Star Trek, a genial franquia criada por Gene Roddenberry em 1966, permanece um clássico da ficção-científica e do entretenimento, sendo reinventada constantemente com novos shows e produtos alternativos. Em 2009 a nova franquia cinematográfica dirigida por J. J. Abrams foi iniciada, contando atualmente com uma trilogia e uma série em quadrinhos produzida pela IDW desde 2011, que a Mythos Editora trouxe ao Brasil em um encadernado de luxo que respeita o legado e a mitologia deste universo e entrega histórias muito boas, ágeis e com ótimos diálogos.
A chamada Linha Temporal Kelvin, batizada assim pela CBS, refere-se à cronologia moderna de Star Trek, a linha do tempo que se passa em uma realidade alternativa à do seriado clássico. Kirk, McCoy, Spock, Uhura, Sulu, Chekov e tantos outros personagens existem nesta nova realidade com suas características típicas mantidas, porém com alguns detalhes alterados.
Em 2013 o filme Além da Escuridão estreou nos cinemas, recriando a história do clássico longa A Ira de Khan com diversas alterações, modernizando o conceito para uma nova geração. Nos Domínios da Escuridão, o encadernado lançado no Brasil em comemoração aos 50 anos da série e aqui resenhado, está situado logo após os acontecimentos do segundo filme, onde foram explorados os Klingons, a Seção 31 e a tensão na galáxia com relação aos Romulanos – utilizados no primeiro filme – e seus objetivos escusos.
As histórias apresentadas nesta compilação funcionam como continuações diretas do longa e respeitam não somente as características pré-estabelecidas desta linha temporal como também prestam diversas homenagens ao material clássico. O primeiro arco, focado no ritual vulcano do Pon Farr, é uma recriação do cultuado primeiro episódio da segunda temporada da série clássica, Tempo de Loucura, onde o ritual de acasalamento vulcano é explorado através das necessidades biológicas de Spock. Inserindo a ideia nos acontecimentos desta realidade, o texto de Mike Johnson (Superman, Supergirl) faz com maestria o difícil trabalho de costurar uma trama significativa para os personagens com os acontecimentos paralelos, que descambam em um arco de batalha – física e política – logo após a primeira aventura.
O Spock da Linha Kelvin, é importante ressaltar, não concluiu o ritual do Kolinahr, que visa expurgar todo e qualquer resquício de emoção da mente de um vulcano. Com isso, seu ritual do Pon Farr difere-se significativamente do realizado pelo Spock da Linha Clássica, mantendo as características mais emotivas e quase sexuais deste vulcano. Sua relação com Uhura é mantida, e a Carol Marcus, apresentada no segundo filme, também é utilizada como elenco de apoio.
Se não bastasse a referência direta a este clássico da franquia, em sequência uma história curta traz de volta os répteis humanoides Gorns, vilões conhecidos que surgiram no episódio Arena, décimo oitavo da primeira temporada da série original, onde Kirk protagoniza uma das lutas mais memoráveis (seja lá em qual sentido) de toda sua carreira. Sempre respeitando o cânone e modernizando os conceitos, ideias que se aplicam também às criaturas do universo.
Os desenhos ficam a cargo de Erfan Fajar e Claudia Balboni, que apesar da simplicidade narrativa, entregam uma fidelidade cinematográfica às feições de cada um dos personagens e detalhes dos cenários. Com os acontecimentos descambando para a trama maior, que engloba Klingons, Romulanos, a Seção 31 e a Federação, o grupo de Kirk se vê preso em uma guerra onde três lados lutam por motivos distintos, e a tripulação da Enterprise deve se adequar ao que for acontecendo para salvar quantas vidas estiverem ao seu alcance.
A Seção 31 é uma clássica organização que foge dos padrões éticos da Frota Estelar visando a defesa da Terra, e fora utilizada também como vilões centrais da história de Além da Escuridão. Com isso, todos os acontecimentos destas aventuras (que são canônicas e supervisionadas por Roberto Orci, consultor de tramas) fecham pontas soltas do longa de 2013, complementando a experiência como um universo expandido deve fazer como objetivo primário.
Nos Domínios da Escuridão apresenta o que há de melhor na nova franquia de Star Trek: ação, ótimos diálogos, caracterizações fidedignas ao material original e um visual deslumbrante, sem limitações orçamentárias típicas das séries mais antigas.
O bom material presente nesta compilação faz parte de uma longeva série publicada nos EUA há alguns anos, que com a ajuda do público consumidor brasileiro pode ser trazida pela editora Mythos através de encadernados, enchendo as livrarias com materiais essenciais para os trekkies de plantão, audaciosamente indo onde nenhum quadrinho jamais esteve.
Star Trek: Nos Domínos da Escuridão possui 208 páginas encadernadas em capa dura no formato 26,8 x 17,4 cm, com preço de capa de R$ 79,90.