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Festival Guia dos Quadrinhos mostra crescimento em sua edição de 2018

Club Homs é um espaço localizado na Avenida Paulista com vários salões. Usado para casamentos, festas, exposições de cães e gatos… mas anualmente seu salão nobre que comporta quase 800 pessoas vira o festival de quadrinhos mais humano de São Paulo.

O Festival Guia dos Quadrinhos nasceu como Mercado de Pulgas. Basicamente um espaço para troca e venda de quadrinhos e derivados de colecionador para colecionador que surgiu em 2009 na livraria Devir, hoje conhecida como Terramedia. O evento foi batizado dessa forma pois na página do Guia dos Quadrinhos tinha uma seção com o mesmo nome e lá os colecionadores trocavam todos os tipos de quadrinhos pela internet. Pouco depois, virtual foi transposto para o real, assim as pessoas teriam que ir ao local para se conhecer e trocar as revistas. Já em sua segunda participação no festival, o colecionador e vendedor ocasional Alexandre Montandon se surpreendeu com “a quantidade de pessoas que gostam de quadrinho europeu. Neste meio quase todos gostam de super-herois. Mas vim ao evento com minha filha sem tantas expectativas e de repente comecei a descobrir pessoas que gostam, contam histórias e ainda compram os gibis”. Montandon arrecadou com suas vendas seis vezes mais do que investiu inicialmente para participar do festival.

Com o tempo, vieram lojistas, palestrantes, cosplayers… Hoje, temos no mesmo festival debates, concursos, ilustradores, leilões e lançamentos de livros organizados pela própria equipe do festival. Organizador do site Guia dos Quadrinhos e do evento, Edson Diogo conta que “À medida que [o evento] foi crescendo eu também achava que precisava de outras atrações para trazer mais público. Por isso começou a ter artistas, exposições… Esse ano mudei o lugar das exposições, temos a Comix ocupando um espaço muito maior e mais nobre, temos leilões de artes e revistas raras… coisa que já tinha no Mercado de Pulgas, mas como hoje há muitos leilões virtuais, é outra coisa que trouxe também para o [ambiente] real”.

Exposição sobre a Vertigo com curiosidades, capas e ilustrações presentes do livro lançado no evento

Leiloeiro já conhecido na internet, Marcelo Borba veio de Goiânia especialmente para participar do evento e organizou um encontro do Mania Comics, nome do grupo de venda e leilões que administra tanto no Facebook quanto no Whatsapp, a ideia de encontro surgiu dentro dos próprios grupos, que confecciona ram até uma camiseta especial para a celebração e cerca de 90% dos membros do grupo que combinaram de participar vieram ao evento. Após o FGdQ, o grupo planeja se encontrar em outros festivais, como o FIQ e a Comic Con Experience.

Marcelo Borbra (de cinza) e Edson Diogo (de preto) no festival. REPRODUÇÃO/Facebook

Além disso, Borba se encarregou de leiloar os produtos oferecidos pelo festival via coleta dos expositores. O leilão partiu de uma ideia sua repassada ao Edson Diogo, e considera que “99% do vendedor profissional de quadrinhos também é colecionador […] e o festival serve justamente para colocar essas pessoas cara a cara. Para colocar as pessoas de frente a frente, assim fomenta e acalora esse mercado. Tenho uma teoria que o mercado editorial hoje só está com todo esse acaloramento devido esse movimento independente de colecionadores e vendedores profissionais ou não nesses eventos de pequeno e médio porte. É aqui que está fazendo tudo acontecer”.

Como o foco do FGdQ é quadrinhos, selecionamos alguns dos lançamentos mais bacanas do festival:

Vertigo: Além do Limiar

Comemorando os 25 anos do selo adulto da DC Comics e em formato americano – menor que o livro de Jack Kirby, lançado no ano anterior – o livro Vertigo: Além do Limiar foi lançado com a presença de vários dos colaboradores da publicação presentes nos dois dias de evento. Com uma proposta diferente de Os Mundos de Jack Kirby, que reunia majoritariamente ilustrações, o livro da Vertigo também contou com entrevistas e depoimentos inéditos com autores e editores e a participação de escritores e jornalistas brasileiros, cada um escolhendo uma série da editora para fazer comentários, bastidores e/ou resenhas. À partir dos textos, os próprios escritores escolheram quem faria as ilustrações. Vários compraram o livro no evento, mas outros foram apenas retirá-lo, por terem participado da campanha de financiamento coletivo.

