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Kingsman: O Círculo Dourado é a boa e velha ação sem originalidade

Kingsman: O Círculo Dourado é a primeira continuação no currículo de Matthew Vaughn. A essência de toda a história da agência de espiões está nas mãos do diretor em seu jeito único de contá-la utilizando os mesmos elementos, narrativos e técnicos, do antecessor. Tudo é levado a uma escala maior, desde o divertimento até o próprio conflito, os personagens são mais carismáticos e próximos ao público, mas este novo filme demonstra um déficit na originalidade e um desgaste na direção de Vaughn.

Matthew Vaughn sabe fazer cenas de ação como ninguém. Exerce planos sequência com maestria, mescla cenas e cenários com os efeitos visuais, alterna entre planos gerais e planos mais fechados e deixa a trilha sonora altíssima para criar uma violência agradável aos olhos e ouvidos. Não há novidades aqui, o diretor aperta o botão “automático” e produz as mesmas cenas que já tínhamos visto antes. Apesar de suas boas ideias pautadas no exagero, não há uma sequência que aborde novos elementos que ainda não foram usados. O que mais chama atenção é, logo nos minutos iniciais, uma perseguição no melhor estilo Velozes e Furiosos, que nos conecta novamente com o universo e aos personagens principais.

Eggsy (Taron Egerton) e Merlin (Mark Strong) estão de volta e muito mais interessantes do que no primeiro. A química entre os atores evoluiu, os diálogos apresentam contrastes interessantes diante do amadurecimento de Merlin e das transformações na vida pessoal e profissional de Eggsy. Na trama principal, ambos são obrigados a encontrarem a filial americana, chamada Statesman, depois da destruição completa da Kingsman pela a organização criminosa Círculo Dourado, comandada por Juliane Moore.

Depois de todo o glamour britânico, entramos em território americano. A agência Statesman reúne um elenco de grande calibre, que tem um potencial desperdiçado. Jeff Bridges interpreta Champagne, uma interpretação parecida com a de Michael Caine, mas que quase não aparece na telona. Channing Tatum e Halle Berry também estão apagados, a participação de ambos é esquecível e servem mais como promessas para futuras sequências. Pedro Pascal é o único que se salva, o roteiro o requisita bastante, deixando-o confortável no papel. Seu desfecho não é o dos melhores, mas totalmente cabível com o que vai se construindo.

Juliane Moore é a antagonista principal da continuação. Interpreta Poppy, uma empresária desconhecida mundialmente que infecta vários tipos de drogas com um veneno mortal. Os planos e a própria atuação de Moore remetem a Samuel L. Jackson. A atriz não é tão presente e interessante como o ex-vilão Valentine, não exala nenhuma ameaça séria e, rapidamente, acaba caindo no clichê do próprio gênero. Os temas mais polêmicos e as cutucadas conhecidas de Vaughn estão relacionados à vilã, o presidente dos EUA e o combate contra as drogas são uma forma do diretor se expressar e tecer várias críticas em forma de ironia, deixando Poppy deslocada entre elas.

Passando pela Statesman até a vilã, o personagem que mais se destaca pela construção evolutiva do arco só podia ser Harry Hart. Colin Firth protagonizou O Serviço Secreto e ganhou a empatia do espectador.  Seu retorno não foi surpresa para ninguém, já que o marketing do filme estragou uma bombástica revelação em potencial. A justificativa para o seu retorno não atrapalha o background do agente. Todo o aprofundamento no psicológico do herói até o seu firme retorno é o ponto alto da história. Após essa fase de transição, Harry domina grande parte do filme para si mesmo.

Com a ação no automático e os personagens estabelecidos, o entretenimento é garantido pelo divertimento durante a sessão, mas como obra cinematográfica, essa continuação apresenta mais do mesmo, sem originalidade, além de alguns retrocessos. Soluções rasas e previsíveis, falas clichês e desfechos de subtramas preguiçosos. O timing cômico também incomoda (Elton John que o diga.). As piadas não funcionam e são excessivas, estragando completamente a seriedade de algumas partes. O uso da palavra fuck em metade das frases perde o impacto depois da terceira vez… O descompromisso com a lógica é aceitável até este atingir o roteiro e criar desequilíbrio na história longa e repetitiva.

Kingsman: O Círculo Dourado prova que Vaughn devia ter parado em O Serviço  Secreto. A sequência é divertida e funciona como um decente filme de ação, além de apresentar ótimas relações entre os personagens. Só que todos nós já vimos isso anteriormente, e o que seria uma excelente continuação, só ficou na mediocridade da boa continuação com várias oportunidades desperdiçadas, deixando no ar promessas empolgantes para o futuro da franquia.

Por Thiago Pinto

‘’E quando acabar de ler a matéria, terá minha permissão para sair’’

-Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012)