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Pinguim gigante!

Gigante não é o sobrenome de Oswald Cobb, mas é isso o que a sua série representa: grandeza! Minuciosamente elaborada e executada com impressionante maestria, Pinguim se destaca como uma das melhores séries do ano, oferecendo muito mais do que o público poderia esperar. Com um enrredo beirando ao manipulável e detalhadamente bem trabalhado, a série não apenas amplia o universo de Batman, como o enriquece, mergulhando-o em uma atmosfera densa e realista que revela o submundo de Gotham com profundidade e autenticidade perante à uma jornada que está sendo cuidadosamente construída por Matt Reeves

Através de uma abordagem deligente e um desenvolvimento centrado em personagens ricos e multifacetados, Pinguim transporta o espectador para uma história sem glamour, onde as forças do crime e da corrupção têm um brilho particular e perturbador. Com a dedicação de Reeves em consolidar essa narrativa, a série não apenas entretém, mas constrói uma base sólida para um universo que não se limita ao mito de Batman, mas celebra a complexidade de cada personagem que o habita.

bear 122 stan blog — Oswald "Oz" Cobblepot | The Penguin
Pinguim é a série derivada de Batman do Universo Expandido da DC que sobre um dos vilões mais clássicos dos quadrinhos, o mafioso de Gothan City Pinguim. A produção acompanha a ascenção de Oswald Cobblepot (Colin Ferrell), o Pinguim, um grande magnata de Gothan City envolvido no submundo de crime e corrupção. A trama irá focar na vida de Oswald antes de se tornar o grande vilão Pinguin enquanto ainda era um “ninguém desfigurado” que ajudava o mafioso Carmine Falcone a realizar seus trabalhos sujos. Embora ainda não seja levado a sério como criminoso, Pinguin já demonstra um lado violento e impulsivo, atacando quem entre no seu caminho e atrapalhe seus planos.
A escolha em transformar Ozz em um mafioso humanizado (aparência), em vez de se limitar ao estereótipo de uma “criatura” que vive no esgoto, resulta na representação mais autêntica e marcante do personagem já vista. Colin Farrell entrega uma interpretação excepcional, dando ao Pinguim uma complexidade inédita, onde a humanidade não é sinônimo de redenção, mas de uma vilania oportunista e calculista. O roteiro colabora brilhantemente com essa construção, apresentando Oswald como um ambicioso sem qualquer ética, que age puramente em benefício próprio, sem qualquer traço de vitimização ou romantização. Ele é mau por natureza, e não há tragédia ou trauma redentor que justifique suas ações, apenas a frieza e o desejo incessante pelo poder.
Esse tratamento cuidadoso ao mafioso é uma das muitas qualidades que destacam Pinguim. O roteiro é sólido e audacioso, com momentos verdadeiramente imprevisíveis e um desenvolvimento de personagens que abraça os pecados de de Gotham.
A direção, por sua vez, adiciona uma atmosfera imersiva à série, combinando perfeitamente com a atuação de Farrell, que domina cada cena com intensidade e presença narcisista. Sob essa visão criativa e rigorosa, Pinguim brilha como uma série que entende seu material de origem, mas também não tem medo de modernizar, consolidando-se como uma peça fundamental no universo que Matt Reeves está construindo.
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Ainda que Oswald seja o protagonista de Pinguim, ele não brilha sozinho. A série apresenta Sofia Falcone (ou Gigante, para os mais íntimos) como uma oponente à altura, e Cristin Milioti traz uma interpretação poderosa e multifacetada ao papel. Conhecida por sua delicadeza e doçura, Milioti surpreende ao subverter essas características, entregando uma performance carregada de nuances que refletem a dualidade de Sofia , uma figura envolta em tragédia e privilégios da alta sociedade. Ela incorpora a personagem de forma magistral, transitando entre a fragilidade e o poder com uma habilidade que só os grandes atores possuem. Seu desempenho é tão imersivo e marcante quanto o de Farrell, e certamente mereceria uma indicação a um Emmy pelo trabalho camaleônico que realiza aqui.

O único ponto fraco de Pinguim está na ausência de Batman , não em termos de presença física, que realmente não é essencial, mas pela falta de referência a ele entre os habitantes de Gotham. Em seu filme, o Cavaleiro das Trevas é estabelecido como uma ameaça constante, um símbolo de medo e vigilância para o submundo criminoso. Contudo, aqui, sua figura se perde quase por completo, sendo mencionada brevemente apenas no primeiro episódio, através das palavras de um jornalista. 

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Pinguimé uma verdadeira joia dentro do universo de heróis e vilões dos quadrinhos, mas o que a torna realmente única é sua audácia em transcender as convenções do gênero. Em vez de se prender ao arquétipo aventuresco de histórias tradicionais, a obra assume uma identidade própria, rica em nuances e maturidade. Com uma narrativa ancorada em personagens complexos e interpretações memoráveis, como as de Colin Farrell e Cristin Milioti, Pinguimrevela a profundidade e o lado sombrio de Gotham com um realismo brutal e um toque de elegância que desafia as expectativas de uma adaptação de hq’s. Em mãos hábeis, desde o roteiro à direção, a série constrói uma trama visceral e viciante que se apoia na complexidade dos personagens e não nas habituais explosões e efeitos. É uma produção que se destaca pela autenticidade e excelência, marcando-se como uma adição rara e valiosa ao legado de Matt Reeves, uma verdadeira obra de ouro no gênero.
NOTA: 4,5/10
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Uma linda e triste história sobre o tempo que passou de Todos Nós Desconhecidos

O que você faria se pudesse estender um pouco mais o tempo com aqueles que já se foram, mas ainda ocupam um espaço importante em seu coração? Todos Nós Desconhecidos, produzido pela Disney através da Searchlight Pictures, nos propõe exatamente essa reflexão. Vendido como um drama queer, o filme transcende os limites de um simples romance LGBT+, apresentando uma história que explora o amor e a importância do cuidado e da conexão com aqueles que, mesmo não estando mais presentes fisicamente, permanecem essenciais para nossa evolução emocional e espiritual.

Ao seguir essa linha sensível e introspectiva, a trama de Todos Nós Desconhecidos convida o público a refletir sobre como o amor não se limita ao tempo ou à presença física. É um longa que, além de abordar o afeto, abre espaço para analisarmos sobre os efeitos duradouros dos relacionamentos em nossas vidas, mostrando que cada conexão, cada laço, contribui de maneira singular para nosso autoconhecimento e desenvolvimento.

