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Quando eu me apaixonei por Joey Ramone?

Quando eu me apaixonei por Joey Ramone? Não sei dizer ao certo. Acho que primeiro não exatamente por ele. Era apenas um guri beirando na idade de 13 ou 14 anos, talvez já estivesse com 15 anos. Talvez. Mas lembro de conhecer algumas coisas dos Ramones, mas não tinha desenvolvido o mantra: “Tudo que você faz escutando Ramones, fica melhor”. Até que um amigo me emprestou uma fita K7 com uma (com o perdão do trocadilho) cassetada de músicas dos Ramones. Ali tudo mudou.

Infelizmente, quando comecei a gostar dos Ramones foi também o mesmo período em que a banda já estava na reta final de sua existência. Nunca tive o prazer divino de ir nos shows dos meus heróis. E confesso que na época eu também não era tão fã como sou atualmente, ou como eu era a 20 anos atrás. Infelizmente. Eu tinha amigos que amavam mais do que eu, que ouviam mais do que eu e sabiam mais sobre a banda do que eu. E quando eu me apaixonei por Joey Ramone já era um tanto tarde demais para ir em shows dos caras. Mas graças ao punk amor sempre é eterno.

Joey em sua casa. Foto de André Barcinski

Em razão de alimentar esse amor, como fazemos com qualquer companheiro(a) que encontramos na vida, busquei saber tudo sobre ele, sobre a banda, integrantes e tudo que aconteceu ao redor. Desde o início da banda na década de 1970 até o “final” na década de 1990. E isso é algo perigoso pois em certo momento pode gerar algum tipo de decepção, quando desnudam os seus heróis. E meio que me senti assim em certos momentos. Em relação a todos os Ramones. Sem exceção. Mas, em uma escala menor com Joey.

Jeffrey Ross Hyman teve uma infância difícil, sofrendo com o bullyng das crianças da escola, com a separação dos pais, com um pai que considerava que ele (e o irmão Mickey Leigh) deveriam ir para uma escola militar, com o fato de ser o “esquisitão” da rua e com os primeiros sintomas do TOC. O menino Joey passou por uns maus bocados. Era a personificação de momentos que muitos passam na vida mas buscam esconder, e não me excluo dessa. Tenho momentos em que sofri muito para ir à escola quando criança por causa do meu peso, eu me fechava por dentro e não demonstrava. Ficava introspectivo e silencioso, juntamente com meus quadrinhos e músicas.

Joey, Mike (seu irmão) e um tio deles.

Joey Ramone é um case de sucesso que faz os olhos de qualquer coach, desses bem charlatão, brilharem. Era o derrotado, que montava banda após banda com baterista, em certo momento foi posto para fora de casa, virou Jeff Starship e tocou na Sniper, uma banda de GLAW ROCK, de onde foi expulso por não ser bonito o suficiente para ser vocalista. Muitas idas e vindas em clínicas psiquiátricas, onde foi atestado como “O paciente essencialmente se enxerga com baixa autoestima, sofrendo grande dor emocional na forma de ansiedade; a personalidade do paciente é consistente com o diagnóstico de esquizofrenia do tipo paranoide”, lutou contra um linfoma de 1994 até 2001 e se tornou lenda amada do rock.

Isso sem falar em tocar em uma banda que vivia em zona de conflito. Muitas vezes graças ao domínio de ferro de Johnny Ramone e seu tradicional mau humor e jeito conservador. Joey ainda teve a decepção de ver a sua namorada, Linda, começar a ter um caso com o guitarrista da sua banda. Aliás ele não viu, depois de muitos comentários foi que tudo explodiu.

Joey, Johnny e Linda.

E perdeu a namorada, foi traído, descobriu a traição e continuou na banda. Uma banda que não explodia no sucesso que todos achavam que ia fazer. Os Ramones só foram ser tornar pilares deuses do rock quase ou já no final da carreira, a maior parte de suas carreiras eram grandiosos no circuito underground. Eles por exemplo, se posicionam hoje em um local como (serei xingado) os Beatles. Os rapazes de Liverpool foram o grande estopim de diversas bandas como o Black Sabbath e os próprios Ramones. E inspiraram milhares de pessoas ao redor do mundo. O efeito Ramones no punk é equivalente a isso. Pois muitas bandas como o Green Day, Ratos de Porão e Racind, por exemplo, citam os caras como grandes mestres.

Os Ramones nunca tiveram um grande disco de sucesso. As vendagens sempre foram baixas. Os motivos nunca foram claros. De repente foi a estratégia que tiveram no inicio, o discursos, as suásticas que usavam para chocar a sociedade judaica, apesar de ter judeus em seus integrantes (Joey era um), as confusões etc e tal.

GABBA GABBA HEY!

Os Ramones, incluindo o próprio Joey, tiveram momentos esdrúxulos que acabaria com o fanatismo de qualquer fã. Johnny tinha uma namorada que ele batia com regularidade, por exemplo. Dee Dee Ramone, além de todas as drogas, ele ainda foi diagnosticado com Distúrbio de Bipolaridade. O próprio Joey era um turbilhão de emoções, e ao mesmo tempo que era uma pessoa mais amável do mundo, era o tremendo escroto irritante. De gritar com quem tivesse que gritar. Sem pudor.

Mas então porque eu me apaixonei por Joey Ramone? E possivelmente você também?

Pode ser toda a mística que envolve os Ramones. O jeito fácil que pega quando você é moleque e pensa: “uma banda inteira que toca em três notas. Eu posso fazer isso também!”, esse tipo de ensinamento é algo que se pode levar para a vida. “Se fulano consegue, porque eu também não consigo” (brilham os olhos dos coachs novamente).

Pode ser pelo fato de Joey teve uma vida complicada desde criança. Muitos de nós temos nossos momentos em que somos ridicularizados, nos sentimos para baixo, mas sabemos que temos os Ramones para afagar e Joey levantar o astral com seu HEY HO!

A placa em homenagem a Joey Ramone, fica na esquina da Bowery com a East Second Street em Nova York e é a placa mais roubada da cidade. O que obrigou a prefeitura instalar a seis metros de altura.

Não sei o motivo na verdade porque me apaixonei por Joey Ramone. Só sei que hoje, 15 de abril, completam 20 anos de sua morte. E sinceramente sinto a falta de como se fosse um amigo. Um amigo que esteve em momentos felizes e tristes da minha vida adolescente e adulta. Mas um amigo que eu nunca vi pessoalmente, que é só eu dar um play em alguma música e sei que ele estará ali para me abraçar novamente.

No livro Eu Dormi com Joey Ramone, escrito por Legs McNeil e Mickey Leigh. Mickey revela a última música que Jeffrey Ross Hyman ouviu no dia em que faleceu, aos 49 anos, após uma batalha de sete anos contra o linfoma no Hospital Presbiteriano de Nova York em 15 de abril de 2001, foi “In Little While” do U2. Confira abaixo a versão legendada em português.

Eu te amo Joey Ramone!

 

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1991! O Ano que Mudou a História da Música Mundial

Estamos em 1991! Sim, viajamos no tempo e chegamos no início da década onde a famigerada ditadura militar não pairava mais na liderança do Brasil e tínhamos um presidente escolhido por meio de votos depois de décadas de chumbo. Era a época de Collor como presidente e seu nefasto plano econômico que estava aterrorizando os brasileiros. Sim amigos, estamos em 1991!

No setor musical, felizmente, em escala mundial, 1991 foi um ano de verdadeiros tesouros. Grandes álbuns, músicas e excelentes artistas debutaram nesse ano. O tanto que ele ficou marcado como o ano que influenciou o rock em mais de duas décadas seguintes. E podemos falar não somente no rock ocorreu a evolução musical. Mas também foi o ano de despedidas. Foi o ano em que foi lançado o Innuendo, o último disco do Queen com Freddy Mercury ainda vivo. O Dire Straits lançou o On Every Street, seu último álbum de estúdio. Assim como o Pixies que lançou o Trompe le Monde, seu quarto e último álbum de estúdio.

Michael Jackson e Quincy Jones

Foi o ano em que recordes foram estabelecidos. Em novembro de 1991, Michael Jackson iniciava a lendária com o multi-produtor musical Quincy Jones e lançam Dangerous. O disco se torna o mais vendido de um artista masculino na década de 1990. O trabalho é recheado de sucessos como “Black or White”, “Jam” e “Heal the World”.

A banda Guns N’ Roses inicia a Use Your Illusion World Tour, que se tornou a maior turnê mundial da história do rock com 192 shows em 27 países. Ela iniciou justamente no Brasil, durante o Rock in Rio II, no Maracanã. A turnê era o lançamento mundial dos álbuns Use Your Illusion I e Use Your Illusion II, que tem sucessos como “Live And Let Die”, “Don’t Cry”, “November Rain”, “The Garden”, “Garden Of Eden” e “Dead Horse”.

