Séries

Narcos | Pablo Morre

Escrito por Ricardo Ramos

Quando a Netflix colocou Narcos no seu catálogo no dia 28/08/2015, a curiosidade foi grande em cima da série produzida pelo serviço de Streaming. Já conhecida por produzir programas de excelente qualidade como House of Cards, Demolidor e Sense8. Séries de todos os tipos, mas faltava algo focado nas Américas. E qual assunto melhor para se falar das Américas (além claro, que provoque o interesse dos executivos americanos) do que o tráfico de drogas? Pegue um tanto de violência, um país subdesenvolvido e a vida de uma das figuras mais famosas e controversas da história da America Latina. Pablo Escobar. Um homem que fez sua fama e fortuna no meio do tráfico, terrorismo e ousadia. Una isso a uma belíssima produção, com lindas tomadas de Medellín, excelente fotografia, um grande roteiro e Narcos nasceu e fez um grande sucesso. Nesse mesmo primeiro ano vimos Wagner Moura da vida a um Escobar em uma atuação fantástica, mesmo pesando críticas de alguns colombianos que achavam que deveria ter sido um ator natural do país no papel do Narcotraficante. Mas Wagner deu o tom certo ao personagem, e agradou a muitos. Principalmente a crítica estrangeira. Atuação essa que lhe rendeu uma indicação ao Globo de Ouro de Melhor Ator em Drama daquele ano. E se depender dessa segunda temporada, a próxima indicação já está garantida.

Wagner Moura da o tom certo para o seu Pablo Escobar.

No seu primeiro arco, a série tinha que mostrar para o que veio, e como já foi dito aqui antes o personagem é emblemático. José Padilha, idealizador da série, e sua equipe tinham a missão de mostrar um Escobar como ele era: bandido e bondoso quando queria ser. E conseguiu. Pablo Escobar virou assunto em várias rodas de amigos. Foi apresentado um Pablo Escobar no começo de sua carreira de narcotraficante. De como sua ousadia e total falta de pudor com as leis o levaram ao ponto de sétimo homem mais rico do mundo. Testemunhamos como uma organização se transformou em império com direito a mansões, jet skis, jatinhos particulares e a extravagância de um zoológico no quintal de casa. De como Escobar era ousado ao entrar em uma delegacia para afrontar um policial e ser fichado por isso, a vencer as eleições sendo considerado o “pai do povo”. A ataques terroristas com bombas em avião e tudo mais.  A primeira temporada acaba com Escobar fugindo da Catedral, prisão que ele mesmo construiu, se enfurnando para dentro da mata.

A família Escobar ganha um destaque maior nesse ano.

É sabido que na história, que quando Pablo Escobar do momento de sua fuga até a sua morte se passa um período de tempo de um ano e meio. Eis que entra a missão do segundo ano de Narcos. Contar essa história de um período curto de tempo. Eu me lembro que conversava com amigos sobre o futuro do programa . Palpites e previsões. Muitos me falavam que Escobar deve morrer logo no princípio da segunda temporada. Que ela deve começar a focar logo o Cartel de Cali. Bem, Padilha e sua equipe conseguiram de novo cumprir a missão. E cumpriram com total louvor. A segunda temporada é tão intensa quanto à primeira. Vemos novas forças surgindo. Temos o momento que Escobar se transforma em um estorvo para a Colômbia. Um problema tão grande que até parte do povo que lhe adorava, passou a odiá-lo e comemorou como uma conquista de Copa do Mundo a sua morte. Se antes tínhamos um Escobar mais visionário, focado nos negócios, em aumentar seu poder, com sua megalomania de se tornar um importante político colombiano. Agora temos um homem que está perdendo tudo que conquistou. Que está vendo seu império ruir ao redor. E temos um Escobar mais família. A sua convivência com a esposa e os filhos é muito mais explorada agora, quando se levanta a questão de como sua presença pode prejudicá-los.