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Uma noite em seu prédio quase vazio em Londres, Adam tem um encontro casual com seu misterioso vizinho Harry, o que acaba abalando o ritmo de sua vida cotidiana. À medida que Adam e Harry se aproximam, Adam é levado de volta à casa de sua infância, onde descobre que seus pais falecidos estão vivos e parecem ter a mesma idade do dia em que morreram, há mais de 30 anos.
A obra aborda o luto de forma profundamente humanizada, retratando-o não como uma ferida aberta, mas como uma sensação de ausência que ainda pulsa na vida de quem perdeu alguém. A prdução permite que o público experimente a complexidade do luto de Adam, em que o reencontro com os pais traz à tona memórias, saudades e emoções que ele nunca pôde resolver. O espectador é convidado a revisitar esses sentimentos junto ao protagonista, sentindo a dor e o conforto de reencontrar aqueles que, de alguma forma, permaneceram marcados em seu coração. Esse retrato do luto vai além do convencional e traz uma narrativa cuidadosa, que explora o que significa conviver com o passado enquanto tenta seguir adiante.
A força emocional de Todos Nós Desconhecidos é amplificada pelas atuações excepcionais de Andrew Scott, Paul Mescal, Jamie Bell e Claire Foy. Cada um deles contribui para a veracidade e profundidade da película, convencendo o espectador da autenticidade das emoções. Andrew Scott, no papel de Adam, entrega uma performance sensível e contida, expressando o peso de memórias e saudades reprimidas. Paul Mescal, como Harry, insere uma tensão romântica e uma aura de mistério, que dão ao relacionamento um tom de descoberta e fragilidade. Já Jamie Bell e Claire Foy, interpretando os pais de Adam, trazem uma mistura de amor e nostalgia, criando a ilusão de que o tempo não passou para eles, enquanto fazem o espectador mergulhar na relação familiar interrompida.

Ao assistir a esses encontros e desencontros, o público sente-se envolvido pela atmosfera do filme, que evoca a melancolia e o mistério dos momentos íntimos de saudade e amor. Cada cena é trabalhada com um cuidado quase poético, onde a presença física e emocional dos personagens nos leva a refletir sobre o impacto permanente dos laços que formamos em vida. A direção delicada e o roteiro sensível conseguem capturar esse dilema entre o passado e o presente, provocando uma sensação de imersão que leva o público a sentir as dores e as alegrias de Adam. Essa é uma obra que nos relembra que mesmo amor se encerrando com a morte; ele se transforma em algo profundo e duradouro, que permanece em nós como um eco do que já foi.

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Todos Nós Desconhecidos é, em essência, uma narrativa poética sobre o tempo que passou e as marcas invisíveis que ele deixa em nós. O filme exala uma rara sensibilidade ao abordar o amor, o luto e as marcas que o passado deixa em cada um de nós. A história não apenas ressoa com aqueles que já experimentaram o luto, mas também evoca uma reflexão universal sobre as relações que definem quem somos e o quanto carregamos dos que amamos, mesmo quando não estão mais ao nosso lado. O longa consegue se distinguir no universo dos dramas ao oferecer uma experiência que é, simultaneamente, linda e dolorosa, tornando-se uma reflexão emocionante sobre os vínculos que persistem no tempo. Todos Nós Desconhecidos não é apenas uma obra cinematográfica; é um espelho para nossas saudades, um convite para reverenciar o passado e uma lembrança de que, em meio à perda, há sempre algo de profundamente belo.

NOTA: 5/5

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Uma surpresa mediana da Marvel Television chamada Agatha Desde Sempre

Existem surpresas boas, ruins e aquelas que ficam em uma zona intermediária. Agatha Desde Sempre, o “spin-off” de WandaVision, é, sem dúvida, uma representação repentina da Marvel Television que se posiciona nesse meio-termo.

Assim como a DC, que frequentemente lança séries sobre personagens que “ninguém pediu”, mas que conseguem gerar bons resultados, a Marvel decidiu seguir o mesmo caminho com uma produção focada na antagonista da Feiticeira Escarlate. À primeira vista, a ideia poderia soar monótona e sem atrativos; contudo, com um roteiro e direção que criem envolvimento até certo ponto, há o potencial para algo interessante, o que Agatha Desde Sempre até alcança, mas limitadamente.

Walk Up Lets Go GIF by Marvel Studios

Agatha Desde Sempre, spin-off de WandaVision, explora a origem da poderosa feiticeira Agatha Harkness, interpretada por Kathryn Hahn. Após os eventos de Westview, Agatha busca recuperar seus poderes perdidos. Agora, ela não está sozinha, pois se alia à House of Darkness, um grupo de bruxas dispostas a ajudá-la em seus planos. Além de Kathryn Hahn e Debra Jo Rupp, o elenco conta com Patti LuPone, Aubrey Plaza e Joe Locke. Na trama, uma nova série de tragédias assola Westview, deixando Agatha enfraquecida e desmotivada. No entanto, sua sorte muda quando um adolescente gótico misterioso a liberta de um feitiço distorcido e a convence a guiá-lo pela lendária Estrada das Bruxas, uma jornada mágica repleta de provações. Juntos, eles reúnem um clã de bruxas desesperadas e embarcam em uma perigosa aventura em busca do que Agatha mais deseja: recuperar o que lhe foi tirado. A série mergulha no passado da personagem, expandindo o universo mágico do MCU, enquanto Agatha enfrenta seus desafios e descobre o verdadeiro poder da magia e das alianças.

O maior mérito de Agatha Desde Sempre está na sua autonomia narrativa em relação ao restante do MCU. Embora faça parte de um universo interconectado e compartilhe algumas referências, a série evita depender de eventos grandiosos ou de personagens externos para conduzir sua trama. Em vez disso, oferece uma história que se sustenta e se desenrola por conta própria, trazendo uma narrativa coesa e interessante sem a necessidade de se apoiar em ganchos ou crossovers. Esse enfoque independente não apenas valoriza a produção como também amplia as possibilidades de desenvolvimento para o universo das bruxas da Marvel, fornecendo uma perspectiva fresca e menos previsível dentro de uma franquia que frequentemente adere a interligações obrigatórias.

Grande parte do charme e do apelo da série reside na atuação impecável de Kathryn Hahn como a personagem-título. Hahn consegue captar a essência da bruxa com uma sagacidade contagiante, incorporando Agatha com uma dose perfeita de carisma e sarcasmo.

 A presença de Joe Locke como Billy adiciona um toque ainda mais peculiar à dinâmica, já que ele transita entre a lealdade e a aversão em relação a Agatha, numa dualidade convincente, mas entendiante em determinados momentos. Esse vai-e-vem emocional, apesar de aceitável, em alguns momentos soa confuso, mas serve para intensificar o vínculo entre os personagens.

Aubrey Plaza, no papel de Rio Vidal, que eventualmente revela-se como Lady Morte, se destaca pela revelação. Sua presença enigmática e sensual, junto a habilidade de imbuir a personagem com uma certa ambiguidade moral tornam sua performance divertida de acompanhar. No entanto, essa revelação pode ser um ponto de estranhamento para aqueles menos familiarizados com o universo das HQs, uma vez que o desfecho de sua verdadeira identidade ocorre de maneira abrupta. Ainda assim, Plaza imprime um magnetismo que torna sua personagem uma adição considerável, contribuindo para o tom sedutor da obra que ela chega a flertar em determinados momentos. 

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Apesar dos acertos, Agatha Desde Sempre tropeça em um problema comum às produções televisivas da Marvel Televisoon: a inconsistência rítmica. A obra começa com um ritmo adeauado, cuidadosamente construindo sua atmosfera e introduzindo o universo das bruxas de forma minuciosa. No entanto, à medida que a trama avança, essa execução se torna errática, oscilando entre momentos de suspense eficaz e trechos apressados, onde a tensão perde força. Essa irregularidade impede que a narrativa mantenha o mesmo nível de impacto do início, comprometendo o potencial de imersão e enfraquecendo a experiência para o espectador que espera uma progressão mais estável.