Uma foto da gigantesca Use Your Illusion World Tour.

1991 também foi o ano em que bandas e artistas se reafirmaram e lançaram seus discos de maiores sucessos, seja de crítica ou na parte financeira. A banda Motörhead, do icônico vocalista e baixista Lemmy Kilmister, lançam o disco 1916 que tem as faixas “Going to Brazil” (feita após a primeira vinda da banda ao país), “R.AM.O.N.E.S” e “1916”. É um dos trabalhos mais elogiados da banda.

O Red Hot Chili Peppers lançou o seu quinto álbum intitulado Blood Sugar Sex Magik, onde conseguiram alcançar o topo do rock mundial. Depois de saírem da EMI e assinarem com a Warner Bros. Records, o RHCP lança seu quinto álbum de estúdio. O trabalho tem produção de Rick Rubin. Com letras que tocam em temas que variam de insinuações sexuais passando por drogas e morte, luxuria e preconceitos. A mistura de funk e rock contribuiu para a ascensão do rock alternativo naquela década. Os sucessos “Give It Away”, “Under The Bridge”, “Suck My Kiss” e “Breaking the Girl” viraram hits rapidamente. Juntamente com o sucesso e reconhecimento mundial, também veio problemas ardidos como pimenta. Como brigas entre os integrantes da banda, uso excessivo de drogas e até expulsão de palco na turnê europeia.

O explosivo Red Hot Chili Peppers em 1991

O R.E.M. lança o álbum Out of Time, sétimo álbum da banda e recheado de sucessos que atravessam gerações: “Losing My Religion”, “Shiny Happy People” e “Country Feedback”. Graças a esse disco, o R.E.M. abocanhou três Grammy Awards no ano seguinte. A dupla sueca Roxette lança o seu terceiro trabalho de estúdio, Joyride. Que tem sucessos como “Fading Like a Flower (Every Time You Leave)”, “The Big L.”, “Spending My Time”, “Church of Your Heart” e a faixa título do álbum. O Roxette alcançou o topo dos rankings musicais em mais de 20 países.

O U2 lançou o seu sétimo álbum Achtung Baby, o disco que foi um marco para a banda. Nesse trabalho os caras propuseram a se reinventar onde substituíram a imagem de “fechados” para “descontraídos e autodepreciativos” frente ao público. Além de vender mais de 18 milhões de cópias mundialmente, o trabalho levou um Prêmio Grammy em 1993 de Melhor Performance de Rock por Duo ou Grupo com Vocais. Quem também lançou um disco icônico e até hoje celebrado pelos fãs foi o Metallica. The Black Album é considerado como a “verdadeira essência” da banda, com faixas como “The Unforgiven”, “Enter Sandman” e “Nothing Else Matters”, tornou-se no álbum de maior sucesso do grupo sendo campeão de vendas ao redor do mundo e colecionador de prêmios da música.

Em 1991, as bandas/artistas não afetaram e atingiram somente o lado musical, mas também foram importante para ditar a moda dos jovens. Estávamos nos despedindo das roupas extravagantes e coloridas da década de 1980 e abraçando a cor preta e os casacos quadriculados do grunge. Isso mesmo, era o Nirvana e a tchurma de Seatle chegando.

O lendário Nirvana

O Nirvana lançou o histórico Nevermind que catapultou a banda para um dos mais altos patamares do rock mundial, transformando o vocalista Kurt Cobain em ídolo da uma geração. O disco foi tão poderoso que desbancou o Dangerous de Michael Jackson (já citado aqui) do primeiro lugar das paradas da Billboard 200, no ano seguinte. Outra banda que se firmou de vez foi o Pearl Jam. O seu disco de estreia Ten marcou a trajetória da banda e apesar de ser muito celebrado por diversos clássicos como “Even Flow”, “Jeremy”, “Black” e “Alive”, o trabalho não foi um sucesso imediato, e os caras ainda foram acusados de usar o grunge para se promoverem na época. Muitas pessoas consideram o Ten como a popularização do rock alternativo no mainstream. No final das contas, o disco vendeu mais de 20 milhões de cópias no mundo e é o mais bem sucedido do Pearl Jam.

Muitas outras bandas fizeram o seu debute em 1991. Os britânicos do Blur lançaram o Leisure. Que fez sucesso apesar das pessoas não entenderem direito a proposta da banda, com seu rock baladeiro e guitarras distorcidas. Mas que nos trabalhos seguintes inspiraram muitas cenas musicais. Foi o ano que a banda Smashing Pumpkins estreiam com seu disco Gish, o álbum foi elogiado na época, mas não foi um estouro comercial, mas já pintava a proposta da banda que se consolidou nos anos seguintes.

Foi uma época que as gravadoras buscavam as chamadas “bandas de garagem”, todas buscavam um “novo Nirvana”. Na Inglaterra, o subgênero shoegaze ficou em evidência após o My Bloody Valentine lançar o seu segundo disco, intitulado Loveless. O estilo de rock alternativo foi um que cresceu muito com o grunge. E esse disco foi um dos pilares.

Vale lembrar que 1991 foi o ano em que a música eletrônica saiu do underground e se consolidou no mainstream. E um dos responsáveis foi a banda britânica Primal Scream com o seu terceiro disco chamado Screamadelica. Esse disco é considerado como um dos melhores álbuns que mudaram a música com os arranjos eletrônicos misturando com rock, blues e soul music. Fazendo a crítica especializada abrir mais os olhos para a Dance Music e o Techno, algo que muitos relutavam muito para digerir.

O Primal Scream fez os críticos reconhecerem a música eletrônica em 1991.

O 2Pacalypse Now foi o primeiro disco do rapper americano 2Pac, onde ele aborda as questões sociais enfrentadas pelos negros nos EUA, como racismo, brutalidade policial, pobreza, crimes etc. O disco não atingiu nenhum grande sucesso e por isso ficou meio que “esquecido” por todos durante anos.  Somente em 1995 o disco foi certificado como Ouro, um ano antes do rapper ser assassinado.

Aqui no Brasil, como dito antes, estávamos saindo dos anos de chumbo e começando a pisar em terras que não conhecíamos em questão de liberdade de expressão. Os discos não eram mais censurados pelos militares (apesar de algumas rádios colocarem o famigerado PIII em algumas músicas ainda) para um modo em que íamos ainda nos acostumar e até mesmo torcer o nariz às vezes.

Foi o ano da despedida de Arnaldo Antunes da banda Titãs no sexto álbum Tudo ao Mesmo Tempo. A cena do hardcore melódico começava a surgir em Vitória, Espírito Santo, com a formação do Dead Fish. Foi também o ano em que o sertanejo tomaria de assalto, juntamente com o pagode e o Axé as paradas de sucesso e a TV brasileira. A dupla Sandy e Junior, respectivamente com oito e sete anos, lançaram o seu primeiro disco intitulado Aniversário do Tatu, que tem o clássico Maria Chiquinha. O disco vendeu mais de 1 milhão de cópias.

O grupo de pagode Raça Negra lançou o seu primeiro disco em 1991, iniciando uma era de ouro do pagode romântico no Brasil

Foi também em 1991 que Zezé di Camargo & Luciano lançaram o seu primeiro disco, atingindo quase dois milhões de cópias vendidas, embalado pelo hit “É o Amor”. A cantora baiana Daniela Mercury lançou o seu primeiro disco autointitulado com o sucesso “Swing da Cor“, que tem a participação especial do Olodum. Já o pagode era representado com a estreia do Raça Negra debutando no seu primeiro disco, depois de oito anos na estrada. Você com certeza já cantarolou “Caroline”, “Chega” e “Volte Amanhã”, iniciando à era da trindade pagode/axé-music/sertanejo que invadiu as rádios populares naquela década.

O Sepultura lançou o Arise, marcando assim seu nome no metal mundial. O disco foi o primeiro da banda a conseguir uma certificação mundial, em 1992 vendeu mais de 265.000 cópias na Indonésia.

O ano musical de 1991 moldou toda a década seguinte. Mas as influências também aconteceriam em outros pontos como mídias e moda. Foi os estilos musicais iniciados em 1991 que ditaram por exemplo, as trilhas sonoras dos programas populares da TV brasileira durante a década de 90 e suas semanais brigas por audiências. Foi o ano em que pessoas foram alçadas ao ponto de estrelas mundiais do rock e algumas dessas pessoas sofreram com a pressão e algumas sucumbiram às mesmas. Mas a influência ainda está por aqui mas principalmente na cultura e registro de excelentes discos e músicas lançados.

