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A simplicidade encantadora de Look Back

O clichê também pode ser encantador, quando alinhado com uma direção competente e um roteiro que sabe fazer o básico. Look Back, média-metragem da Amazon MGM, é a personificação dessa premissa, conquistando o público com uma narrativa simples, mas profundamente emocionante.

Este média-metragem não busca reinventar o subgênero de dramédia; ao contrário, ele abraça a simplicidade e o realismo como pilares de sua trama. Essa escolha traz uma sinceridade que permite ao espectador se conectar com a história de maneira autêntica, lembrando que, às vezes, é no básico que reside o maior impacto.

Look Back' movie review: Tatsuki Fujimoto's poignant meta-manga is a  stirring tribute to creation - The Hindu

Look Back segue a história de uma aluna da quarta série, excessivamente confiante Fujino e a reclusa Kyomoto bem diferentes, mas o amor por desenhar mangás une essas duas garotas de uma cidade pequena, em uma história comovente de crescimento e progresso.

Para aqueles que conhecem a trama original do mangá, Look Back não traz grandes surpresas em sua adaptação, uma vez que não acrescenta nenhum elemento substancialmente novo. Porém, o público leigo ou aqueles que costumam consumir animes em formato de série ou filme sem acomapanhar suas versões literárias, poderão ser profundamente impactados pela conclusão apresentada, mesmo que ela tenha sido repetida incansavelmente em outras produções do gênero. A previsibilidade dessa conclusão, no entanto, não diminui o mérito do longa, que, com sua simplicidade e sinceridade, se revela um média-metragem visualmente encantador e emocionalmente envolvente, deixando o telespectador imerso em uma reflexão silenciosa sobre o que acabou de vivenciar.

A força da obra resiste justamente, em sua habilidade de conectar com a emoção do público sem recorrer a artifícios complexos. A humildade de sua narrativa permite que o conto seja vivido com mais impetuosidade, criando um espaço para que o espectador tenha nostalgia com as dores e alegrias da juventude de maneira imediata. Esse poder de ressoar, mesmo com recursos simplórios, é um dos aspectos mais admirados neste tipo de produção.

Além disso, a direção e roteiro de Look Back sabem explorar o ritmo da história de forma eficaz, equilibrando momentos suavidade emocional com complexos existênciais. Ao contrário de muitas adaptações que se perdem no desejo de inovar, a produção encontra seu charme na fidelidade à obra original, respeitando seus elementos fundamentais e, ao mesmo tempo, tornando-os acessíveis a um público mais amplo. Ao final, não é a novidade que cativa, mas a universalidade da mensagem e a habilidade do filme em comunicar sentimentos complexos de maneira simples e poderosa.

Look Back” Review: The Beauty of Art, Queer Love, Self-Growth, and No  Regrets - When In Manila

Look Back se destaca não por sua originalidade, mas pela forma como consegue transmitir uma profundidade emocional rara em uma obra de tão simples premissas. A adaptação do mangá, que poderia se perder na repetição, encontra sua força ao explorar de maneira sincera e tocante os temas universais de amar e perder.

A conclusão previsível, longe de enfraquecer a produção, confere-lhe uma melancólica elegância, reforçando a ideia de que, por vezes, o que realmente importa não é o que vem a seguir, mas o impacto do momento presente. Além disso, Look Back faz um pequeno desvio em sua abordagem do amor, ao mergulhar, ainda que de maneira sutil, no philia, o amor fraternal e a busca por entendimento mútuo, fugindo, assim, da narrativa focada apenas no eros tão comumente explorado. Ao final, o média-metragem nos deixa com mais perguntas do que respostas, não porque seja enigmático, mas porque, com sua simplicidade, nos força a refletir sobre o que de fato é essencial.

NOTA: 4/5

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“My Home Hero”: Um ensaio sobre os limites do amor

Uma motivação comum, em filmes de ação de Hollywood, é fazer o mocinho lutar para defender sua família. Vilões que sequestram ou ameaçam familiares do protagonista existem aos montes, e a satisfação está em saber que o Schwarzenegger, Mel Gibson ou o Bruce Willis vão descer a porrada em tudo e em todos para proteger seus entes queridos.

Acontece que, na maioria dos casos, o personagem principal desses filmes é alguém já preparado para lidar com a situação: Policiais, espiões, agentes do governo, soldados… São pessoas que possuem treinamento formal para porte de armas e combate. O que é bem menos comum é o caso onde o protagonista é apenas uma pessoa qualquer. Um homem comum, que não tem artes marciais ou um três-oitão a sua disposição. O mocinho que não passa de um homem caseiro. Um “Herói do lar“, talvez?

Ok, perdão pela forçação de barra. Baseado num mangá de mesmo nome (recentemente anunciado no Brasil pela editora JBC), com autoria de Naoki Yamakawa e Masashi Asaki, “My Home Hero” foi animado pelo estúdio Tezuka Productions e dirigido por Kamei Takashi. Com doze episódios, o anime recém-concluído teve transmissão simultânea na Crunchyroll, e também recebeu dublagem brasileira. O trailer e sinopse, conforme a plataforma de streaming, seguem:

Durante seus 47 anos de vida, Tetsuo Tosu nunca cometeu um crime sequer. Mas quando ele descobre que sua filha Reika está apanhando do namorado, ele começa a investigar o rapaz e descobre que, não só ele possui laços com a yakuza, como tem um histórico de suspeitas de feminicídio em sua ficha. Determinado a proteger sua família, Tetsuo faz o impensável e mata o homem, mergulhando de cabeça no submundo da marginalidade e colocando em risco sua pacata vida burguesa.

Uma coisa que precisa ficar bem clara logo de cara é a seguinte: “My Home Hero” não é um animê para quem é fraco de coração. Em vários sentidos.
Para começar, como a sinopse deve ter explicado, a história trata de temas um pouco pesados. Não só temos violência física, como temos abusos psicológicos, degradação mental e social, apologia ao crime e ao uso de drogas… Fora coisas piores que seriam spoiler de te contar.
Depois, tem a questão de que, meu amigo… Não existem palavrões o suficiente na língua portuguesa para descrever o sentimento que se tem ao final de cada episódio. Nem a maior das hipérboles fálicas basta. Todo episódio você pensa “ok, não tem como a situação ficar pior“. Aí ela vai e fica.

E esse último ponto foi o que acabou me prendendo na obra, o que me deixava ansioso para assistir o próximo episódio na semana seguinte. Toda vez, passávamos por uma montanha-russa de emoções, que começava com o Tetsuo tendo que lidar com um problema aparentemente irreparável, apenas para vê-lo puxar um coelho da cartola para “resolver” a situação… Até chegarmos no final do episódio e darmos de cara com mais uma coisa que me fazia xingar o céu e o mundo.

A direção também ajuda nesse quesito. O jeito como as cenas vão e voltam no tempo, pequenos detalhes são apenas mencionados, e te deixam curioso para entender como aquela aparentemente inofensiva parada na loja de conveniências pode ser útil no futuro… As coisas acontecem e parecem absurdas e sem explicação… Para então voltarmos e descobrirmos que tudo só aconteceu por causa daquela parada.

Captura de tela do episódio 12 de "My Home Hero"
“Próxima estação: Palmeiras-Barra Funda. Acesso a linha 3-vermelha do metrô, e linha 7-Rubi da CPTM. Desembarque pelo lado direito.” (Reprodução: Crunchyroll)

Tetsuo pode não ter nenhuma forma de se defender fisicamente, como mencionado no início, mas o uso criativo da sua esperteza e seu hobby acabam salvando a sua vida (e o colocando em ainda mais perigos) várias vezes. De uma forma positiva, o animê consegue fazer com que as jogadas de xadrez 5D do protagonista pareçam mais como tentativas desesperadas que acabaram dando certo do que planos meticulosos de um mestre intelectual, e essa incerteza adiciona ainda mais tensão na história como um todo. Algumas explicações podem parecer inconsistentes, mas o show se esforça para tentar deixar claro que isso só deu certo por causa do passado e presente extremamente específicos do cinquentão.

E tudo isso acontece por uma motivação única e simples, quase primitiva e animalesca: O desejo incontrolável e até mesmo irracional de defender aquilo que é seu e que lhe faz bem. O animê demonstra, em vários momentos, que a vida que Tetsuo leva é extremamente medíocre. Ele é um homem de meia-idade, classe média, com um emprego qualquer, um casamento aparentemente desgastado, ambições impossíveis em seu hobby, e um relacionamento difícil com a filha. Mesmo assim, ao se deparar com uma situação onde o que ele tinha foi colocado em risco, ele se transforma no Hulk, vai até os limites da sua capacidade (e, muitas vezes, até passa deles!) para evitar qualquer perda.