Além disso, o desenvolvimento de alguns pontos cruciais sofre com a pressa em apresentá-los sem o aprofundamento adequado. Em busca de um final que fará gancho para uma produção futura, o seriado lança uma série de revelações e subtramas em rápida sucessão, deixando alguns arcos mal explorados ou até superficiais. Esse excesso de informações prejudica a construção de certos elementos que poderiam ter sido tratados com maior detalhe, tornando-os quase descartáveis ao invés de agregar valor à história principal. O resultado é uma narrativa que, embora repleta de potencial, resolve certas pontas relaxadamente, faltando a densidade que faria justiça ao universo denso e enigmático das bruxas.

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Em suma, Agatha Desde Sempre entrega uma experiência que, embora esteja longe de ser memorável, surpreende por sua independência narrativa e alguns acertos pontuais. Kathryn Hahn lidera o elenco com carisma, e a escolha de manter a série relativamente afastada das tramas centrais do MCU é uma decisão bem-vinda, conferindo ao projeto uma autonomia rara para a Marvel. Contudo, a produção acaba sucumbindo a problemas estruturais, com um ritmo irregular e a pressa em introduzir elementos sem o desenvolvimento necessário, comprometendo a profundidade que poderia elevar a trama. Assim, a série se posiciona como uma surpresa morna da Marvel Television: ainda que seja uma adição agradável ao universo de WandaVision, falta o fôlego para consolidar-se como algo mais significativo.

NOTA: 3/5

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A simplicidade encantadora de Look Back

O clichê também pode ser encantador, quando alinhado com uma direção competente e um roteiro que sabe fazer o básico. Look Back, média-metragem da Amazon MGM, é a personificação dessa premissa, conquistando o público com uma narrativa simples, mas profundamente emocionante.

Este média-metragem não busca reinventar o subgênero de dramédia; ao contrário, ele abraça a simplicidade e o realismo como pilares de sua trama. Essa escolha traz uma sinceridade que permite ao espectador se conectar com a história de maneira autêntica, lembrando que, às vezes, é no básico que reside o maior impacto.

Look Back' movie review: Tatsuki Fujimoto's poignant meta-manga is a  stirring tribute to creation - The Hindu

Look Back segue a história de uma aluna da quarta série, excessivamente confiante Fujino e a reclusa Kyomoto bem diferentes, mas o amor por desenhar mangás une essas duas garotas de uma cidade pequena, em uma história comovente de crescimento e progresso.

Para aqueles que conhecem a trama original do mangá, Look Back não traz grandes surpresas em sua adaptação, uma vez que não acrescenta nenhum elemento substancialmente novo. Porém, o público leigo ou aqueles que costumam consumir animes em formato de série ou filme sem acomapanhar suas versões literárias, poderão ser profundamente impactados pela conclusão apresentada, mesmo que ela tenha sido repetida incansavelmente em outras produções do gênero. A previsibilidade dessa conclusão, no entanto, não diminui o mérito do longa, que, com sua simplicidade e sinceridade, se revela um média-metragem visualmente encantador e emocionalmente envolvente, deixando o telespectador imerso em uma reflexão silenciosa sobre o que acabou de vivenciar.

A força da obra resiste justamente, em sua habilidade de conectar com a emoção do público sem recorrer a artifícios complexos. A humildade de sua narrativa permite que o conto seja vivido com mais impetuosidade, criando um espaço para que o espectador tenha nostalgia com as dores e alegrias da juventude de maneira imediata. Esse poder de ressoar, mesmo com recursos simplórios, é um dos aspectos mais admirados neste tipo de produção.

Além disso, a direção e roteiro de Look Back sabem explorar o ritmo da história de forma eficaz, equilibrando momentos suavidade emocional com complexos existênciais. Ao contrário de muitas adaptações que se perdem no desejo de inovar, a produção encontra seu charme na fidelidade à obra original, respeitando seus elementos fundamentais e, ao mesmo tempo, tornando-os acessíveis a um público mais amplo. Ao final, não é a novidade que cativa, mas a universalidade da mensagem e a habilidade do filme em comunicar sentimentos complexos de maneira simples e poderosa.

Look Back” Review: The Beauty of Art, Queer Love, Self-Growth, and No  Regrets - When In Manila

Look Back se destaca não por sua originalidade, mas pela forma como consegue transmitir uma profundidade emocional rara em uma obra de tão simples premissas. A adaptação do mangá, que poderia se perder na repetição, encontra sua força ao explorar de maneira sincera e tocante os temas universais de amar e perder.

A conclusão previsível, longe de enfraquecer a produção, confere-lhe uma melancólica elegância, reforçando a ideia de que, por vezes, o que realmente importa não é o que vem a seguir, mas o impacto do momento presente. Além disso, Look Back faz um pequeno desvio em sua abordagem do amor, ao mergulhar, ainda que de maneira sutil, no philia, o amor fraternal e a busca por entendimento mútuo, fugindo, assim, da narrativa focada apenas no eros tão comumente explorado. Ao final, o média-metragem nos deixa com mais perguntas do que respostas, não porque seja enigmático, mas porque, com sua simplicidade, nos força a refletir sobre o que de fato é essencial.

NOTA: 4/5

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A Substância | Um filme ou um comercial de luxo satírico?

Tudo aquilo que agrada pseudo-cults ou “cinéfilos” de Twitter costuma fazer sucesso, afinal, conquistar quem acredita fazer parte de um determinado grupo, mas na verdade não pertence a ele, é fácil, pois apela para a sensação de pertencimento. Essa é uma das razões pelas quais A Substância está ganhando tanta popularidade, mesmo sendo, na verdade, um longa-metragem que mais parece um comercial de luxo satírico, voltado para um coletivo com ausência de atenção que se considera cult apenas por assinar a Mubi.

Obras cinematográficas “toscas” que não se levam a sério e admitem isso desde os primeiros esboços do roteiro são dignas de admiração, principalmente pela coragem de chegar às grandes telas e assumir que estão ali apenas para oferecer entretenimento despretensioso. No entanto, quando o oposto ocorre — ou seja, quando filmes se levam a sério em demasia — surge um motivo real de preocupação. Esse é o caso de A Substância, que tenta se impor como uma obra profunda, recheada de uma suposta grande crítica social, mas acaba mergulhando em uma pretensão vazia.

É preciso reconhecer que A Substância tem uma proposta interessante e, em certos momentos, consegue criar uma atmosfera superficialmente intrigante. No entanto, ao tentar ser mais do que realmente é, o filme se encaminha para uma direção pífia. A obra se perde em simbolismos forçados e diálogos tão constrangedores que até os roteiristas de Os Simpsons poderiam criar uma sátira mais significativa. O resultado é uma tentativa falha de ser “cult”, que transforma a experiência em algo mais irritante do que impactante.