Aqui temos uma playlist com algumas músicas que fizeram sucesso nesse ano dourado:

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Em “Positions”, Ariana Grande repete fórmula de sucesso, mas empaca.

Há 2 anos atrás, Ariana Grande chegava ao topo da indústria musical. A jovem de 27 anos vinha em uma crescente de hits, vendas, popularidade desde sua estreia no cenário pop em 2013. Entretanto, foi só com o lançamento de “thank u, next”, seu quinto disco, que a ex-estrela do Nickelodeon entrou pro seleto hall de artistas indiscutivelmente gigantes. 

De lá para cá, Ariana não parou. Ainda dentro da sonoridade de seu quinto registro, ela fez curadoria da trilha sonora de “As Panteras” no ano passado e ainda lançou a parceria “boyfriend” com o duo Social House. Diversificando seu catálogo, a intérprete de “7 Rings” colaborou na midtempo pop “Stuck With You” com Justin Bieber e na dançante “Rain On Me” com Lady Gaga. Ambas as canções estrearam em 1º lugar na Billboard Hot 100, principal parada americana, o que evidencia tamanha popularidade da cantora. 

Depois de todos esses acontecimentos, havia uma grande expectativa em saber qual seria o seu próximo passo. E agora nós sabemos. 

Anunciado de maneira repentina há apenas duas semanas atrás, “Positions”, está entre nós. No seu sexto álbum de estúdio, Ariana decide ir pelo caminho mais fácil e provavelmente mais perigoso: repetir a fórmula que deu certo no passado. 

Definitivamente, um dos principais fatores que fizeram com que o seu 5º e mais pessoal álbum fosse o de maior sucesso da carreira até então, foi a fusão entre o seu tradicional  pop/R&B com o trap, um dos sub gêneros mais ouvidos no mundo atual. 

Com certos resquícios do seu antecessor e explorando o R&B mais do que nunca, o novo registro não soa nem como uma evolução de “thank u, next”, mas sim, como um irmão mais velho, um adulto talvez. Maduro, sexual, porém chato. 

É válido falar que, apesar de parecer um irmão tedioso, de maneira alguma, o compilado de novidades de Ariana possuiu qualidade duvidosa. Inclusive, músicas como “motivate” com participação de Doja Cat que mistura dance music com R&B e “love language” que lembra um R&B no início dos anos 2000 no melhor estilo Janet Jackson são os pontos altos do disco. 

“Positions” possuiu as letras mais sexuais do repertório de Grande, algumas como “34+35” e “just like magic” são divertidas de cantar, assim como é divertido cantar alguns funks ditos “proibidões” em uma roda de amigos. Ainda no campo lírico, o maior destaque fica em “off the table”,segunda parceria com The Weeknd. 

Saindo um pouco do conteúdo sexual, a letra da colaboração narra o reencontro de um ex casal, chegando a lembrar bastante a balada “exile” de Taylor Swift e Bon Iver. E novamente, Abel e Ariana mostram uma química invejável em suas interações vocais como no hit “Love Me Harder” de 2014. 

Infelizmente, não são só um bocado de 5 ou 6 faixas que fazem um álbum ser incrível. Geralmente quando artistas se arriscam em lançar um álbum menos comercial, eles entregam obras que se destacam positivamente em sua discografia. E isso não aconteceu com Ariana.

Deixar de lado refrãos mais melódicos e chicletes, (mas não totalmente, vide que a faixa título, e primeiro single é a mais comercial do projeto e lembra até seu álbum “Dangerous Woman”) pode ser uma tendência muito válida para a trajetória de Grande. Mas desta vez, não rolou. 

“Positions”, enquanto conjunto da obra,  é pior do que ser  bom ou ruim. Ele é esquecível demais dentro do majestoso catálogo de Ariana. E na maioria das vezes, bem arrastado. O que é uma pena.

Lógico que esses fatores não irão impedir o álbum de ser um dos maiores sucessos comerciais do ano e nem irá impactar a persona artista de Ariana, a descredibilizando. Provavelmente, em longo prazo, ele será lido como o “Sweetener” de 2018, um álbum com o propósito de dividir águas. Só que dessa vez, sem o fator de novidade e originalidade.  

Nota: 6.0/10

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Katy Perry mostra seu amadurecimento mental e musical em Smile

“Tive que tomar remédios para depressão pela primeira vez na minha vida e eu estava com muita vergonha. Eu pensava: ‘Eu sou a Katy Perry. Eu escrevi Firework. Eu tomo remédios. Isso é fodido.” – Katy Perry em live para fãs.

 

Katy Perry lançou hoje (28) seu quinto álbum de estúdio, Smile. Como explicado pela própria cantora, Smile é focado em contar sua jornada em busca de seu sorriso de volta após uma das fases mais obscuras de sua vida.

Para entender o álbum enquanto obra, é necessário saber o quê houve com a vida e carreira de Perry desde o fim da produção de Witness (2017), seu quarto álbum de estúdio. No âmbito profissional, é inegável que sua carreira regrediu no que se diz respeito a desempenho comercial. Claro que vendo apenas números, a era Witness poderia ser a maior era de qualquer outro artista. Mas, para os padrões que a Californiana havia entregado até aquela época, o disco foi bem aquém do esperado. Não agradando muito a crítica, e principalmente, público.

No âmbito pessoal, a intérprete de Roar e o intérprete do Legolas decidiram terminar o então namoro no mesmo período em que Katy estava sendo obrigada a dar uns passos para trás em sua carreira. O mix do caos pessoal com o caos profissional foi suficiente para que a depressão, doença qual Katy já lidava há algum tempo, voltasse de maneira mais forte do que nunca.

Esse era o cenário que inspirou a criação do que hoje conhecemos por Smile.

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“Por que eles estão aqui para me ver? Eles não gostam de mim, só pensam que gostam. Nem eu gosto de mim”. – Katy Perry sobre seus pensamentos durante a turnê de Witness

 

Os anos foram passando e Katy começou a melhorar. Fez terapia, retomou seu relacionamento com Orlando, ficou noiva, engravidou (e agora, já teve a filha) e voltou a fazer música. Só que desta vez, sem colocar muita expectativa comercial sobre seus novos passos. 

A primeira prévia que tivemos de Smile foi o single Never Really Over, lançado no meio do ano passado. Que apesar de não ter sido um hit #1 nas paradas, acumulou e ainda acumula bons números ao redor do mundo. Até então, é o maior sucesso do disco. E merecidamente, pois não é só uma das melhores faixas do álbum, como também de toda carreira de Perry. Um acerto. Literalmente uma perfeição pop. 

Never Really Over é também a faixa de abertura do disco, e antecede os outros dois grandes destaques do álbum: Cry About It Later e Teary Eyes. A primeira, é o momento qual Katy decide se divertir um pouco, e deixar o choro para mais tarde. É um synth pop delicioso que consegue ficar melhor ainda no final, quando um solo de guitarra surpreendentemente abençoa nossos ouvidos. A segunda, Teary Eyes, Katy está surfando novamente na dance music noventista. Sub-gênero na qual ela sempre conseguiu trabalhar com maestria, vide Walking On Air, Swish Swish e Roulette. Porém, desta vez, diferente de suas irmãs mais velhas, aqui ela continua se divertindo, mas triste. Dançando enquanto seus olhos estão lacrimejando. 

Além da sonoridade das 3 primeiras canções, o destaque vale pelo posicionamento delas dentro da tracklist. Smile é, de longe, o álbum mais coeso da carreira de Katy. Em Prism (2013) tivemos um álbum quase representativo ao yin yang. De um lado, um caos e desordem, do outro, paz e tranquilidade. Em Witness, tivemos um álbum sonoramente coeso, mas liricamente um pouco confuso. E em Smile, esses erros não se repetem. Katy, não só aprendeu a recuperar seu sorriso de volta, como também a montar tracklists.

Podemos dividir Smile em 4 atos, onde cada um possui 3 faixas. – A propósito, aqui entra um erro do álbum. Interludes seriam bem vindas, era a oportunidade perfeita de Katy usá-las pela 1ª vez. – Parte de sua fanbase vem intitulando elas de: Teraphy, Recovery, Hapiness e True Love. (em tradução: Terapia, Recuperação, Felicidade e Amor Verdadeiro) Literalmente uma jornada, com começo meio e fim. Com Katheryn perdendo o controle mental no início, até o encontro com ela mesma em sua essência em What Makes A Woman.

