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Liga da Justiça: Uma carta de amor ao heroísmo

Logo em seus minutos iniciais, Liga da Justiça desponta como o filme mais maduro do DCEU até então, utilizando uma metalinguagem que vai da ansiedade e do medo sentido pela sociedade, extremamente presente em obras como o Senhor Milagre de Jack Kirby, até a falta de esperança proposital porém não aceita em Batman vs Superman em uma abertura extremamente dinâmica ao som de Everybody Knows. Essa aceleração, por um lado significa algo bom, pois tem um ritmo divertido de se acompanhar, por outro lado, significa algo ruim, pois com isso, temos personagens subdesenvolvidos. 

A sorte de Liga da Justiça é contar com a ótima direção de Zack Snyder, que continua emulando momentos tirados das páginas de quadrinhos, apresentando ótimos conceitos e com o carisma de todo o elenco. Todos podem ser mais esperançosos, mas não estão na mesma sintonia, são personalidades distintas. Batman (Ben Affleck) agora mais altruísta, porém com o sentimento de culpa, o mesmo com a Mulher-Maravilha (Gal Gadot) que precisa se reintegrar ao mundo e fazer parte de uma equipe novamente. A química existente entre os dois principais fundadores é perfeita e às vezes extremamente provocante, mas felizmente sem espaço para um romance desnecessário.

De todos os novatos, certamente o Ciborgue (Ray Fisher) é o personagem mais interessante, Chris Terrio e Joss Whedon conseguiram fazer o que Geoff Johns jamais conseguiu: Integrá-lo naturalmente ao grupo. Todo o arco “homem e máquina” é bem apresentado e se prova um membro extremamente útil. Flash (Ezra Miller) é o personagem que o DCEU precisava. É o alívio cômico e a chave perfeita para destravar o cadeado das audiências. Já Aquaman (Jason Momoa) é o membro menos interessante, mas consegue revitalizar o personagem com toda a personalidade de “lobo solitário”.

Liga da Justiça é um filme decidido, são poucos os momentos em que os heróis precisam brigar entre si e a aprender trabalhar em equipe (como um certo Liga da Justiça: Origem), eles compreendem que o mundo está passando por tempos sombrios e então eles simplesmente vão salvá-lo. É tão direto e não cai no clichê de “precisamos aprender a trabalhar em equipe”, eles já são uma equipe, apenas não sabem disso, mas trabalham como uma. Os eventos apenas acontecem e esse encurtamento se faz necessário para fugir de certos padrões do subgênero, porém provoca um certo vazio no espectador quanto diz a respeito de desenvolvimento de personagens, principalmente em relação ao Lobo da Estepe que melhora conforme a narrativa, mas não é o suficiente para alcançar o posto de bom vilão, mas funciona nas cenas de ação. Claro que o filme cai em algumas armadilhas do subgênero como piadas em momentos errados e uma trilha sonora extremamente genérica e entediante que prefere permanecer no passado composta por Danny Elfman

Definitivamente, a esperança está viva. 

Tudo o que envolve a figura do Superman funciona perfeitamente nesse filme, a situação do mundo após a sua morte, Martha e Lois Lane, o seu retorno e claro, o próprio Homem de Aço. Agora livre de dúvidas e da moralidade ambígua vista nos dois filmes anteriores, o Superman volta a ser aquilo que todos gostam e não apenas alguns: O escoteiro. A performance otimista, esperançosa e irreverente de Henry Cavill explora todo o seu potencial e fará com que qualquer fã do personagem cinema saia emocionado, tanto os fãs da versão idealizada por Snyder quanto aos fãs mais tradicionais . Na verdade, é difícil algum fã não se emocionar quando a equipe se une, ou quando certos momentos considerados galhofas os quais você pensava que jamais veria em uma tela grande acontecem. 

Liga da Justiça é um gibi amassado que você pega na banca, mas quando começa a folheá-lo e vê que é o único que resta, você simplesmente não quer esperar mais uma semana e voltar para comprá-lo em melhor estado, pois já está satisfeito o suficiente com o que tem em mãos e mal pode esperar pela próxima edição. É uma carta de amor ao heroísmo. 

 

Por João Guilherme Fidelis

"Mas sabe de uma coisa ? Sentir raiva é fácil. Sentir ódio é fácil. Querer vingança e guardar rancor é fácil. Sorte sua, e minha que eu não gosto deste caminho. Eu simplesmente acredito que esse não é um caminho" - Superman (Action Comics #775)