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Em A Substância, Elisabeth Sparkle (Demi Moore) é uma celebridade em declínio que enfrenta uma reviravolta inesperada ao ser demitida de seu programa fitness na televisão. Desesperada por um novo começo, ela decide experimentar uma droga do mercado clandestino que promete replicar suas células, criando temporariamente uma versão mais jovem e aprimorada de si mesma. Agora, a atriz se vê dividida entre suas duas versões (Margaret Qualley), que devem coexistir enquanto navegam pelos desafios da fama e da identidade. “Já sonhou com uma versão melhor de si mesmo? Você. Só que melhor em todos os sentidos. De verdade. Você precisa experimentar este novo produto, A Substância. MUDOU A MINHA VIDA. Ele gera outro você. Um você novo, mais jovem, mais bonito, mais perfeito. E há apenas uma regra: vocês dividem o tempo. Uma semana para você. Uma semana para o novo você. Sete dias para cada um. Um equilíbrio perfeito. Fácil, certo?”

A Substância não traz absolutamente nada de novo. Sua crítica social desgastada já foi abordada incontáveis vezes em produções anteriores, e de maneira muito mais contundente e eficaz. Filmes como Starry Eyes provaram que é possível trabalhar com uma premissa simples, mas com um grau de intensidade que A Substância jamais consegue alcançar. A superficialidade aqui é evidente e atroz, refletindo uma obra que se limita a reciclar temas e ideias sem qualquer tentativa genuína de subverter ou aprofundá-los.

A estética do filme remete a um comercial de luxo de grandes marcas, mas o problema é que sequer consegue atingir o nível mínimo de qualidade visual e narrativa que tal comparação exige. Coralie Fargeat, ao tentar ser pretensiosamente sofisticada, oferece um produto que falha não só no enredo, mas também na construção atmosférica. Se o objetivo era dialogar com um público que se considera “intelectualmente superior” por assinar Letterboxd, ela erra grotescamente ao escolher disseminar um ponto de vista vazio e prepotente, em vez de se focar em criar uma tensão real e sufocante. A diretora parece mais interessada em ostentar suas supostas habilidades cinematográficas do que em entregar uma narrativa sólida e angustiante.

Fargeat, ao invés de usar seu talento para criar uma obra memorável, prefere cair na armadilha da autoindulgência. O resultado é uma experiência cinematográfica que busca desesperadamente parecer “cult” e “sofisticada”, mas que apenas revela o quão rasa e desprovida de substância realmente é. Os diálogos são risíveis, os personagens são caricaturas vazias e, pior, a tentativa de crítica social soa mais como uma palestra enfadonha que não vai além da superfície.

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Entre as poucas qualidades que A Substância oferece, e que não são suficientes para sustentar um longa-metragem tão ofensivo, estão os efeitos práticos e algumas analogias religiosas e antropológicas espalhadas ao longo da história. No entanto, essas virtudes são raridades isoladas em meio a uma enxurrada de superficialidade. Os efeitos práticos, apesar de competentes, são desperdiçados em um roteiro que não faz justiça à sua aplicação, enquanto as analogias falham ao tentar atribuir uma profundidade que o filme simplesmente não tem.

A conclusão, embora grotesca, previsível e até risível, consegue causar um breve desconforto, algo que a produção lutava desesperadamente para alcançar desde o início, mas falhava miseravelmente. A única exceção relevante é a sequência do processo de clonagem, que se destaca por prestar uma homenagem interessante a clássicos do horror das décadas passadas, como A Coisa e O Enigma de Outro Mundo. No entanto, mesmo essa referência cai no vazio, pois falta à obra a tensão e o terror psicológico que esses filmes souberam criar com maestria.

A película parece mais preocupada em provocar uma reação superficial do que em contar uma história que realmente impacte ou ressoe com quem está assistindo. É uma produção que se perde em suas próprias pretensões e falha em entregar qualquer mensagem significativa. O filme, em vez de ser uma experiência instigante, torna-se uma prova de paciência para quem assiste, testando a resistência do público com uma narrativa que, além de rasa, é dolorosamente previsível.

The Substance: full-throttle feminism, excess and violence - The Face

Em suma, A Substância é uma tentativa fracassada de soar sofisticado, quando na verdade não passa de uma perca de tempo pseudo-intelectual disfarçado de cinema “cult”. Além de ser tedioso, é uma ofensa à paciência  de qualquer um que tenha um mínimo de bom senso cinematográfico. Com uma direção pretensiosa que visa agradar a si mesma mostrando o quão erroneamente boa ela é, um roteiro pífio e uma narrativa que se perde em sua própria mediocridade, ele não só subestima quem assiste, como insulta aqueles que esperavam algo, minimamente, decente. É uma experiência barcaça e sem identidade, destinada apenas a agradar quem se deixa enganar por rótulos omissos e embalagens pomposas.

Nota: 1,5/5

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Pisque Duas Vezes acerta em seu roteiro, mas tropeça em sua direção

Pisque Duas Vezes marca a estreia de Zoë Kravitz como diretora, um nome que desperta curiosidade, tanto pelo seu trabalho como atriz quanto pela promessa de uma nova visão no gênero de suspense. No entanto, ao assistir ao filme, fica evidente que, embora Kravitz demonstre um potencial indiscutível para criar narrativas intrigantes, sua falta de experiência como diretora afeta o ritmo e a entrega da trama. O longa, que gira em torno de um suspense psicológico, é tão complexo quanto parece à primeira vista, com um roteiro inesperado e envolvente, mas que, por vezes, se perde na execução lenta e cansativa.

Channing Tatum e Naomi Ackie encabeçam o elenco, trazendo dinâmicas contrastantes que funcionam de maneiras diferentes ao longo da produção. Enquanto Tatum parece preso a um tipo de papel que já interpretou várias vezes, Ackie brilha intensamente, carregando parte significativa da tensão dramática. Mesmo com performances desequilibradas, a obra é sustentado pelo roteiro afiado de Kravitz, que entrega reviravoltas chocantes e momentos que deixam o espectador preso à cadeira, ansioso pelo próximo movimento da história.

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A garçonete Frida o bilionário Slater King e concorda em passar as férias em sua ilha particular. Mas o que parecia ser a viagem perfeita se torna uma experiência angustiante quando Jess, a melhor amiga de Frida, desaparece. A garçonete questiona a realidade após situações estranhas acontecerem e luta para descobrir a verdade.

A maior virtude de Pisque Duas Veze está, sem dúvida, em seu roteiro. Kravitz, também responsável pela escrita, constrói uma narrativa rica em suspense, marcada por mistérios e surpresas bem elaboradas. A trama evita os clichês do gênero, surpreendendo com momentos de tensão bem construídos, que forçam o espectador a questionar tudo o que pensava saber sobre os personagens e suas motivações. É uma história que exige atenção total, e quando as revelações começam a aparecer, elas vêm como um golpe repentino, trazendo reviravoltas que são genuinamente chocantes. Kravitz demonstra um olhar astuto para a criação de suspense psicológico, fazendo com que o público desconfie de cada pequeno detalhe.

Enquanto o roteiro é o ponto alto do filme, a direção de Kravitz acaba sendo o elemento que enfraquece a experiência. Fica claro que esta é sua primeira incursão como diretora, já que alguns momentos parecem arrastados, com uma cadência que poderia ter sido mais ajustada. O longa, em certos trechos, sofre de um ritmo irregular, tornando-se entediante em partes que deveriam ser mais envolventes. A construção do suspense se dilui em sequências prolongadas e silenciosas que, em vez de contribuir para a tensão, acabam tornando a experiência cansativa. O resultado é uma obra que flutua entre momentos brilhantes e outros que carecem de força, prejudicando a imersão.

