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Love, Death & Robots Vol.2, a incompreensão da arte em sua pior forma

Desde o lançamento de seu primeiro volume, ‘Love, Death & Robots’ havia se tornado uma série querida pelos fãs apaixonados nas ideias e criações totalmente singulares da Netflix. Com isso, o anseio para seu segundo volume era estrondoso. Infelizmente, toda essa expectativa é quebrada, mas com classe.

Contando com apenas oito episódios, com sua duração mais longa de 18 minutos, é difícil explicar como essa temporada consegue decepcionar tanto, em comparação a  sua anterior. Mas uma coisa é clara, quase nada explorado aqui é memorável. Enquanto em sua última temporada tivemos ‘Os Três Robôs’, ‘A Testemunha’, ‘Boa Caçada’ e ‘Zima Blue’ – que são celebrados até hoje como uma das melhores produções da Netflix – nessa temporada temos apenas quatro episódios consideravelmente marcantes: ‘Esquadrão de extermínio’, ‘Snow no Deserto’, ‘A Grama Alta’ e ‘Pela Casa’. Os dois mais longos, e os dois mais visualmente bonitos e criativos.

Já os outros episódios, precisam de uma análise mais detalhada, mas todos têm sempre duas coisas em comum: Estilos visuais desagradáveis e em alguns pontos, psicologicamente repulsivo. E histórias que não se encaixam em uma narrativa nem um pouco sólida. Começando a falar por sua arte,  é um ponto extremamente delicado, já que muitos pensadores consideram a arte como algo que tem sua necessidade de incomodar – como diz o escultor Gormley: “(…) a arte que faz você se sentir cômodo provavelmente é artesanato, não arte” (ESTADÃO, 2008). Sim, a arte tem esse papel fundamental para passar uma mensagem, mas aqui não passa nada, vemos apenas estilos artísticos desproporcionais em momentos desnecessários e mal executados; a utilização exagerada de CGI e um simples vazio criativo. Se usarmos o exemplo do episódio da primeira temporada, ‘ZIMA BLUE’, entendemos o motivo de seus traços e animação, aqui é apenas algo jogado, qual o esforço da arte aqui? Um incômodo barato é a mesma coisa que uma diversão sem alma. Esse é o paradoxo do artista pretensioso.

Já no uso de CGI, isso fica claro no episódio ‘Gaiola de sobrevivência’, estrelado por Michael B. Jordan. Em momentos, você não consegue diferenciar se está vendo o ator na cena, ou se ele é um personagem virtual com gráficos de um videogame. Isso causa uma confusão mental totalmente desnecessária. E o episódio também não tem uma história nada convincente.

Felizmente, temos episódios que salvam o que foi quase perdido. Em história, temos ‘Snow no Deserto’, que lembra muito um universo de ‘Star Wars‘, caçadas intergalácticas e que realmente prende a atenção – e tem a fotografia mais bonita da temporada. ‘Esquadrão de extermínio’ é totalmente inspirado no universo revolucionário de Ridley Scott e Phillip K. Dick, ‘Blade Runner’, e traz uma discussão filosófica ao nível de sua maior referência (até visualmente temos semelhanças, como o mundo e a cena final de ‘Blade Runner 2049’).

 Já os episódios ‘Grama Alta’ e ‘Pela Casa’ conquistam por seu estilo de animação digno do nome de sua série. Vemos o uso de uma animação 3D que se parece com uma pintura em movimento, que ao mesmo tempo parece um stop-motion, é um mistério, igual a história apresentada aqui. Já em ‘Pela Casa’ vemos um claro stop-motion muito bem feito, cada detalhe e o uso da iluminação foi feito com maestria. Esses episódios mostram como a arte tem que ser usada, como ela funciona.

Em um geral, a transição entre polos no segundo volume de Love, Death & Robots é perceptível e triste, com uma primeira temporada tão promissora, é difícil não se decepcionar com o que apresentaram aqui. Talvez possa ter sido um corte de orçamento massivo, ou uma falta de atenção, ter perdido dez episódios talvez seja o que comprometeu a experimentação psicótica e harmônica que seus fãs queriam.

Nota final: 2/5 – Prata

Por Eduardo Kuntz Fazolin

"I dwell in Possibility" -Emily Dickinson

Graduado em Produção Audiovisual pela FAPCOM, amante de música estranha e gosto controverso para video-games. Meu amor em escrever sobre tudo isso, é o mesmo amor que Kanye sente por Kanye.