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“Fena: Pirate Princess” é uma bela e confusa mistura

A discussão de “piratas vs ninjas” é uma das mais antigas da internet, e já causou horas e horas de acalorados argumentos. Se me perguntarem, acredito que demorou até demais para termos um animê inteiro dedicado a responder esse questionamento.

Fruto de uma parceria entre a Crunchyroll e o Adult Swim, “Fena: Pirate Princess” é um animê original que estreou em Agosto na plataforma de streaming, e foi concluído recentemente com 12 episódios. Animado pelo estúdio Production I.G. e dirigido por Kazuto Nakazawa, o show foi inspirado por mangás shoujo” e possuía como objetivo “ser uma história de fantasia e romance, que não se preocupa em ser historicamente realista.

A sinopse e trailer do show, como apresentados pela Crunchyroll, seguem:

Fena Houtman se lembra pouco da sua infância. Orfã e criada como serva em um bordel, sua vida muda quando ela foge para uma ilha de piratas onde descobre a verdade por trás da sua família. Fena sendo a única capaz de desbloquear os segredos da sua família, e com um grupo formidável de piratas na sua cola, ela precisa assumir seu lugar como capitã de sua tripulação de Samurai para uma aventura em alto mar!

Falar de “Fena” é falar de visuais deslumbrantes, e qualquer comentário que diga menos que “espetacular” seria uma mentira. Do início ao fim, fomos presenteados com cenários desenhados a mão, baseados em diversas localidades históricas ao redor do mundo, trazendo uma imersão no tema de “aventura na era das navegações” de fazer inveja para muitos shows populares.

E não só os visuais, mas todas as partes artísticas do animê se mostraram como de alto nível e com uma consistência inacreditável: O design de personagens que deu um charme único para cada uma delas; a trilha e efeitos sonoros que se complementam perfeitamente com os visuais; a escolha e interpretação das vozes, que contou com um elenco de dubladores AAA; a coreografia das cenas de ação, que embora poucas, foram extremamente marcantes… O show se destaca positivamente como sendo um espetáculo técnico.

Visual da cidade de "Shangri-lá", em imagem utilizada na produção de "Fena: Pirate Princess"
“Shangri-lá”, apenas a primeira de muitas paisagens maravilhosas da série (Imagem cedida pela Crunchyroll)

Os problemas começam, porém, quando olhamos para o enredo. “Fena” parece ser uma obra com crise de identidade, que não consegue escolher o que quer ser ou qual rumo deseja tomar, e acaba ficando sem tempo para concluir sua trama quando finalmente se decide (se é que dá pra falar que uma decisão foi tomada).

No início, somos apresentados a um mundo incrível, com personagens de personalidade forte e com toda a parte artística supracitada como base. Terminei o primeiro episódio completamente boquiaberto, pronto para explorar os mares nessa história que parecia estar se moldando para ser uma jornada de auto-realização e de entendimento pessoal. Minha empolgação estava tão pra cima quanto o narizinho da Fena.

Captura de tela do episódio 8 de "Fena: Pirate Princess", mostrando Fena
Narizinho da Fena. É isso, essa é a legenda. (Reprodução: Crunchyroll)

Com o passar dos episódios, mais e mais elementos foram sendo adicionados, sem dar a chance para os anteriores se concretizarem ou serem explicados. Em pouco tempo, a trama já estava completamente perdida, com tantas coisas empilhadas que nenhuma delas conseguiu ser coerente. Acabamos com um monstro de Frankenstein, que juntou retalhos de diversos gêneros e bebeu de diversas fontes, mas não pensou na ética ou na consequência de seus atos. Eles estavam tão preocupados em saber se conseguiam, que não pararam pra pensar se deveriam.

Piadas à parte, a impressão que fica é que de duas, uma: Ou a produção foi muito ambiciosa, e precisava de pelo menos 24 episódios para explorar todos os pontos da salada de frutas que eles fizeram; ou a produção foi muito ingênua, e acreditou que conseguiria fazer sentido das ligações sem pé nem cabeça que inventaram com apenas 12 episódios. Um exemplo claro dessa linha de raciocínio são os próprios samurais que compõem a tripulação. Eles tiveram participações desiguais ao longo da série, e não sei dizer se os menos favorecidos seriam aprofundados se tivéssemos tempo para isso, ou se estavam lá apenas por estar desde o início.

Existe uma linha tênue entre o conceito de “ser misterioso e deixar as coisas no ar puramente pela estética do desconhecido“, e “não fazer absolutamente nenhum sentido“. E, embora consiga ficar no lado certo em alguns momentos, o animê acaba não apenas passando pro outro lado dessa linha em múltiplas ocasiões, como decide correr uma maratona além dela em sua conclusão.

Captura de tela do episódio 7 de "Fena: Pirate Princess", mostrando Fena e uma explosão ao fundo
Representação visual de como foi acompanhar a história do animê (Reprodução: Crunchyroll)

“Fena” não precisava ir tão longe, até porque ninguém estava esperando que fosse. O show precisava escolher se seria uma aventura mais pé-no-chão, focada em descobrir a história e o passado da protagonista, e como ela lidaria com essas descobertas… Ou se seria uma aventura fantástica, onde as personagens fossem apenas os veículos para nos mostrar a magia, que seria o verdadeiro ponto central. São duas visões completamente opostas, e justamente por isso, não funcionam quando unidas. E, pra mim, esse é o maior defeito do animê.

Com um embaraçado de temas, e pouco tempo para desembaraçá-los, “Fena: Pirate Princess” se perde em si mesmo e se torna uma mera experiência visual. Mas que os visuais são lindos, isso não dá pra negar. É um animê que entretê, mas que não possui substância, e por isso, minha nota pessoal e intransferível para ele é 2,5/5,0. Levemente decepcionado com a jornada que nunca me foi prometida, mas que eu achei que iria receber.

O animê está disponível na Crunchyroll, completo em doze episódios, e com legendas em português.

Por Vini Leonardi

Cavaquinho na roda de pagode da Torre. Químico de formação, blogueirinho por diversão e piadista de vocação. "Acredito que animês são a mídia perfeita para a comédia, e qualquer tentativa de fazer um show sério é um sacrilégio", respondeu ao ser questionado sobre o motivo de nunca ter visto Evangelion.

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