É claro que Kravitz ainda está encontrando seu caminho como cineasta, e isso é perceptível em várias decisões que acabam por minar o ritmo do filme. O resultado é uma obra que poderia ter sido muito mais impactante se tivesse uma mão mais experiente no comando. Mas, ao mesmo tempo, é uma estreia que mostra potencial, e Kravitz certamente tem o talento necessário para crescer nesse novo papel. Se ela conseguir alinhar seu olhar estético com uma narrativa mais fluida em suas futuras produções, podemos esperar grandes coisas de sua carreira como diretora.

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Channing Tatum, que tem um papel de destaque, traz mais uma vez o carisma que lhe é característico. Contudo, sua atuação carece de profundidade. Tatum parece preso a um tipo específico de personagem: o homem charmoso e misterioso, mas sem grandes variações emocionais. Não se pode dizer que ele seja um ator ruim, mas a sua performance não foge do que ele já fez em outros filmes. Seu personagem acaba se tornando previsível, sem grandes nuances, o que contrasta fortemente com a complexidade que o roteiro tenta oferecer. Tatum entrega o esperado, mas não surpreende.

Por outro lado, Naomi Ackie é o oposto de Tatum. A atriz mergulha profundamente em sua personagem, transmitindo desespero e inquietação em cada cena. Suas expressões faciais, gestos e até mesmo o silêncio que permeia algumas de suas falas refletem uma atriz em pleno controle de sua atuação. Ackie consegue traduzir o medo do desconhecido e o peso da trama de uma forma que mantém o público engajado. Sua personagem traz uma energia visceral que equilibra a falta de dinamismo de outras partes do filme, oferecendo ao público momentos genuínos de tensão e emoção. É inegável que sua performance é um dos elementos que mantêm o suspense vivo até o final.

Blink Twice (2024) | MUBI

Pisque Duas Vezes é um filme que, apesar de suas falhas, consegue se destacar pelo roteiro e pela atuação de Naomi Ackie. Channing Tatum mantém sua zona de conforto, enquanto Zoë Kravitz, embora tropece na direção, demonstra um talento promissor na criação de histórias. Ele certamente entrega o suficiente para manter os fãs do gênero interessados. Kravitz tem um longo caminho a percorrer, mas, com mais experiência, ela pode se tornar uma diretora a ser observada nos próximos anos.

Nota: 3/5 

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O Grande Gatsby de Baz Luhrmann: exuberância visual e tragédia antemporal

O Grande Gatsby (2013), dirigido por Baz Luhrmann, é uma adaptação visualmente deslumbrante e exagerada da icônica obra de F. Scott Fitzgerald. A extravagância da direção de Luhrmann, marcada por sua assinatura carnavalesca, encontra um casamento perfeito com a proposta original do romance, destacando a opulência de uma Nova York que fervilhava com festas luxuosas e sonhos impossíveis. A energia frenética e excessiva que o cineasta imprime nas grandes festas de Jay Gatsby reflete de forma vívida a era do jazz e os excessos da sociedade americana na década de 1920, oferecendo ao público uma experiência visual impactante e envolvente.

Em um filme que transborda exageros, seja pela trilha sonora anacrônica ou pelo visual quase surreal, Luhrmann consegue capturar a essência das celebrações extravagantes de Gatsby, fazendo da obra um espetáculo visual que seduz tanto quanto choca. As luzes ofuscantes, os cenários grandiosos e a opulência exagerada transportam o público para uma Nova York emergente, onde riqueza e status eram o centro das atenções. Essa abordagem vívida não só enriquece a narrativa, mas também eleva o tom teatral da história, trazendo à tona o caráter ilusório do mundo que Gatsby criou ao seu redor.

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Nick Carraway (Tobey Maguire) tinha um grande fascínio por seu vizinho, o misterioso Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio). Após ser convidado pelo milionário para uma festa incrível, o relacionamento de ambos torna-se uma forte amizade. Quando Nick descobre que seu amigo tem uma antiga paixão por sua prima Daisy Buchanan (Carey Mulligan), ele resolve reaproximar os dois, esquecendo o fato dela ser casada com seu velho amigo dos tempos de faculdade, o também endinheirado Tom Buchanan (Joel Edgerton). Agora, o conflito está armado e as consequências serão trágicas.

O fascínio de Nick Garraway por Jay Gatsby é um dos pilares mais intrigantes da narrativa. Nick, interpretado por Tobey Maguire, se vê irresistivelmente atraído pela figura misteriosa de Gatsby, um homem cuja vida de festas luxuosas oculta segredos profundos. À medida que o jovem narrador mergulha na vida de Gatsby, a busca por conhecer o verdadeiro motivo por trás das festas de arromba revela camadas inesperadas. Diferente do que se poderia esperar de um melodrama convencional, a motivação por trás das festas não se limita à busca de poder ou fama. O desejo de Gatsby por reencontrar sua amada Daisy Buchanan, e o sonho de recriar um passado idealizado, traz uma profundidade emocional inesperada para a história.

Essa revelação sobre as festas de Gatsby, ao invés de soar clichê, adiciona complexidade ao personagem-título, vivido por Leonardo DiCaprio com uma combinação perfeita de charme, mistério e vulnerabilidade. Gatsby, ao invés de ser apenas mais um magnata festeiro, é um homem trágico, obcecado por um ideal inatingível. Suas festas, repletas de brilho e grandiosidade, são apenas uma fachada para uma dor profunda e um desejo impossível de realizar. Esse contraste entre a exuberância externa e o sofrimento interno faz de Gatsby um personagem inesquecível, e a relação entre ele e Nick Garraway ganha nuances emocionais ricas que afastam a trama dos padrões previsíveis.

A interação entre Nick e Gatsby não só revela o lado humano por trás da fachada glamorosa do anfitrião, mas também coloca Nick em um dilema moral. Ao descobrir o real motivo por trás das festas, Nick se torna mais do que um mero espectador; ele passa a ser um confidente, alguém que compreende a tragédia por trás da luxúria. O filme explora essa dualidade de forma intrigante, permitindo que o público veja o quanto Gatsby, no fundo, é um homem solitário, preso a um passado inalcançável. O roteiro, nesse sentido, é bem-sucedido ao mostrar como os sentimentos e motivações dos personagens fogem dos estereótipos, trazendo frescor à história.

O Grande Gatsby (LEG) - Movies on Google Play

Apesar de Luhrmann conduzir com maestria a estética exagerada e teatral do filme, o uso excessivo de CGI em certas sequências compromete o impacto visual da obra. Há momentos em que o apelo estético, tão bem manejado em muitas cenas, é quebrado pela artificialidade dos efeitos digitais, afastando o espectador da sensação de imersão total. Em festas que já eram naturalmente grandiosas e cenas de paisagens urbanas que poderiam ser impressionantes por si só, a dependência excessiva de CGI cria uma barreira entre o público e o mundo que o filme tenta apresentar.

