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Resenha Semanal | The Detective is Already Dead #05

Hoje é domingo, o que significa que é dia de mais uma Resenha Semanal de “The Detective is Already Dead”! Se chegou aqui agora, as resenhas anteriores estão aqui: #01 | #02 | #03 | #04.

O começo de um novo arco é sempre um ponto interessante, pois podemos virar a página e tentar arrumar os erros antigos ou melhorar as qualidades já estabelecidas. Ou, você pode não fazer nenhuma das duas coisas e se manter exatamente do mesmo jeito. Foi o que aconteceu nesse episódio. Vamos comentar!

Episódio 5: “Aquilo foi direcionado a um ano no futuro”

O episódio inteiro foi de flashback. Assistimos 24 minutos de coisas que já estão no passado, quando Siesta ainda estava viva. Embora isso não seja um problema por si só, pois acaba fazendo parte da própria premissa do animê, todo o peso emocional e a tensão desaparecem, quando se conta algo dessa forma. É um preço a se pagar por estruturar uma história que começa da metade, mas ainda querer contar a primeira parte dela. Se ao menos alguma franquia espacial multimilionária não tivesse feito isso antes pra te explicar, não é mesmo…

Captura de tela do episódio 5 de "The Detective is Already Dead", mostrando "Siesta".
Relembrar do passado pode ser bom, pois isso dá mais tempo para a Siesta aparecer. Olha que garota fofa! (Reprodução: Twitter oficial, @tanteiwamou_)

Pense no episódio num vácuo: Imagine que você não sabe que isso é uma mera lembrança, e que aquilo poderia estar ocorrendo no presente. O episódio funciona. Existe uma construção ideal de estresse nas cenas. Começamos com uma calmaria, com os dois brincando na praia, se divertindo, e levantando todas as death flags possíveis. Daí, somos levados a uma situação onde a vida do Kimihiko está em risco. Ele poderia muito bem morrer ali, naquela noite, pelas mãos (ou garras?) do lobisomem. Ainda pensando nisso, ele ser sequestrado pela “nova” vilã e levado para conhecer o “novo” totó da organização maligna também era uma situação tensa. Tudo indicava que existia um risco real ali, e o resgate da Siesta viria a ser uma cena emocionante.

Mas nada disso acontece! Sabe o motivo? Pois isso é um flashback! Isso já aconteceu! Todos nós sabemos que tanto o Kimihiko quanto a Siesta sobreviverão. Claro que a Siesta morre depois, mas nós sabemos que ela morre em outra situação. Logo, ela sai viva dessa. Isso faz com que esse episódio inteiro não passe de uma grande preparação de terreno, apenas nos dando informações que vamos precisar pro arco. E passar um episódio inteiro sem algo que vale alguma coisa é chato! Puxa, pelo menos me mostra um pouco do presente! Me diz que alguma coisa que foi dita aqui tem algum significado, pra eu ficar ansioso pelo próximo episódio. O que foi mostrado é até interessante, mas não tem valor nenhum. Eles tentaram fazer isso com a introdução de um “livro de profecias“, mas isso me fez mais ficar temeroso pelo futuro já estar marcado do que qualquer coisa…

Captura de tela do episódio 5 de "The Detective is Already Dead", mostrando Kimihiko.
“Oh céus! O protagonista está correndo sério perigo! Estou com tanta apreensão por ele!” disse ninguém. (Reprodução: Twitter oficial, @tanteiwamou_)

Considerações Finais (Bem, “parciais”, mas vocês entenderam)

Três pontos sobre o episódio que eu quero destacar: Mais um comentário sobre as interações da Siesta e do Kimihiko; O lobisomem; E a problema das introduções que ocorreram.

Para começar, voltamos a falar sobre como os dois protagonistas interagem. Hoje, vimos uma dupla diferente, já com quase três anos de experiências lado a lado. Embora o jeitão central das interações deles tenha continuado o mesmo, fica claro que eles ficaram mais próximos. Ao longo das conversas eu já cheguei a pensar em como “A Siesta se apegou ao Kimihiko“, e isso foi explicitamente mostrado com a cena final. De um lado, isso mostra uma progressão na história, e nos dá um ponto para comparação. Por outro lado… Eu achava mais engraçado quando a Siesta ligava menos pra ele. Ainda é engraçado e ainda gosto bastante, mas um pouco menos.

O segundo ponto é o que me deixou mais triste. Não estou decepcionado, ou revoltado. Apenas… Triste. Como pode você apresentar um personagem que é um lobisomem metamorfo mercenário, dublado por ninguém menos que Jouji Nakata, e simplesmente jogar esse personagem fora em cinco minutos? Isso é um desperdício! Que absurdo! Ele é o personagem mais legal que vocês me mostraram até agora, e daí decidem matá-lo desse jeito? Já tivemos um vilão reciclado no arco anterior, qual seria o problema de fazer isso com outro (que, convenhamos, é muito melhor do que um terrorista com uma orelha mutante)?

Captura de tela do episódio 5 de "The Detective is Already Dead", mostrando "Hel".
O que será que estão tentando dizer ao fazer a grande vilã ser exatamente igual a Siesta, só que com uma paleta de cores invertida? Deve ser apenas coincidência, né? (Reprodução: Twitter oficial, @tanteiwamou_)

Para encerrar, outro velho conhecido: Introduções esquisitas. Hoje, conhecemos a suposta grande vilã da história, “Hel”, a líder da organização maligna que a detetive enfrenta. Embora a introdução dela tenha sido a melhor até então, isso não quer dizer muita coisa, quando olhamos para as anteriores. Eu tenho duas reclamações principais com o que foi feito com ela. De início, a própria aparição dela foi uma história mal contada. O que motivaria a líder suprema de uma organização secreta a ir pessoalmente resolver assuntos de um subalterno? Mesmo com a desculpa de que ela “queria conhecer pessoalmente o futuro parceiro dela“, a sua entrada foi um pouco envolta de mistérios.

A outra coisa é sobre como a entrada que de fato ocorreu foi muito… sem sal? Acho que posso dizer que foi um “problema de direção“, de não conseguir transmitir a mensagem que eles queriam. Toda a cena deu a impressão de que eles estavam tentando mostrar o quão cruel, malvada e sem escrúpulos a garota era, mas acabou faltando impacto. Não houve foco o bastante, ou atenção o bastante, ou detalhamento o bastante para passar essa ideia. As cenas deveriam ser viscerais, mas foram muito superficiais, não dando o resultado esperado.

Como saldo final, o episódio foi interessante, mas foi apenas uma fração do que poderia ter sido. E, até então, essa parece ser minha impressão geral de “The Detective is Already Dead”: Muito potencial que não está sendo usado. Você pode sentar e esperar que utilizem o que tem (que pode nunca acontecer), ou simplesmente ir embora. Eu vou esperar, pois ainda tem muitas resenhas semanais pela frente.

O animê está disponível na Funimation, com novos episódios aos domingos, e legendas em português. Além de “The Detective is Already Dead”, a Funimation também anunciou diversos outros títulos para a temporada de verão de 2021, incluindo algumas dublagens para o português.

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Resenha Semanal | The Detective is Already Dead #04

Quarto episódio de “The Detective is Already Dead“, o que significa que estamos aqui já tem um mês. Então vamos pular as introduções: As resenhas anteriores estão aqui (#01, #02, #03).

Com o final do arco da idol, conseguimos entender como o resto do animê vai funcionar, e respondemos a pergunta da semana passada: Esse show vai ser um ótimo mistério de detetives, ao mesmo tempo que vai ser o pior mistério de detetives possível. Vamos conversar sobre o episódio pra entender melhor!

Captura de tela do episódio 4 de "The Detective is Already Dead"
Aliás, eu comentei sobre como as músicas da Yui são legais? (Reprodução: Twitter oficial, @tanteiwamou_)

Episódio 4: “O que vejo nesse olho”

O episódio começa frenético, como era de se esperar. Entre o final da semana passada e o começo dessa semana, o protagonista, Kimihiko, descobriu “a verdade“, e está agindo em cima disso. Mas como nós, espectadores, ainda não sabemos sobre a tal “verdade“, tudo fica propositalmente confuso. É uma última chance que o animê está te dando para você desvendar o mistério, usando as frases soltas da conversa entre os dois para te dar uma pista do que está acontecendo. E eu consegui ligar os pontos graças a isso (e a uma rápida espiada no episódio anterior), então agradeço pela oportunidade!