Sabe aquele ditado, de que só damos valor para algo quando o perdemos? A reação visceral de rejeição que o Tetsu tem de perder a filha, de perder a família e a vida que tinha, mostra que ele percebeu o valor das coisas à sua volta. Onde outros shows poderiam trabalhar em cima da mediocridade e encará-la como um aspecto negativo, “My Home Hero” se apoia na busca pela continuidade dessa mediocridade. Não é muito, não é extravagante, mas é a vida e a família que Tetsuo Tosu construiu com as próprias mãos, e que ele está satisfeito em ter. É algo que ele ama, e esse amor é o que faz com que ele lute com tudo que tem para defendê-lo.

Captura de tela do episódio 12 de "My Home Hero"
Assim como ogros e cebolas, essa imagem tem camadas. O show inteiro tem, aliás. (Reprodução: Crunchyroll)

Com uma trama cheia de suspense, adrenalina e emoção, que apesar de exagerada e fantasiosa, ainda consegue entregar uma história até que bastante pé-no-chão, “My Home Hero” existe a partir de uma única pergunta: Qual é o limite do amor? Até onde você iria para proteger aqueles que ama? E o animê mostra que a resposta pode ser muito mais assustadora do que se esperaria.
O mangá ainda está em publicação, mas o animê se encerrou em um ponto que muitos podem ver como anticlimático, mas que eu vejo como uma forma de passar uma mensagem, e a nota do redator é 4/5, ainda com o asterisco de que não é um show para todo mundo. Mas que show que é, não é?

O animê está disponível na plataforma de streaming Crunchyroll, completo em 12 episódios, com legendas e dublagem em português.

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“As Quíntuplas: Filme” é cinco partes de acerto para uma de erros

Filmes de animê são uma mídia que está crescendo no Brasil. Quem é fã de longa data dos desenhos japoneses sabe o quão frustrante costumava ser ver uma série continuar (ou terminar) em formato de filme, pela grande dificuldade de se ter acesso a esse tipo de conteúdo. Mas, nos últimos anos, os longa-metragens tem ganhado mais e mais licenças para plataformas de streaming (mesmo que com algum atraso), e até tem populado as salas de cinema do país (mesmo que apenas em cidades grandes). Filme de animê já não é mais um problema tão grande.

Por causa disso, meu sentimento de tristeza (e um pouco de ódio) com “As Quíntuplas” (No original, “Gotoubun no Hanayome”, ou pelo título internacional, “The Quintessential Quintuplets”) foi bem menor do que teria sido alguns anos atrás, quando anunciaram, após sua segunda temporada, que a comédia romântica de Negi Haruba teria seu encerramento adaptado para as telonas, ao invés das telinhas. Demorou quase um ano inteiro, mas o filme, que foi lançado no Japão em 20 de maio de 2022, finalmente chegou para o ocidente, com o licenciamento da Crunchyroll. Como um grande fã da obra, reservei um tempo para assistir as mais de duas horas do longa-metragem, e já que eu tinha escrito sobre as duas temporadas iniciais, pensei: “Por que não resenhar também o filme?“.

Captura de tela de "The Quintessential Quintuplets - Movie", mostrando a quíntupla mais velha, Ichika
Minha cara de felicidade quando posso fazer propaganda descarada das minhas postagens antigas (Reprodução: Crunchyroll)

O clímax da história acontece, é claro, no festival escolar. Onde mais você acharia que uma comédia romântica escolar teria o seu ponto alto? Da mesma forma que outra RomCom que terminou em 2022, Kaguya-sama, temos o evento como centro e motivador de desenvolvimentos que nos levam ao fim da obra. O “Festival Escolar” é culturalmente visto e utilizado, especialmente no gênero romântico, como o “ápice” da juventude dos adolescentes. Especialmente quando se trata do festival para os alunos do terceiro ano do ensino médio, já que é a “última chance” que eles têm de “viverem como jovens”, antes de entrar no mundo adulto de universidade e trabalho.

O que diferencia o filme de As Quíntuplas de Kaguya-sama, porém, é o fator de descoberta: Até o último momento, você não sabe qual das irmãs o protagonista escolheu. O autor e a direção do filme fizeram um excelente trabalho de dar pistas para a revelação, fazendo com que ela não pareça arbitrária, mas sem fazer com que ela seja absurdamente escancarada antes da hora.

Aliás, já que toquei no assunto, fica dado o recado: O filme adapta até o final do mangá, então sim, o protagonista escolhe uma garota no final. Não tivemos um encerramento covarde, extremamente comum em histórias harém. Que mais autores sigam o exemplo.

Captura de tela de "The Quintessential Quintuplets - Movie", mostrando a segunda quíntupla, Nino
A tensão de assistir RomComs sem saber se vai ter um final definido… (Reprodução: Crunchyroll)

Um dos charmes do filme é, na minha opinião, o jeito que ele é apresentado. Os três dias de evento do festival escolar são mostrados por seis pontos de vista diferentes: Do Uesugi, e de cada uma das quíntuplas. Conforme vamos indo e voltando no tempo, vendo e revendo acontecimentos marcantes, recebemos novas peças para montar o quebra-cabeça de o que aconteceu de fato, e como as coisas se conectam.

Além de dar tempo de tela e foco para todas as personagens, gerando conteúdo para fãs de todas as quíntuplas, essa ferramenta de roteiro das mudanças de ponto de vista serviu para reforçar a principal mensagem da história, que foi ainda mais central no filme: Que mesmo elas sendo idênticas, as quíntuplas não são iguais. Não há problema algum em gostar e sentir um conforto familiar nas similaridades entre elas, mas que elas também devem aprender a valorizar suas características únicas.

Dessa forma, cada “segmento” não foi idêntico. Cada quíntupla recebeu um conteúdo que é bastante condizente e respeitoso com o que ela é, e com o que foi construído ao longo da série. Talvez isso possa ser visto como “injusto”, já que a carga e o tipo de conteúdo recebido não foi equilibrado, mas acredito que seria um questionamento que apenas os mais fanáticos cruzados das guerras de waifu fariam, e que uma pessoa sensata encararia as diferenças como um ponto de desenvolvimento das personagens.

Captura de tela de "The Quintessential Quintuplets - Movie", mostrando a terceira quíntupla, Miku
A cara da Miku resume tudo sobre quem reclama do tratamento de cada quíntupla no filme (Reprodução: Crunchyroll)

Quando o assunto é humor, tenho que, mais uma vez, dar os parabéns para As Quíntuplas. Esse filme foi muito engraçado, com diversos momentos (alguns até não-propositais) que me fizeram rir alto. Mesmo esse sendo o final da série, com um desfecho quase que “de novela“, com muito drama e emoção envolvido, o longa conseguiu manter as piadas e o divertimento, deixando a “comédia” em “comédia romântica” brilhar. E esse é um dos maiores méritos da série como um todo, como eu comentei mais a fundo na postagem anterior.

Claro que nem tudo são flores, e o filme não é perfeito (por mais que eu quisesse que fosse). Ironicamente, o principal problema do filme de As Quíntuplas é justamente… ser um filme.

Tá bom, eu sei que eu sou hater admitido de filmes de animê, mas dessa vez eu tenho argumentos reais: Com uma duração de duas horas e dezesseis minutos, o longa tem o tempo equivalente a mais ou menos seis episódios de animê para televisão. Isso fez com que muito conteúdo precisasse ser acelerado ou totalmente cortado, e momentos que poderiam ser melhor explorados deixaram a desejar.

O começo do filme é um ótimo exemplo do que eu estou falando: Sem spoilers (se é que dá pra spoilar alguma coisa quando o conteúdo foi literalmente cortado…), mas a cena de abertura, que tem menos de dois minutos e serve apenas para tocar musiquinha enquanto passam créditos, cobriu um evento inteiro, que passou despretensiosamente como quem não deve nada a ninguém. Logo depois, um outro acontecimento, que é algo muito importante para as quíntuplas, e é diretamente relacionado com um dos principais conflitos da segunda temporada, acontece em uma transição de cena. UMA TRANSIÇÃO DE CENA! Eles falam como se fosse um “Ah, sim, uma última coisa” e saem andando.

Captura de tela de "The Quintessential Quintuplets - Movie", mostrando a quarta quíntupla, Yotsuba
Algumas coisas passaram voando tão rápido que deu pra ouvir a Yotsuba gritando “Já chegou o Disco Voador” (Reprodução: Crunchyroll)

Esses são apenas dois exemplos que você vai encontrar logo nos cinco primeiros minutos do filme, mas isso se repete várias vezes ao longo da duração. Personagens aparecendo sem a menor explicação, coisas acontecendo totalmente do nada, ou tendo motivações tão rasas que em alguns casos era melhor nem citar nada… Fica claro que faltou tempo para terminar o mangá.

