“A loucura é amarela!“
Os quadrinhos de terror sempre tiveram um público fiel, e algumas editoras conseguem trazer materiais de qualidade para os leitores. Uma dessas editoras é a Draco. Em 2015, ela lançou O Rei Amarelo em Quadrinhos uma coletânea de histórias baseado na obra de Robert W. Chambers (1865/1933). O Rei Amarelo é um livro de 1895 que consiste em uma série de contos baseados em uma fictícia peça de teatro que enlouquece todos que a leem até o fim. A obra ganhou um grande destaque durante a primeira temporada de True Detective.
Capitaneada por Raphael Fernandes, editor da Draco, O Rei Amarelo em Quadrinhos não explora apenas a peça criada por Chambers, as oito histórias remetem para tempos modernos e aumenta o leque do universo do autor. E como na obra original tem o foco na loucura, é esse segmento que dita as histórias desse volume. É a primeira coletânea das cores de terror. Como o título ela é focada no amarelo, a segunda coletânea, O Despertar do Cthulhu em Quadrinhos, baseada nos contos de H.P. Lovercraft tem o verde como cor predominante.
Confira as histórias:
Fantasmas na Máquina
Com roteiro e desenhos de Pedro Pedrada, a primeira história narra os problemas de uma modelo que sofre com a falta de autoestima e a bulimia. Mas se fingia de feliz nas redes sociais para as pessoas, até quando ela conhece Carcosa In. uma nova rede social que mostra que a vida dela é feliz, mesmo realidade sendo outra. Uma bela critica as diversas máscaras que existem em perfis na internet. A arte angustiante e o roteiro perturbador contribuem muito com o clima do conto.
A Boneca
Tiago P. Zanetic narra sobre o dia do nascimento da filha um líder de uma pequena comunidade Amish, recebe uma boneca de presente das pessoas que moram lá. É quando as coisas começam a dar errado no local e o preço para a salvação é bem caro. Os desenhos de LuCas Chewie é bem detalhado com pequenos elementos que podem nos fazer questionar alguns dos fatos. O destaque fica no uso do amarelo, com um pontilhado que dá a ideia de como a praga se espalha pelo ar ou como a loucura contamina o protagonista.
A Rainha de Amarelo
A história de Mauricio R. B. Campos têm como protagonista ninguém mais, ninguém menos do que o ícone Edgar Alan Poe. Durante a narrativa, paralelos entre as origens da peça com os últimos dias de Poe vão se misturando. É um passeio dentro da mitologia do Rei Amarelo sob olhar de Edgar Alan Poe. Os desenhos são de Péricles Ianuch.
Maldita Rotina
Com uma carreira bem-sucedida, um advogado é designado para cuidar da falência de uma empresa. Seria mais um dia normal, só que uma recomendação de livro-caixa tem de ser entregue nas mãos de seu cliente e não deve ser lido por mais ninguém. Mas a curiosidade nessa história é o estopim para toda trama e o advogado fica obcecado pela leitura. Aos poucos, o livro, vai minando a sanidade do protagonista. O escritor Airton Marinho narra com maestria a destruição da mente do protagonista e os traços de Marcos Caldas é uma atração incrível.
Caninos
O escritor Erik Avilez apresenta um texto com pitadas de conto de fadas sobre duas irmãs que moram em uma cabana na floresta que precisam levar comida para a avó que vive na outra extremidade da mata. Coisas como a relação conturbada das duas, o passado com o padrasto e um culto obscuro compõem a narrativa. A arte de André Freitas surfa por altos e baixos durante a história, mas mesmo assim é convincente e não diminui em nada a qualidade dela.
O Rei dos Ratos
Depois de se dado como desaparecido, um navio atraca no porto. Muito danificado e sem nenhum sinal de vida, um funcionário é obrigado a subir a bordo para explorar a embarcação, é quando encontra além de muitos ratos e um misterioso diário de um artista. É uma das mais perturbadoras do volume, com os desenhos sendo um dos pontos fortes. Com roteiro de Tiago Rech e arte de Victor Freundt.
Taxidermia Anímica
O conto de Rafael Levi apresenta um jovem ajudante de taxidermia que sonha em ser ator, e uma ele ganha uma oportunidade de participar de uma peça chamada O Rei Amarelo (credo)! Os resultados da sua investida não são os que ele esperava. Com desenhos de Samuel Bono, é a história é um terror clássico e a obra de Chambers marca mais presença no volume.
Medíocre
Não levando fé na fama da peça de teatro O Rei Amarelo, um crítico literário começa a ler a obra que está enlouquecendo todo mundo. A história brinca com o universo dos críticos com o uso de metalinguagem, com roteiro e excelente artes de Raphael Salimena, a loucura amarela é bem representada no conto que fecha o volume magistralmente.
O Rei Amarelo em Quadrinhos é mais uma prova de que os quadrinhos nacionais são sim de excelente qualidade e que temos artistas e estilos, por mais variados que sejam não devem nada para os gringos. As histórias são no geral muito boas e apesar de uma poder se destacar mais que a outra, elas ficam em no mesmo patamar. Bem alto por sinal. Por isso que a obra foi ganhadora do Troféu HQ Mix de 2016 na categoria “Melhor Publicação Mix”.
Com uma fantástica capa de João Pirolla e introdução de Carlos Orsi, O Rei Amarelo em Quadrinhos, é um produto perfeito com uma qualidade editorial impecável, que deixa feliz os fãs do gênero de terror como leitores de bons quadrinhos. O detalhe é que os trabalhos publicados nela foram escolhidas por meio de uma espécie de concurso. Méritos de Raphael Fernandes ao liderar a obra.
O Rei Amarelo em Quadrinhos têm formato 17 cm X 24 cm, papel couché, 164 páginas em preto, branco e amarelo e capa dura com verniz localizado em alguns pontos. Você pode conseguir seu exemplar clicando no banner abaixo.