Duas cenas que se complementam aconteceram em momentos diferentes, mas acho necessário trazê-las de uma vez para comentar ambas juntas: No meio do show da Yui, o Kimihiko não consegue localizar o atirador que precisava, por conta da música alta e de todas as luzes piscantes na escuridão. Mas quem precisa de audição ou visão quando se tem um sonar ambulante? Com a ajuda do amigo sequestrador de aviões, ele encontra quem precisava e consegue salvar o dia. E qual a relevância dessa cena? Ela só vem a tona após o encerramento, quando vemos um novo flashback com a Siesta. O último ensinamento que a detetive deixou para Kimihiko foi justamente esse: Eles trabalham em equipe para que eles possam cobrir os pontos fracos uns dos outros. Foi mais um exemplo de como o garoto absorveu as diversas lições e manias da parceira, e como isso fez dele um assistente melhor.

A conclusão do arco aconteceu de forma bastante satisfatória. E não falo sobre como o mistério foi resolvido (isso eu vou comentar no próximo tópico), mas sim, sobre como as coisas se encerraram. Apesar de tudo, a Yui ainda é apenas uma garota de 14 anos. Ela é jovem, e embora não seja ingênua, é certamente influenciável e manipulável emocionalmente. Sinto que o Kimihiko tentou racionalizar demais a situação, quando se tratava de uma coisa que precisava ser resolvida com emoção. Ou, se me perdoarem o trocadilho… com coração. E por isso que a Nagisa foi essencial, pois ela é o coração da dupla. Gostei de como o próprio animê tratou a cena com bastante naturalidade, mostrando que os dois protagonistas são mais maduros e conseguiram interpretar perfeitamente a situação pela qual a Yui estava passando.

Captura de tela do episódio 4 de "The Detective is Already Dead"
Outra semana, outro episódio onde a antiga protagonista ainda tem mais importância que a protagonista atual… (Reprodução: Twitter oficial, @tanteiwamou_)

Considerações Finais (Bem, “parciais”, mas vocês entenderam)

Agora, precisamos analisar a resolução do mistério, né? E pra isso, vamos ter que separar o mistério em duas partes.

Primeiro, vamos falar do mistério de verdade. O roubo da safira, junto com a mentira da Yui, foi um mistério de detetive perfeito. Como conversamos semana passada, o mistério de detetive precisa te dar todas as informações necessárias para se chegar na conclusão, ou ele perde a graça. E fiquei impressionado com como, de fato, todas as pistas foram dadas. Os pontos foram dados, você só precisava ligá-los, e a graça de coisas de detetive é justamente essa.

Com a ajuda do começo frenético, eu consegui fazer essa ligação: A carta de desafio não citava em nenhum momento que a safira roubada era o colar. Quando ligamos esse ponto com o nome da música (que, eu conferi, e é sim citado no episódio anterior!), a interpretação de que o que realmente quer ser roubado é o segredo da Yui, aquele que “é revelado durante a música“, fica claro. E saber que ela já sabia disso fica ainda mais claro quando você lembra que todos os seguranças dela estariam no show, protegendo-a, e não na mansão, protegendo a joia. Como o próprio Kimihiko comenta, numa irônica observação, “o mistério estaria perfeitamente resolvido“…

Captura de tela do episódio 4 de "The Detective is Already Dead"
Essa traição do próprio show foi o equivalente a levar um tiro das mãos do Kimihiko… (Reprodução: Twitter oficial, @tanteiwamou_)

O problema é a segunda parte do “mistério”. Aqui, o animê fez o oposto de tudo que eu elogiei na primeira metade. E a pior parte, acredito eu, é o quão ciente do problema o próprio show se faz. Usando a Nagisa como um ponto de reconhecimento com a audiência, a garota fica completamente perdida, e até solta a frase “Você não me contou isso!“, como se o autor estivesse rindo da nossa cara. Inventar que a Yui estava, na verdade, sendo chantageada pela organização maligna e que ela foi enganada a tentar matar os dois protagonistas, por conta de um olho-ciborgue? Pelo amor de Deus…

Assim, ok, vamos dar crédito onde se é devido, e dizer que pelo menos eles nos deram informação o suficiente para descobrirmos que a idol tinha plena visão com o olho esquerdo. Mas fazer toda a associação com os ciborgues e a associação maligna? Isso não foi dito em momento algum! E pra piorar, toda a história de estarem tentando matar o Kimihiko? De onde isso saiu? Claro que, depois que “a verdade” foi exposta, você consegue ligar os pontos e entender a situação… Mas o problema é justamente esse! Os pontos precisam ser dados para você durante o mistério, e não só na resolução dele! Vocês fizeram isso tão bem nesse mesmo arco, tá dois parágrafos acima! Pra quê ferrar as coisas desse jeito?

Ou seja, estou feliz e puto, e, como já estou aqui, pretendo continuar assistindo “The Detective is Already Dead“. Porém, a questão que levarei para os próximos “mistérios” será: existem duas camadas de mistério, e eles provavelmente só vão me deixar brincar com uma delas.

O animê está disponível na Funimation, com novos episódios aos domingos, e legendas em português. Além de “The Detective is Already Dead”, a Funimation também anunciou diversos outros títulos para a temporada de verão de 2021, incluindo algumas dublagens para o português.

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Resenha Semanal | The Detective is Already Dead #03

Para a minha própria surpresa, consegui chegar intacto na terceira semana de resenhas. “The Detective is Already Dead” continua com força total, e temos mais um episódio para comentar. Caso tenha perdido as resenhas anteriores, você pode ler aqui: Episódio 1 | Episódio 2.

Depois de introduzir a história e apresentar as regras do jogo, finalmente, com o terceiro episódio, começamos a ter um conto, de fato, de detetive. E a fundação toda está bem estruturada, precisamos apenas ver a execução (que virá nos próximos episódios) para descobrir se Tanmoshi será uma boa história de detetive, ou uma história de detetive medíocre. Vamos falar do que essa semana nos mostrou!

Captura de tela do episódio 3 de "The Detective is Already Dead"
Como o nome do episódio nos diz, a animação continua de qualidade. (Reprodução: Twitter oficial, @tanteiwamou_)

Episódio 3: “É de Qualidade Yui-nya!”

Mais uma vez, eu preciso gastar metade da postagem pra falar sobre a primeira cena do episódio. Foi uma cena incrivelmente bem dirigida, que contou uma história apenas com o visual, através de posicionamentos muito bem pensados. Claro que não é nada de extraordinário ou fora do comum, mas é sempre satisfatório ver quando a direção favorece tanto a narrativa. Quando a Nagisa escuta o Kimihiko dizendo que “Não é um detetive“, a reação dela é de imediatamente intervir. No final do episódio anterior, vimos o garoto dar a ela uma escolha (a escolha que ele não teve): Ela podia escolher viver uma vida comum, sem nenhum envolvimento naquele caos… Mas ela escolheu dar um passo a frente, e se apresentar como detetive para a nova personagem, a Yui (já falo dela).

E é essa cena que foi visualmente perfeita como uma metáfora dessa escolha. Nagisa estava na sombra, escondida pelo ponto de ônibus. Ao caminhar para o sol, com uma sincronia perfeita entre a sua fala, a música, e a transição entre luz e sombra, vimos sua decisão ser tomada. Um ponto interessante é que normalmente, se pensaria que a metáfora seria oposta: Ao entrar no “submundo” dos detetives, ela deveria estar caminhando para a sombra. Mas o que foi colocado em jogo não é a ambientação, mas sim, a caracterização das personagens. Pare pra pensar no design da Nagisa, em contraste com a da Siesta: As duas tem paletas de cores opostas. A Nagisa tem uma temática mais escura, com seus longos cabelos negros; enquanto a Siesta tem uma temática mais clara, com um curto cabelo branco, quase prateado. Ao sair para o sol, todo o tom da personagem se torna mais claro, como se ela estivesse admitindo a paleta de cores da Siesta nela mesma. Afinal, ela está tomando o lugar dela como a “lendária detetive”. Honestamente, uma cena que eu revi umas três vezes, de tão interessante que foi.

