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Folklore é um perfeito devaneio

O substantivo “folclore” tem como significado a reunião de de costumes e tradições de um povo que são contadas de forma oral, atravessando gerações. De origem inglesa, a palavra vem do termo “folklore”, que é também o título do oitavo álbum de estúdio de Taylor Swift.

Todos nós já tivemos contato com o folclore, histórias macabras, divertidas e cativantes. No nosso país, desde a infância ouvimos sobre o Saci Pererê, o Curupira, a Iara, a Mula Sem-Cabeça e tantos outros. Já em outros, há histórias sobre os mais diversos seres como, gnomos, duendes, fadas e fantasmas. É, de fato, algo universal. Porque boas histórias atravessam fronteiras e o tempo.

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Taylor surgiu no mundo da música country, há mais de 13 anos atrás, chamando atenção pela sua excelência artística como compositora. Ela era tão jovem, mas sabia como poucos escrever grandes canções. Com o passar dos anos, Swift se tornou um fenômeno global. Mergulhou de cabeça na música pop, vendeu mais de 80 milhões de discos no mundo todo e virou dona da segunda maior turnê feminina da história, ficando atrás somente de Madonna. 

Porém, a música pop é cheia de regras e estruturas a serem seguidas. O que podem fazer com que muitos artistas não consigam extrapolar certos limites devido a todo mercado em jogo. E Taylor sofreu com isso. É claro que com seu talento, ela conseguia escrever grandes hinos pop como “Style” ou “New Romantics”, mas ainda não havia encontrado o caminho certo para voltar a explorar todo o seu potencial enquanto compositora. Mas felizmente, ela agora o encontrou. 

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folklore é nada mais do que um álbum de histórias. E boas histórias. Taylor está contando e cantando sobre personagens que surgiram em seus devaneios, principalmente durante o isolamento social nos últimos meses. São perspectivas e experiências que vão além dela. 

Passeamos por narrativas cotidianas e até históricas. Há conto de uma viúva mal vista por sua cidade inteira, há homenagem aos profissionais da saúde que estão no combate a COVID-19 e principalmente, há histórias de relacionamentos. 

Swift compõe com toda maestria e sensibilidade de que se pode esperar de um compositor. Tudo é tão detalhado que, caso não soubéssemos que as histórias são de personagens, pensaríamos que seriam experiências da própria Taylor. Os pontos altos das composições estão nas faixas “the 1″, “exile”, ”epiphany” e nas já lendárias “cardigan”, “illict affairs” e “betty”, trio de músicas interligadas que contam uma só história: Um triângulo amoroso entre adolescentes e todos os seus pontos de vistas e nuances. 

A produção está no mesmo nível de qualidade quanto às composições. A maior parte das faixas são produzidas por Aaron Dessner, membro da banda The National. Aaron faz um excelente trabalho dentro do disco. Principalmente nas faixas “epiphany” (a música dedicada aos profissionais de saúde) que tem a melhor atmosfera do disco, ela é transcendente. E “exile”, parceria com Bon Iver, favorita a receber a coroa de melhor música do projeto com o passar do tempo.

Além disso, há na jogada Jack Antonoff, parceiro musical de longa data de Taylor. Jack tem fama de Rei Midas. Absolutamente tudo que ele produz, é ouro. (Ouça Melodrama de Lorde ou Masseduction de St. Vincent para entender isso). “august”, “mirrorball” e “betty”, única faixa produzida por Antonoff e Aaron, não deixam mentir esta afirmação. 

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Entretanto, há pontos que fazem com que folklore não consiga abraçar a completa perfeição, embora toque-a. Ter um álbum longo, de 16 faixas e 1h de duração é perigoso, ainda mais em um projeto que possuiu um conjunto de faixas maravilhosas. Algumas boas, mas não tão boas, acabam se perdendo no meio da curadoria. Isso quando não fazem o álbum soar massivo e cansativo, que é o caso de faixas como “the last great american dynasty”, “mad woman” e “hoax”. Que não são de todo mal, mas não fariam diferença se não estivessem ali. 

Há algumas faixas em folklore onde Taylor levemente flerta com elementos do experimentalismo, e é uma pena que seja de maneira tão simples. Talvez a cantora esteja guardando essa ideia para álbuns futuros quando acreditar que ela e seu público terá mais maturidade musical para tal coisa. Mas que é uma pena não explorar mais as faixas com sons “esquisitos” e longas durações de instrumental, isto é. “epiphany”, como já citado anteriormente, tem a melhor atmosfera do álbum, é uma faixa que poderia facilmente passar dos 6, 7, 8 minutos. E o próprio primeiro single, cardigan tem sons muito interessantes na parte final do seu instrumental que poderiam ser mais explorados. 

Por fim, folklore já nasce se consolidando um dos melhores álbuns do ano e quiçá, o melhor da carreira de Taylor Swift. Seus pequenos defeitos não são suficiente para descredibilizar toda sua qualidade e maturidade. Taylor finalmente achou sua redenção em entregar perfeitas composições na música pop, e ter flertado com o som alternativo foi essencial para isso. folklore fica melhor a cada nova reprodução, e por isso, parece que irá envelhecer como um bom vinho. Ou melhor, será repassado de geração em geração porque é isso que acontece com boas histórias, elas viram universais. 

Nota: 9.0/10

 

 

Por Pedro Alonso

Sou estudante do 2º período de Jornalismo e apaixonado por cultura pop. E assim como Justin Timberlake fez em seu 3º álbum de estúdio, estou vivendo minha 20/20 Experience.