Existem dois tipos de silêncio ao deixar uma sala de cinema: O negativo, de desinteresse em relação ao que foi assistido, aquele constrangedor o qual não procura sequer, buscar pela mensagem transmitida. E o positivo, de impacto em relação ao que foi testemunhado, não apenas assistido, aquele silêncio, o qual faz perder nos seus próprios pensamentos e sentimentos, remoendo e refletindo até a hora de voltar para casa. Nasce Uma Estrela definitivamente se enquadra na segunda opção. O remake deste clássico, é poético, emocionante e arrebatador.
A alma do filme está nos protagonistas, verdadeiros lados opostos de uma mesma moeda, também conhecida como arte. De um lado, temos Jackson, um músico bem sucedido e com vários problemas envolvendo drogas. Do outro lado, temos Ally, uma jovem garçonete tímida com o sonho de se tornar uma cantora. O acaso entrelaça o destino dos dois e uma linda história de amor começa. Ela progride alcançando o sucesso , enquanto ele afunda nas drogas.
Nasce Uma Estrela é um filme sobre sucesso e lama. As duas concepções são exploradas de forma extrema durante a narrativa. Qual o preço do sucesso? Perder sua identidade e originalidade em prol daquilo que as pessoas anseiam, ou ser autêntico, ter algo a dizer, mas não ser compreendido? Há uma discussão sobre subjetividade e liberdade artística muito grande aqui. Até onde podemos afundar? É possível se reerguer? Se sim, como? Nasce Uma Estrela não apenas tece comentários sobre a indústria do entretenimento, seu principal pilar está no romance, na história de amor entre dois personagens com problemas diferentes, doando-se um ao outro no decorrer da narrativa.
Devoção e entrega, são dois adjetivos para descrever a química existente entre Lady Gaga, entregando uma personagem sonhadora, o lado mais positivo do filme e Bradley Cooper, entregando um personagem melancólico e problemático, sendo impossível determinar quando o personagem se encontra em seus momentos de sobriedade ou alucinação, a dupla é excelente, mas Cooper é quem definitivamente entrará na corrida do Oscar e arrancará as lágrimas da audiência com sua poderosíssima atuação e direção.
Este é o primeiro filme dirigido pelo ator e ele, sinceramente, não aparenta ser tão novato assim. Priorizando o silêncio, closes e movimentos de câmera agitados, Cooper traz um filme o qual parece ter vida, pulsando constantemente. Os momentos de maior destaque com certeza residem nas cenas envolvendo shows, com uma grande quantidade de flashes em cima dos personagens, neste sentido de dar vida ao filme, a edição de som, também é perfeita, assistir a obra na tela grande, é como assistir o seu músico favorito ao vivo, mas sob uma perspectiva muito mais pessoal.
Falando em perfeição, o aspecto mais poderoso e o qual será levado pelo espectador após o final da projeção, é a trilha sonora, a qual não apenas é literalmente “música para os ouvidos”, mas tem um propósito gigantesco dentro da narrativa e nos dizeres dos seus personagens.
É muito cedo para afirmar se esta versão de Nasce Uma Estrela é realmente um clássico, mas é um daqueles dramas sobre sucesso e lama o qual definitivamente merece seu ingresso e algumas indicações ao Oscar.
“Maybe it’s time to let the old ways die.”