Isso me faz questionar ainda mais a decisão de fazer um filme, quando claramente uma terceira temporada, com 12 episódios, teria tido o dobro do tempo para trabalhar nos detalhes que faltaram. Especialmente quando olhamos para a estrutura do filme, que é extremamente segmentada e poderia facilmente ser encaixada em “bloquinhos” de 20 minutos.

Não sei se foi algum esquema de lavagem de dinheiro ou visaram os lucros das salas de cinema. Talvez seja uma questão da produção semanal? Eu não sei, e é o tipo de coisa de bastidores que provavelmente nunca saberemos, mas que As Quíntuplas sofreram por essa escolha, isso é inegável.

Captura de tela de "The Quintessential Quintuplets - Movie", mostrando a quíntupla mais nova, Itsuki
Posso ter reclamado bastante do filme, mas eu também tava mandando ver num sanduba enquanto assistia, e essa parte foi boa (Reprodução: Crunchyroll)

Apesar dos problemas causados pelo formato escolhido, é inegável que a adaptação foi extremamente fiel a tudo que a série construiu, tanto em atmosfera quanto em conteúdo. Um final memorável e satisfatório para uma série que foi divertida do início ao fim, o filme de “As Quíntuplas” poderia ter sido melhor, mas o que foi, já foi excelente, e o redator dá a nota de 4,0/5,0 para ele.

Sendo sincero, eu já fico muito feliz de simplesmente ver um animê acabando. Ôh mídia que gosta de deixar coisas incompletas, viu.

O filme, assim como as duas primeiras temporadas que o antecedem, está disponível na plataforma de streaming Crunchyroll, sob o nome internacional, “The Quintessential Quintuplets”, e possui opção dublada em português.

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Eu não sei o que dizer sobre “The Vampire Dies in no Time”

No mundo das crônicas – os textos mundanos de uma página que vemos publicados em jornais e revistas – existe uma máxima (que não sei se existe de fato, mas que acredito que escritores concordariam): Todo cronista, inevitavelmente, acabará escrevendo uma crônica sobre não saber sobre o que escrever, e uma crônica sobre o ato de escrever uma crônica. Às vezes, essas duas acabam sendo a mesma crônica.

Talvez isso valha também para blogueiros, pois o que estou fazendo hoje é justamente isso: Eu literalmente não sei o quê escrever sobre o animê que quero divulgar. Mas o algoritmo ruge, então tentarei mesmo assim.

Baseado num mangá de mesmo nome, com roteiro de arte de Itaru Bonnoki, “The Vampire Dies In No Time” (Kyuuketsuki Sugu Shinu) foi adaptado em 2021 para animação, e sua segunda temporada terminou agorinha, no final de março de 2023.

A comédia acompanha as aventuras de Draluc, o vampiro mais fraco do mundo (e que morre com qualquer arranhão, mas logo se recupera), e do caçador de vampiros Ronaldo, que juntam forças enquanto combatem as mais diversas ameaças à população da cidade de Shin-Yokohama.

Existem diversos tipos de humor, e eu já falei extensivamente sobre eles em diversas postagens diferentes. Afinal, quando venho recomendar um animê de comédia para vocês, eu preciso explicar o tipo de comédia que ele possui, já que pessoas diferentes gostam de tipos diferentes de comédia. Depois da explicação, eu comento sobre o show em si, seus pontos fortes e fracos, e suas excentricidades.

Pois bem: A comédia de “The Vampire Dies In No Time” é do tipo “Dedo no c* e gritaria”. É uma junção de choque pelo absurdo; com um manzai mais clássico de uma pessoa fazendo uma piada e outra reagindo a ela de forma exagerada; e do humor pela repetição da mesma piada várias e várias vezes. É uma mistura que pode ficar densa, mas que é tão bem executada, que não passa dos limites. Bem, dos limites técnicos, pois de roteiro… Eles vivem passando dos limites. E é isso que faz a coisa ser engraçada.

Captura de tela do episódio 4 da primeira temporada de "The Vampire Dies In No Time"
Considerando onde ele enfia esse dedo, é bom manter a unha cortada mesmo (Reprodução: Crunchyroll)

E agora é o momento que eu começo a me enrolar. Para falar sobre as excentricidades de “The Vampire Dies In No Time”, eu precisaria… Bem, pra início de conversa, eu precisaria ter prestado atenção o suficiente para notar qualquer coisa. O animê me fazia rir tanto, que eu quase não conseguia notar nada além das piadas. Mas, se eu me esforçar para tentar trazer algum ponto, eu teria uma certa dificuldade em explicá-los. Sabe aquela sensação de “você precisava estar lá”? Quando você conta uma história hilária para um amigo, e recebe como resposta apenas um silêncio constrangedor? É assim que eu me sinto ao tentar descrever qualquer coisa sobre o show.

Nesse mundo, cada vampiro tem uma habilidade “especial”, que deveria ser a sua assinatura e principal forma de atacar humanos e conseguir sangue. Mas a história nunca se leva a sério, e isso faz com que as habilidades dos vampiros sejam apenas coisas absurdas, badulaques extremamente específicos e que servem apenas de mote para piadas, onde ninguém está, de fato, correndo perigo.

Inclusive, as situações de maior “risco” para qualquer pessoa na história acontecem quando não há nenhum vampiro envolvido. Você poderia até tentar dizer que é uma alegoria ao fato de que “nós somos os verdadeiros monstros”, mas… Não, o animê certamente não tenta passar nenhuma mensagem dessas, ele apenas usa o choque pelo absurdo.

A repetição da piada que dá nome ao show, o fato de Draluc sempre morrer com qualquer coisa que aconteça com ele, é o foco do humor apenas no início da história. Sabendo que repetição demais pode tornar uma coisa repetitiva, o animê utiliza o gás da piada para introduzir um elenco de apoio, e, assim que estabelecemos um bom e diverso grupo, as “mortes” de Draluc se tornam algo secundário.

Com episódios divididos em dois ou três “esquetes”, cada uma focada em uma personagem, grupo ou evento diferente, o gigantesco elenco entra em jogo para diversificar o humor e sempre te dar algo que parece “fresco”. De certo modo, temos a própria cidade de Shin-Yokohama como o palco e protagonista de “The Vampire Dies In No Time”.

Captura de tela do episódio 11 da primeira temporada de "The Vampire Dies In No Time"
[CONTEXTO NÃO ENCONTRADO] (Reprodução: Crunchyroll)

Ok, ok, sei que disse que não tinha o que falar, e já mandei 700 palavras sobre o assunto, mas veja bem… Eu só consigo falar de forma genérica. “O humor é bom”; “tem ótimas personagens”; etc. Se eu tentasse ser mais específico, eu não apenas iria parecer maluco, como acabaria dando spoiler e fazendo muitas piadas perderem a graça.

Uns tempos atrás, eu simplesmente não escreveria esse texto. “Se não tenho o que dizer, o que eu diria? Que conteúdo eu teria para colocar no papel?”, pensaria. Mas, depois de me divertir tanto, e dar tantas risadas com “The Vampire Dies In No Time”, e de ver – ao menos na minha bolha – o animê sendo completamente ignorado por todo mundo… Eu me senti na obrigação de ao menos tentar. Nem que seja um mero grito ecoando num vale completamente vazio (a maioria das minhas postagens são, né? Mas isso não é relevante no momento), eu precisava botar para fora.

The Vampire Dies In No Time” tem um humor tão diverso quanto seu elenco, e funciona na base do grito e do berro. É uma história sem pé nem cabeça, mas surpreendentemente funcional, com uma única função: Ser absurda para te fazer rir. Um animê que sempre me deixava empolgado para assistir, o redator facilmente dá a nota de 5/5.

E, novamente, peço desculpas por não conseguir explicar o que é tão divertido sobre o animê. Você precisava estar lá pra entender.

“The Vampire Dies In No Time” está disponível na plataforma de streaming Crunchyroll, com duas temporadas que totalizam 24 episódios. Também há dublagem com áudio em português.

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As indiscrições juvenis de “My Stepmom’s Daughter is my ex”

O ditado diz algo sobre “não julgar o livro pela capa“, mas convenhamos… Certas coisas tem uma capa que faz com que seja muito difícil não julgá-la. Eu entendo, já estive nessa posição, e acho que todo mundo pode ser acusado disso, ao menos um pouco. Especialmente quando se é fã de animês e light novels.

Com um nome tão esdrúxulo como “My Stepmom’s Daughter is my Ex” (traduzido para algo como “a filha da minha madrasta é a minha ex-namorada“), e com o histórico que “animês adaptações de Light Novels com nomes longos e estranhamente específicos” tem, fica complicado não ter ao menos uma pulga atrás da orelha.

