É muito difícil começar a falar de O Esquadrão Suicida sem comentar brevemente sobre o fiasco dirigido por David Ayer em 2016. Sendo, ou não, culpa do estúdio por limitar o diretor, é de conhecimento geral que o filme não agradou o público por diversos fatores: uma trama medíocre, um fraco desenvolvimento da equipe, o Coringa de Jared Leto e a cena vergonhosa da boate, um plot totalmente sem sentido, dentre outros. O título por si só não caiu no esquecimento do público, sendo alvo de piadas e críticas até hoje por conta de seu potencial desperdiçado em uma direção fraca que não caminha para lugar nenhum – nem mesmo dentro do universo estabelecido. No fim das contas, serviu apenas para alavancar a personagem de Margot Robbie.
Para limpar a imagem deixada pelo título de 2016, apostaram em James Gunn para dirigir o soft reboot da equipe. Como resultado vemos um trabalho executado com maestria e aproveitando todo o potencial, não só da equipe como também da criatividade do diretor sem interferência externa, com controle absoluto tanto na direção como no roteiro.
Quando digo que o longa é um soft reboot é porque o mesmo apresenta, mesmo que poucos, elementos que indicam continuação do título de 2016 e adiciona novos que alteram alguns aspectos dos personagens e servem para desenvolver bem mais suas personalidades. De certa forma este é um novo começo para a equipe, e que belo renascimento!
Enfim, na trama a equipe é enviada para Corto Maltese por Amanda Waller com a missão de destruir uma instalação construída na época dos nazistas, responsável por ser palco de experiências bizarras. Logo, somos introduzidos ao vilão da trama – que já foi revelado em alguns spots. O argumento por si só é simples mas funciona de forma bela e prova que o básico, quando bem trabalhado, pode beirar a perfeição. Neste caso, Gunn utiliza seus elementos já conhecidos, sem censura, e se inspira em filmes de ação dos anos 80 para desenvolver a trama da melhor forma possível durante a execução do longa.
Durante sua exibição, a história se desenrola da mesma forma que o anterior mas sem cometer os mesmos erros: se inicia com Amanda Waller convocando os membros da equipe e com Rick Flagg detalhando a missão em uma montagem incrível presente nos primeiros dez minutos frenéticos do título. Após isso, a história é exibida sem se levar a sério e apostando em sequências de ação extremamente violentas e sem censura, no humor ácido e em momentos sem sentido que funcionam perfeitamente.
Quanto aos personagens, o núcleo principal composto por Flagg, Arlequina, Nanaue (Tubarão Rei), Caça-Ratos 2, Bolinha, Sanguinário e Pacificador são bem desenvolvidos ao longo da trama e interagem com brilhantismo entre si. No fim o carisma e as características de cada um cativam o telespectador.
Cada personagem tem sua função e seu drama pessoal explorado em tela, e em particular o drama da Caça-Ratos 2 (interpretada pela atriz portuguesa Daniela Melchior) e o do Sanguinário (Idris Elba) faz com que a relação dos dois se aproxime bem mais e crie um vínculo natural – fazendo com que o plot do longa de 2016 onde El Diablo salva sua equipe afirmando que ela é sua família se torne mais ridículo do que já foi na época. Neste, de fato há uma relação formada pelo desenvolvimento ao decorrer da trama.
Além disso, a Arlequina de Margot Robbie se apresenta mais emancipada do que foi, até mesmo, em seu filme solo: sendo a melhor interpretação da atriz com a personagem, na minha opinião. Nanaue ocupa o espaço que Groot ocupou em Guardiões da Galáxia, enquanto o Pacificador de John Cena prepara o terreno para sua série solo na HBO Max com seu comportamento boomer e típico de um protagonista presente em um clássico de ação brucutu. E, novamente, Viola Davis entrega uma Amanda Waller perfeita.
O ponto alto do filme é a forma como James Gunn trabalha toda a ação e desenvolve a trama ao redor do humor ácido e da violência sem medo de parecer ridículo, utilizando figurinos espalhafatosos inspirados diretamente nos visuais dos quadrinhos e alguns elementos cartunescos semelhantes aos de Hulk do Ang Lee e de Scott Pilgrim que fazem com que o telespectador se sinta lendo um quadrinho durante a exibição. Todos os elementos se casam de forma perfeita e em total harmonia, tanto entre si como com a equipe e os personagens em si, fazendo com que as duas horas de longa passem despercebidas e com que o telespectador deseje mais após seu término.
Por fim, o único ponto negativo acaba envolvendo também a Arlequina. No segundo ato do longa, a mesma apresenta um arco que, por mais que tenha como principal função desenvolver a personagem e mostrar seu psicológico – e até mesmo emancipar mais a mesma, quebra um pouco do clima frenético que o primeiro ato e parte do segundo apresentam até então. Após isso, o longa volta a ter o mesmo clima que se segue até o fim.
Então, é bom?
Bom, é inegável que a equipe e o diretor cumpriram sua missão de forma excelente: com uma trama simples, sem medo de utilizar elementos cartunescos e figurinos extravagantes diretamente inspirados nas HQs clássicas da equipe, O Esquadrão Suicida de James Gunn mostra que ainda há salvação para o universo cinematográfico da DC nos cinemas – para isto, basta colocar as produções da casa nas mãos dos diretores certos e se ter um planejamento adequado.
Gunn entrega não só um presente aos fãs da DC como também esperança para o futuro das produções, mostrando o verdadeiro potencial da equipe nas telas. Divertido do início ao fim, O Esquadrão Suicida consegue se consagrar como o melhor filme da produtora lançado nesses últimos anos.
O Esquadrão Suicida chega amanhã, dia 5 de Agosto, nos cinemas.
Nota: 4.5/5