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O futuro do isekai e “My Next Life as a Villainess”

Tá todo mundo de saco cheio de isekai. Ninguém aguenta mais um show que começa com um adolescente sendo atropelado por um caminhão ou acordando num campo gramado com os braços abertos. Mas mesmo assim, se você olhar os últimos lançamentos, verá que a taxa de isekai por metro quadrado está igual ao desmatamento da amazônia: crescendo descontroladamente. Como? E principalmente… por quê?

Pensando no histórico do “gênero”, vemos que desde o seu boom alguns anos atrás, a fórmula funcionou e foi divertida pelas primeiras quinhentas repetições. Depois disso, passou a ser mais do mesmo. Hoje em dia, temos um isekai tradicional que estoura por ano, e olhe lá. São casos de séries que já possuem uma base forte, seja de temporadas anteriores ou de leitores da obra original. Re:Zero e The Rising of The Shield Hero são alguns exemplos recentes.

Eu nunca vou esquecer da Emilia Snowboard… Obrigado, Re:Zero.

A partir disso, podemos ter dois caminhos: ou continuamos martelando o prego que já tá mais do que enfiado na parede, e fazemos uma dúzia de shows que são tão medíocres que acabam sendo esquecidos em questão de semanas (lembram de “Isekai Cheat Magician” ou de “The Master of Ragnarok & Blesser of Einherjar“? Nem eu). Ou… tiramos sarro do gênero, tentando fazer com que a sua premissa seja tão absurda que se torne difícil de esquecer.

Paródias sempre existem, mesmo quando algo ainda está em seu ápice (como KonoSuba, por exemplo), mas o nível começa a cair de uma forma absurda, assim que a saturação começa a ser atingida. Que tal um isekai, mas se você tivesse um celular? E se você fosse para um isekai, mas fosse reencarnado como um slime? Ou pior, ir parar em um isekai com a sua mãe?

Aiai… um isekai com a sua mãe… isso é tão besta… aiai…

Atingimos o ápice do isekai quando percebemos que ele se dá melhor quando não se leva a sério, e que deveríamos usar a sua saturação como mais uma forma de humor. Afinal, a repetição é o primeiro e o segundo princípio da comédia, não é?

Em “My Next Life as a Villainess: All Routes Leads to Doom!“, temos mais um caso – brilhante, aliás – de premissa absurda usada para o humor. Shows onde a personagem principal se vê num mundo de videogame são um dos isekais mais clássicos que temos (podendo citar o nosso queridinho Sword Art Online). Dar uma reviravolta no básico ao dar o papel de vilã para a protagonista não seria o bastante, afinal, shows como Overlord já fizeram isso antes. Precisávamos ir além, precisávamos enfiar ainda mais o pé na jaca.

Apesar do forte uso do tema para gerar humor – afinal, termos uma vilã desesperadamente tentando evitar a sua inevitável morte já parece tema o suficiente para muitas piadas – o show ainda tem qualidades que o seguram de pé por conta própria, como o carisma acidental da protagonista Catarina, ou seu charmoso intelecto negativo. Você se diverte e dá risadas por conta da premissa absurda de um isekai charlatão, e também por outros motivos. Se isso não é o ideal para uma comédia, eu não sei o que é.

E esse é justamente o ponto que eu queria tocar: o novo padrão de isekais deveria ser esse. Deveríamos fazer todo isekai ser mil vezes mais absurdo do que o anterior. Deveríamos forçar a barra de uma forma que ela já se transforme em uma mola. É a única forma de aguentar a repetição absurda que o gênero impôs sobre o universo de animês. Até uma hora que vão resolver parar, assim do nada. Lembra dos Haréns Escolares Mágicos Genéricos, que plagueavam todas as temporadas da primeira metade dos anos 2010? Pois é.

Mas, comentando um pouco mais sobre a patrona dessa postagem, acho que “My Next Life as a Villainess” merece alguns tapinhas nas costas pela sua execução. Não é fácil fazer uma comédia que não se leva a sério e conseguir ter uma história coesa e ter suas personagens plausíveis e realistas (dentro do limite permitido pelo absurdo, é claro).
Mesmo a protagonista, que carrega o fardo cômico inteiro nas costas, e que possui como um de seus principais atributos a sua falta de noção, consegue ser mostrada como tendo objetivos e aspirações claras e que refletem no desenvolvimento da história… Mesmo que isso seja feito através de um conselho de mini-Catarinas mentais.

Seja lá quem inventou a piada de miniaturas controlando a mente de uma pessoa, muito obrigado!

O absurdo se une ao bobo e conseguimos um show que me fez rir horrores nos oito episódios já disponíveis, e me deixou ansioso por mais. Nesse mini primeiras impressões, escondido no fundo de uma resenha de buteco, gostaria de dizer que “My Next Life as a Villainess” receberia um 4/5 se eu tivesse começado a assisti-lo um mês atrás. E recomendo que você não faça como eu, e assista esse show o quanto antes.

My Next Life as a Villainess: All Routes Leads to Doom!” está disponível na plataforma de streaming Crunchyroll, com oito episódios disponíveis até o momento, e um novo episódio todos os sábados.

Por Vini Leonardi

Cavaquinho na roda de pagode da Torre. Químico de formação, blogueirinho por diversão e piadista de vocação. "Acredito que animês são a mídia perfeita para a comédia, e qualquer tentativa de fazer um show sério é um sacrilégio", respondeu ao ser questionado sobre o motivo de nunca ter visto Evangelion.