Captura de tela do episódio 3 de "The Detective is Already Dead"
Quando você deveria ser a protagonista, mas a protagonista antiga continua roubando a cena… (Reprodução: Twitter oficial, @tanteiwamou_)

Novamente trazendo um tópico que eu falei semana passada, tivemos a introdução de uma nova personagem, e, novamente, foi uma introdução… conturbada. Estou tendo a impressão de que “The Detective is Already Dead” não é muito bom em introduzir personagens. Nessa semana, conhecemos a cantora mais famosa do momento, Yui Saikawa. Vou começar com um elogio, pra depois reclamar: Pelo menos o show foi extremamente realista ao fazer os dois adolescentes que estão atolados de problemas não fazerem ideia de quem é a celebridade da semana. Pelo menos eu consegui me relacionar bastante com o caso…

Então vamos aos problemas da introdução da idol. Parece que eu bato na mesma tecla, falando da mesma coisa outra vez, mas é um problema que se repetiu hoje: A introdução pareceu deslocada. Dessa vez, ao menos, isso aconteceu por um motivo diferente. Semana passada, a Nagisa que apareceu pela primeira vez se mostrou completamente diferente da Nagisa de verdade, fazendo com que tivéssemos duas garotas diferentes; Essa semana, a impressão inicial da garota foi até que bem feita. A Yui se manteve daquele jeito ao longo de todo o episódio.

O que me causou certo incômodo é a forçação de barra do humor escrachado, que não se encaixa dentro do clima do animê, e que é totalmente dispensável. Entendo que a ideia foi mostrar que a Yui é, de fato, uma personagem menos séria, e que podemos esperar certo humor vindo dela, mas isso pode ser feito de formas tão mais naturais. A própria introdução faz isso! O humor, bem mais natural, da garota achar um absurdo os outros dois não a conhecerem (afinal, ela é a idol mais famosa do momento! Como eles não a conhecem?!), já servia a esse propósito, e emendaria muito bem com as piadas que aconteceriam no decorrer do episódio. O humor da garota vem do fato dela viver em um “mundo próprio“, onde ela não tem muita noção de o que é “normal” para os outros.

Captura de tela do episódio 3 de "The Detective is Already Dead"
A cena na sala de reuniões da Yui foi um ótimo exemplo de humor que faz sentido no contexto, e não é jogado fora instantaneamente. (Reprodução: Twitter oficial, @tanteiwamou_)

Toda a história de forçar o assunto a chegar em “Kimihiko é um tarado” é dispensável, e, na minha opinião, nem é engraçado no contexto. Já falei disso na semana passada, então não vou me prolongar aqui, mas essa semana tivemos uma situação que acabou mostrando ainda mais o quão inútil é essa cena: Ainda na introdução da Yui, passamos quase dois minutos nessa piada, e o clima é simplesmente interrompido imediatamente com uma batida de pé da Nagisa, como se fazendo todo mundo voltar pra Terra e lembrar que eles tem um animê de detetive para fazer. E o mais incrível é que todo mundo volta imediatamente ao normal, como se nada tivesse acontecido, e continuam a cena na maior cara de pau. É uma coisa inacreditável…

Continuando, tivemos duas cenas, uma seguida da outra, e que se complementaram bastante: Os dois protagonistas, Kimihiko e Nagisa, tendo seus pensamentos expostos. O uso do contraste entre claro e escuro foi bastante comum nesse episódio, com o Kimihiko pensando na situação durante o dia, em pleno céu aberto (céu, aliás, que sempre aparece quando ele pensa na Siesta); enquanto a Nagisa nos contou suas ambições e traumas durante a noite, em um quarto escuro e fechado. Ambas as introspecções serviram para mostrar melhor o que se passa na cabeça dos protagonistas, e tiveram visuais que representaram bem o estado de espírito de ambos. Mais uma vez, um acerto da direção.

Considerações Finais (Bem, “parciais”, mas vocês entenderam)

Hoje, tivemos a oportunidade de analisar melhor o jeito como os protagonistas interagem e se relacionam. E o que eu senti é que temos a mesma coisa, mas não exatamente igual com o que vimos no primeiro episódio, entre a Siesta e o Kimihiko. As interações são diferentes, mas a essência é basicamente a mesma. Acredito que o que se tenta passar com isso é o ponto principal de “The Detective is Already Dead“: A Nagisa não é a Siesta, ela é ela própria. Ela é uma sucessora da lendária detetive, e não uma substituta. Ao assumir o título que era da Siesta, a “paleta escura” da Nagisa se torna um tom de cinza, e não a mesma “paleta clara” que era a da antiga dona do coração dela.

Por fim, a questão que eu estava esperando: Finalmente começamos a tratar o animê de detetives como um mistério de detetives. Como comentei na introdução, as estruturas do mistério foram colocadas, e, por enquanto, parece que tá tudo em ordem. Até encerramos o episódio com o detetive (bem, nesse caso, o assistente) chegando em uma conclusão que parece absurda, e que funciona como um cliffhanger para a semana que vem. A graça de mistérios é justamente você passar a semana inteira pensando “Mas gente, como assim? Como é que ele chegou nisso só com essas migalhas de informação? Será que eu perdi algo? Não estou ligando algum ponto que é óbvio?“. O divertimento vem na hora da revelação, ao descobrir a real resolução daquilo, e acompanhar a linha de raciocínio do protagonista.

E é aí que eu fico preocupado. Pelo menos pra mim, o negócio só é legal se eu tiver exatamente as mesmas informações que o detetive. Eu quero tentar ser tão sagaz quanto ele, eu quero tentar resolver o mistério com as “migalhas” que me foram dadas. Se a resolução acontece, e tudo que era necessário para se resolver estava ali, na minha frente, eu fico impressionado. Agora… Se a escrita do show tira alguma informação da cartola, algo que não tinha sido mostrado antes e que só o detetive sabia… Eu fico simplesmente frustrado. Qual a graça de resolver o mistério assim? Esse é o elemento que vai resolver ou destruir o animê.

Captura de tela do episódio 3 de "The Detective is Already Dead"
Esquecer de te contar informações cruciais só funciona e só é engraçado quando NÃO É O AUTOR que faz isso… (Reprodução: Twitter oficial, @tanteiwamou_)

O animê está disponível na Funimation, com novos episódios aos domingos, e legendas em português. Além de “The Detective is Already Dead”, a Funimation também anunciou diversos outros títulos para a temporada de verão de 2021, incluindo algumas dublagens para o português.

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Funimation anuncia 5 simuldubs para Temporada de Verão de 2021

A Funimation, serviço de streaming de animê que estreou no Brasil em 2020, liberou mais informações sobre seu catálogo para a Temporada de Verão de 2021. Em especial, anunciou cinco títulos que receberão dublagem em português, no esquema de “simuldub”. Vale lembrar que a nomenclatura das temporadas de animê são baseadas nas estações do ano no hemisfério norte, assim, a “Temporada de Verão 2021” equivale ao nosso inverno, entre Julho e Setembro. Conheça os títulos:

“The Case Study of Vanitas”, um dos títulos que receberá simuldub (Reprodução: Funimation)

● The Case Study of Vanitas (simulcast já disponível, com legendas em português; episódios dublados devem ser disponibilizados em breve)
Um vampiro jovem e cauteloso une esforços com um médico enigmático. Sua missão? Descobrir a “cura” para todos os vampiros.

● How a Realist Hero Rebuilt the Kingdom (simulcast já disponível, com legendas em português; episódios dublados devem ser disponibilizados em breve)
Kazuya Souma é coroado rei num mundo de fantasia e planeja melhorar as condições de seu reinado com uma reforma administrativa. Sim, isso mesmo!

“Scarlet Nexus”, outro título que será dublado pela Funimation (Reprodução: Funimation)

● Scarlet Nexus Kingdom (simulcast já disponível, com legendas em português; episódios dublados devem ser disponibilizados em breve)
Salvo pela “Força de Supressão de Criaturas” quando criança e munido de habilidades especiais, Yuito se alista a um grupo de elite formado especialmente para combater os “inimigos da Terra”. A prodígio Kasane também é escolhida por suas habilidades. Os sonhos estranhos e recorrentes de Kasane acabam arrastando os dois protagonistas para um destino inevitável.

● Sonny Boy (simulcast, em breve)
O colégio onde Nagara estuda vai parar em outra dimensão e seus alunos desenvolvem poderes estranhos e novas formas de rivalidade. Será que eles conseguirão sobreviver a esse ambiente hostil e suportar uns aos outros?

“The Dungeon of Black Company” é um dos cinco títulos que serão dublados para português (Reprodução: Funimation)

● The Dungeon of Black Company (simulcast já disponível, com legendas em português; episódios dublados devem ser disponibilizados em breve)
Kinji não quer saber de trabalhar e faz o possível para ficar longe de qualquer ofício. Tudo vai bem até ele se ver endividado num mundo completamente novo. Vivendo sob as regras de uma mineradora demoníaca, ele será capaz de se livrar dessa roubada?