O destino nos dá algumas gratas surpresas, de vez em quando, e a baixa expectativa serve de combustível para o divertimento. É o caso de “My Stepmom’s Daughter is my Ex”, que eu vou chamar apenas de “Tsurekano” daqui pra frente, uma abreviação do seu nome em japonês, “Mamahaha no Tsurego ga Motokano datta“.

Fui impressionado logo de cara, quando o show teve a coragem (ou, talvez, a audácia) de simplesmente se recusar a explicar sua premissa e partir para a ação logo de cara. Bem, quando se tem um nome tão descritivo quanto o de Tsurekano, um diretor deve se sentir confortável o bastante para assumir que o público entende os conceitos básicos do universo da obra e que não precisamos perder tempo com bobagem. Sendo assim, não vou nem me dar ao trabalho de postar a sinopse. Veja o trailer, se julgar necessário.

Quando saímos da superfície, paramos de encher o saco e brincar com a premissa e deixamos de zoar o título, o que encontramos é uma comédia-romântica surpreendentemente gentil, mas agridoce. Uma inocência infantil, com atitudes e pensamentos adolescentes, mas ligados por um amor maduro. Os protagonistas são dois bobos (e eu devo destacar, bastante bobos) perdidamente apaixonados, mas que se depararam com uma situação que os impede de se reaproximar por fatores externos. É quase um Romeu e Julieta moderno, só que muito, muito mais “excêntrico“.

Embora eu tenha chamado o animê de comédia-romântica não tem nem um parágrafo, o maior charme de Tsurekano, pra mim, foi a sua parte “dramática”. Com uma narração interessante, que picotou o passado dos dois em pequenos blocos, vamos entendendo aos poucos o que aconteceu para chegarmos até onde chegamos, e recebemos informações elucidativas nos momentos certos. Não é nenhum mistério multidimensional e extremamente complexo que apenas fãs de Ricky & Morty com alto QI conseguem desvendar. Inclusive, diria que é o oposto: É algo bem simples de entender. Mas o que torna a história tão intrigante de se acompanhar não é entender o que aconteceu, mas sim, descobrir como aconteceu.

É um conto tão antigo quanto andar pra frente: Um primeiro amor, um relacionamento que tem alicerces instáveis pela simples falta de experiência. O problema não é falta de carinho, mas falta de comunicação. Como eles poderiam conversar? Eles nem sabem que precisam! E mesmo que soubessem, não saberiam o como, o quando ou o por que. E isso não é um spoiler, pois como comentei, essa é a parte fácil de sacar, e está toda no passado. A gratificação está no presente, de ver o que mudou (e se mudou) entre eles, e como eles lidam com as mudanças que lhe foram impostas.

Captura de tela do episódio 1 de Tsurekano, mostrando Irido e Mizuto, com a legenda "Se eu não era assim antes, então certamente é sua culpa que sou agora."
Levar spoiler de coisas que você se importa é um dos principais motivos para virar o The Joker ™ nos dias de hoje (Reprodução: Crunchyroll)

Afinal, é, eu nem toquei no ponto que dá nome a série ainda, né? Eles se tornam irmãos adotivos. E, embora isso possa parecer mais uma desculpa fetichista do que qualquer coisa (e não nego que talvez seja, um pouco), é a parte mais importante para o desenvolvimento e crescimento do Mizuto (o garoto) e da Yume (a garota) na história: Apesar de ainda se amarem, eles também amam seus respectivos pais, que acabaram de se casar. É uma decisão de botar a felicidade dos adultos como prioridade à deles próprios, fingir e esconder o (ex-)relacionamento entre os dois para proteger a nova vida que os pais conseguiram após anos como viúvos. Equilibrar esses desejos é a corda-bamba que dá grande profundidade para o drama do animê.

Mas isso, talvez, seja olhando fundo demais pra Tsurekano. A superfície ainda existe e ainda é uma parte relevante do show. O aspecto “corriqueiro” da história ainda é um pouco capenga, que consegue divertir e tirar um riso aqui ou ali, mas ainda se apoia demais em estereótipos muito exagerados, piadas um pouco ríspidas e, como sempre, a insistência em falar de peitos.

O ponto mais fraco do animê é, de longe, o seu elenco secundário. As personagens que estão lá para serem “os amigos dos protagonistas” são insuportáveis e foram os responsáveis pela pior parte da temporada. A garota psicótica, Akatsuki, não só é uma pessoa ruim, como corrompe tudo ao seu redor. O arco onde ela tenta dar conselhos para a outra personagem secundária, Higashira, foi horrível por dar um grande foco para Akatsuki, e por tornar uma personagem até então bem interessante em uma piada desconexa e sem graça. Talvez sirva de consolo pensar que ela existe na narrativa como um exemplo do que a Yume poderia se tornar, caso não se desenvolvesse. Cruzes…

Captura de tela do episódio 7 de Tsurekano, mostrando Akatsuki, com a legenda "Estou falando desses poderosos melões que você tem aqui!"
Tá aí, mostrei todos os problemas de Tsurekano em uma print só. Se você aguentar isso aqui, o resto é tranquilo (Reprodução: Crunchyroll)

Confesso que só comecei a assistir por conta do elenco de voz, que conta com dois dos meus dubladores prediletos como protagonistas (Rina Hidaka como Yume, e Hiro Shimono como Mizuto), e estava totalmente preparado para um animê caótico e que fosse o equivalente a acompanhar um prédio em chamas ruíndo sob seu próprio peso, mas… Acabei curtindo a direção inteligente, o drama surpreendente por ser pé no chão mesmo com uma premissa absurda, as propagandas descaradas de outras light novels da Editora Kadokawa, as músicas dançantes e toda a parte técnica, que não é nenhuma oitava maravilha do mundo, mas que é consistente e dentro da faixa do aceitável, coisa que não acontece com frequência.

Uma pesquisa rápida te mostra que a adaptação da light novel não foi muito fiel, com um roteiro acelerado e várias cenas e pedaços cortados para caber quatro volumes em doze episódios. Mas pra quem já é macaco velho nessa área, isso não é surpresa. Animês adaptações de LNs tem como objetivo principal atrair pessoas para comprar o livro, e a qualidade do produto é um ponto secundário. O problema é quando a qualidade fica tão em segundo plano, que você acaba afastando as pessoas ao invés de atraí-las, como já aconteceu antes. Ainda assim, Tsurekano conseguiu ser interessante o suficiente como animê para cumprir seu papel de me interessar pela novel. Ela é inédita no Brasil, mas é publicada em inglês pela J-Novel Club. Certamente adicionarei a minha interminável lista de livros para ler.

Captura de tela do episódio 1 de Tsurekano, mostrando Mizuto
Eu despreocupadamente lendo minhas light novels com todos os livros na minha pilha de leitura ao meu redor, me julgando (Reprodução: Crunchyroll)

Acredito que há formas melhores de usar o seu tempo, mas “My Stepmom’s Daughter is my Ex” é divertido o bastante e específico o bastante para eu acreditar que é o animê certo para alguém por aí. O meio da temporada é um pouco complicado, mas o começo e o fim compensam esses dois ou três episódios ruins, e 3,5/5,0 parece uma nota justa para uma excelente propaganda de doze episódios.

E mais uma vez, comprovamos que uma expectativa baixa é a melhor coisa que um animê pode ter a seu favor.

“My Stepmom’s Daughter is my Ex”, ou “Tsurekano”, está disponível na plataforma de streaming Crunchyroll, completo em doze episódios, com legendas em português.

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Shikimori não é “apenas” um Slice of Life

Hoje, eu acordei mais cedo do que costumo acordar. Levantei, tomei banho, e comi cereal (colocando o cereal primeiro, e depois o leite, é claro, pois não sou maluco) enquanto assistia ao Jornal na televisão. Não foi uma manhã super animada, mas foi a minha manhã. Momentos do dia-a-dia podem não parecer especiais, justamente por fazerem parte do cotidiano: Tudo que vira mundano, perde a magia. Mas em certas circunstâncias, o mundano tem seu valor como uma lembrança; um desejo; um refúgio; ou simplesmente, uma esperança.

Toda essa introdução em tom poético para justificar o fato de que eu gosto de animês Slice of Life, mesmo sendo um gênero “chato” e que não agrada muita gente. Tudo bem, eu entendo, realmente é um grande “nada acontece, feijoada“. Mas não estou aqui para te convencer a assistir um show Slice of Life, pois isso não daria certo. Estou aqui para, caso você já goste do gênero, te indicar um excelente exemplar que acabou de acabar.