A segunda etapa do CD, começa com o single Daisies. Katy canta sobre acreditar em quem ela é, e não mudar até estiver morta. O despertar começa a partir daqui. No entanto, por mais positiva a mensagem seja, falta algo a mais. Principalmente se tratando de um single. Se Daisies seguisse uma estrutura similar com What About Us de P!nk, talvez soasse um pouco melhor. 

Embora esse ato seja um dos mais poderosos e interessantes liricamente, o trio formado por Daisies, Resilient e Not The End Of World é o mais chato do projeto. Resilient, produzida pela dupla Stargate, a mesma por trás do smash hit Firework, é irritante e monótona. Chegar até o final da canção pode ser um pouco exaustivo. Not The End Of World, tem uma atmosfera apocalíptica bem legal, poderia facilmente estar numa trilha sonora de Game Of Thrones, ou qualquer produção épica, mas não foi explorada como deveria. A faixa grita por um momento de break. Existia aqui um bom potencial para a sucessora do hit global Dark Horse

Katy Perry lança 'Smile', canção que dá nome ao seu novo álbum; ouça

A parte da felicidade, obviamente deveria abrir com a faixa-título do álbum. Smile é uma canção inteiramente Katy Perry. Lembra a vibe de suas músicas leves e coloridas como Birthday e Last Friday Night, mesmo tendo uma letra interessante. Não é nada inovador para o currículo, mas funciona no cd e sintetiza bem o tema do álbum.

Em Champagne Problems, Katy comemora a superação dos problemas com Orlando Bloom. É uma música pop deliciosa, refrão chiclete com uma leve influência latina e sem ser clichê. Seria um bom single, assim como Tucked. Faixa na qual Katy volta para dance music no melhor estilo Kylie Minogue (Os Na Na Na parecem sample de Can’t You Get Out Of My Head). 

Todos os dias, sempre iguais
Passando por emoções que pareciam tão falsas
Não era eu mesma, não era o meu melhor
Parecia que eu tinha falhado no teste
Mas cada lágrima foi uma lição
A rejeição pode ser uma proteção de Deus
Uma longa estrada para conseguir essa redenção
Mas não há atalhos para uma benção”
 –  Katy Perry em Smile

 

Por fim, temos o Amor Verdadeiro. Abrindo com a já conhecida e superestimada, Harleys In Hawaii. Aqui, Katy continua bem mais despretensiosa e apaixonada. Harleys é sensual e fresh; uma pena ter passado despercebida pelo grande público. Only Love é a melhor composição do disco, e chega a lembrar canções do Lover de Taylor Swift. Finalmente ela está aprendendo novamente a fazer bons refrões. Perry age como se estivesse em seu último dia de vida aqui na terra e soubesse disso. Provavelmente, a inspiração veio quando a sua depressão fazia pensar no pior. 

E a última faixa, What Makes A Woman, apesar de ser bem curta, cumpre seu propósito. Katy venceu seus demônios, aprendeu a sorrir e amar de novo. Não só a si mesma, como seu parceiro, família, amigos e até mesmo carreira. É a faixa que sonoramente mais destoa do álbum, apostando em um pop-folk-county, uma área que Katy tem bastante potencial para explorar. – É válido torcer para um remix dessa faixa com Kacey Musgraves, inclusive. -.

“Oh, eu ligaria para minha mãe e diria que sinto muito
Eu nunca retorno suas ligações
Eu colocaria meu coração e minha alma em uma carta
E mandaria pro meu pai
Tipo, ai meu Deus, o tempo que eu perdi
Perdida nos meus pensamentos
Deixe-me esquecer esse mundo de ódio para trás
E levar o amor no lugar dele”
– Katy Perry em Only Love

Review: Katy Perry's 'Smile' - Rolling Stone

Smile é o álbum mais pessoal e maduro de Katy Perry. Definitivamente não é algo monumental e icônico, mas é um bom disco pop.  Não devemos ter aqui uma síndrome de Cronos e querer apontar se o álbum crescerá a longo prazo ou “envelhecerá bem”. Pode ser que sim, pode ser que não. – Honestamente, acredito que Perry ainda pode entregar muito mais do que vimos em Smile. –

Embora muitos não acreditem, Katy Perry encontrou o seu sorriso de volta, mas também se encontrou no seu próprio som e composição. E isso não vem de hoje.
A jornada que ela tem feito até aqui é de evolução e amadurecimento, e isso está se refletindo inteiramente em sua arte. E que bom que é de uma maneira feliz. 

Nota: 7.5/10

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Folklore é um perfeito devaneio

O substantivo “folclore” tem como significado a reunião de de costumes e tradições de um povo que são contadas de forma oral, atravessando gerações. De origem inglesa, a palavra vem do termo “folklore”, que é também o título do oitavo álbum de estúdio de Taylor Swift.

Todos nós já tivemos contato com o folclore, histórias macabras, divertidas e cativantes. No nosso país, desde a infância ouvimos sobre o Saci Pererê, o Curupira, a Iara, a Mula Sem-Cabeça e tantos outros. Já em outros, há histórias sobre os mais diversos seres como, gnomos, duendes, fadas e fantasmas. É, de fato, algo universal. Porque boas histórias atravessam fronteiras e o tempo.

https://www.instagram.com/p/CC-9usjDzUw/

 

Taylor surgiu no mundo da música country, há mais de 13 anos atrás, chamando atenção pela sua excelência artística como compositora. Ela era tão jovem, mas sabia como poucos escrever grandes canções. Com o passar dos anos, Swift se tornou um fenômeno global. Mergulhou de cabeça na música pop, vendeu mais de 80 milhões de discos no mundo todo e virou dona da segunda maior turnê feminina da história, ficando atrás somente de Madonna. 

Porém, a música pop é cheia de regras e estruturas a serem seguidas. O que podem fazer com que muitos artistas não consigam extrapolar certos limites devido a todo mercado em jogo. E Taylor sofreu com isso. É claro que com seu talento, ela conseguia escrever grandes hinos pop como “Style” ou “New Romantics”, mas ainda não havia encontrado o caminho certo para voltar a explorar todo o seu potencial enquanto compositora. Mas felizmente, ela agora o encontrou. 

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folklore é nada mais do que um álbum de histórias. E boas histórias. Taylor está contando e cantando sobre personagens que surgiram em seus devaneios, principalmente durante o isolamento social nos últimos meses. São perspectivas e experiências que vão além dela. 

Passeamos por narrativas cotidianas e até históricas. Há conto de uma viúva mal vista por sua cidade inteira, há homenagem aos profissionais da saúde que estão no combate a COVID-19 e principalmente, há histórias de relacionamentos. 

Swift compõe com toda maestria e sensibilidade de que se pode esperar de um compositor. Tudo é tão detalhado que, caso não soubéssemos que as histórias são de personagens, pensaríamos que seriam experiências da própria Taylor. Os pontos altos das composições estão nas faixas “the 1″, “exile”, ”epiphany” e nas já lendárias “cardigan”, “illict affairs” e “betty”, trio de músicas interligadas que contam uma só história: Um triângulo amoroso entre adolescentes e todos os seus pontos de vistas e nuances. 

A produção está no mesmo nível de qualidade quanto às composições. A maior parte das faixas são produzidas por Aaron Dessner, membro da banda The National. Aaron faz um excelente trabalho dentro do disco. Principalmente nas faixas “epiphany” (a música dedicada aos profissionais de saúde) que tem a melhor atmosfera do disco, ela é transcendente. E “exile”, parceria com Bon Iver, favorita a receber a coroa de melhor música do projeto com o passar do tempo.

Além disso, há na jogada Jack Antonoff, parceiro musical de longa data de Taylor. Jack tem fama de Rei Midas. Absolutamente tudo que ele produz, é ouro. (Ouça Melodrama de Lorde ou Masseduction de St. Vincent para entender isso). “august”, “mirrorball” e “betty”, única faixa produzida por Antonoff e Aaron, não deixam mentir esta afirmação. 

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Entretanto, há pontos que fazem com que folklore não consiga abraçar a completa perfeição, embora toque-a. Ter um álbum longo, de 16 faixas e 1h de duração é perigoso, ainda mais em um projeto que possuiu um conjunto de faixas maravilhosas. Algumas boas, mas não tão boas, acabam se perdendo no meio da curadoria. Isso quando não fazem o álbum soar massivo e cansativo, que é o caso de faixas como “the last great american dynasty”, “mad woman” e “hoax”. Que não são de todo mal, mas não fariam diferença se não estivessem ali. 