O sistema de simuldub da Funimation funciona da seguinte forma: Com um atraso de algumas semanas em relação ao lançamento original (com áudio em japonês), um episódio dublado é lançado por semana, para os usuários assinantes, até a obra estar concluída. Depois, todos os episódios continuam na plataforma e ficam disponíveis para todos os assinantes.

Além dos cinco shows já citados, a Funimation conta com outros animês para a Temporada de Verão 2021, totalizando 15 títulos em transmissão simultânea com o Japão, e legendas em português. Você pode ver a lista completa aqui. Vale reforçar que a empresa ainda não deu uma data para o início do lançamento dos episódios dublados.

Fonte: Release de Imprensa

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Resenha Semanal | The Detective is Already Dead #02

Mais uma semana, mais uma resenha semanal de “The Detective is Already Dead” (ou “Tanmoshi“, para abreviar o título japonês). Caso tenha perdido, a explicação da coluna e o comentário do primeiro episódio estão aqui.

O segundo episódio nos trouxe o começo da história de fato. Se o primeiro episódio foi uma grande introdução (e bota grande nisso, 47 minutos…), o de hoje foi quando finalmente colocamos as cartas na mesa e ensinamos como se jogar. Então vamos falar do que vimos!

Seja lá o que você esteja pensando sobre o animê, não pode negar que pelo menos bonito ele está… (Reprodução: Twitter oficial, @tanteiwamou_)

Episódio 2: “Ainda me lembro, depois de todo esse tempo”

A primeira cena nos trouxe uma última memória da Siesta e do antigo Kimihiko. Em questão de direção, foi uma escolha interessante, especialmente pelo jeito como ela começa: Nós vemos um avião no céu, nos lembrando de onde eles se conheceram, e os dois trocam uma conversa descontraída, exatamente como fizeram ao longo de todo o primeiro episódio. A função dessa cena foi para contrastar com o que vimos na semana passada. Se antes tivemos a duração inteira para os dois se conhecendo e interagindo no “passado”, para então termos uma pequena cena com o Kimihiko “do presente”, justamente para entendermos esse contraste entre as duas interações do garoto… no segundo episódio, tivemos a mesma coisa, mais invertida: tivemos uma pequena cena com a interação passada dele, para podermos contrastar com quem ele é hoje, que ocuparia todo o resto do episódio.

Descobrimos que o timeskip foi de quatro anos. Quatro anos! Fiquei impressionado com a passagem tão grande de tempo. Não por serem quatro anos em específico, mas gostei do fato de que agora, o Kimihiko é um aluno do terceiro ano do ensino médio. “Qual a importância disso, Vini?” você pode se perguntar. E é uma pergunta válida! A resposta é mais banal do que você deve estar imaginando, porém: Normalmente, animês que se passam no ensino médio nos mostram protagonistas como sendo alunos do primeiro ou do segundo ano. Quando tratam de alunos do terceiro ano, eles são vistos como “criaturas místicas, entidades superiores e misteriosas que irão MORRER ao final do ano letivo”, e sempre achei esse tratamento engraçado. Por isso, quando acompanhamos alunos que estão, de fato, no terceiro ano, o clima da obra parece mudar. Por exemplo, em “Just Because!“, acompanhamos alunos do terceiro ano em busca de entender o que o futuro deles reserva. Parece que os autores olham para a diferença de um ano e acham que é o suficiente para mudar completamente o gênero da narrativa. Quero ver como isso vai ser aplicado em “The Detective is Already Dead”.

Continuando, temos a apresentação da nossa “nova protagonista”… se é que dá pra dizer assim? Nagisa Natsunagi teve uma primeira impressão forte. Positiva? Acho que não, mas “forte”, com certeza. Conforme o episódio foi passando, eu consegui entender o tipo de personagem que ela é. Deu pra ver a personalidade e jeito de ser dela, e a cada cena que se passava, a introdução dela parecia mais e mais fora de personagem. Toda a primeira cena dela, com as ameaças, a mão na boca e os comentários sádicos foram extremamente esquisitos. A ideia que foi passada nessa cena foi completamente diferente de todo o resto que aconteceu no episódio. Mesmo com uma explicação futura, sobre como ela poderia estar “sendo influenciada” a fazer as coisas que fez… isso ainda não explica a mudança tão drástica.

Não importa o quão absurdo a coisa seja, sempre vai ser o fetiche de alguém… Talvez essa seja a explicação? (Reprodução: Twitter oficial, @tanteiwamou_)

Isso é pura especulação minha, mas o formato e a direção da cena me lembraram de Bakemonogatari. A cena clássica onde a garota, Senjougahara, enfia um grampeador na boca do garoto, Araragi, assim que se conhecem. A única coisa que consigo pensar, após ver várias referências no episódio anterior, é que o autor (ou diretor, não sei se essa cena é original do animê, embora pareça impactante demais para ser) quis homenagear essa outra obra, colocando uma cena parecida na sua própria. Acontece que em Bakemonogatari, a garota é daquele jeito mesmo. Ela é meio maluca, e por isso, enfiar um grampeado na boca de um desconhecido é algo que se enquadra na personagem dela. A impressão que todo o episódio passou sobre a Nagisa é de que ela é uma garota boa e honesta. Esquentadinha? Sim, mas com um bom coração (Ha! Trocadilhos!). A cena inicial parece deslocada e desnecessária.

Voltando ao protagonista, vimos como o “novo” Kimihiko é, depois de tudo que passou. Gostei bastante do jeito como ele foi escrito, pois eu consegui perceber que o “espírito” do garoto que conhecemos ainda está ali: Ele ainda é brincalhão, tranquilo e gentil, embora essas características tenham sido deixadas um pouco de lado por conta de seu amadurecimento. Amadurecimento esse que aconteceu tanto pela passagem do tempo, como pelo trauma que ele viveu. A conversa que ele teve com a Nagisa no café foi um bom exemplo disso, onde ele mostrou tanto alguns “tiques” que adquiriu com a Siesta, mas ainda se manteve autêntico com o que vimos anteriormente. Também achei interessante o quanto ele acabou se aproximando daquela policial, a Fuubi. É uma relação que parece bastante natural, dado o que ele passou os últimos quatro anos fazendo, e até o que ele fazia antes. Foi um toque legal.

Com a construção do episódio, estava claro que o coração que a Nagisa recebeu era, de fato, o da Siesta. Em nenhum momento eu tive dúvidas disso. Mas ter a confirmação de algo é completamente diferente do que apenas pensar sobre. Eles conseguiram explicar de uma forma que ficou tanto interessante como impactante ao mesmo tempo. As reações de ambas as personagens envolvidas foram dentro do que eu imaginava, mas, de novo, estar dentro da expectativa não faz com que o resultado seja medíocre: O Kimihiko mostrou seu amadurecimento ao ficar emocionado e até em negação, mas sem ter uma crise exagerada; e a Nagisa mostrou ainda mais a sua personalidade, de que é alguém que se baseia muito em sentimentos, mas que não é totalmente incapaz de usar a razão para puxar alguém de volta do mundo da lua.

Eu adoro tapões na cara, principalmente quando eles são merecidos. Esse foi merecido. (Reprodução: Twitter oficial, @tanteiwamou_)

Uma coisa que eu não gostei no episódio, porém, foi a cena onde os dois se encontraram na rua. Sim, você sabe do que eu estou falando: Quando passamos cerca de dois minutos falando sobre os peitos da Nagisa. É uma situação que está ali para ser engraçada, mas que acaba sendo simplesmente vergonhoso, principalmente por não se encaixar no contexto. Isso chega até a ser irônico, pois ontem mesmo eu estava falando sobre como a vergonha alheia é justamente o que faz “Girlfriend Girlfriend” ser engraçado. E, como eu comentei naquela postagem, é uma questão de atmosfera: Todo o resto do animê está se levando a sério, e mesmo possuindo ótimas cenas de humor, elas são de um outro tipo de humor, um que faz sentido de existir no contexto “sério” de “The Detective is Already Dead“. A cena acaba sendo apenas vergonhosa, e não uma “vergonha engraçada”.

Considerações Finais (Bem, “parciais”, mas vocês entenderam)

Esse episódio foi bem mais fraco do que o da semana passada, e isso já era de se esperar. É normal começarmos com um estouro, para prender a atenção de quem está assistindo, para então diminuir a tensão e explicar o que tá rolando de verdade, essa técnica é mais velha que andar pra frente. Isso só quer dizer que eles estão seguindo o ritmo comum de obras do gênero, e que daqui algum tempo, já estaremos investidos demais no animê para desistir. Se você quiser desistir, a hora é agora. Eu vou continuar.

