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Entrevista | Raphael Fernandes, da Draco e um dos operários do quadrinho nacional

Escrito por Ricardo Ramos

A Editora Draco está completando dez anos e com uma baita história de sucesso junto com ela. Sempre investindo em produtos inéditos e nacionais, a Draco já arrebata prêmios, grandes publicações, aborda um tom crítico (e necessário) e uma legião de fãs.

Esse ano, a Draco caiu de vez no mundo do Catarse. Em uma cruzada de praticamente uma campanha por mês, e todas elas bem sucedidas, a editora vem publicando grandes obras em diversos temas e gêneros. Batemos um papo com Raphael Fernandes, editor da Draco, já foi editor da MAD no Brasil, roteirista e um dos grandes “operários” do quadrinho nacional. Falamos sobre Catarse, sobre a Draco e sobre projetos futuros. Da editora e pessoal.

1 – Rapha, a Draco já andou por terrenos do Catarse no passado, mas em 2019 caiu de vez nessa estrada do financiamento coletivo. A campanha dupla de Cabra D’Água e a Peleja Contra os Gigantes e Opticus – Intervenções é a quinta do ano, como surgiu essa ideia de abraçar de vez a plataforma?

Raphael: Nosso principal objetivo como editora é alcançar o maior número de leitores com nossas histórias originais. Por isso, nós estamos nas grandes livrarias, na Amazon e em muitas das feiras de literatura, quadrinhos e cultura pop. Sentíamos que uma grande parcela do nosso público estava consumindo apenas nas plataformas de financiamento coletivo. Também percebemos que não é só uma questão de venda, mas de um conjunto de ações que apresentam o projeto da melhor maneira possível: vídeos, imagens, releases, muitas postagens etc. Tudo isso, ajuda a chegar em um número ainda maior de leitores. O financiamento coletivo é um caminho inevitável e o Catarse tem sido um grande parceiro.

2 – Quando se fala de Catarse, a gente sabe que é um “risco” que se corre. Do tipo se a campanha não for bem, se não chegar no planejado mesmo. Por exemplo, sabemos que o 100% é o top. Mas sabemos que podemos passar dessa marcar e ficar melhor ainda. Existe esse “receio” de não chegar? E se não chegar (vamos bater na madeira três vezes) tem um planejamento “coringa” para isso? Tipo uma reserva para completar a verba da campanha, ou algo assim?

Raphael: Depende muito, Ricardo! A real é que se o projeto não alcançar nem 50%, não faz sentido completar a grana. O Catarse nos ajuda a lançar as publicações com redução de riscos e também já com um número bacana de leitores de saída. Nós estamos no meio de uma crise editorial que deixou todas as editoras com problemas de caixa, as campanhas têm nos ajudado a sair dessa situação e conquistar novos leitores.

3 – Na Draco, vocês já estão bem carimbados na plataforma do Catarse, mesmo assim quando a campanha começa deve rolar aquele frio na barriga, do tipo “será que é esse o projeto correto para lançar agora?”. Como ocorre as escolhas dos projetos para irem nas campanhas?

Raphael: Para falar a verdade, quanto mais a gente faz, menos óbvio fica a produção e a escolha de um projeto. Por exemplo, nós tivemos relativa facilidade em arrecadar a meta mínima com as quatro primeiras obras, mas nessa campanha recente percebemos que não está tão fácil. A escolha das obras está relacionada com uma mistura de sua relevância cultural com o potencial de público da mesma. O frio na barriga vai do começo ao fim, acredite!

4 – Até agora, qual foi o projeto mais “tranquilo” que teve e o mais “tenebroso”?

Raphael: Eu ia dizer “Cyberpunk – Relatos recuperados de futuros proibidos”, mas só conseguimos bater as metas extras nos dois últimos dias. Para falar a verdade, nenhum deles foi tranquilo. Estamos seguindo um modelo muito próprio de campanha: 20 dias apenas, meta inicial baixa e o máximo de divulgação e buzz possível. Reduz o tempo do meio da campanha, mas torna todos os dias relevantes, não há descanso.