Há algumas faixas em folklore onde Taylor levemente flerta com elementos do experimentalismo, e é uma pena que seja de maneira tão simples. Talvez a cantora esteja guardando essa ideia para álbuns futuros quando acreditar que ela e seu público terá mais maturidade musical para tal coisa. Mas que é uma pena não explorar mais as faixas com sons “esquisitos” e longas durações de instrumental, isto é. “epiphany”, como já citado anteriormente, tem a melhor atmosfera do álbum, é uma faixa que poderia facilmente passar dos 6, 7, 8 minutos. E o próprio primeiro single, cardigan tem sons muito interessantes na parte final do seu instrumental que poderiam ser mais explorados. 

Por fim, folklore já nasce se consolidando um dos melhores álbuns do ano e quiçá, o melhor da carreira de Taylor Swift. Seus pequenos defeitos não são suficiente para descredibilizar toda sua qualidade e maturidade. Taylor finalmente achou sua redenção em entregar perfeitas composições na música pop, e ter flertado com o som alternativo foi essencial para isso. folklore fica melhor a cada nova reprodução, e por isso, parece que irá envelhecer como um bom vinho. Ou melhor, será repassado de geração em geração porque é isso que acontece com boas histórias, elas viram universais. 

Nota: 9.0/10

 

 

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You’ll remember me somehow | 12 anos sem o Rei do Pop, mas seu legado permanece vivo

Ícone. Mito. Rei do Pop. Lenda. Visionário. Humanitário. Influenciador.

São tantas alcunhas para serem pronunciadas quando o assunto é Michael Joseph Jackson. A mente se transborda e faz uma longa viagem no tempo. Viagem esta que teve início em 1964 com a formação do Jackson Five junto com seus irmãos Jackie, Tito, Jermaine, Marlon e Randy. De forma imediata, conseguiram entrar no topo das paradas norte-americanas com os singles I Want You Back, ABC, The Love You Save e I’ll Be There. O talento precoce combinado com performances foram o tempero para a fórmula de sucesso.

Foram 18 álbuns e 3 gravadoras na carreira dos Five. Sendo a Motown como a mais notória e catalisadora do enorme sucesso que fizeram. E contou com a ajuda de Diana Ross em apresentá-los ao público. Vale a pena relembrar também de outros sucessos como Lookin’ Through the Windows, Who’s Loving You e Dancing Machine. Já na Epic, veio Show You The Way To Go, Blame It on the Boogie, Shake Your Body (Down to the Ground) e Can You Feel It. Canções variadas entre baladinhas e dançantes foram os diferenciais para conquistar uma legião de fãs, comprovando a boa versatilidade dos irmãos.

Michael Jackson, ainda na infância, deu início em sua carreira solo na Motown e rendeu Got to Be There, Ben, Music & Me e Forever, Michael como álbuns.

https://www.youtube.com/watch?v=AtQJXLua85o

A trajetória solo em sua fase adulta teve início com o álbum Off the Wall com a produção de seu grande amigo, Quincy Jones. Tendo singles como Don’t Stop ‘Till You Get Enough, Rock With You e She’s Out Of My Life, ganhou toda a atenção da mídia e crítica pela composição de estilos como baladas de funk, soul, jazz e pop. Os temas infantis não faziam mais parte de suas composições. Michael estava amadurecendo e suas músicas deveriam seguir o mesmo caminho. E assim, foi dada a largada para aquilo que não mudaria apenas a visão musical da época, como também os conceitos de moda e dança. Vocês sabem de qual álbum estou falando.

O ano era 1982. O mundo continuava a sentir o sucesso da disco music e começava a viver a então fase pós-disco. O dia era 30 de novembro. Minha geração nem ousava ser um projeto de vida, então tudo que sabemos do frenesi envolvendo o lançamento de Thriller ouvimos de nossos avós, pais e tios. Lembro-me de minha tia falando como eu fiquei assustado quando assisti o clipe pela primeira vez. 14 minutos. Esse foi o tempo suficiente para transformar incrivelmente a carreira do cantor. O que era ótimo, ficou melhor ainda. O lado perfeccionista dele era notório. Não queria ser apenas um, e sim vários. Tudo era único e de encher os olhos. Cantava, dançava, era vocal e backing vocal.

O álbum garantiu a categoria de álbum mais vendido da história e venceu um recorde no Grammy Awards (foram oito no total). Era o álbum do ano. O maior e melhor da história, dizem as boas línguas. Os sete singles carimbaram entre as 10 melhores posições nos EUA. A luta contra a discriminação racial na indústria musical também marcou o álbum e a conquista veio com Michael sendo o primeiro artista negro no ar pela MTV, garantindo um grande destaque para a emissora na época.

Quando aproveitaram o aniversário de 25 anos da Motown para divulgar este icônico álbum, ninguém sabia que naquela noite especial, MJ alcançaria as estrelas. Foi com a maravilhosa Billie Jean que ele imortalizou o passo do dançarino Bill Bailey chamado Moonwalk. E assim, ele foi consagrado como o Rei do Pop.

Durante sua carreira, seus clipes sempre contavam com participações especiais como o ex-Beatle Paul McCartney, Slash, Eddie Murphy, Eddie Van Halen e etc. Tendo Liberian Girl com o recorde destas participações. O grande esforço veio com We Are The World reunindo nomes como Lionel Richie, Stevie Wonder, Ray Charles, Cyndi Lauper, Diana Ross e mais celebridades. O objetivo era arrecadar fundos para combater a mortalidade causada pela fome na África. A campanha era USA for Africa.

O lado humanitário dele veio à tona em outras músicas como Man in the Mirror, Heal the World, Gone Too Soon e Earth Song com reflexões sobre o meio ambiente e questões humanas.

Os álbuns seguintes continuaram lançando várias músicas de sucesso como, por exemplo, Bad e Smooth Criminal (Bad), Remember the Time, Black or White e In the Closet (Dangerous), Blood on the Dance Floor (HIStory) e You Rock My World (Invincible).

 

Como todo astro com enorme visibilidade mundial, MJ se viu em meio de grandes polêmicas e rotina excêntrica. Traumas de infância, vitiligo e seu complexo de Peter Pan eram as principais pautas discutidas na mídia com o próprio dando detalhes de sua vida. A vida pessoal sendo mostrada de forma constante trouxe desgaste na carreira do Rei do Pop.

This is It seria a empreitada ousada com a apresentação de 50 concertos que começaria no dia 13 de julho de 2009. Infelizmente, o projeto não foi além dos ensaios. Em 25 de junho daquele mesmo ano, Michael Joseph Jackson estava dando adeus ao mundo por conta de uma parada cardíaca.

Justin Timberlake, Britney Spears, Beyoncé, Usher, Justin Bieber, Chris Brown, Bruno Mars e Madonna sentiram o impacto que Michael causou, usando-o como referência e incentivo em suas carreiras. Thriller continua sendo tratado com tamanho impacto cultural, histórico, musical, visual e comercial. Suas músicas e clipes marcantes continuam sendo cultuados pelo mundo todo. Isso é o legado. Michael Jackson se foi há 12 anos e estaria fazendo 63 anos hoje (29), mas o seu legado continua forte na sociedade. Continua vivo.

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Se o funk é tão perecível, o que o faz ser tão atemporal?

Nestes dias desta eterna quarentena, o quê mais tenho feito é ouvir música. Venho descobrindo (e redescobrindo) vários artistas, álbuns, décadas e etc. Mas também, venho revisitando coisas que marcaram meu passado. Certa vez, com saudades das baladas e festas que costumava a frequentar no mundo pré-pandemia, estava ouvindo We Found Love smash hit da Rihanna e do Calvin Harris lançada lá em 2011.

Certamente, você já ouviu essa canção. E certamente, se você é uma pessoa de frequentar festas e baladas, obviamente já ouviu essa música tocar pelo menos em algum desses lugares, independente do estilo de casa noturna que você costuma frequentar. We Found Love é um clássico da música pop. Um dos maiores hits da década passada e é cirúrgico em marcar uma época qual a EDM  (Eletronic Dance Music) estava em alta. Principalmente a sua vertente eletropop.

As festas que costumo ir com meus amigos em um mundo sem quarentena e isolamento social, são regadas por 2 gêneros em específicos: o pop e o funk. Então como estava nostálgico com esses eventos, nada mais natural de ir atrás dos funks que me acompanhava por bons momentos durante uma madrugada toda. Só que a partir daí uma questão foi levantada na minha cabeça: “Se até em 2020, We Found Love é tocada com frequência em festas, porque os funks de 2011 também não são?”.
E essa dúvida me fez perceber o que está no meu inconsciente desde sempre: A música do funk é perecível, ela uma data de validade. Porém, o gênero funk em si, é, extremamente popular, e está prestes a dominar o mundo. Por quê?