A cena de exposição no café me fez espumar pela boca um pouquinho, pois “exposição num café” já virou um meme de tanto que acontece em animê. Parece que não tem outra forma de contar o que está acontecendo, e não duvidaria se isso estivesse sendo feito propositalmente, como uma forma de circlejerk entre os autores japoneses. Desavenças pessoais à parte, a cena até que se desenvolveu de forma satisfatória, com um bom uso da ambientação.

Por fim, achei incrível a inversão de papéis que aconteceu nesse episódio. Dessa vez, foi o Kimihiko que estava na posição de pessoa informada, daquele que sabe o que está acontecendo. Sendo que semana passada, esse papel era da Siesta, e o garoto estava no papel que, essa semana, foi da Nagisa. Essa inversão se encaixa tanto com o que eu comentei sobre a primeira cena do episódio, como serve para mostrar a gentileza do Kimihiko: Quando se viu em uma inversão de papéis, ele fez questão de dar uma escolha para Nagisa. Uma escolha que ele não teve. Quando se encontrou com Siesta, ele acabou “arrastado” para a situação, sem ter chances de recusar. Ele quis ter certeza de que a Nagisa poderia fazer essa escolha, de que ela não precisaria substituir a Siesta na vida dele, que ela poderia continuar sendo ela mesma. Mesmo com toda a influência e tutelagem da Siesta, o Kimihiko continuou sendo ele mesmo. Excelente toque para caracterizá-lo.

O animê está disponível na Funimation, com novos episódios aos domingos, e legendas em português. Além de “The Detective is Already Dead”, a Funimation também anunciou diversos outros títulos para a temporada de verão de 2021.

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Primeiras Impressões | Girlfriend Girlfriend

Nem só de resenha semanal vive um redator, e por isso, voltaremos às origens para falar uma vez só de algo que acabou de sair, para talvez revisitar com outra postagem no futuro: Mais um “Primeiras Impressões“!

O animê de hoje se chama “Girlfriend Girlfriend” (No original, “Kanojo mo Kanojo“, カノジョも彼女), baseado num mangá com arte e roteiro por “Hiroyuki“, ainda inédito no Brasil. Até o momento, o show possui dois episódios, animados pelo estúdio Tezuka Productions, e com direção de Satoshi Kuwahara.

No Brasil, os direitos de exibição simulcast são da Crunchyroll, que disponibiliza a seguinte sinopse e trailer:

Naoya, o protagonista, está no primeiro ano do colegial. Ele se declara para Saki, sua paixão de infância, que aceita se tornar sua namorada. Sua vida não podia estar melhor, quando uma bela garota chamada Nagisa o convida para sair. Indeciso e incapaz de magoar uma garota tão gentil quanto a Nagisa, Naoya chega a uma conclusão inusitada, dando início a um novo tipo de comédia romântica!

Vamos começar falando do elefante na sala. Simplesmente não vai ter como termos uma conversa franca sem alinharmos expectativas quanto a isso, então precisa ser falado o quanto antes:
Sim, este é um show sobre um “trisal” adolescente. É um caso de poliamor que se encaixa na definição de dicionário do termo. Não há “mas”, não é “poréns”, as três personagens estão num relacionamento aberto e estão todas cientes disso.

Com isso dito, a pergunta que eu faço para você, leitor, é a seguinte: Isso te incomoda? Isso é um problema? E faço essa pergunta com a cara mais lavada do mundo. Não quero pagar de diferentão, de desconstruído, nem nada do tipo. A minha opinião sobre o assunto (e, sinceramente, a sua também!) não poderia ser menos importante. Estou simplesmente alinhando expectativas pro resto do texto.

A ideia do show é justamente usar essa situação, que é bastante “inusitada” (principalmente no contexto em que acontece), como fonte de humor. E tudo nasce a partir disso. Se isso for algo que te incomoda, o animê simplesmente não é para você. E tudo bem! Faz parte, cada um tem seu gosto. A única coisa que eu peço é a seguinte: Ao menos tente assistir, pensando que se trata de uma comédia. Você não precisa levar o conceito a sério, e isso independe da sua opinião sobre o quão real o poliamor pode ser na vida real. Pois isso é uma ficção, e o próprio show deixa claro que não está se levanto a sério. Por que você deveria levar?

As duas reações mais comuns ao ler a sinopse (Reprodução: Crunchyroll)

Pronto, chega, sermão dado, oração feita, expectativas alinhadas. Vamos falar do animê em si, agora que sabemos que estamos olhando para uma comédia:

Um dos tipos mais clássicos de humor japonês é o “Manzai“, onde temos um “cara sério” (chamado de “Tsukkomi“) e um “cara bobo” (chamado de “Boke“). A ideia desse tipo de show é que o “cara sério” serve como a voz da razão, e reage aos comentários absurdos do “cara bobo”. E por qual motivo eu estou explicando isso ao invés de falar do animê, como prometi no parágrafo anterior? Pois isso é essencial para entender o show.

Embora tenhamos apenas três personagens principais, eu diria que podemos enquadrar quatro “coisas” nos títulos anteriores: Temos três Bokes e um Tsukkomi. O “cara sério” é, claramente, a garota que parece ser a mais sensata do grupo, SakiSaki (ou apenas “Saki”). Não haveria nada demais nisso, se ela fosse um Tsukkomi tradicional, que simplesmente reage aos absurdos dos Bokes e corta o barato deles. Acontece que a Saki é um Tsukkomi muito fraco, ela não tem a frieza e o bom senso necessários para aguentar tanto absurdo. Afinal, ela precisa lidar com seu namorado, Naoya, e a namorada dele, a Nagisa, como Bokes. E, pra piorar, a própria situação em que eles estão pode se enquadrar como um gigantesco, onipresente e francamente genial Boke.

O que me fez dar tanta risada com os dois primeiros episódios de “Girlfriend Girlfriend” foi justamente essa dinâmica pouco comum, onde a Saki, não conseguindo segurar as rédeas da situação, acaba se juntando ao absurdo e cada vez mais se vê afundadando na areia movediça dos outros dois. É um caso semelhante ao que existe em “A Destructive God Sits Next to me“, embora lá, o protagonista “sério” tinha um pouco mais de “força” para segurar os seus Bokes. Não o suficiente, mas já gerava um tipo diferente de humor.

E já que estamos falando de personagens, o ponto alto do show, pra mim, foi o fato de que não tem um único que se salva ali. Tá todo mundo completamente biruta. Se erguer o braço, Deus leva. Mesmo a Saki, que deveria ser a pessoa mais sã entre os três, já está muito mais pra lá do que pra cá, e é justamente essa instabilidade dela que se encaixa tão bem com a honestidade do Naoya, e com a inocência da Nagisa, para nos dar uma dinâmica maravilhosa. É uma dinâmica um pouco “cringe“, para usar o termo da moda? Sim, com certeza. Especialmente quando os adolescentes começam a discutir sobre sexo. Mas a ideia é justamente essa, é engraçado justamente por ser vergonhoso.

Eu fiquei o episódio inteiro pensando nessa imagem do The Joker™

Falando um pouco sobre a parte técnica, eu tenho dois comentários indispensáveis pra fazer: O primeiro é sobre a qualidade da atuação de Sakura Ayane, a dubladora da Saki. Com um alcance de voz absurdo, ela conseguiu dar vida a todo o caos e volatilidade necessários para interpretar a garota. Em um momento, ela está falando normalmente, e na próxima frase, já está gritando como se sua vida dependesse disso. É esse tipo de reação exagerada (que todas as personagens tem) que fazem o Manzai ser engraçado pra mim, e ter uma dubladora tão talentosa como a Sakura Ayane trabalhando nisso facilita muito o humor.
O segundo ponto é o uso cirúrgico da trilha sonora e de efeitos sonoros para incrementar cada piada. Cada música e cada som foi colocado com uma maestria, que somente uma pessoa extremamente qualificada conseguiria tal proeza. O responsável é o diretor de som Satoshi Motoyama, que trabalhou em mais comédias do que eu posso contar, e tem o know-how pra fazer mágica com os ouvidos.

Vi muitos comentarem que “Girlfriend Girlfriend” lembra muito de outro mangá-que-virou-animê, “Rent-a-girlfriend” (no Brasil, foi adaptado para “Namorada de Aluguel” pela Editora Panini). E, de certo modo, lembra mesmo. Porém, eu não poderia ter tido uma experiência mais desagradável com “Namorada de Aluguel“, e o motivo é simples: Ele tentava ser levado a sério. Ele tentava ser uma história coesa e sensata. No final, ao tentar tocar uma trama de novela, as desavenças se destacaram muito mais do que o humor, e ficamos com um show sobre relacionamentos abusivos, ao invés de uma comédia.