5 – Indo para Cabra D’Água e a Peleja Contra os Gigantes e Opticus – Intervenções… fale um pouco desses projetos, de como foi reunir o Airton e o Zanetic e o estalo de fazer um gibi de herói brazuca.

Raphael: Esses projetos estão em andamento há alguns anos! Trabalhamos com esses autores em diversas coletâneas e percebemos que era hora de lançar HQs de fôlego de ambos. Porém, com a crise do mercado, as obras coloridas foram sendo adiadas. Até que com o sucesso das outras campanhas no Catarse, percebi que era hora de colocar esse material pra rodar. Como as HQs tem certa sinergia e dividem um mesmo tipo de público, além dos caras serem amigos, acreditamos que poderia ser muito bacana juntar em uma mesma proposta. Por enquanto, tem dado muito certo!

6 – Está virando uma “tradição” do segundo semestre, uma onda de projetos de quadrinhos no Catarse. E todos os tipos de gêneros, alguns muito bons, outros nem tantos… às vezes acho que os leitores ficam meio que perdido em tanta coisa boa para apoiar. Essa onda de projetos é benéfica, mesmo sabendo que muitas pessoas têm que escolher qual projeto apoiar por causa de grana?

Raphael: Acredito que a onda é benéfica, mas cada campanha tem que trazer novos leitores e também incentivar que apoiem outros artistas. Nós fazemos parte da Coesão Independente, grupo de editoras indie que trabalham em conjunto, e nós ajudamos muito. Sinto que falta uma união maior dos autores de quadrinhos, mas uma boa parcela já colabora muito com as campanhas. E não falo de dinheiro, mas de divulgar o trabalho um do outro. Menos retroalimentação e mais troca de leitores.

7 – Eu pergunto benéfica do tipo: o Catarse é a melhor solução, a melhor forma ou é a forma que temos para publicarmos o que queremos?

Raphael: Sem dúvida, o Catarse é uma ótima plataforma de financiamento de um projeto. No entanto, a Draco sempre atua em diversas frentes: grandes livrarias, Amazon, comic shops e o próprio site da editora. Essa é uma das melhores formas de publicar, mas tem que ter outras cartas na manga.

8 – Saindo um pouco do Catarse, quais são os planos para o futuro da Draco?

Raphael: Estamos completando dez anos e lançando o máximo de coisas para celebrar com nossos leitores! Ainda haverá muitas surpresas, mas estamos esperando tudo ficar pronto para ir anunciando. Há até a possibilidade de uma festa. A agenda está muito cheia com CCXP, Horror Expo e Bienal do Livro do Rio! Alguns spoilers: as gangues estarão de volta, o treinamento só começou, parecia fantasia mas não era, uma estreia dramática, um épico sobre a guerra.

9 – E os planos do Raphael Fernandes? Quem te acompanha nas redes sociais, sabe que assunto é o que não falta para você. Teremos novos roteiros? Alguma coisa, quem sabe (vou dar uma dica se possível) relacionada ao rock? E o Fuzz Tarot, volta à ativa quando?

Raphael: AHHAHA! Gosto de produzir, me faz uma pessoa mais feliz! Estou sempre escrevendo novas histórias e no momento tenho trabalhado em alguns dos projetos da Draco pra 2020. No entanto, existe uma possibilidade de lançar uma ou duas HQs longas novas esse ano. Vai depender de alguns fatores, mas acredito ser plenamente possível. Sobre o rock, tenho um projeto, mas vai ficar pro futuro. Já sobre o Fuzz Tarot, só voltar será em outra plataforma que não o Instagram. Porém, continuo lendo tarot pra galera!

A campanha dupla de Cabra D’Água e a Peleja Contra os Gigantes e Opticus – Intervenções, já se encontra com 66% da meta alcançada. Para saber mais detalhes como valores, recompensas e claro para apoiar, clique AQUI.

 

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Sobre o Autor

Ricardo Ramos

Gibizeiro, escritor, jogador de games, cervejeiro, rockêro e pai da Melissa.

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