Baseado em um mangá de mesmo nome e com autoria de Keigo Maki, “Shikimori’s Not Just a Cutie” foi recém-adaptado para animê pelo estúdio Doga Kobo. O animê está disponível na Crunchyroll, enquanto o mangá é inédito no Brasil.

Se você chegou até aqui, eu não tenho mais motivos para enrolar, então vamos direto ao ponto: Não espere nada de extraordinário. A maior reviravolta que você vai encontrar nesse animê é descobrir que a Crunchyroll disponibilizou dois especiais com os dubladores japoneses comentando sobre os episódios. A “trama” simplesmente acompanha um grupo de adolescentes vivendo sua vida escolar, se divertindo e criando memórias juntos.

Apesar de ser “mais do mesmo” nesse quesito, “Shikimori” se destaca em outros, três em especial que eu gostaria de comentar, e que, na minha opinião, já valem completamente a recomendação: A situação romântica dos protagonistas; a qualidade do elenco de apoio; e o visual.

Em comédias-românticas escolares, a norma é uma relação complicada entre as personagens. Desentendimentos, confusões e muitos sentimentos reprimidos funcionam como base para o humor, e fazem com que o clímax da história seja o momento em que um casal se solidifica. Inclusive, acabei de escrever sobre um show que é exatamente assim, e faz isso muito bem: Kaguya-sama.

É claro, normas existem por um motivo. Nada se torna “a norma” se não for bom o suficiente para isso. Mas, de vez em quando, sair da norma é algo interessante de se fazer, seja pela experiência ou pela curiosidade. Em “Shikimori“, a história já começa com o casal em “pleno” relacionamento, e essa diferença já basta para gerar um tipo diferente de trama. Temos menos desencontros e mais momentos de afeto genuíno, do tipo que só existe quando se sai da norma.

Captura de tela do episódio 2 de "Shikimori's not just a cutie", mostrando Shikimori e Izumi
Imagens para postar com a legenda “eu e quem?” (Reprodução: Crunchyroll)

Entrando no segundo ponto, preciso comentar sobre o quão bons são os amigos e personagens secundários presentes na série. Isso já contrasta com o parágrafo anterior, pois “coadjuvantes excepcionais” é algo extremamente comum no mundo dos Slice of Life, e “Shikimori” não poderia ficar pra trás.

Eu poderia ficar o dia inteiro aqui falando sobre cada uma das personagens individualmente, mas vou poupar o meu tempo e o seu: Com um episódio dedicado a entender e aprofundar na vida de cada um deles, os colegas da Shikimori se tornam muito mais que apenas estereótipos ou ferramentas de roteiro, mas pessoas com motivações, sonhos e coisas acontecendo na vida, mesmo que fora da tela. Até mesmo terciários que aparecem uma única vez para uma única piada acabam sendo trabalhados e se tornando icônicos.

Captura de tela do episódio 9 de "Shikimori's not just a cutie", mostrando Hachimitsu vestida de detetive
As – esporádicas – quebras de quarta-parede da Hachimitsu foram uma das minhas partes prediletas do show, e nem precisa ser Sheroque Rolmes pra descobrir. (Reprodução: Crunchyroll)

Por fim, o terceiro ponto é possivelmente o mais marcante: Os visuais. Isso é algo que qualquer um consegue notar imediatamente ao começar a assistir o animê. Até pelo trailer (acima, caso não tenha visto ainda) você já tem total noção da ideia que permeia a fundação desse show.

Antes de ser um mangá, “Shikimori” começou com um web-comic, publicado no Twitter do autor. No mundo de 280 caracteres, as linhas do tempo voam, e um tweet que não chama atenção é facilmente perdido num oceano de piadas, discussões duvidosas, pornografia e notícias de desgraça. Por conta disso, quadros marcantes são essenciais. E obviamente que, ao ser transformado em animê, esse aspecto também viria para a mídia animada.

Acima de tudo, “Shikimori” é um espetáculo visual. A história é uma mera desculpa para gerar cenas cinematicamente impressionantes, com quadros belíssimos da protagonista que dá nome ao animê. A quantidade de vezes que eu pausei um episódio para apreciar a beleza do desenho é muito maior do que eu gostaria de admitir. Felizmente, essa beleza estética se estende aos demais níveis técnicos do show: Os cenários são tão bonitos quanto as personagens; a música, efeitos sonoros e vozes são charmosas e combinam com a situação; e a direção das cenas permite tirar o melhor de cada acontecimento.

Captura de tela do episódio 12 de "Shikimori's not just a cutie", mostrando um cenário noturno
Eu sou um cara simples, eu vejo luzes refletidas num corpo d’água, eu já acho lindo. (Reprodução: Crunchyroll)

Nem tudo são flores, porém, e o show possui seus defeitos. O maior e mais gritante deles, na minha opinião, é a ideia e o uso da sua “sinopse”: O protagonista, Izumi, é super-azarado, sempre sofrendo com todo tipo de desgraça aleatória; enquanto a protagonista, Shikimori, é super-habilidosa e consegue zelar pela segurança do namorado.

O conceito em si não é ruim, e funciona como mote substituto para o humor, no lugar dos clássicos desentendimentos românticos. Mas o uso dele é um pouco… como posso dizer… “Exagerado“, em especial nos primeiros episódios da temporada. Exagero é um dos pilares da comédia, mas quando se exagera no exagero, podemos chegar num ponto em que a coisa já perde a graça. Ao menos para mim, não chegou a ser algo que me fez torcer o nariz, mas ficou claro que conforme nos afastamos dessa insistência em bater na mesma tecla, e começamos a explorar novos horizontes, a obra ficou muito mais divertida e gostosa de acompanhar.

A segunda metade, em especial, conseguiu encontrar um equilíbrio perfeito onde ainda se apoiava na sua premissa, mas sem passar dos limites. O “azar” do Izumi e as capacidades quase sobre-humanas da Shikimori, quando combinadas com a qualidade do elenco de apoio, criaram o ápice que todo Slice of Life deseja: Situações de alta-tensão, mas de baixíssimo risco. Olhando de fora, minha afirmação lá do começo do texto se mantém: Realmente não há reviravoltas ou coisas extraordinárias. Mas tudo se organiza de forma a te fazer ficar empolgado com os mais simples dos acontecimentos, onde uma ligação telefônica faz seu coração saltar, ou uma simples jogatina te faz ficar na ponta da cadeira.

Captura de tela do episódio 10 de "Shikimori's not just a cutie", mostrando os cinco personagens principais
Se você é a Hachimitsu ou a Nekozaki enquanto assiste, depende de o quanto você gosta de feijoada. (Reprodução: Crunchyroll)

Sendo assim, “Shikimori’s not Just a Cutie” é um animê de nicho, mas que certamente agradará aqueles que buscam exatamente o que ele oferece. E para os que não buscam, ainda vale uma tentativa, nem que seja apenas como turista visual. Na opinião do redator, o show vale um 4,0/5,0 para quem está interessado em uma comédia-romântica pé no chão e mais focada no Slice of Life.

O animê está disponível na plataforma de streaming Crunchyroll, completo em 12 episódios. Também há opção de áudio dublado em português.

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“The Aquatope on White Sand” e o pecado de amar demais

Procurando um animê para toda a família? Algo que poderia muito bem passar na Sessão da Tarde, irritar o seu tio, fazer sua mãe chorar, e seu primo que é redator de um blog de cultura nerd reclamar sobre escolhas de roteiro que ele entende que não são feitas para um público-alvo como ele? Pois “The Aquatope on White Sand” é possivelmente o show para você!

Captura de tela do episódio 18 de "The Aquatope on White Sand", mostrando Kukuru entregando bonecos para várias crianças
“Essa garotada vai se meter em altas confusões enquanto se aventuram no incrível mundo dos aquários!” (Reprodução: Crunchyroll)

Antes de começarmos, porém, vai ser necessário entender com quem estamos lidando. “Aquatope” é mais um animê original da P.A. Works, estúdio conhecido por criar lindos cenários e histórias que destacam o comum como mágico e a magia como corriqueira. A direção é de Toshiya Shinohara, que também fez coisa parecida em “IRODUKU: The World in Colors”, e “Nagi-Asu: A Lull in the Sea”.

Isso faz com que um novo animê vindo deles tenha uma certa expectativa, de seguir a “fórmula P.A. Works”: Uma trama adolescente que tica todas as caixas na lista de “coming-of-age” da Wikipédia; uma parte técnica linda e que vai agradar todos os nerds das respectivas áreas; e a garantia de um sucesso cult entre os que não gostam tanto assim de mecha dos anos 70. E “Aquatope” é exatamente isso, surpreendendo por o quão nos eixos ele conseguiu seguir semana após semana.