É até bom eu ter tocado nesse assunto, pois é uma preocupação que eu tive assistindo “Girlfriend Girlfriend“: Isso parece que poderia se tornar um relacionamento abusivo muito rapidamente. Embora estejamos tratando tudo na brincadeira e na suspenção de descrença, é um desenvolvimento que poderia acontecer facilmente, se assim o autor desejasse. Eu espero que não, e que continuemos pensando apenas no absurdo da situação para darmos gostosas risadas.

Minha cara quando a comédia-romântica inevitavelmente vira um drama na segunda metade (Reprodução: Crunchyroll)

Com um humor absurdo e absurdamente bem bolado, “Girlfriend Girlfriend” foi uma das estréias mais divertidas da temporada, e será o animê que ficarei mais ansioso por assistir. Se fosse para dar uma nota para esses dois primeiros episódios, seria um sólido 9/10, e, claro, acompanhado do recado de que o show é melhor apreciado ao não ser levado a sério.

O animê está disponível na plataforma de streaming Crunchyroll, com legendas em português, e novos episódios todas as sextas.

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Vinland Saga: A segunda temporada do animê está em produção

Um dos mangás mais populares da atualidade, Vinland Saga foi adaptado para animê em 2019, pelo Estúdio Wit. Desde então, os fãs tem pedido por mais, e esse pedido finalmente se tornará realidade.

Em um evento que ocorreu ontem (07), para a comemoração de dois anos da adaptação em animê, foi anunciado que a segunda temporada do animê já está em produção. Embora ainda não tenha sido dada uma data para o início de sua exibição, nem detalhes técnicos como o estúdio que produzirá a animação, alguns nomes do elenco foram divulgados:

  • Shuhei Yabuta retornará como diretor da série, após dirigir a primeira temporada;
  • Takahiko Abiru continuará o trabalho que fez na primeira temporada como designer de personagens.

Além dos nomes, também foi liberado um novo visual para a segunda temporada, que mostra o protagonista, Thorfinn; um vídeo com uma retrospectiva do que aconteceu até então (com legendas em inglês disponíveis); e três imagens promocionais, desenhadas pelo diretor e designer já mencionados, e uma desenhada por Makoto Yukimura, o criador do mangá. Confira abaixo:

Novo Visual (Reprodução: Twitter Oficial, @V_SAGA_ANIME)

Ilustração pelo criador, Makoto Yukimura (Reprodução: Twitter Oficial, @V_SAGA_ANIME)
Ilustração pelo Designer de Personagens, Takahiko Abiru (Reprodução: Twitter Oficial, @V_SAGA_ANIME)
Ilustração pelo diretor, Shuhei Yabuta (Reprodução: Twitter Oficial, @V_SAGA_ANIME)

O autor do mangá, Makoto Yukimura, tweetou, em japonês e em inglês, uma mensagem de agradecimento e disse estar esperando pela nova temporada junto com os fãs:

Tradução-livre: “A segunda temporada do anime Vinland Saga está em produção. Eu estou muito contente de poder dar a notícia que os fãs estavam esperando. Também estou ansioso pela segunda temporada. Vamos esperar juntos por novas notícias.

“Vinland Saga” é um mangá com roteiro e arte por Makoto Yukimura, e está em publicação no Japão desde 2006, ainda em andamento com 24 volumes. No Brasil, o mangá é publicado pela Editora Panini, que lança a obra em dois formatos: O formato regular (desde 2014), e o formato 2-em-1 (desde 2020), e você pode encontrá-los na Amazon.

O animê foi lançado em 2019, e atualmente está disponível apenas na Amazon Prime Video, com legendas em português. O site dá a seguinte sinopse para o show:

Em torno do fim do primeiro milênio, os Vikings, a tribo mais poderosa, porém também bárbara, estavam se espalhando por toda parte. Thorfinn, filho do maior dos guerreiros, passou a infância no campo de batalha e vivia em busca de Vinlândia, a terra de seus devaneios. Esta é a saga de um guerreiro real em uma era turbulenta.

Via: Comic Natalie, Twitter Oficial

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Resenha Semanal | The Detective is Already Dead #01

Nem só de obras completas vive um redator, e por isso, fujo da panela para cair no fogo. Querendo engajar mais com os leitores, me propus a comentar semanalmente um novo animê dessa temporada: “The Detective is Already Dead“. Como o bom mistério que é – ou que se propõe a ser, mas isso será discutido já já – esse show pode vir a ser um exercício mental interessante, ao comentarmos semana a semana o que está acontecendo. Se a ideia der certo, pretendo continuar com outros animês no futuro.

Primeiro, vamos conhecer o show: “The Detective is Already Dead” (no original em japonês, “Tantei wa mou, shindeiru“, ou “探偵はもう、死んでいる”) é baseado numa Light Novel de mesmo nome, que ainda está em publicação, com apenas cinco volumes lançados pela MF Bunko J. A obra, de autoria de nigozyu (二語十) e com ilustrações de Umibouzu (うみぼうず),  ainda é inédita no Brasil. O animê está em produção no Estúdio ENGI, e conta com um interessante comitê de produção.

Sua sinopse é a seguinte, cortesia da Funimation, que detém os direitos de exibição do animê no Brasil:

Reprodução: Funimation

Barrar o sequestro de um avião ao lado da bela detetive de cabelos prateados, Siesta, transforma a vida do jovem Kimihiko. O sucesso dos dois os lança em solucionar crimes e confrontar organizações mundo afora por anos até a morte de Siesta. Deixado para trás cheio de perguntas, Kimihiko segue com sua vida. Mas agora, um novo caso pode reabrir as feridas curadas ao se conectar com um assassino, uma conspiração mundial e sua parceira morta!

Com um primeiro episódio duplo, tivemos quase 47 minutos para conhecer a história, as personagens, e o universo que o animê quer nos contar. Mas e aí? O que eu achei? Vale lembrar que, como toda resenha, ela reflete apenas a opinião do autor, e de ninguém mais. Pra piorar, temos apenas um episódio para avaliar a situação. Todo o recado dado, vamos lá:

Episódio 1: “Atenção, passageiros: Há algum detetive a bordo?”

O episódio começa com uma clássica cena de exposição. É claro que precisamos ouvir o protagonista contar, em um solilóquio, quem ele é de uma forma bem pouco natural. Mas isso só precisa ser chato se você quiser que seja. O jeito como o nosso personagem principal conta sobre sua vida é bastante bem-humorada (bom humor que, aliás, parece ser uma característica do rapaz), e transforma a introdução em uma pequena esquete de humor. Como meu professor de teatro costumava dizer, “o verdadeiro humor é a desgraça alheia“, e isso talvez se aplique bem demais ao Kimihiko.

Quando conhecemos Siesta, a auto-proclamada “lendária detetive”, fica claro o tipo de personagem que ela é. É bastante comum termos personagens “geniais”, com capacidades absurdas em determinadas coisas, terem uma personalidade que não se encaixa na fantasia da posição que eles possuem. A Siesta é relaxada, talvez até “folgada” em alguns sentidos, e parece usar uma “inocência” para esconder sua natureza gentil. Claro que não tivemos tempo o suficiente para julgar, mas ela parece ser uma garota genuinamente boa, enquanto não podemos ter certeza se a sua atitude “bobalhona” é uma fachada ou não.

99% anjo, perfeita, mas aquele 1%… (Reprodução: Twitter Oficial, @tanteiwamou_)

Uma coisa que me pegou desprevenido foi a súbita aparição de elementos fantasiosos na história. Claro que existe a tag “sci-fi” atrelada ao show, mas não esperava que fôssemos tão longe. Pela sinopse, imaginei que teríamos apenas um show investigativo, mas realista, que se passa num futuro próximo. O máximo que eu pensei que teríamos eram projeções holográficas ou coisas assim. Mas não que isso seja ruim! Até acabo ficando mais interessado por conta disso.

