Em um momento tão turbulento no nosso país, esse novo filme baseado no livro de Danilo Gentili, Como se Tornar o Pior Aluno da Escola, chegou na hora certa. Uma história que destaca várias problemáticas modernas – abusos sexuais, postura escolar desleixada, educação precária são algumas delas – e as coloca em um patamar completamente incorreto, mas que agrada por quebrar qualquer paradigma e não ter medo do que precisa ser dito, usando o humor do melhor jeito: uma forma de expressão.
Aos adolescentes, crianças e até professores que vivem no ambiente escolar: Como se Tornar o Pior Aluno da Escola foi feito para vocês. Toda a ambientação demonstra críticas severas para a educação. Como a escola cria um redoma em cima do aluno, pressionando-o a estudar e pensar sobre o futuro a todo momento, além do relacionamento entre professores e alunos, que se dá por desgastado e frustrante em alguns casos. Não que a mensagem do diretor Fabrício Bittar e a do roteirista, ator e produtor Danilo Gentili seja largar a escola, mas às vezes a socialização e o próprio aproveitamento da vida está ficando de lado, e estes precisam ser resgatados.
As piadas exageradas baseadas no humor negro, que sempre estiveram ligadas ao polêmico Gentili, criam boas passagens e provocam risadas sinceras. O filme não irá funcionar para muitos, dependendo do espectador exclusivamente; sua visão de mundo e a forma como recepciona uma piada influenciam na forma de assistir. Para os mais sensíveis, que não gostam de um humor mais sarcástico, sujo e crítico, passe longe desse verdadeiro manual de como ser um pesadelo na escola. Particularmente, suas gracinhas funcionam e são eficazes, principalmente pelo elenco completamente diverso e cômico.
Carllos Villágran, o famoso Quico de Chaves, não consegue se desprender do personagem mexicano, mas seu esforço é satisfatório. Apesar do português péssimo, a tentativa de falar a língua nacional e ser um diretor escolar clichê, o inimigo dos alunos, encaixa perfeitamente na trama proposta. Fábio Porchat é um personagem polêmico que participa da cena mais polêmica do ano. Rogério Skylab faz a personificação perfeita do professor desleixado. E, surpreendentemente, no meio de grandes nomes, o ator/personagem que mais se destaca é o faxineiro rabugento interpretado por Moacyr Franco. Um dos humoristas mais importantes e esquecidos da nossa época tem uma presença incrível nas cenas, misturando o descontentamento do personagem com a sua dose humorística própria.
Já o núcleo principal composto por Danilo Gentili e os dois adolescentes Pedro (Daniel Pimentel) e Bernardo (Bruno Munhoz) seguem o caminho do Senhor Miyagi e de Daniel San para salvarem Pedro da reprovação, tendo que tirar 10 na prova final. Daniel Pimentel e Bruno Munhoz não parecem ser grandes atores, mas têm potencial. Dá para perceber que as falas e as atuações são mais robóticas do que naturais. Gentili interpreta a si próprio, não conseguindo tirar a sombra de sua fama como apresentador do personagem. Porém, tudo é bem intencionado, o humorista é consciente de que ele não é ator, forçando na interpretação que lembra o jeito exacerbado de Mike Myers em O Gato (2003).
Fabrício Bittar é o responsável pela direção, não é preguiçoso em usar efeitos práticos e ousar nas sequências. As cenas da perseguição de carros e a destruição dos banheiros destacam qualidades técnicas pouco vistas nos filmes de comédia brasileiros. Entretanto, no quesito de montagem, onde a história tende adquirir um fluxo narrativo coeso, talvez seja onde Como se Tornar o Pior Aluno da Escola falhe. Transições de cenários como nas novelas, narrações exageradas para cobrir buracos no roteiro, pulos temporais curtos feitos por linhas e desenhos de caderno não são tão eficientes pelo uso excessivo. E a montagem rápida atrapalha o background do protagonista. Sua insatisfação pela escola e os professores é óbvia e bem representada, mas na hora de construir o personagem, as justificativas e as consequências finais dele perdem impacto por essa interferência.
Como se Tornar o Pior Aluno da Escola foi uma das maiores surpresas na comédia desse ano. É um filme que não se leva a sério, e que não deve ser levado a sério. Faz jus ao nome de Danilo Gentili pelas polêmicas colocadas e o nítido descontentamento com várias situações da vida moderna. Seguindo um dos ensinamentos mais importantes de Curtindo a Vida Adoidado (1986): aproveite.