Em vez de recorrer a cenários práticos ou efeitos mais sutis, o filme acaba se perdendo em um excesso visual que prejudica o seu ritmo em alguns momentos. A extravagância estilística de Luhrmann, que é uma de suas marcas registradas, poderia ter sido ainda mais impactante se o diretor tivesse optado por elementos palpáveis em vez de depender tanto de tecnologia. Isso não chega a ofuscar a grandiosidade do filme como um todo, mas certamente há momentos em que o CGI desnecessário tira parte da mágica e da autenticidade que poderiam ter sido alcançadas com uma abordagem mais contida.

THE GREAT GATSBY (2013) movie review – Splatter: on FILM

No fim, O Grande Gatsby de Baz Luhrmann é uma obra visualmente estonteante e emocionalmente poderosa, que captura com precisão a essência da sociedade americana dos anos 1920. O exagero estilístico de Luhrmann, embora às vezes prejudicado pelo excesso de CGI, entrega uma adaptação moderna e vibrante de um clássico literário, trazendo nova vida a uma história que, mesmo quase um século após sua publicação, continua a fascinar. Com performances marcantes e uma direção ousada, o filme se destaca como a melhor versão cinematográfica da obra de Fitzgerald, proporcionando ao público uma experiência memorável e única.

NOTA: 4/5

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A ficção-científica que transformou V/H/S/Beyond o melhor filme da franquia!

V/H/S consolidou-se como uma saga de terror que oferece aos seus criadores total liberdade criativa por se tratar de uma antologia, presenteando os fãs com sete filmes (além de dois spin-offs) que oscilam entre segmentos de qualidade impressionante e outros tão vergonhosos que nem deveriam ter saído do papel. O que começou como uma produção de baixo orçamento, rapidamente escalou para obras mais ambiciosas, com cineastas renomados do mainstream de horror se envolvendo na franquia e trazendo novas visões e ideias.

Com o passar dos anos, a franquia foi evoluindo e, em 2024, a Shudder lançou V/H/S/Beyond, a nona produção dessa mitologia rica, que não apenas veio para somar, mas também com a pretensão de ser o melhor filme da série; um objetivo que, sem dúvida, foi alcançado com maestria.

O grande diferencial de Beyond não é apenas o orçamento maior ou os nomes por trás das câmeras, mas a capacidade de resgatar a essência visceral do terror que fez a franquia ganhar notoriedade, misturando-se com ficção. Cada segmento não só busca provocar medo, mas também explorar novos limites do gênero, entregando uma experiência que, mesmo para os mais veteranos fãs de horror, consegue surpreender.

V/H/S/Beyond (2024) - IMDb

V/H/S/Beyond conta com seis novas fitas horripilantes, colocando o terror na vanguarda de uma paisagem infernal inspirada na ficção científica.

Inspirando-se nas artes de Oleg Vdovenko e até trazendo um “sucessor” espiritual de Tusk: A Transformação, V/H/S/Beyond oferece aos seus diretores e roteiristas um nível mais evidente de intimidade em comparação aos filmes anteriores da série. Isso ocorre porque a produção escolheu seguir um caminho mais coeso, focando em uma abordagem única e convidando cineastas experientes na ficção e no terror para dar vida a suas visões perturbadoras.

Como em qualquer antologia, alguns segmentos irão ressoar mais com certos espectadores do que com outros. Contudo, a Shudder e o Bloody Disgusting conseguiram a rara façanha de criar um longa-metragem onde todas as fitas mantêm um padrão de qualidade consistente. Cada história vai direto ao ponto, sem enrolação, e entrega exatamente o que se propôs desde o início: uma experiência aterrorizante, com atmosfera densa e história criativas.

O grande trunfo de V/H/S/Beyond está em sua capacidade de equilibrar o experimentalismo com o tradicional. Mesmo trazendo elementos inovadores para a saga, como temas mais introspectivos e camadas de comédia, o filme não perde o impacto visual e visceral que os fãs esperam. Cada segmento se encaixa perfeitamente no contexto da antologia, criando uma narrativa que, embora fragmentada, parece coesa e bem amarrada.

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A grande inovação de V/H/S/Beyond reside na sua capacidade de pegar temas já amplamente explorados, como robôs e o conceito clássico de Frankenstein, e transformá-los em algo completamente imprevisível dentro do gênero de horror. O filme subverte as expectativas do público ao apresentar histórias que, à primeira vista, parecem seguir fórmulas conhecidas, mas logo se desviam para direções surpreendentes. Essa habilidade de impactar o espectador, mesmo em contextos familiares, é um dos pontos fortes da produção, intensificando a tensão e mantendo quem assiste sempre em estado de apreensão, sem jamais antecipar o que virá a seguir.

Além disso, a narrativa central, desenvolvida em formato de documentário, confere ao filme uma sensação de proximidade. Ao emular produções mais comuns em grandes estúdios, V/H/S/Beyond cria uma conexão imediata com o público, mas rapidamente desfaz essa segurança ao inserir elementos desconcertantes e sobrenaturais que desviam a trama de qualquer previsibilidade. Essa combinação entre o familiar e o perturbador torna o filme uma experiência singular, em que o espectador se sente constantemente desafiado, incapaz de adivinhar os próximos acontecimentos.

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V/H/S/Beyond não é apenas mais uma adição à antologia; é o ápice criativo da franquia. Com uma execução impecável, a produção consegue revitalizar temas consagrados, transformando-os em algo inesperado e aterrorizante. A forma como brinca com a familiaridade, ao mesmo tempo em que desafia o espectador com reviravoltas imprevisíveis, faz com que essa obra se destaque como a mais ousada e coesa de todas. A combinação de criatividade, direção afiada e uma narrativa que sabe exatamente até onde levar o público faz deste filme o maior marco da série. V/H/S/Beyond eleva o padrão de qualidade da franquia, consolidando-se como o melhor filme até agora.
NOTA: 5/5
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Vidas Passadas | Quando o final feliz é incomodo e prejudicado com a lentidão

Comédias românticas e romances são, sem dúvida, uma ótima escolha para quem busca entretenimento leve e descontraído após um dia cansativo. No entanto, a longo prazo, podem ser perigososs para aqueles que não possuem maturidade emocional. Isso ocorre devido aos gêneros em si, que, em sua maioria, são moldados por Hollywood e tendem a romantizar o amor de forma exagerada, criando expectativas irreais. Essa idealização afeta gerações recentes, alimentando visões ilusórias sobre relacionamentos. Em contraste, Vidas Passadas oferece uma visão mais realista dos altos e baixos do amor, proporcionando ao público uma perspectiva honesta e profunda sobre o que é “verdadeiramente” amar alguém no mundo real.

Vidas Passadas convida o espectador a refletir sobre os desafios e decisões que moldam um relacionamento ao longo do tempo, destacando que o verdadeiro amor está nos detalhes e nas escolhas difíceis, e não em idealizações inatingíveis.

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Escrito e dirigido por Celine Song, Vidas Passadas é um drama que conta a história de Nora (Greta Lee) e Hae Sung (Teo Yoo), dois amigos de infância com uma conexão profunda, mas que acabam se separando quando a família de Nora decide sair da Coréia do Sul e se mudar para a cidade de Toronto. Vinte anos depois, os dois amigos se reencontram em Nova York e vivenciam uma semana fatídica enquanto confrontam as noções de destino, amor e as escolhas que compõem uma vida.