O episódio inteiro foi incrivelmente bem animado, com um design que eu achei muito bonito, e que foi consistente ao longo de toda a duração. Um destaque que eu dou é a cena de “combate”, que aconteceu na primeira metade. Mais do que uma animação bonita, um combate interessante precisa ter uma boa coreografia. E eu adorei a coreografia de “The Detective is Already Dead” até então: A intensidade da luta foi passada tanto pelos movimentos caóticos e imprevisíveis, como também pelas consequências que ele deixou nos arredores. E ela também foi caótica, como era de se esperar, considerando que estamos acompanhando o “ponto de vista” do protagonista, que não fazia ideia do que estava acontecendo. Isso também vale para a trilha sonora, que eu gostei bastante, e acredito ter acrescentado à experiência.

O ponto alto do episódio pra mim, porém, foi a química entre os dois protagonistas. As interações entre a Siesta e o Kimihiko são hilárias, de uma forma bastante natural. O clima de humor do animê inteiro é super agradável, com piadas mais “prontas” sendo usadas na hora certa, e na quantidade certa, enquanto as piadas mais sutis são constantemente jogadas na sua cara (até mesmo uma referência a JoJo!). O Kimihiko é um tipo de cara que acaba sendo arrastado pras coisas, ele querendo ou não; enquanto a Siesta é uma garota de presença forte, que arrasta os outros ao seu redor. O fato de ambos serem bastante “bobos”, cada um em um sentido diferente da palavra, faz com que eles sejam bem complementares, alternando seus papéis como BokeTsukkomi. Eles são uma dupla perfeita.

Também queria comentar sobre como o animê usou, principalmente na primeira metade, a questão do protagonista “não ter ideia do que diabos está acontecendo”. Quando você esconde informações de um determinado grupo que inclui os espectadores, manter esse teatro por muito tempo pode levar a irritação. Eu, pelo menos, acho insuportável quando tentam fazer um mistério ao dar as informações para todo mundo, menos você. Deixar só uma pessoa no escuro enquanto todos ao redor sabem e parecem estar dando risadinhas às suas costas (cof cof Attack on Titan). Quando isso é usado para o humor, porém, você consegue um resultado interessante, se não exagerar na dose. O jeito como a Siesta evitava propositalmente dar respostas concretas para o Kimihiko foi feito para gerar uma situação engraçada, e também para nos mostrar os limites da paciência do garoto. Quando foi necessário, eles pararam com isso.

Participação especial: Loira do Banheiro (Reprodução: Twitter oficial, @tanteiwamou_)

Considerações Finais (Bem, “parciais”, mas vocês entenderam)

Embora o episódio “duplo” tenha sido simplesmente a junção de dois episódios completamente independentes, entendi o valor de tê-los unidos: Como a detetive já está morta, o impacto é muito maior ao terminar a primeira impressão com a sua morte, acompanhada de um titledrop, e, se entendi direito, de um timeskip. Embora isso me deixe um pouco triste, pois gostei muito da interação entre os dois, esse animê não é sobre a Siesta, mas sim, sobre Kimihiko. Juntar os dois episódios serviu para nos dar mais tempo com os dois, sem termos “tempo” de absorver essa situação, que um intervalo de uma semana nos daria. Assim como ela chegou, Siesta também se foi: Intangível, Intensa, Imprevisível.

Gostei bastante do que vi, e já estou bastante investido nas personagens. Nem tanto na trama, mas o suficiente, eu diria. Esperarei ansiosamente pelos domingos, para poder assistir mais um novo episódio de “The Detective is Already Dead“, e, claro, comentar com vocês.

O animê está disponível na Funimation, com novos episódios aos domingos, e legendas em português. Além de “The Detective is Already Dead”, a Funimation também anunciou diversos outros títulos para a temporada de verão de 2021.

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Buscando uma vida tranquila em outro mundo

A essa altura, já deveríamos ter adicionado a palavra “isekai” ao dicionário. Não só da lingua portuguesa, como de todos os idiomas. É um termo tão recorrente quando o assunto são animês, que explicamos mais vezes do que gostaríamos de admitir. De forma breve, se traduz como “outro mundo“. Para uma descrição mais aprofundada, recomendo um outro texto: O Futuro do Isekai e “My Next Life as a Villainess”

Quando se cria um mundo completamente novo (e claro, uso o termo “completamente novo” com licença poética), você cria quantas oportunidades quanto você quiser. Esse mundo pode abrigar qualquer tipo de história ou narrativa, cabendo apenas ao autor decidir o que fazer com ele. Assim, é muito comum encontrarmos isekais onde temos uma trama épica, de proporções catastróficas. Onde a personagem principal é colocada numa posição onde precisa lutar contra o mal (ou pelo mal!), precisa estar no centro da ação para viver ou sobreviver. São situações extremamente incomuns no nosso mundo, e por isso, requerem um mundo de fantasia para acontecer.

Captura de tela do episódio 1 de "I've been killing slimes for 300 years and maxed out my level"
Como você pode já saber, dragões são super irados, mas, infelizmente, não existem em nosso mundo… Precisamos de um novo, se quisermos dragões.

Mas, recentemente, temos visto o crescimento de um tipo específico de fantasia. Uma história tão absurda para o nosso mundo, que realmente requer um mundo completamente novo para ser viável. Mas ela não envolve guerras, conflitos ou destruição eminente. A fantasia que vem se popularizando como sub-gênero do isekai é a de viver uma vida tranquila.

Colocando dessa forma, chega a ser um pouco triste, não é? E de certo modo, não deixa de ser mesmo. Um dos temas mais comuns para o início desses shows está em uma situação que se torna cada vez mais comum no Japão (principalmente lá, mas não exclusivamente), que é o excesso de trabalho. As chamadas “Black Companies“, empresas onde pessoas morrem de trabalhar (as vezes, literalmente), por violações nas leis trabalhistas e cargas absurdamente altas de horas-extras, muitas vezes sem remuneração adequada.
Com abusos de seus superiores, uma promessa vazia de crescimento de carreira, e ameaças de ter seu nome sujo no mercado caso desistam, muitos jovens acabam presos nesse ciclo tóxico de viver para trabalhar.

Captura de tela do episódio 1 de "I've been killing slimes for 300 years and maxed out my level"
A história de Azusa é apenas uma de várias como a dela…

E é a quebra desse ciclo, e um desejo por uma vida tranquila e de paz, que dá início a dois dos animês que terminaram sua exibição recentemente. Ambos abordam essa mesma temática, mas cada um consegue tomar seu próprio rumo e, dentro de gêneros diferentes, usar o melhor que seu respectivo gênero tem a oferecer para dar às nossas protagonistas um tão merecido descanso.

Esses shows são, é claro, “I’ve been killing slimes for 300 years and maxed out my level” e “The Saint’s Magic Power is Omnipotent“. Só de ler os dois nomes em sequência, eu já deveria cobrar hora extra… Mas vamos falar sobre eles.

No primeiro título nós acompanhamos, com todo o bom humor que uma comédia pode nos dar, a nova vida de Azusa, reencarnada em um novo mundo de fantasia e magia, após morrer de trabalhar.

Após trezentos anos de paz e tranquilidade, uma quantidade honestamente absurda de acontecimentos em sequência faz com que, aos poucos, a protagonista comece a repensar sua estrutura familiar. Talvez, a companhia de algumas pessoas não seja tão ruim, não é?
Com uma atmosfera aconchegante e acolhedora, a Bruxa das Terras Altas consegue “montar” uma família feliz, para finalmente receber a interação “humana” (bem… élfica, dracônica, demoníaca, fantasmagórica… vocês entenderam) e o amor fraternal que ela precisou abandonar em sua vida passada.

Numa mistura quase que perfeita de humor absurdo, previsibilidade como forma de imprevisibilidade, interessantíssimas interações de personagem, incrível trabalho técnico (principalmente de sonoplastia e visuais) e clima fofinho ownnt cuticuti, “Killing Slimes” se firmou como meu show predileto da temporada, e, até aqui, também do ano.

Já no segundo título, nós acompanhamos a nova vida de Sei, evocada para um novo mundo de fantasia e magia, deixando para trás um planeta Terra onde trabalhava exaustivamente.

Ao contrário de “Killing Slimes“, que é uma galhofa proposital, a história da nossa Santa em “Saint’s Magic Power” é surpreendentemente pé no chão. É claro que é necessário um certo grau de suspensão de descrença para lidar com toda a abobrinha mágica, mas quando isso é colocado de lado, vemos uma mulher adulta que lida com a sua vida de forma racional. E “racional” não significa “chata”: Sei é uma mulher de ótimo humor, com um repertório de vida que faz seus pensamentos serem bastante interessantes.