Abaixo, a sinopse e o trailer do show, que estreou em julho deste ano e terminou sua exibição recentemente, conforme fornecidos pela Crunchyroll:

“Em um pequeno aquário localizado na ilha de Okinawa, trabalha Kukuru Misakino, uma jovem de 18 anos. Lá ela encontra Fuka Miyazawa, uma ex-idol que perdeu seu emprego em Tóquio e está desnorteada. Elas começam a passar os dias juntas no aquário, conhecendo melhor uma a outra, mesmo com a iminente crise financeira ameaçando fechar o estabelecimento. Em meio aos sonhos e à realidade, à solidão e à amizade, aos laços e aos conflitos, as duas amigas vão virar uma nova e brilhante página neste verão.”

O contraste entre a primeira e a segunda parte da história é um dos pontos mais interessantes de se assistir pelo simples ato de compará-los. Começamos com uma adolescência mágica e inocente, onde tudo se resume a uma única coisa em um pequeno espaço. A jovem Kukuru é um retrato do próprio Aquário Gama Gama: enraizado a um alicerce instável, mas que sobrevive com base na boa vontade e no apoio de diversas mãos amigas. É um lugar intrinsecamente sobrenatural, que consegue mostrar a magia que só existe nos olhos de alguém naquela faixa etária.

Então, na segunda metade, a vida adulta mostra como o mundo é muito maior – e mais cruel – do que um conto-de-fadas teen. A magia se esvai conforme o chamado das responsabilidades se sobressai a qualquer oportunidade de sonhar. O Aquário Tingaara pode ser maior, mais tecnológico e possuir muito mais espécies, mas ele não passa de uma casca vazia para quem não entende a função daquele lugar, ou para quem o vê como um substituto de algo insubstituível.

O próprio conceito de histórias coming-of-age é mostrar que, na vida adulta, você precisa correr atrás de criar a sua própria magia. Buscar satisfação pessoal – seja com seu trabalho, hobbies, amizades ou amor – é a mensagem que o gênero tenta passar, e que “Aquatope” tentou contar de forma tão agridoce.

Captura de tela do episódio 1 de "The Aquatope on White Sand", mostrando Fuuka no oceano
Não tente prender a respiração durante as cenas aquáticas desse animê! Eles respiram com magia, você não! (Reprodução: Crunchyroll)

Um dos comentários que eu mais fiz (e que mais vi sendo feito por outras pessoas) durante a exibição do animê foi o realismo com que ele retratou os ambientes de trabalho. Em uma empresa pequena e familiar, foi mostrada a contratação de parentes e amigos, mesmo que sem experiência ou qualificação para o cargo; e uma hierarquia nada meritocrática onde a garota de 18 anos consegue se tornar chefe simplesmente por ser neta do dono. Já na empresa da “cidade grande”, o que vemos é uma relação nada saudável entre funcionários; uma equipe de marketing que não se importa nem um pouco com a equipe técnica e que simplesmente joga a bucha para eles e sai andando; estagiários desinteressados e que estão vendo o circo pegar fogo e simplesmente vão embora 17h em ponto… São pequenos toques de coisas que vemos no dia-a-dia que dá credibilidade para o slice of life do show.

Outro ponto desse realismo contextual é sobre como a história se foca nas suas protagonistas, mas sem deixar de mostrar que o mundo ao redor delas é orgânico e que coisas estão acontecendo mesmo longe de seus olhos. Ao longo de todo o animê, vemos situações sendo comentadas, ouvimos boatos sobre acontecimentos relevantes de personagens secundários, histórias que parecem ser extremamente interessantes, mas que nunca são contadas. Como acompanhamos a jornada da Kukuru e da Fuuka, o roteiro apenas explicita o que tem contato direto com o desenvolvimento das duas. Pode ser frustrante para quem tinha interesse nesses arcos que aconteceram fora da tela, mas é uma escolha proposital para destacar ainda mais que, na vida real, você apenas se importa com o seu pequeno círculo, e raramente se envolve em problemas alheios.

Captura de tela do episódio 18 de "The Aquatope on White Sand", mostrando Fuuka, com a legenda: "Acho que o mais incomum é gente como você, que escolhe trabalhar porque gosta."
O animê não só mostra como o trabalho funciona, como entende o principal ponto sobre trabalhar: Que ninguém gosta de trabalhar (Reprodução: Crunchyroll)

Agora, um problema que todos deveriam se envolver, é o tema que pairou sobre toda a história do animê: A conscientização ecológica e ambiental. Estamos assistindo um show sobre criaturas marinhas, com um roteiro que se baseia nos oceanos. É óbvio que teríamos ao menos uma mensagem sobre isso, né?

Se me perguntar, acho até que abordaram pouco o assunto! Ele foi bem suave, quase invisível, mas presente, durante 90% da duração do animê, e só decidiram deixá-lo mais descarado na parte final. Sei que sou suspeito ao falar isso, por ser ambientalista de formação, mas acho que informar e interessar as pessoas em questões ambientais deveria ser feito com maior frequência. Se botar garotas fictícias para sofrer semanalmente por seis meses é o que vai ajudar a fazer a nova geração se importar com o destino do planeta, que façam mais histórias tristes!

Captura de tela do episódio 22 de "The Aquatope on White Sand", mostrando uma tartaruga marinha e um amontoado de lixo, com a legenda "Mês passado, a maré trouxe uma tartaruga enrolada em cordas"
União sinistra P.A. Works e Projeto TAMAR (Reprodução: Crunchyroll)

Sei que acabei de falar no parágrafo anterior sobre como as garotas sofrem e como a história é triste… Mas a verdade é que “Aquatope”, em sua essência, não é uma tragédia. O que nós temos é uma série de pequenos problemas, uma morte por mil cortes. Claro que alguns cortes são maiores e mais profundos que outros, mas todos eles acontecem não pela existência de um vilão, uma figura malvada ou um desastre inimaginável. Eles acontecem pelo excesso de amor das personagens, e é aí que a piada do título se torna real. O único erro das protagonistas é amar demais, se apegar demais, ter empatia demais.

Cada drama, na verdade, não passa de uma simples dificuldade corriqueira. Para alguém que não se importa, seria uma mera inconveniência. Mas, para quem é apaixonado por aquilo, a coisa se torna uma questão de vida ou morte. Vemos diversos tipos de dificuldades se tornando trabalhos hercúleos por motivos diferentes, mas todos relacionados ao amor: A dificuldade de espalhar o seu amor para outros; a dificuldade de se recuperar de um amor perdido; a dificuldade em encontrar seu amor… O show faz um excelente trabalho de mostrar cada personagem sofrendo por um motivo diferente, te permitindo entender o quanto cada um ama o que está perdendo (ou lutando por).

Captura de tela do episódio 23, mostrando Kukuru cercada por três pinguins
Acho que “lutar pelos pinguins fofinhos ownn cuticuti” é o drama mais fácil de se identificar que o show oferece (Reprodução: Crunchyroll)

A mensagem final que o animê deixa é que a vida continua, você olhando para ela ou não. O que assistimos nos vinte e quatro episódios é apenas um pedaço da vida das personagens: Elas viveram coisas antes, muita coisa que não vimos aconteceu no durante, e elas continuarão vivendo depois. A história de “Aquatopetem um começo, um ponto onde as coisas mudam drasticamente… Mas ela não tem um fim. Encerramos um capítulo e uma nova página se abre, mas essa ainda está em branco. E fica claro que cada uma das personagens tem em mãos a tinta para escrever o seu próprio futuro.

The Aquatope on White Sand” é perfeito para quem gosta de recortes de uma vida incomum e mágica, mas racional e realista, e quer ver o crescimento de uma garota cujo único pecado foi amar demais. Divertido e complexo, engraçado e trágico, com contrastes na medida certa e pontos o suficiente em aberto para te deixar curioso ou irritado, depende do seu ponto de vista. Como um todo, a nota do redator é 4,0/5,0 e mais um adendo de que eu me esforcei para não colocar uma comparação entre o animê e um pagode no final do churrasco, pois ambos são bem parecidos.

Você pode assistir “The Aquatope on White Sand” na plataforma de streaming Crunchyroll, onde o animê está completo com 24 episódios e possui legendas em português.

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Crunchyroll fará evento digital com artistas nacionais e maratona de animê

Em um release para a imprensa e em suas redes sociais, a Crunchyroll, plataforma de streaming de animê, anunciou hoje (04) que realizará um evento virtual no Twitch, entre os dias 08 e 12 de novembro. Segundo a Crunchyroll Brasil, será um evento “celebrando a cena nacional de artistas e a comunidade de fãs de anime”.