Com uma narrativa simples, Céline Song utiliza suas habilidades como diretora para abordar a trama com um olhar sensível e realista, evitando cair no exagero dramático que tantas vezes permeia filmes do gênero. Em Vidas Passadas, a Céline equilibra de forma competente as dores e as alegrias que compõem o amor, mostrando que o sentimento é formado por uma complexa mistura de sensações. A trama é trabalhada de forma a capturar a autenticidade das emoções, revelando que o romance não é apenas feito de momentos felizes ou tristes, mas de uma mescla constante entre eles.

A direção também se destaca por fugir de convenções previsíveis, conduzindo a história com sutileza e profundidade. Ela cria personagens que se sentem humanos, imperfeitos, e suas interações refletem isso de forma genuína. Vidas Passadas evita grandes reviravoltas ou gestos românticos exagerados, optando por pequenos momentos que carregam um grande peso emocional. Essa abordagem minimalista não apenas enriquece a trama, mas também traz uma sensação de autenticidade ao relacionamento central, permitindo que o público se conecte verdadeiramente com as experiências e os dilemas vividos pelos personagens.

Prime Video: Past Lives

Entretanto, uma história realista e bem dirigida, mesmo com um roteiro que atende às expectativas, pode ser prejudicada por um ritmo lento e cansativo, o que pode minar o interesse do espectador e desviar sua atenção para outros estímulos. Infelizmente, Vidas Passadas sofre desse mal em alguns momentos, quando seu ritmo se arrasta, prejudicando a imersão na narrativa. Essa lentidão só é parcialmente resgatada com a entrada de Arthur, vivido por John Magaro, o marido de Nora, interpretada por Greta Lee. A presença de Arthur traz uma nova dinâmica à trama e restaura parte do interesse que a premissa inicial prometia.

A chegada de Arthur não apenas reanima a narrativa, mas também adiciona um novo ponto de vista, criando uma tensão emocional que eleva o enredo. Sua interação com Nora adiciona camadas ao conflito central, destacando as complexidades de um relacionamento marcado por diferentes culturas, distâncias e expectativas.

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A disparidade de maturidade emocional entre Nora, vivida por Greta Lee, e Hae, interpretado por Teo Yoo, contribui para que a narrativa se torne arrastada em certos momentos, mesmo com os dois atores entregando performances competentes. Enquanto Nora já superou o romance do passado, mantendo uma afeição que se aproxima mais do filia (o amor entre amigos) do que do eros (o amor romântico), Hae ainda está preso a sentimentos mais intensos e não resolvidos. Essa diferença de perspectiva, embora essencial para o enredo, acaba por criar uma dinâmica desequilibrada que, em vez de intensificar o drama, provoca uma sensação de desgaste para o espectador.

O conflito entre os sentimentos de Nora e Hae deveria agregar profundidade à trama, mas a insistência de Hae em manter uma conexão romântica unilateral acaba tornando suas cenas repetitivas e previsíveis. A tensão emocional que poderia ser explorada de forma mais rica e complexa se dilui, à medida que o espectador percebe que Hae está preso a uma idealização que Nora já deixou para trás. Isso acaba esgotando com a história se prolongando sem grandes mudanças de dinâmica, resultando em uma narrativa que, em alguns momentos, parece não avançar, apesar do bom trabalho dos atores.

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Vidas Passadas é uma escolha atraente para aqueles que buscam uma abordagem mais madura e realista do amor, oferecendo ao espectador uma imersão profunda nas emoções e dilemas dos personagens. A trama convida à reflexão sobre as complexidades das relações e os sentimentos não resolvidos que muitas vezes nos acompanham ao longo da vida. No entanto, apesar da direção habilidosa de Celine Song e de um roteiro que explora bem essas nuances, o ritmo lento e a atmosfera de melancolia beirando ao tédio em certas ocasiões podem esgotar a paciência de quem não está familiarizado com esse tipo de narrativa mais contemplativa e sutil.

NOTA: 3,5/5

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Coringa: Desastre a Dois

Coringa: Delírio a Dois é um desastre, e isso não é engraçado. Com um antecessor que beira o perfeccionismo cinematográfico dentro do universo de filmes baseados em personagens de quadrinhos, o mínimo que se esperava da sequência era que seguisse um caminho semelhante. Ainda que não precisasse alcançar a excelência de Coringa (2019), ao menos deveria entregar algo satisfatório. No entanto, o que recebemos está longe disso.

A expectativa em torno de Coringa: Delírio a Dois era altíssima, alimentada tanto pelo sucesso estrondoso do primeiro filme quanto pela promessa de uma abordagem inovadora ao personagem através de elementos musicais. No entanto, o que se apresenta na tela é uma tentativa fracassada de capturar a essência do original sem a profundidade psicológica que fez do Coringa de Joaquin Phoenix uma obra marcante. Em vez de mergulhar no caos interno do personagem, a sequência se perde em excessos que acabam prejudicando a narrativa.

A mistura de gêneros, incluindo o musical, que poderia ter sido uma aposta ousada, acaba sendo mais um fator que afasta o longa de seu potencial. Ao tentar ser diferente, Coringa: Delírio a Dois parece esquecer o que tornou o primeiro filme tão impactante: a sua crueza e visceralidade. Em vez de elevar o legado de Coringa, a sequência entrega uma experiência que parece superficial e desconectada, frustrando as expectativas dos fãs que aguardavam uma continuação à altura.

FYEAHMOVIES — JOKER: FOLIE À DEUX ...

Em Coringa 2, acompanhamos a sequência do longa sobre Arthur Fleck (Joaquin Phoenix), que trabalhava como palhaço para uma agência de talentos e precisou lidar desde sempre com seus problemas mentais. Vindo de uma origem familiar complicada, sua personalidade nada convencional o fez ser demitido do emprego, e, numa reação a essa e tantas outras infelicidades em sua vida, ele assumiu uma postura violenta – e se tornou o Coringa. A continuação se passa depois dos acontecimentos do filme de 2019, após ser iniciado um movimento popular contra a elite de Gotham City, revolução esta, que teve o Coringa como seu maior representante. Preso no hospital psiquiátrico de Arkham, ele acaba conhecendo Harleen “Lee” Quinzel (Lady Gaga). A curiosidade mútua acaba se transformando em paixão e obsessão e eles desenvolvem um relacionamento romântico e doentio. Lee e Arthur embarcam em uma desventura alucinada, fervorosa e musical pelo submundo de Gotham City, enquanto o julgamento público d’O Coringa se desenrola, impactando toda a cidade e suas próprias mentes conturbadas.

À primeira vista, transformar um longa-metragem do Coringa em um musical pode parecer uma ideia ousada, abrindo espaço para infinitas possibilidades criativas — desde delírios que refletem o caos em sua mente até cenas que personificam a verdadeira loucura do personagem. No entanto, Todd Phillips não soube explorar esse recurso de maneira que se encaixasse organicamente na trajetória de Arthur Fleck e Lee (Lady Gaga). O filme acaba entregando músicas melosas e tediosas, que poderiam facilmente ter sido substituídas por canções que abordassem temas mais ligados com o verdadeiro mau da dupla, como psicopatia e distúrbios mentais, algo que teria acrescentado uma camada de complexidade ao enredo.

