Imagine um história em quadrinhos escrita por Stan Lee, ilustrada por Steve Ditko e finalizada pelo artista do movimento pop art, Andy Warhol. Assim nasce Homem-Aranha no Aranhaverso, uma das melhores animações da Sony Pictures Animation, moldando uma obra de arte animada usando elementos do amigão da vizinhança em sua composição cinematográfica.
Anunciada em 2015, originalmente a animação seria focada apenas em Miles Morales e em suas descobertas sobre seus poderes aracnídeos, que aparentemente, surgiram do nada. Alguns anos depois, a produtora revelou que Morales continuaria sendo o personagem principal do filme, mas que não seria o único escalador de paredes presente no longa, sendo acompanhando por mais cinco amigões da vizinhança durante a sua jornada heroica. Desta forma, borbulha um percurso sobre o real significado do cabeça de teia acerca de sua vasta e esplêndida mitologia.
Miles Morales é um jovem do Brooklyn, que se tornou o Homem-Aranha inspirado no legado de Peter Parker. Mas, em uma noite, ele é surpreendido com a presença de uma figura misteriosa, vestindo o traje do herói aracnídeo sob um sobretudo. A surpresa fica ainda maior quando Miles descobre a real indentidade do personagem, embarcando em uma aventura rumo à diversas realidades paralelas.
No Aranhaverso inova quando o assunto é trazer para os seus telespectadores um estilo animado próprio e revolucionário, que não economiza em utilizar efeitos visuais coloridos tirados direto dos quadrinhos, como os famosos balões de diálogos e pensamentos. Tanto o cenário quanto os personagens, são construídos com uma delicadeza e sutileza única, onde dão a impressão de que foram desenhados a mão, já que ambos possuem um traço oscilante em suas silhuetas.
Felizmente, o filme não poupa esforços em incluir easter eggs e referências por toda parte. Praticamente em todos os ângulos, existem pequenas alusões sobre a utopia do Homem-Aranha e de até mesmo, de outras figuras icônicas do universo Marvel, tendo uma mistura de emoções ao decorrer que esses pequenos fatores são mencionados, podendo tirar desde boas risadas até comoventes lágrimas daqueles que estiverem assistindo.
Um detalhe importantíssimo é a montagem do primeiro e segundo trailer, que vão desde cenas e diálogos falsos posicionados nos lugares errados, até grandes surpresas bem como extraordinárias participações especiais, que são mantidas em sigilo até o último segundo do material promocional da animação.
A trama se esforça em dar o seu melhor, mas acaba entregando apenas o básico e o necessário para que o público não se perca durante tantas menções internas. Simultaneamente, traz elementos já visto antes, a história engloba diversas informações inéditas, fazendo uma deliciosa mistura, na qual une os novos e velhos fãs do Homem-Aranha.
Mesmo deixando pontas para as suas duas continuações já confirmadas, a fábula desse primeiro longa é redonda, sem que precise se apoiar em outros elementos linguísticos para contar sua própria crônica. Tudo é construído de uma maneira mais natural e tranquila possível, não precisando acelerar sua atividade linguística com o objetivo de concluir uma meta imposta pelos diretores e roteiristas Phil Lord e Chris Miller. Ponto positivo.
Desde os primeiros até os últimos segundos, a narrativa é inteiramente cômica, com pequenas pitadas de drama. Diferente das outras animações convencionais, que sempre acabam caindo em piadas repetitivas e sem graças, aqui, a inovação é quem reina quanto o assunto é contar anedotas bem humoradas, nas quais mesmo que se distanciem do mundo real, muitas chacotas feitas pelos personagens abraçam problemas comuns da sociedade moderna na qual vivemos, com o intuito de tirar pelo menos 1% de graça da situação.
Cada personagem tem seu estilo e comportamento próprio. Começando com Miles Morales, a grande estrela da produção. O garoto é o típico adolescente que se sente forçado em viver em um mundo onde cada vez mais jovens são cobrados por aquilo que não são capazes de fazer, mas sim, por razões educacionais egoístas que sempre pensam em seu próprio benefício e não no bem estar do próximo, afinal, dons são extremamente inúteis para os centros educacionais mundiais. Duas críticas sociais são feitas usando o pensamento do personagem: a puberdade (descoberta de seus poderes) e a cobrança exacerbada.
Peter Parker é um homem que está atuando como herói há 22 anos, estando esgotado psicologicamente e fisicamente. Aqui, Parker está beirando os 40 anos de idade, mas continua com a mesma mentalidade juvenil de sempre, característica dos quadrinhos. Sua força de vontade em continuar e nunca deixar nada para trás é o que faz Peter continuar seguindo em frente, mesmo que sua possível depressão camuflada através de seu bom humor, tente o derrubar cada vez mais. Aqui, as almas de Tobey Maguire, Andrew Garfield e Tom Holland habitam apenas em um único corpo, que é o do mentor de Miles na animação. Uma bela homenagem para todos os atores que já passaram pelo teioso.
Rebeldia e pureza, são as melhores palavras que podem resumir Gwen Stacy, a Spider-Gwen. Mesmo tendo um olhar frustrante sobre determinadas situações, o otimismo sempre tenta tomar o coração da garota, já que faz de tudo para consolar e mostrar a realidade de fato para os seus amigos, que muitas vezes, ficam cegos por estarem habitando um universo diferente dos seus, fascinando-os durante toda a película.
Já, Peni Parker, Aranha-Noir e Porco-Aranha, são introduzidos no filme de uma maneira no tanto quanto repentina, dando a sensação que foram adicionados de última hora no roteiro. Mas isso não tira os seus brilhos pessoais, já que cada um conta com um estilo próprio de humor, que mesmo sendo feito as pressas, estão ali para impressionar e cativar os telespectadores.
O Rei do Crime é o típico vilão clichê que usufrui de seus dramas pessoais para criar toda uma atmosfera melodramática de um homem que, mesmo estando no mundo do crime, contém um pouco de amor e compaixão em seu coração por causa de sua família. Talvez isso seja um ponto negativo, pois além dos problemas citados, o ódio que Fisk mantém pelo cabeça de teia não é muito bem contextualizado.
É de se confessar, Homem-Aranha no Aranhaverso é lindo, emocionante, espetacular e todos os adjetivos benevolentes que existem nesse mundo. A Sony conseguiu se redimir com todos os seus erros cometidos no passado, pois ela entregou um belo pedido de desculpas para seus fãs. Aranhaverso é uma animação que ficará por muitos anos na história, colocando seu nome como um dos melhores filmes animados de todos os séculos.
Espero que tenham gostado, até a próxima e não se esqueçam, todos nós somos o Homem-Aranha.