Na programação, teremos a participação de cinco artistas brasileiros, que darão vida ao novo design brasileiro da Crunchyroll-Hime, mascote do site. Além disso, fãs brasileiros e portugueses terão a oportunidade de maratonar a versão dublada de “The Ancient Magus’ Bride“, animê de 2017, para poderem se preparar para o lançamento “The Ancient Magus’ Bride -The Boy from the West and the Knight of Blue Storm-“, a nova série de OVAs que está com lançamento planejado para dezembro deste ano.

Confira a programação completa do evento, e mais informações sobre os artistas convidados e sobre o animê:

  • Local: Twitch da Crunchyroll Brasil ( twitch.tv/crunchyroll_pt )
  • 08/novembro (segunda), às 19:00:
    • Live drawing com Silva João
    • Exibição dos OVAs 01-03 de The Ancient Magus’ Bride: Those Awaiting a Star
    • Exibição dos episódios 01-02 de The Ancient Magus’ Bride
  • 09/novembro (terça), às 19:00:
    • Live drawing com Gabi Tozati
    • Exibição dos episódios 03-07 de The Ancient Magus’ Bride
  • 10/novembro (quarta), às 19:00:
    • Live drawing com Natália Prata
    • Exibição dos episódios 08-12 de The Ancient Magus’ Bride
  • 11/novembro (quinta), às 19:00:
    • Live drawing com Leonardo Cesar
    • Exibição dos episódios 13-17 de The Ancient Magus’ Bride
  • 12/novembro (sexta), às 19:00:
    • Live drawing com Monge Han
    • Exibição dos episódios 18-24 de The Ancient Magus’ Bride
Imagem mostrando a foto do artista "Silva João", fornecida pela Crunchyroll
Silva João estará no primeiro dia de lives. (Imagem fornecida pela Crunchyroll)

Silva João é um quadrinista, ilustrador e roteirista de São Paulo. É mais conhecido pela sua webcomic HQ de Briga e suas tirinhas. Fã de Mob Psycho 100 (informação importante).

Redes sociais: Twitter (@silvazuao) | Instagram (@silvazuao)

Imagem com a foto de Gabi Tozati, fornecida pela Crunchyroll
Gabi Tozati estará no segundo dia de lives. (Imagem fornecida pela Crunchyroll)

Gabi Tozati é uma ilustradora freelancer do interior de São Paulo, formada em Design Gráfico e pós graduada em Animação 2D. Seu foco de trabalho é em ilustração editorial infantil/infanto-juvenil e design de personagens, prestando serviços para empresas como Storytime Magazine, Programa Pleno, Editora Moderna e possuindo parcerias com plataformas como Faber Castell e Crehana.

Redes sociais: Twitter (@gabitozati) | Instagram (@gabitozatiart)

Imagem com foto de Natália Prata, fornecida pela Crunchyroll
Natália Prata estará no terceiro dia de lives. (Imagem fornecida pela Crunchyroll)

Natália Prata é uma ilustradora freelancer cearense, Arquiteta e Urbanista de formação que largou a profissão e foi se aventurar nesse mundo de ilustrações. Seu foco principal é ilustração infantil, além de cuidar de uma loja onde faz seus próprios produtos.

Redes sociais: Twitter (@nyatche) | Instagram (@nyatche)

Imagem com foto de Leonardo Cesar, fornecida pela Crunchyroll
Leonardo Cesar estará no quarto dia de lives. (Imagem fornecida pela Crunchyroll)

Leonardo Cesar é um artista afrodescendente e bissexual do Rio de Janeiro. Já trabalhou em alguns desenhos animados como ilustrador e animador para a Netflix, Cartoon Network e Discovery Kids. Em seus trabalhos autorais sempre tenta levar representatividade latina, negra e LGBTQIA+.

Redes sociais: Twitter (@leocesaturn) | Instagram (@leocesaturn)

Imagem com foto estilizada de Monge Han, fornecida pela Crunchyroll
Monge Han estará no quinto dia de lives. (Imagem fornecida pela Crunchyroll)

Monge Han é o nome artístico de Eric Han Schneider, asiático-brasileiro descendente de coreanos. Busca em seu trabalho autoral o desenvolvimento de sua linguagem na arte e no desenho, para que seu trabalho seja sempre um reflexo de seu interior e, sendo assim, um veículo para entender-se melhor como artista e pessoa racializada. Seus trabalhos permeiam narrativas autobiográficas, histórias ficcionais influenciadas por quadrinhos leste-asiáticos e tirinhas existenciais e humorísticas. Já trabalhou com empresas como Doritos, Universal Music, Editora Rocco e Sony Music (e agora Crunchyroll 💛).

Redes sociais: Twitter (@MongeHan) | Instagram (@mongehan)

Imagem de capa do animê "The Ancient Magus' Bride", fornecida pela Crunchyroll
“The Ancient Magus’ Bride” terá episódios dublados exibidos todos os dias do evento, após a participação dos artistas (Reprodução: Crunchyroll)

Criada pela mangaká Koré Yamazaki e adaptada para anime em 2017 pelo WIT Studio, The Ancient Magus’ Bride combina a magia do folclore celta e britânico com ação, romance e drama. A versão brasileira foi dublada pelo estúdio Som de Vera Cruz e contou com a direção de Leonardo Santhos. A sinopse, fornecida pela Crunchyroll, segue:

Abandonada por sua família e vendida para um traficante de escravos, Chise Hatori (voz de Raquel Masuet) é comprada por um estranho indivíduo envolto em mistério, que esconde seu rosto por trás de uma caveira de animal. Elias (voz de Guilherme Briggs) é um antigo mago que identifica em Chise um poder incomum, e decide comprá-la para libertá-la da escravidão… e para fazer dela sua noiva.

Imagem fornecida pela Crunchyroll com ilustração do novo OVA de "The Ancient Magus' Bride"
O novo OVA da obra estará disponível na plataforma de streaming em Dezembro (Reprodução: Crunchyroll)

Em dezembro de 2021, The Ancient Magus’ Bride -The Boy from the West and the Knight of Blue Storm-, uma nova história no universo de The Ancient Magus’ Bride chega com exclusividade à Crunchyroll junto com o lançamento global, com áudio original em japonês e legendas em português. Confira o trailer:

Para mais informações sobre a Crunchyroll, o mundo dos animês e da cultura nerd, fique ligado na Torre de Vigilância.

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“Fena: Pirate Princess” é uma bela e confusa mistura

A discussão de “piratas vs ninjas” é uma das mais antigas da internet, e já causou horas e horas de acalorados argumentos. Se me perguntarem, acredito que demorou até demais para termos um animê inteiro dedicado a responder esse questionamento.

Fruto de uma parceria entre a Crunchyroll e o Adult Swim, “Fena: Pirate Princess” é um animê original que estreou em Agosto na plataforma de streaming, e foi concluído recentemente com 12 episódios. Animado pelo estúdio Production I.G. e dirigido por Kazuto Nakazawa, o show foi inspirado por mangás shoujo” e possuía como objetivo “ser uma história de fantasia e romance, que não se preocupa em ser historicamente realista.

A sinopse e trailer do show, como apresentados pela Crunchyroll, seguem:

Fena Houtman se lembra pouco da sua infância. Orfã e criada como serva em um bordel, sua vida muda quando ela foge para uma ilha de piratas onde descobre a verdade por trás da sua família. Fena sendo a única capaz de desbloquear os segredos da sua família, e com um grupo formidável de piratas na sua cola, ela precisa assumir seu lugar como capitã de sua tripulação de Samurai para uma aventura em alto mar!

Falar de “Fena” é falar de visuais deslumbrantes, e qualquer comentário que diga menos que “espetacular” seria uma mentira. Do início ao fim, fomos presenteados com cenários desenhados a mão, baseados em diversas localidades históricas ao redor do mundo, trazendo uma imersão no tema de “aventura na era das navegações” de fazer inveja para muitos shows populares.

E não só os visuais, mas todas as partes artísticas do animê se mostraram como de alto nível e com uma consistência inacreditável: O design de personagens que deu um charme único para cada uma delas; a trilha e efeitos sonoros que se complementam perfeitamente com os visuais; a escolha e interpretação das vozes, que contou com um elenco de dubladores AAA; a coreografia das cenas de ação, que embora poucas, foram extremamente marcantes… O show se destaca positivamente como sendo um espetáculo técnico.

Visual da cidade de "Shangri-lá", em imagem utilizada na produção de "Fena: Pirate Princess"
“Shangri-lá”, apenas a primeira de muitas paisagens maravilhosas da série (Imagem cedida pela Crunchyroll)

Os problemas começam, porém, quando olhamos para o enredo. “Fena” parece ser uma obra com crise de identidade, que não consegue escolher o que quer ser ou qual rumo deseja tomar, e acaba ficando sem tempo para concluir sua trama quando finalmente se decide (se é que dá pra falar que uma decisão foi tomada).