Embora sua vida não seja tão “tranquila” quanto a de Azusa, Sei está, também, vivendo uma realidade que não tinha em seu mundo original: Uma rotina onde ela se sente realizada, onde ela consegue deitar na cama no final do dia e, mesmo que cansada, pensar que tudo valeu a pena. É uma demonstração de que a exaustão pode ser, também, um sinal de que você está se divertindo com o que faz.

Com uma sinceridade que faz falta nos dias de hoje, o animê consegue ser sério e divertido ao mesmo tempo. E ele também serve como um refúgio para quem está cansado de ver séries sobre adolescentes, pois tem um elenco de adultos, e, mais importante, que agem como adultos.

Você pode assistir “I’ve Been Killing Slimes For 300 Years and Maxed Out My Level” na Crunchyroll, com legendas em português, e também com a opção dublada, que está sendo lançada semanalmente (e, até o momento, temos cinco episódios com dublagem brasileira). Já “The Saint’s Magic Power is Omnipotent” está disponível, com legendas em português, na Funimation.

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Conheça “Chainsaw Man”, o mangá sobre um… adolescente motosserra!

Antes de eu entrar de cabeça no mundo otaku, sempre ouvia (e não entendia) quando me diziam que existem animes e mangás sobre literalmente qualquer assunto, por mais improvável que pareça.

Escrito e ilustrado por Tatsuki Fujimoto (Fire Punch), Chainsaw Man foi publicado no Japão pela Weekly Shōnen Jump entre 2018 e 2020, sendo a sua primeira parte concluída em 98 capítulos. Contando com 4.181.650 cópias vendidas no Japão durante o primeiro semestre de 2021 e ocupando o 5º lugar no pódio de vendas, o jovem motosserra ultrapassou títulos como Boku no Hero, Haikyuu!! e One Piece. Aqui no Brasil, a obra está sendo publicada pela editora Panini.

No mundo de Chainsaw Man, os demônios já fazem parte do dia-a-dia da humanidade. Estes, que são dos mais diversos tipos (tem demônio tomate, demônio katana, demônio pistola, demônio tubarão…), se alimentam dos seres humanos, também podendo possuí-los ou usá-los como desejarem. Por oferecerem tamanho risco para a população, os demônios são caçados, tanto por civis como pelo próprio Governo. Além da caça, o Governo também realiza “contratos” com alguns demônios, oferecendo algo em troca do uso das habilidades do infernal.

Demônio Tomate: o terror das saladas.

Nosso protagonista, Denji, é um jovem de apenas 16 anos que, por dever uma enorme quantia de dinheiro à Yakusa (dívida essa que foi herdada do seu pai), trabalha cortando árvores e caçando demônios, usando os ganhos para tentar abater o valor que deve aos mafiosos. Em razão dessa dívida, o pobre adolescente já vendeu um olho, um rim e até um testículo para arrecadar ainda mais dinheiro, e vive em condições completamente miseráveis.

Denji em frente ao túmulo de seu pai. No carro, o chefe dos Yakusa.

Você deve estar se perguntando: ok, mas onde que a motosserra entra nessa história toda? Tudo começa quando, ainda criança, Denji encontra um demônio com a aparência de um cachorrinho, tendo o diferencial de ter uma motosserra na cabeça. Como o cachorrinho-serra estava quase morrendo, o jovem lhe oferece um pouco de seu sangue, ação que salvaria o pequeno demônio. Contudo, o salvamento não foi de graça: em troca, Denji usaria as serras do cachorro para trabalhar e conseguir ganhar dinheiro. Começa, então, a grande amizade dos dois, sendo o demônio batizado de “Pochita“.

Denji e Pochita.

É em uma noite, porém, que a vida de Denji muda completamente. Chamado pela Yakusa para matar um demônio, o jovem é levado até um prédio abandonado, sendo encurralado em uma armadilha. Os mafiosos, que tinham como objetivo ficarem mais fortes, decidem realizar um contrato com um demônio e entregam Denji à ele. O infernal, que tinha como poder transformar as pessoas em zumbis, manda a sua horda esquartejar o adolescente, que é rapidamente morto e jogado em uma lixeira.

Nesse momento, como única opção de manter seu parceiro vivo, Pochita se une ao corpo de Denji, dando a ele seu coração em troca do jovem lhe mostrar seus sonhos. Com seu corpo totalmente regenerado, Denji agora possui uma pequena corda em seu peito, que, ao ser puxada, lhe dá os poderes do pequeno demônio. Saindo da lixeira cheio de raiva, o jovem puxa a corda, se transforma em motosserra e dizima todos os zumbis em uma cena extremamente violenta. Após o massacre, caçadores de demônios do Governo chegam ao local e encontram Denji, lhe fazendo uma proposta: se o garoto aceitar trabalhar como um caçador para o Governo, será tratado como um humano e recebera comida, abrigo e um salário; se recusar, será considerado como um demônio e, consequentemente, morto. Em uma escolha nem um pouco difícil para o protagonista, este vê no novo “emprego” uma maneira de finalmente ter uma vida descente e não passar mais necessidades.

Denji se transformando em Chainsaw Man.

Agora que Denji virou um caçador de demônios do Governo, somos apresentados a mais personagens importantes do mangá. A primeira que temos contato é Makima, a mulher que encontrou Denji após sua primeira transformação e que lhe fez a proposta de emprego. Logo de cara, vemos que o jovem se apaixona pela moça, tendo em vista que ela é a primeira pessoa que o trata “bem”. Ao longo da história, vemos que Makima esconde grandes segredos e mistérios, nos fazendo duvidar de que lado ela realmente está. Sem se importar muito com os sentimentos de Denji, e mesmo tendo consciência do que o rapaz nutre por ela, a personagem não liga de iludir e dar esperanças amorosas ao adolescente.

Makima.

Como não pode faltar, temos o personagem estilo Sasuke em Chainsaw Man também! Aki Hayakawa é um jovem caçador do governo que trabalha em uma unidade experimental, unidade essa que tem como integrantes pessoas que possuem algum poder derivado de demônios, como Denji. Sua maior motivação para se tornar um caçador foi a trágica morte de sua família, que foi assassinada pelo temido Demônio Pistola (demônio que é de grande importância na trama).

Denji muito animado ao lado de seu colega, Aki.

Uma integrante um tanto quanto “diferenciada” também faz parte da equipe experimental. Sendo uma possessa, ou seja, uma humana que foi possuída por um demônio, Power se torna parceira de Denji nas patrulhas e missões. Com o passar da história, vemos como a relação entre ela e o protagonista vai se desenvolvendo, e como ambos fazem para lidar com as evidentes diferenças.

Power, a humana que foi possuída pelo Demônio do Sangue.

O interessante de Chainsaw Man -além das serras, é claro- é que nosso protagonista não é daqueles personagens clássicos de shonen: Denji literalmente não tem grandes ambições. Em decorrência da sua vida miserável, seu objetivo se torna o que para muitos é apenas o básico do básico. Tendo 3 refeições diárias, um teto sobre sua cabeça, uma cama para dormir e podendo tomar banho todos os dias, o jovem está pra lá de feliz. Além disso, como toda pessoa adolescente, Denji também pensa -e muito- em sexo; sem nunca ter beijado e muito menos ter feito atos além, o jovem sonha em ter uma namorada, e em finalmente poder tocar em seios. Não posso negar que as repetidas piadas em torno do assunto “seios” se tornaram, pelo menos pra mim -uma jovem de 22 anos-, um tanto quanto cansativas. Por outro lado, consigo entender perfeitamente que, para alguém de 16 anos, sexualidade é realmente um tópico que não sai da cabeça, afinal também já tive essa idade.

Mesmo sendo um mangá publicado pela Shonen Jump, Chainsaw Man usa e abusa da violência, tanto gráfica como nos próprios diálogos. A situação de vida do protagonista, por si só, já é algo bem pesado, e a forma como ele inicialmente encara a vida nos mostra um adolescente que já perdeu quase que completamente a ambição e até mesmo a própria dignidade. Conforme a história se desenrola, novos personagens aparecem, novos demônios e muitas, mas muitas lutas. Carregado no senso de humor um tanto quanto ácido, o mangá consegue transitar de forma muito satisfatória entre os gêneros do humor, da ação, do drama e até mesmo do mistério, nos entregando uma obra viciante e que nos prende até o último capítulo.

Recentemente, foi anunciado que a obra ganhará uma adaptação em anime pelo estúdio MAPPA, mesmo estúdio que produziu Jujutsu Kaisen e Attack on Titan: Final Season. Sem uma data de estreia definida, temos pelo menos a data de lançamento do trailer oficial, que será em 27 de junho, no Japão.


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