Não acredito que exista uma resposta definitiva para essa questão, ou algum fator que funcione como ponto 0 do entendimento da minha dúvida. Entretanto, boa parte de mim pensa que isso acontece pelo funk ser um gênero vivo. Porque ele está em constante mudança e transformação. Ouso até me dizer que o funk é, de certa forma, um gênero experimental.

Desde o seu surgimento por meados dos anos 70, o funk misturou e se apropriou de diversos gêneros e tendências internacionais que estavam sendo importadas para o Brasil. 

Do originário funk americano encabeçado por James Brown, ao swingado do R&B que deu origem ao conhecido Charme e a popularização da música eletrônica no mainstream internacional, principalmente com o house dos anos 90, o funk usou e abusou do uso de samples de músicas internacionais criando nova canções com pedaços de outras ou até paródias das mesmas. E assim, levando esses ritmos para dentro das comunidades cariocas.

ANOS 70

Baile Funk Carioca, Anos 70

Em uma época qual o acesso à cultura e diversão era ainda mais limitado que os dias atuais para as camadas mais populares do país, o funk surgiu no Rio de Janeiro para levar o entretenimento musical e identitário para a juventude das comunidades da cidade assim como o Samba havia feito décadas antes. Muito disso se deve a Furacão 2000, que foi a grande responsável em levar os bailes para os bairros do subúrbio carioca, ajudando na popularização do ritmo na cidade e posteriormente, no país. 

DVD: Furacão 2000 - Funk de Verdade (COMPLETO) - YouTube

O Famoso “Paredão da Furacão”

Como um carioca nascido e criado no subúrbio do Rio de Janeiro, o funk sempre esteve presente na minha vida social. E por isso, tenho uma certa relação afetiva com o gênero. Lembro com clareza das histórias que meu pai contava da sua juventude embalados pelos hits da época, como as icônicas “Só Love”, “Me Leva” e os inúmeros Raps (Do Festival, Da Paz, Do Silva). Enquanto a minha infância tem como parte da trilha sonora faixas tão memoráveis quanto. “Tremendo Vacilão”, “Se Ela Dança Eu Danço”, “To Tranquilão” e as “não tão family friend” Dança do Créu e “Agora Eu Sou Solteira”. 

De forma caricata, no início da minha adolescência, eu passei por um fenômeno comum entre quase todos da mesma idade. A fase de odiar o funk apenas para poder pagar de diferentão e evoluído. Mas felizmente, eu amadureci. E pouco tempo depois passei a curtir os gênero que era presença marcada nas festinhas de 15 anos e resenhas do final de semana de colegas de classe. 

https://youtu.be/4Grv724IpJk

Enquanto estava pensando em escrever este texto, tive que escolher músicas para exemplificar os anos 90 e 2000 como fiz acima, e logo de cara vieram essas e mais algumas na minha cabeça. Talvez por serem as mais icônicas de suas respectivas décadas e terem sobrevivido ao teste do tempo, como é natural de acontecer com qualquer gênero. E é a partir daí que retomamos ao fator principal de eu estar escrevendo aqui.
Mas, mesmo que essas canções sejam conhecidas até o dia de hoje, pelo menos dentro da bolha carioca, elas não são tocadas nas festas como We Found Love da Rihanna, ou até hits mais antigos da mesma época como a saturadas millenials “Evidências” ou “Ana Júlia”. Por quê? 

Acredito que pelo seu viés experimental e até mesmo político o funk é um gênero que se tornou maior que suas próprias músicas. Seria algo como a dance music, que nos anos 90, de tão popular que era, pouco importava quem estava cantando ou o quê estava cantando, mas importa sim, que o som estivesse ali.

Acontece que por motivos mercadológicos, a dance music acabou sendo aglutinada pela música pop e eletrônica, virando um subgênero dentro desses dois estilos. Já o funk carioca não.

Surgido de uma mistura entre vários gêneros, o funk carioca se tornou único e inovador. Marcou gerações e construiu suas próprias vertentes como proibidão, melody, consciente, 150bpm, 180bpm e até mesmo gospel. E após disso, outros estados passaram a ter seu próprio estilo de funk, fazendo que o gênero ficasse ainda mais popular em determinadas regiões. 

Talvez o que faça com que o funk soe perecível com o passar dos anos, seja o fato de que quando um hit nasce, ele nasce de forma orgânica. Não possui uma fórmula exata de criação ou de divulgação. Pois a grande maioria dos MCs são jovens que atuam de maneira independente, sem apoio de empresários, gravadoras ou coisas do tipo. A música é feita pensada para aquele momento, para o presente, para a diversão dos bailes e festas nas comunidades e subúrbios.

Não há uma preocupação prioritária em fazer uma música que será tocada sempre, que conectará pessoas através de gerações como pensam a grande maioria dos artistas. Mas nem por isso, o funk deixa de ser uma legítima manifestação artística. Mesmo que nas baladas já não toquem mais as faixas populares de 1 ou 2 anos atrás. Se você viveu bons momentos com aquela batida, quando ouvi-las novamente irá sentir uma boa nostalgia. E é aí que o sentido da arte se faz presente.

O sertanejo pode ser atualmente o maior gênero dentro da indústria fonográfica brasileira. É ele que têm os maiores números nas plataformas de streaming,  movimenta a agenda de shows pelo país, os grandes festivais, e agora, as lives. Literalmente, estamos testemunhando o auge do modão brasileiro.

No entanto, quem está conseguindo levar a arte para periferia e exportar para o mundo contemporâneo, é o funk. Mesmo com todos os empecilhos colocados por uma elite artística no país movido à preconceito, o gênero está cada dia mais popular no mundo todo.

Há 3 anos atrás, MC Fioti lançou “Bum Bum Tam Tam”, o primeiro clipe brasileiro a chegar na marca de 1 bilhão de visualizações. Anitta, nossa principal aposta internacional, conseguiu colocar seu hit “Vai Malandra” no top 20 das músicas mais tocadas no Spotify mundial na época de lançamento do single. “Malokera”, single de  Ludmilla e MC Lan foi presença na playlist do desfile internacional da marca de Rihanna. E por aí vai…

O funk já está sendo popular entre nosso vizinhos da América Latina e já chegou também países Europeus. Artistas consagrados como Madonna, Diplo, M.I.A, Jennifer Lopez, J Balvin e Drake já experimentaram do gênero em seus trabalhos e também ajudaram em sua popularização. São mais de 40 anos de um movimento periférico que, além de levar diversão para as pessoas, muda a vida e realidade de muitos moradores das comunidades brasileiras, afastando diversos jovens da criminalidade e da morte. E isso só nos prova que o funk está apenas no começo de sua jornada. Há muito o que percorrer, há muito o que fazer e também, há muito o que mudar. Mas acima de tudo, o funk brasileiro nos mostra que pode até soar  perecível para alguns, mas está longe de ser temporário. 

 

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Chromatica é um planeta morno, mas que tem lá seus melhores dias de verão

“Esta é a minha pista de dança pela qual lutei” – Lady Gaga, Free Woman

Lady Gaga lançou hoje (29) Chromatica, seu sexto álbum solo de estúdio, e oitavo na sua discografia como um todo. Inspirado no cenário da música dance dos 90 e início dos anos 2000, Gaga tem o propósito de cantar e celebrar suas dores e tristezas na pista de dança,  nos levando à uma viagem ao planeta Chromatica, onde as músicas do álbum estão sendo tocadas. O grande problema é que, Gaga, como criadora do planeta Chromatica poderia ter deixá-lo sua temperatura mais elevada, e não tão morna quanto parece.

Que Lady Gaga é um dos nomes mais versáteis e talentosos da sua geração, já é de conhecimento geral. Desde quando surgiu, lá em 2008 se apropriando da música pop em seu estado mais puro e até mesmo sendo um sinônimo para o gênero, Gaga reinventou seu som e imagem diversas vezes. Já passou por músicas mais sombrias derivadas do eurodance, já flertou com a cena underground da EDM (Eletronic Dance Music), e até mesmo experimentou o rock e o country em suas canções. – E na grande maioria das vezes, sempre com maestria –
Após quase 6 anos sem fazer o pop dançante que a levou para o estrelato, Stefani retorna às pistas de dança, pena que, é um retorno bem aquém do esperado.