Ainda que use de licença poética em alguns momentos, Narcos é um retrato bem fiel dos acontecimentos da vida de Pablo Escobar.

Escobar tem um discurso que em alguns momentos você poderia pensar que ele está certo. Que as coisas que ele faz são, e de certo modo eram, por amor a sua família. Mas a própria série faz questão de nos trazer para a realidade das palavras que saem daquela boca e nos mostra a verdadeira face do narcotraficante. Quando a série mescla imagens fictícias com as reais de telejornais da época noticiando os atos criminosos de Escobar é o soco no estomago que lhe mostra essa verdadeira face. E essa viagem de chegar a apoiar utopicamente e voltar à terra da realidade dura, acontece e funciona diversas vezes, de um modo que o telespectador nem percebe. Mas quando está dando por si, o personagem que era carismático e emblemático cria certa empatia, e você já está torcendo para que ele seja logo morto. Mas quando acontece, você se sente meio que um vazio. E chega meio que lamentar. Mas isso não é por causa da pessoa Pablo Escobar. E sim pelo ator que está na pele dele.

Um Pablo Escobar que vê o império ruir ao seu redor.

Wagner Moura mais uma vez o ator dá um banho com seu Pablo Escobar. O jeito calmo e tranqüilo de falar, ou nos momentos de explosão do personagem são bem dosados e funcionais. Temos um Pablo Escobar mais melancólico do que era no primeiro ano. E tão forte e fascinante que Wagner consegue vender a proposta do personagem, coloca o publico no bolso e o leva junto com ele. Como esse segundo arco trata de um período, mas curto da história do personagem, Wagner Moura tem espaço para brilhar e destilar todo seu talento. Seria exagero falar que ele leva a série nas costas? Sim e Não. Sim porque, sua atuação é um espetáculo a parte, se na primeira temporada existiram críticas, na minha opinião exageradas, por questão do seu sotaque, agora o ator joga qualquer desconfiança por terra de vez, e de quebra a enterra. E não, ele não leva a série sozinha nas costas porque é um grande espetáculo de belas tomadas como foi característico no primeiro ano. As cenas de perseguições nas vielas, becos e ruas no bairro são incríveis. A carga dramática dos personagens ao serem executados, muito auxiliados com o jogo de ângulos, nos deixa com certo desconforto. Narcos é uma série bem dirigida e produzida, com o selo Netflix de qualidade, e Wagner é a cereja no topo desse bolo. Esse conjunto funciona muito bem.

Justiça seja feita que temos também outras atuações de destaque em Narcos. Boyd Holbrook e Pedro Pascal que estão muito bem como os agentes da DEA, respectivamente, Steve Murphy e Javier Peña. Esse ultimo tem uma carga dramática muito maior nesse arco. Paulina Gaitan, que faz a Tata, esposa de Pablo Escobar, é uma grata surpresa que essa temporada nos traz. Junto com a esporrenta e caricata Judy Moncada interpretada por Cristina Umaña.

Boyd Holbrook e Pedro Pascal retornam aos seus papéis na série.

A direção de Narcos ficou a cargo de três cineastas que se dividem nos episódios: Gerardo Naranjo, Andrés Baiz e Josef Kubota Wladyka. O trabalho de Baiz nos dois últimos episódios é incrível.

Narcos tanto na primeira quanto na segunda temporada sempre teve uma missão, e para uma terceira, se houver a renovação, também terá. E uma missão que será a mais difícil até então. Encontrar o antagonista tão forte ou parecido com o Pablo Escobar de Wagner Moura. E com uma atuação tão impecável também. José Padilha já disse diversas vezes que a série nunca se tratou só de Escobar, e que tem muitas historias a serem contadas. A série terá que dar uma repaginada e inovar dentro do seu próprio mundo. E pelo produto da qualidade que é, espero que consiga.

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Sobre o Autor

Ricardo Ramos

Gibizeiro, escritor, jogador de games, cervejeiro, rockêro e pai da Melissa.

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