No início, somos apresentados a um mundo incrível, com personagens de personalidade forte e com toda a parte artística supracitada como base. Terminei o primeiro episódio completamente boquiaberto, pronto para explorar os mares nessa história que parecia estar se moldando para ser uma jornada de auto-realização e de entendimento pessoal. Minha empolgação estava tão pra cima quanto o narizinho da Fena.

Captura de tela do episódio 8 de "Fena: Pirate Princess", mostrando Fena
Narizinho da Fena. É isso, essa é a legenda. (Reprodução: Crunchyroll)

Com o passar dos episódios, mais e mais elementos foram sendo adicionados, sem dar a chance para os anteriores se concretizarem ou serem explicados. Em pouco tempo, a trama já estava completamente perdida, com tantas coisas empilhadas que nenhuma delas conseguiu ser coerente. Acabamos com um monstro de Frankenstein, que juntou retalhos de diversos gêneros e bebeu de diversas fontes, mas não pensou na ética ou na consequência de seus atos. Eles estavam tão preocupados em saber se conseguiam, que não pararam pra pensar se deveriam.

Piadas à parte, a impressão que fica é que de duas, uma: Ou a produção foi muito ambiciosa, e precisava de pelo menos 24 episódios para explorar todos os pontos da salada de frutas que eles fizeram; ou a produção foi muito ingênua, e acreditou que conseguiria fazer sentido das ligações sem pé nem cabeça que inventaram com apenas 12 episódios. Um exemplo claro dessa linha de raciocínio são os próprios samurais que compõem a tripulação. Eles tiveram participações desiguais ao longo da série, e não sei dizer se os menos favorecidos seriam aprofundados se tivéssemos tempo para isso, ou se estavam lá apenas por estar desde o início.

Existe uma linha tênue entre o conceito de “ser misterioso e deixar as coisas no ar puramente pela estética do desconhecido“, e “não fazer absolutamente nenhum sentido“. E, embora consiga ficar no lado certo em alguns momentos, o animê acaba não apenas passando pro outro lado dessa linha em múltiplas ocasiões, como decide correr uma maratona além dela em sua conclusão.

Captura de tela do episódio 7 de "Fena: Pirate Princess", mostrando Fena e uma explosão ao fundo
Representação visual de como foi acompanhar a história do animê (Reprodução: Crunchyroll)

“Fena” não precisava ir tão longe, até porque ninguém estava esperando que fosse. O show precisava escolher se seria uma aventura mais pé-no-chão, focada em descobrir a história e o passado da protagonista, e como ela lidaria com essas descobertas… Ou se seria uma aventura fantástica, onde as personagens fossem apenas os veículos para nos mostrar a magia, que seria o verdadeiro ponto central. São duas visões completamente opostas, e justamente por isso, não funcionam quando unidas. E, pra mim, esse é o maior defeito do animê.

Com um embaraçado de temas, e pouco tempo para desembaraçá-los, “Fena: Pirate Princess” se perde em si mesmo e se torna uma mera experiência visual. Mas que os visuais são lindos, isso não dá pra negar. É um animê que entretê, mas que não possui substância, e por isso, minha nota pessoal e intransferível para ele é 2,5/5,0. Levemente decepcionado com a jornada que nunca me foi prometida, mas que eu achei que iria receber.

O animê está disponível na Crunchyroll, completo em doze episódios, e com legendas em português.

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Blade Runner: Black Lotus e a Expansão do Universo de Philip K. Dick

Em 1968, Philip K. Dick publicou uma das obras mais relevantes para o gênero da ficção-científica: ‘Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?’. E, na trama original, acompanhamos Rick Deckard, um caçador de recompensas que vive em uma São Francisco decadente em um futuro distópico onde aconteceu uma guerra nuclear e diversas colônias planetárias foram criadas. Quem permaneceu na Terra, vive em um lugar coberto por poeira radioativa onde as espécies de plantas e animais foram aniquiladas após o evento.

Neste cenário, todos almejam melhorar de vida e com Deckard não seria diferente: sua meta é substituir a sua ovelha elétrica por uma de verdade. Para isso, o protagonista aceita um novo trabalho cuja a missão é caçar androides que fugiram e encerrar suas atividades.

O interessante é observar que, neste livro, Philip K. Dick cria toda essa ambientação futurista tão imersiva e detalhista, que serve como base até hoje para diversos jogos, filmes e RPGs de mesa apenas com o intuito de abordar diversas questões sobre o que é ser humano, o poder da tecnologia sobre a massa e sobre toda a natureza da vida que envolve a gente – além de, é claro, apresentar uma excelente trama cuja a leitura é fundamental até os dias atuais.

Blade Runner": as previsões do filme para 2019 que não são realidade - Revista Galileu | Cultura

E mesmo que o autor já tivesse apresentado este vasto universo junto com uma história sensacional, Ridley Scott foi além e, em 1982, trouxe para os cinemas sua adaptação estrelada por Harrison Ford. Blade Runner: O Caçador de Androides consolidou de forma definitiva todo o universo apresentado no livro e, na minha opinião, melhorou a trama original mantendo as mesmas reflexões que o autor pretendia.

Mesmo marcado por polêmicas e opiniões divididas na época de seu lançamento, a adaptação foi a principal responsável por definir este universo e gerar as posteriores expansões do mesmo. Tanto que, logo após este, tivemos uma incrível sequência dirigida por Denis Villeneuve e outras mídias situadas no mesmo universo.

Blade Runner 2049 misses rise of creative artificial intelligence

Uma das expansões desde universo sensacional mais recentes que vêm sendo lançada é uma série de quadrinhos intitulada Blade Runner 2019. Lançada aqui no Brasil pela editora Excelsior desde o ano passado e em capa dura, a trama desta se passa no mesmo ano que o filme dirigido por Ridley Scott e é considerada também uma sequência direta do mesmo.

Neste título acompanhamos Ash: uma policial que, assim como Deckard, também vive caçando androides. Um dia, a mesma recebe como missão encontrar a esposa e a filha de um bilionário em Los Angeles cujo os únicos suspeitos do desaparecimento são replicantes. Estes quadrinhos do universo de Blade Runner ainda se apresentam em dois volumes aqui no Brasil. Esta expansão é extremamente bem-vinda pois, por mais que pareça a mesma coisa que os filmes, toma outro rumo e explora bem mais a natureza de um replicante do que as outras mídias – dessa forma, caso seja fã deste universo, é uma boa sugestão para expandir sua relação com o mesmo.

Blade Runner 2019: Off-World' Goes to Colonies – The Hollywood Reporter

Por fim, a mais nova expansão do universo criado por Philip K. Dick chegará na Crunchyroll no dia 13 de Novembro com seus dois primeiros episódios disponíveis. Blade Runner: Black Lotus é a mais nova animação da Adult Swim e trás uma trama totalmente original e envolvente.

Na história, acompanhamos uma mulher chamada Elle no ano de 2023 em Los Angeles, onde a mesma acorda sem memórias, com habilidades desconhecidas e com uma tatuagem misteriosa. Além disso ela também apresenta um drive com arquivos criptografados, e seu objetivo é descobrir o que aconteceu e qual é a sua história dentro deste universo.

Começando pela trama, temos uma personagem cativante que consegue envolver o telespectador em sua própria história e pelo mistério de sua identidade logo nos primeiros minutos de tela. Junto a isso, há também uma excelente animação gráfica composta por uma fotografia que promove não só a imersão de quem assiste como também mostra toda a sujeira presente em Los Angeles naquele ano.

Em apenas dois episódios disponibilizados para a nossa redação, já foi possível observar todo o potencial que essa série tem de expandir com maestria todo o universo de Blade Runner.

Nestes dois primeiros episódios, basicamente observamos Elle se encontrando em Los Angeles e procurando resposta acerca de seu passado e de como foi parar ali – com bastante cenas de ação e efeitos visuais que deixam qualquer um apaixonado.

De certa forma, a história presente desta animação se torna promissora pelo simples de fato de não ter como protagonista (aparentemente, visto que é cedo para afirmar isso) uma caçadora de recompensas. Afinal, em todas as mídias citadas acima o protagonista era um, o que faz com que o universo seja observado em apenas um ponto de vista.

Por fim, Blade Runner: Black Lotus se apresenta como uma excelente adição na cronologia da franquia e apresenta um grande potencial para ser desenvolvido em seus treze episódios, que serão lançados com exclusividade na Crunchyroll.

 

Blade Runner: Black Lotus, uma produção original da Crunchyroll e do Adult Swim, estreia no dia 13 de novembro na Crunchyroll.