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Chromatica começa bem promissor, a primeira faixa do álbum é uma interlude orquestral, intitulada de Chromatica I soa como o início de um filme, e quando se interliga com a seguinte faixa, Alice, constrói a atmosfera necessária para comprarmos a ideia do álbum. O primeiro bloco do disco conta também com Stupid Love, primeiro single que, embora não seja um grande destaque, ainda funciona como boa música pop. Logo após vem a dupla  Rain On Me, parceria com Ariana Grande e Free Woman, duas das melhores canções do disco. Sendo a última citada, uma grande ode à música house/dance dos anos 90, algo que lembra o tipo de música que Whitney Houston poderia fazer. Fun Tonight, a música que encerra o primeiro bloco do álbum, não é um destaque ao mesmo nível que suas colegas de set, mas ainda funciona dentro do conceito de “música para chorar dançando”.

O problema de Chromatica começa agora. A segunda etapa do álbum inicia com outra interlude, desta vez Chromatica II que faz a melhor transição do disco com 911. Porém, esta canção, está longe de ser algo realmente bom. 911 é a primeira vez que na qual Gaga revisita algo que fez em sua carreira. A música tem aquela sonoridade do pop em sua mais pura essência, entretanto é chata demais e repetitiva, soando até mesmo superficial, e sem ser proposital, o que é um grande problema. A faixa parece um descarte do The Fame, seu álbum de estreia de 2008.
Em seguida, mais uma decepção.

Plastic Doll é uma música produzida por Skrillex, e por isso, para quem conhece o trabalho do DJ, era de se esperar que uma colaboração justo com Lady Gaga fosse algo bem mais fora da caixinha, mas infelizmente, a cooperação é apenas uma música pop qualquer, sem sal, açúcar ou qualquer outro tempero. Continuando a derrocada do álbum, temos Sour Candy, parceria com o grupo coreano BLACKPINK. É uma outra parceria que tinha grande potencial, mas desaponta. Não que seja de todo mal a canção, mas ela sai do nada e vai para lugar nenhum, mesmo usando um sample muito bom e clássico da música house (Que já foi usada até por outros grandes nomes como Katy Perry em Swish Swish, e Nicki Minaj em Truffle Butter).

Pelo menos, a segunda parte do disco tem sua pepita, a música Enigma que não usufrui somente dos elementos eletrônicos que o gênero dance proporciona, mas também toma pra si – com louvor –  elementos orgânicos de instrumentos reais, como saxofone. Entretanto, o nível volta a cair com a faixa sucessora, Replay. Mais um pop sem graça, superficial e datado.
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Ao chegar na última parte do álbum, iniciada pela interlude Chromatica III, damos de cara com sua maior surpresa, Sine From Above, parceria com ninguém menos que Elton John. Era de se esperar algo mais slow tempo, ou até mesmo uma balada vindo de Gaga e John, porém, a música é nada mais que o ápice da disco music da década de 90 mesclado com piano e um leve toque experimental, é definitivamente uma obra prima, um presente. 1000 Doves, está em um local muito complicado no disco, por ser a sucessora de Sine From Above, mantém a expectativa em alta, mas, não é grande coisa, mesmo que não seja ruim.

E por fim, chegamos a Babylon, que não é só a melhor opção para encerrar o disco como também é a melhor música de Chromatica. Se Free Woman é a síntese do house noventista e Sine From Above e Enigma representam a maestria da mistura entre os elementos orgânicos e industriais, Babylon é a alquimia perfeita das três canções. Fora que, além de acompanhar de um maravilhoso coral, a música soa como uma irmã mais nova de Vogue da Madonna, hit dos anos 90. Babylon tem o poder de nos teletransportar diretamente para a melhor pista de dança de uma balada no auge da madrugada.

Não que Lady Gaga ainda precise provar alguma coisa para a indústria, seja em sua versatilidade, talento ou atitude artística. Mas Chromatica é bem além do que ela pode nos entregar,  é um álbum bem morno no conjunto de sua obra. Ele até consegue funcionar como um bom álbum pop porém, não é de longe o melhor trabalho e nem o mais genial de Gaga, muito pelo contrário, periga a se tornar o seu mais fraco com decorrer dos anos. Chromatica representa bem uma noite na balada, pois nele há músicas maravilhosas que funcionam perfeitamente bem como grandes trilhas sonoras dos melhores momentos de uma madrugada, mas também músicas extremamente pobres, chatas e superficiais que no mínimo funcionam como trilha sonora do momento de se retirar da pista de dança e ir ao banheiro ou bar.

Nota: 7.0/10

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‘How I’m Feeling Now’ é uma carta de amor de Charli XCX

Durante essa época de pandemia e quarentena, a cantora britânica Charli XCX preparou algo especial para os fãs: Seu mais novo álbum, How I’m Feeling Now, é uma carta aberta dos sentimentos e pensamentos dela, e também algo que foi bem colaborativo com quem acompanha seu trabalho. Juntando uma produção mais caseira e combinando o PC Music com Pop, Charli criou um álbum maravilhoso para um momento tão significativo.

O álbum começa com a faixa ‘pink diamond‘, que marca a primeira colaboração da cantora com Dijon. Com um som mais agressivo, a cantora trás a raiva e a angústia que é ter que ficar preso em casa, no tempo em que a vontade de sair e se divertir consome, e a única coisa que se dá para fazer com as pessoas são vídeo-chamadas. Essa música é como se ‘Boss Bitch‘ da Doja Cat estivesse tendo um surto de raiva, e isso é maravilhoso. Em uma entrevista ao Apple Music, a cantora disse a escolha dessa música ser a faixa que abre o álbum: “Eu queria que fosse a primeira faixa porque tenho a ideia de que algumas pessoas vão adorar e outras odiarão. Eu acho que é legal ser antagônico na primeira faixa de um álbum e realmente frustrar certas pessoas, mas deixar os outros realmente obsessivos com o que poderá vir a seguir.“. E ela consegue, seguindo por faixas mais únicas ainda.

Na segunda faixa temos a primeira música do álbum que foi liberada, ‘forever‘. Com sintetizadores e sons metálicos, Charli cria uma música que parece misturar todas suas eras em uma, a artista emocional de True Romance, a doçura sonora de Sucker, um ritmo mais balada de Vroom Vroom e Number 1 Angel, os elementos da produção de Pop 2 e os traços marcantes de sua assinatura em Charli. Sua letra também é uma das mais bonitas do álbum, contando da dificuldade que ela e seu namorado, Huck Hwong, sofrem com a distância de lugares. “A música é obviamente sobre o meu relacionamento, mas é sobre os momentos antes do lockdown. Ele me pergunta: ‘E se não conseguirmos’, mas reforça que eu sempre o amarei, mesmo se não conseguirmos.“, disse a cantora ao Apple Music. Seguindo o mesmo, temos a terceira faixa, ‘claws‘, que já segue sendo um pop com uma sonoridade um tanto quanto nostálgica, parece que ouvimos algo tão futurista, mas também como se fosse uma música que tivesse estourado nos anos 90, época qual Charli XCX é apaixonada. A produção desse single é impecável, tanto que quem a produz é Dylan Brady, da banda 100 gecs.

Prosseguimos com a faixa ‘7 years‘, uma dançante música que conta mais sobre o relacionamento de Huck e Charli e sobre seu amadurecimento com o tempo. Com vocais distorcidos de fundo e sons mais robóticos, o foco da voz da cantora nessa música é fenomenal, Charli sabe muito bem como trazer emoção e melodias incrivelmente tocantes, é mais uma das faixas que impressionam no álbum e o consolidam. “Essa música é sobre a nossa jornada como casal, e a turbulência que sofremos ao longo do caminho. É também sobre como me sinto tão tranquilo por estar neste espaço com ele agora. Quarentena foi a primeira vez que tentei permanecer imóvel, física e mentalmente. É um sentimento muito novo para mim. Essa também é a primeira música que gravei em casa desde que eu provavelmente tinha 15 anos, morando com meus pais. Por isso, é muito nostálgico, pois remonta a um processo pelo qual não havia passado há mais de uma década.“, diz a cantora sobre a letra de ‘7 years’.

Sendo uma das músicas mais impressionantes no álbum, ‘detonate‘, é algo que você espera que seja estourado e com bastante efeitos de distorção, mas acaba se tornando em uma faixa bem tocante e provavelmente uma das mais tristes do álbum. Contando sobre a insegurança da cantora sobre se ela merece o companheiro que tem, e se ela merece que ele confie nela. “Eu escrevi a letra em um dia em que estava experimentando um pouco de confusão e frustração com a minha situação. Eu talvez quisesse algum espaço. Na verdade, é muito difícil para mim ouvir essa música porque sinto que o resto do álbum é muito alegre, positivo e amoroso. Mas resumiu como eu estava me sentindo, e às vezes não é incomum nos relacionamentos.“, disse Charli. E no fim, temos um som distorcido, representado um pouco mais o que ela estava sentindo.

