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Impossível! Eles desconstruíram meu personagem! E agora?

Star Wars deixou de ser uma série de filmes há muito tempo. A saga se tornou uma paixão e as pessoas a tratam como um conhecido que elas viram crescer, principalmente os fãs mais antigos dela. Quando George Lucas tentou trazer novos aspectos visuais e narrativos com a trilogia prequel, os fãs rejeitaram. E o ciclo parece estar se repetindo com Star Wars: Os Últimos Jedi, o filme mostra aquilo que o fã não quer ver, mas sim, o que ele precisa ver.

Rian Johnson fez um filme ousado tanto em termos narrativos como conceituais e aproveitou para desconstruir o maior herói da saga: Luke Skywalker. Quando ele fez isso, ele tocou na ferida dos fãs, trouxe um personagem cansado e suscetível ao erro, muito diferente do jovem fazendeiro altruísta da trilogia anterior. Muitos estão dizendo por aí que Johnson arruinou a infância deles escrevendo o personagem desta forma. 

Essa situação me lembra bastante Batman vs Superman. Me arrisco a dizer que Os Últimos Jedi é o BvS de 2017. Zack Snyder já tinha mexido na ferida em 2013 fazendo com que o Superman quebrasse o pescoço do general Zod em O Homem de Aço. A revolta foi imediata também. Três anos depois, ele tocou ainda mais na ferida quando fez Kal-El se questionar se ele deveria continuar a proteger as pessoas ou se manter neutro em relação a isso. Além disso, ele apresentou um Batman cansado e sem paciência para criminosos. O resultado: As pessoas reclamaram ainda mais e agora temos um Universo DC sem ousadia, sem um toque diferente em relação aos outros filmes de super-heróis.

Outro dia passeando pela Internet encontrei um comentário muito interessante sobre Batman vs Superman que dizia o seguinte: “Neste filme, vemos a humanização de ícones. E rapidamente rejeitamos. Porque não conseguimos aceitar heróis que tem vontade-própria.” As pessoas enxergam Luke Skywalker, Batman e Superman, como seres perfeitos, sendo que se eles fossem realmente perfeitos, eles não seriam interessantes. Eles são tão humanos quanto nós.

Eles também são suscetíveis ao erro, à falha, ao fracasso, como todos nós. Abordar a realidade no cinema é errado, mas a verossimilhança é algo essencial na ficção. É o que realmente nos conecta com os personagens. Isso incomoda muitos, pois lidamos com tantos problemas, que quando vamos aos cinema, queremos relaxar e esquecer da realidade, não é errado querer escapismo leve e inocente, mas é errado querer uma personagem hoje com a personalidade de 40 anos atrás. Personagens de uma faceta não vivem para sempre, mas as de múltiplas, a elas pertencem seu lugar à eternidade no imaginário da cultura pop.

Por João Guilherme Fidelis

"Mas sabe de uma coisa ? Sentir raiva é fácil. Sentir ódio é fácil. Querer vingança e guardar rancor é fácil. Sorte sua, e minha que eu não gosto deste caminho. Eu simplesmente acredito que esse não é um caminho" - Superman (Action Comics #775)