É indiscutível a qualidade da narrativa de Vince Gilligan. Este, em parceria com Peter Gould, dirige o spin-off de Breaking Bad, Better Call Saul, que retorna muito bem em sua segunda temporada, mas cometendo os mesmos erros.
Jimmy McGill é um personagem totalmente diferente. Prejudicado no final da primeira temporada, Jimmy decide mudar seu padrão de vida e, consequentemente, seus traços de personalidade vão se alterando.
O protagonista da série está melhor desenvolvido agora, e é nítida a importância em detalhar cada momento do seu passado e suas decisões. McGill está totalmente focado em garantir um bom futuro para si próprio, seja pelo caminho bom ou ruim. O ator que dá a vida ao personagem, Bob Odenkirk, consegue atuar com excelência, expondo os traços mais frios que saem do interior de seu personagem.
McGill não está sozinho em seu caminho para se tornar Saul Goodman. Kim Wexler (Rhea Seehorn), amiga e amante nas piores horas, dá total suporte. O relacionamento amoroso entre os dois é um pouco complicado, com seus altos e baixos (aquilo parece mais uma novela mexicana e que pode atrapalhar um pouco o desenrolar da história). Entretanto, Wexler tem alguns pontos positivos: além de sua notável ”força” nos acontecimentos da série, ela vai mudando de personalidade e evoluindo no mesmo ritmo de Jimmy, o que acaba deixando a relação deles (COMO AMIGOS) mais fortalecida e interessante.
Mas nenhuma série seria série, sem uma figura antagonista, não? Bem, esta função fica por conta de Chuck McGill (Michael McKean), irmão de Jimmy. Como dito anteriormente, o passado do advogado é bem explorado nessa temporada, mas não seria possível sem a ajuda de seu irmão. Chuck é posto mais como um narrador, já que é o responsável por relatar tudo o que aconteceu em sua infância, e os seus motivos por não dar apoio total às escolhas de Jimmy. Contudo, o progresso do conflito entre os irmãos é muito lento, o que torna algumas vezes a série entediante e cansativa, um erro recorrente da temporada passada.
Gilligan nunca abriu mão da simbologia nas suas séries, seja por meio do ambiente, de roupas, de cores, de comidas, etc…, e em Better Call Saul não foi diferente. Tendo Chuck uma doença nada comum: alergia a impulsos eletromagnéticos, a ambientação requer um local mais escuro que retrata ainda mais seu papel.
Na primeira temporada, Jimmy trabalha em parceria com Mike Eharmauntrat (Jonathan Banks) em um negócio que envolvia crimes e principalmente dinheiro. Isto foi um dos pontos altos. Ao invés de aproveitarem a dupla, Peter e Gilligan decidem quase não colocá-los em cena juntos, criando duas histórias completamentes distintas. Não é uma escolha de todo ruim; a trama que envolve Mike é intrigante e tensa, o universo de Breaking Bad é mais presente e alguns personagens clássicos são inseridos.
A segunda temporada dá tropeços e passos bem curtos para chegar ao que o público espera: Saul Goodman e seu cliente Walter White (Bryan Cranston). Na season finale, a série deixa um gancho incrível para sua terceira temporada, mas que serve mais para esconder um episódio fraco.
Portanto, Better Call Saul não é ruim, pelo contrário, é muito bom, mas peca por prometer demais e mostrar de menos, com uma certa demora para se explicar, o que pode acabar resultando na frustração dos fãs do universo de Breaking Bad.