Calma e extremamente agradável, ‘enemy‘ tem o melhor vocal da cantora no álbum. A música tem uma batida mais leve e que lembra muito sua época de True Romance e Sucker, vários efeitos e sintetizadores marcam a música, sendo uma das melhores faixas. Também é marcada com um interlúdio tocante falando sobre seu amadurecimento e sobre duvidar de si mesma. Talvez seja a música que mais toque os fãs, por mostrar um lado tão humano e relacionável com ela, que é um ícone na sua área. Sobre a letra da música, Charli comenta sobre o quão criativa foi a construir essa faixa: “A música baseada na frase “Mantenha seus amigos próximos e seus inimigos mais próximos”. Fiquei pensando em como se você pode ter alguém tão perto de você, isso significa que um dia eles poderão se tornar seu maior inimigo? Eles teriam mais munição. Na verdade, eu não acho que meu namorado seja alguém que me atacaria se algo desse errado, mas eu estava brincando um pouco com essa ideia. Como a música é bastante baseada em fantasia, pensei que o memorando de voz era algo que fundamentava a música. Acabei de falar com o meu terapeuta – e a terapia ainda é uma coisa muito nova para mim. Comecei apenas algumas semanas antes da quarentena, o que parece ter algo a ver com o destino, talvez. Eu tenho me gravado depois de cada sessão, e parecia certo incluí-lo como um tipo de momento real em que você tem um momento de dúvida.”.

Com uma letra que fica na mente, ‘i finally understand‘, produzida por Palmistry (Produtor e artista do sul de Londres, Benjy Keating) tem uma sonoridade bem única e que também volta a lembrar de outras eras da cantora. Tento um ar também mais leve e triste, a música fala sobre como a experiencia da quarentena está ajudando seu relacionamento a se aproximar emocionalmente, quanto fisicamente. Talvez, seja uma das músicas que ficou mais apagada comparada às outras faixas, mas mesmo assim, tem seu brilho e se encaixa perfeitamente no álbum.

Seguindo o que a cantora fez com ‘Track 10‘ de Pop 2 e ‘Blame It On Your Love‘ de Charli, temos agora a ‘c2.0‘, que é continuação da música Click, de Charli. Essa talvez seja uma das faixas que mais deixem os fãs divididos. Ela começa com o final de Click, que são sons sintetizados e metálicos bem estourados junto com várias repetições da frase “I’m next level so legit with all my click”, durante 1:41 minutos de música, o que não é tão agradável pela imensa quantidade de tempo que isso leva. Logo após, começa um lindo vocal e sintetizadores mais calmos e leves, que tem uma das melhores sonoridades do álbum. A música conta sobre a saudade que ela sente dos seus amigos músicos e celebra a amizade e a vida como era antes disso tudo.

Marcando completamente, ‘party 4 u‘ é uma das melhores músicas do álbum, provavelmente sendo uma das mais marcantes. Mais leve e calma, Charli tem um destaque surpreendente em seu vocal nessa faixa. Mesmo sendo a faixa mais antiga entre as novas (Charli tocou essa música pela primeira vez em 26 de maio de 2017), ela se provou envelhecer como vinho. Com toda certeza, é uma das musicas mais importantes aqui, e é uma jornada para ela e para o produtor, o grande A.G. Cook.  A cantora contou mais sobre seu relacionamento com essa música na Apple Music: “Esta é a música mais antiga do álbum. Para mim e A. G., essa música tem muita vida e história – nós a tocamos ao vivo em Tóquio e, de alguma forma, ela saiu e se tornou a favorita dos fãs. Toda vez que nos reunimos para fazer um álbum ou uma mixtape, isso sempre é considerado, mas nunca havia sentido antes. Por menor e bobo que pareça, é hora de retribuir algo. Liricamente, isso também faz sentido agora, pois trata-se de fazer uma festa para alguém que não vem – o desejo de ver alguém, mas eles não estão lá. A música ganhou um novo significado – gravamos a primeira parte em talvez 2017, agora há amostras de multidões na música desde o final do meu show na Brixton Academy em 2019 e agora existem gravações minhas em casa durante esse período. Foi em uma jornada. Ela continuou sendo solicitada e solicitada, o que me deixou hesitante em divulgá-la porque eu gosto da mitologia em torno de certas músicas. É divertido. Dá mais vida a essas músicas – talvez até mais do que se eu as tivesse lançado oficialmente. Continua a construir esse hype inexistente, o que é bastante engraçado e também definitivamente faz parte da minha narrativa como artista. Sofri muitos vazamentos e hacks, então gosto de brincar um pouco com essa narrativa.“.

Prontos para festa? Pois bem, ‘anthems‘ é a música perfeita para dançar e festejar (sozinho). Com um som totalmente elétrico e agitado, os gritos da Charli por querer festejar são contagiantes e é impossível não querer sair dançando por aí enquanto se ouve essa faixa. Entre todas as faixas mais animadas e elétricas do álbum, essa pode ser considerada a melhor; sua produção (de Dylan Brady e Danny L Harle) e com a letra feita por Charli criaram um hino icônico para momentos de se divertir. A cantora diz que fez essa música pensando na saudade que ela tem de festejar a noite inteira, e acordar se sentindo terrível. Ela também diz que se inspirou muito no filme ‘Projeto X’, pois ela disse que queria uma noite no estilo da festa do filme. Fica uma dica para Hollywood, se forem fazer uma continuação ou remake, já tem a música tema!

Finalizando o álbum no mesmo ritmo de sua música anterior, temos ‘visions‘, que é uma balada futurista. Sintetizadores e efeitos que lembram elementos de synthwave, a faixa consolida um fim digno para um álbum simplesmente impecável. Ele fala sobre o relacionamento da Charli e também nos conecta ao momento em que vivemos, o álbum não termina em uma salva de palmas, termina em um eufórico e desconhecido momento onde vira um reflexo da nossa realidade. Mostra o caminho que a cantora quer trilhar a partir de agora.

Como fã enorme da Charli XCX, esse álbum é como ver um artista que você ama evoluir e se descobrir em cada faixa. Tudo o que ele significa, cada uma das músicas e letras mostra como este álbum é sólido e simplesmente único. Charli fez uma carta de amor para seu namorado, para seus amigos, seus fãs, e a si mesma. É simplesmente gratificante ver como isso se desenrolou de uma forma tão incrível. Com toda certeza, mesmo com pouquíssimas falhas, é possível considerar esse um dos álbuns mais importantes da carreira da cantora e um dos melhores dela e desse ano, e ver como ele é um fruto de todo o aprendizado que ela teve com seus antecessores. Em um momento tão difícil, com certeza esse álbum ajuda a criar momentos e memórias melhores. O questionamento agora é de como será os futuros trabalhos da cantora, que sempre se inova e cria obras primas musicais.

Nota: 4.7/5

“how i’m feeling now”, de Charli XCX Já está disponível em todos os serviços de streaming.

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Charli XCX lançará álbum durante quarentena, ‘How I’m Feeling Now’

Após retirar todas suas fotos do Instagram e colocar uma enigmática foto escura com apenas um emoji, a cantora e compositora britânica Charli XCX confirmou que está produzindo um novo álbum durante o período da quarentena durante uma sessão no Zoom. O álbum será intitulado como ‘How I’m Feeling Now’ e tem seu lançamento agendado para o dia 15 de maio. Durante a sessão, a cantora explicou o motivo de estar fazendo o álbum e que será algo totalmente dedicado aos fãs:

Decidi que vou fazer um novo álbum durante esse período de quarentena. Será muito DIY, vou fazê-lo ao vivo do zero, muito indicativo dos tempos em que estivermos, só vou usar as ferramentas que tenho em minhas mãos, para criar meus vídeos e visuais. Claro que sou um artista muito colaborativo, e este será o meu projeto mais colaborativo – compartilharei todas as etapas. Vou pedir a opinião de vocês, quais letras, quais músicas, vou pedir para vocês me ajudarem a criar vídeos. Estou realmente aberta para todo esse processo, para que vocês possam explorar sua criatividade.  Anjos, me mandem beats se você é um produtor. Mesmo apenas como referências, é importante fazer isso por mim agora, para fazer algo que pareça realmente autêntico, real e representativo do que estou passando“.

Charli também comentou que A. G. Cook e BJ Burton serão os produtores executivos, e que estava trabalhando em outro álbum de estúdio, mas teve que parar sua produção por conta das situações atuais. Ela também anunciou que fará mais uma sessão com fãs no Zoom essa semana.

O último álbum de Charli XCX foi ‘Charli‘, lançado em 2019. Sua última colaboração foi no álbum da Pabllo Vittar, ‘111‘, na música ‘Flash Pose‘.