A introdução do elemento musical prometia trazer uma nova perspectiva à mente fragmentada de Arthur Fleck, mas o que vemos em Coringa: Delírio a Dois são cenas que falham em transmitir a angústia e a perturbação do protagonista. As músicas escolhidas não refletem a psique distorcida do personagem, mas sim caem em um terreno genérico e pouco inspirado. Essa abordagem descompassada acaba quebrando o ritmo do filme, tornando as sequências musicais mais um obstáculo do que um recurso criativo que pudesse expandir a narrativa.

Além disso, a química entre Arthur e Lee, que poderia ter sido o ponto alto do filme, é prejudicada pela falta de coerência entre suas interações e as escolhas musicais. As letras, em vez de explorar a dualidade entre sanidade e loucura, optam por uma superficialidade que minimiza a profundidade emocional do relacionamento dos dois personagens. O potencial dramático da relação deles, que deveria ter sido explorado com intensidade, se perde em meio a números musicais que pouco acrescentam à trama.

No fim, o uso do musical em Coringa: Delírio a Dois parece mais um artifício que visa a diferenciação do que uma escolha narrativa sólida. Phillips tentou inovar, mas ao fazer isso, esqueceu de manter a essência sombria e introspectiva que fez do primeiro Coringa uma obra de arte psicológica. A sequência falha em capturar a complexidade mental de Arthur, resultando em um filme que, em vez de instigar o público, o afasta com sua execução desconexa e falta de substância.

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Lady Gaga, no papel de Lee, é um verdadeiro desperdício de talento, prejudicada por um roteiro covarde que reduz sua personagem a uma simples “doente mental” apaixonada por Arthur. Em vez de explorar uma obsessão visceral pelo Coringa, o filme entrega uma versão superficial e estereotipada da personagem. A profundidade e a complexidade que poderiam ter feito de Lee uma figura fascinante e aterrorizante são deixadas de lado em favor de um romance mal desenvolvido e sem o peso psicológico que a trama exigia.

A personagem Lee, que tinha potencial para ser uma figura impactante e ameaçadora, perde completamente sua força com o desenvolvimento frágil e mal executado no filme. Ao contrário de outras versões de vilãs dos quadrinhos, como a Harley Quinn de Margot Robbie, que traz uma mistura de perigo, carisma e imprevisibilidade, Lee é retratada de maneira rasa e inofensiva. Sua obsessão por Arthur deveria ter sido uma fonte de tensão, mas, em vez disso, ela se transforma em uma personagem passiva, desprovida da energia caótica que poderia ter conectado o público com sua loucura.

Diferente de Harley, que cativa o espectador com sua personalidade excêntrica e imprevisível, Lee não consegue criar uma ameaça tangível que sustente sua presença em tela. Enquanto Harley Quinn é uma força avassaladora, Lee parece existir apenas como um complemento do Coringa, sem uma motivação própria que mova a narrativa. Isso resulta em uma personagem que falha em envolver o público ou gerar qualquer empatia, tornando suas interações previsíveis e pouco impactantes. O filme perde uma grande oportunidade de criar uma vilã memorável e relevante dentro desse universo.

Coringa: Delírio a Dois (2024) | MUBI
ATENÇÃO, OS TRECHOS A SEGUIR CONTÉM SPOILER DE CORINGA: DELÍRIO A DOIS. PULE PARA A FINALIZAÇÃO! 
A revelação de que Arthur Fleck não é o verdadeiro Coringa, mas sim um colega de Arkham que o observava constantemente dentro das paredes da prisão psiquiátrica, é um dos raros acertos de Delírio a Dois. Esse personagem, cujo nome nunca é revelado, mas sua natureza psicopática é evidente, traz ao telespectador uma sensação similar à que se tem ao ler os quadrinhos do Batman, onde o passado do Príncipe do Crime permanece um mistério envolvente. A decisão de manter essa incerteza sobre a verdadeira identidade do Coringa é uma jogada inteligente, pois reforça a aura de caos e imprevisibilidade que o personagem sempre teve.

Essa abordagem de manter o verdadeiro palhaço nas sombras não só cria uma tensão intrigante, como também dialoga com o legado do personagem nos quadrinhos e no cinema. Ao recusar-se a fornecer respostas claras sobre quem realmente é o Coringa, o filme preserva a essência enigmática que o torna tão fascinante. Assim como nos quadrinhos, onde múltiplas origens e histórias competem entre si, Delírio a Dois acerta ao deixar o público sem uma definição concreta, o que apenas reforça a ideia de que o Coringa é mais um conceito de caos do que uma pessoa definida. Esse elemento, sem dúvida, é um dos poucos momentos em que a produção atinge a profundidade que faltou em grande parte da narrativa.

Entre os poucos elogios que Delírio a Dois merece, destaca-se o monólogo de Arthur Fleck com Gary Puddles, um confronto indireto onde os diálogos manipuladores e narcisistas de Fleck demonstram sua verdadeira natureza. A tensão entre os personagens é habilmente construída, revelando as camadas de perversidade de Fleck sem a necessidade de violência explícita. Outro ponto que merece reconhecimento é a direção de arte, que, embora mais tímida em comparação com o filme anterior, consegue manter a fidelidade estética aos musicais de época, criando um ambiente que, mesmo discreto, ainda assim contribui para a ambientação peculiar do longa.

Crítica: 'Coringa - Delírio a Dois' (2024) com Joaquin Phoenix e Lady Gaga  | Mais Goiás

Coringa: Delírio a Dois descarta o que foi magistralmente construído em Coringa (2019), onde o epílogo deixava claro que Arthur Fleck havia finalmente abraçado sua loucura e se transformado em algo mais do que uma vítima. A sequência, no entanto, retrocede essa evolução ao colocá-lo novamente no papel de uma figura trágica, presa às circunstâncias, como se seu destino fosse sempre o de um homem oprimido e não o de um agente do caos. Isso não apenas desconsidera o desenvolvimento do personagem no primeiro filme, como também mina o impacto que aquela transformação final causou no público.

Ao tentar se distanciar da profundidade psicológica e da crueza visceral do original, Delírio a Dois acaba se perdendo em uma tentativa de inovação que falha em todos os aspectos cruciais. Desde a superficialidade do musical até o subdesenvolvimento dos personagens, o filme não consegue replicar a força narrativa que fez do primeiro Coringa uma experiência tão marcante. O que restou foi uma sequência que parece desconectada de sua própria origem, oferecendo mais espetáculo do que substância.

No fim, Coringa: Delírio a Dois demonstra que nem sempre o desejo de inovar é suficiente para sustentar uma continuação. A sequência subverte o que foi estabelecido de forma poderosa no primeiro filme, mas sem oferecer algo igualmente forte em troca. O resultado é uma obra que, apesar de alguns acertos pontuais, falha em honrar o legado de Arthur Fleck, deixando o público com uma sensação de cansaço e de uma oportunidade desperdiçada.

NOTA: 2/5