
Em outubro deste ano, espero que muitas pessoas assistam ao filme sem preconceito. Entender que a continuação, apesar de ser movida pela indústria, esteja sendo feita por uma excelente e competente equipe, que têm plena consciência do seu trabalho.
Só nos resta dar uma chance para Blade Runner 2049… tenham uma ótima sessão.