Dampyr

O primeiro volume da nova encarnação de Dampyr no Brasil foi publicado pela Editora 85. Com arrecadação pelo o Catarse, o Volume 4, em formato similar aos volumes originais da editora Bonelli e papel off-set, compilando as edições originais italianas de 13 à 16 com as aventuras do caçador de vampiros, todas inéditas no Brasil. As 12 edições anteriores, já publicadas pela Mythos Editora, serão republicadas nos Volumes de 1 a 3 no mesmo formato pela nova editora.

O licenciamento com a Bonelli foi definido já com uma lista de histórias pré-estabelecida, assim como o valor de capa e tiragem prevista. A proposta é inicialmente enviada à Panini italiana e depois para a Bonelli. Aprovada a proposta, o contrato é feito com o valor do licenciamento, que dá ao direito de publicar por um a dois anos o material e uma nova tiragem pode ser negociável. Leonardo Campos, atual editor brasileiro de Dampyr avisa que “pretende publicar, além dos 3 volumes anteriores, as edições, 5 e 6 sempre em formato original e com 4 histórias cada. A quantidade de histórias por volume foi escolhida por causa do financiamento coletivo, pois era necessário tempo de campanha, impressão, distribuição… e todo esse tempo para entregar apenas 100 páginas não é legal. Por isso optamos por uma uma edição mais encorpada”. Com quase 400 páginas, Dampyr custa R$39,90 e pode ser adquirido junto à própria editora via Amazon.

Demetrius Dante

Will também aproveitou o evento para lançar material novo: O terceiro número de Demetrius Dante, feito para comemorar os 10 anos do personagem. A ideia de impressão do gibi em azul e branco surgiu graças à sua esposa Mônica por combinar com o teor sobrenatural das histórias.

Para Will, já “virou tradição fazer um lançamento no festival. Os outros volumes de Demetrius Dante também foram lançados aqui e o terceiro não poderia ser diferente. Meu ritmo de produção, de fazer histórias, sempre acaba culminando com a época que acontece o festival. Gosto muito do FGdQ e o frequentava mesmo antes de produzir os gibis e é uma oportunidade que tento sempre aproveitar e lançar por aqui. Os três acabaram dando certo. É uma feliz coincidência porque gosto do evento“. Todos os volumes de Demetrius Dante, assim como outros quadrinhos do autor, podem ser adquiridos com o próprio Will.

Frauzio – Sapatos novos

Francisco Marcatti também já é um quadrinista costumeiro no FGdQ. Publicando suas HQs por conta própria, desta vez traz ao evento o mais recente número de Frauzio, seu personagem de quadrinhos escatológicos mais conhecido. Há 40 anos publicando histórias de forma independente, Marcatti lembra que suas publicações “começaram por amor e depois viraram teimosia. Meu trabalho é muito difícil, pesado e eu produzo muito. Nenhuma editora tem estômago para trabalhar com o que eu faço nem com a produção que eu tenho”.

Quadrinho para ele sempre foi uma obsessão. E considera um trunfo da produção independente o contato mais próximo com o leitor, além a cobrança pelos próximos lançamentos. Marcatti também considera fundamental que tenhamos várias feiras e eventos, mas que cada uma tenha suas características próprias, e cada uma exige uma seleção diferente de material para ser vendido. Este e vários outros quadrinhos de Marcatti estão à venda em seu próprio site.

 

O Festival Guia dos Quadrinhos promete voltar em 2019, sempre trazendo novidades aos colecionadores. Desde já aguardamos por novidades!

Por Marcus Santana

O que seria de nós sem quadrinhos?