No passado, já deixei duas coisas bem claras sobre mim: a primeira é que eu amo comédias, e a segunda, é que eu sou o famoso Químico da USP™. Então, quando vi que fariam uma comédia estrelando cientistas… Inicialmente tive alguns traumas mentais. Mas quando botei o pré-conceito do Bazzinga de lado, dei de cara com uma enorme surpresa. É justamente quando você imagina que já inventaram tudo quanto é possível, que você é pego desprevenido por algo que nunca estava esperando. O terceiro princípio da comédia pode ser aplicado tanto para o show em si, quanto para sua premissa.
SciLove (que eu abreviarei por preguiça) é tudo aquilo que uma comédia deveria se inspirar. Por ser o mais puro suco de desgraçamento mental que eu vi nos últimos tempos, englobando tanto a normalização do absurdo quanto o clássico Manzai na sua fórmula de RomCom, o show consegue agradar um público bem vasto de admiradores do humor.
Porém, acredito que o animê seja especialmente tragicômico para quem está familiarizado com a temática e ambientação dele: a pesquisa científica universitária. O choque de realidade foi tão grande que chegou a dar um aperto no coração, pois mesmo sendo de áreas diferentes (no show, eles são das Ciências da Computação, enquanto eu trabalho com Química), parece que todo laboratório é igual, né… Os mestrandos e doutorandos discutindo temas completamente tangentes ao trabalho; os graduandos perdidos e sem saber o que fazer da vida; o orientador – e responsável pelo laboratório – não dando as caras por dias; literalmente todo mundo usando o espaço do laboratório para tomar café e jogar joguinhos ao invés de fazer algo útil…
São detalhes que podem passar como piadas – e muito provavelmente são, mesmo! – mas que, como toda piada, têm um fundinho de verdade.
Outro ponto que o show trabalha magistralmente é a (sub)utilização de conhecimentos científicos. Já cheguei a ter crises em outras postagens por conta do maldito Gato de Schrödinger sendo citado erroneamente em tudo quanto é obra pseudo-cult, e quando SciLove parafraseou Pitágoras em seus primeiros VINTE SEGUNDOS, eu estava preparado para o pior. Felizmente, eles parecem saber o que estão fazendo desta vez, e tem até uma pequena esquete todo episódio onde um ursinho de pelúcia te ensina algum termo técnico na base da porrada.
E mesmo quando eles cometem algum erro teórico ou abusam um pouco da boa vontade da audiência, fica tudo dentro da licença poética e acaba virando o mote para alguma piada, exatamente como deveria ser.
Como nada é perfeito, eu tenho uma única reclamação sobre o animê. Ou melhor, uma INDIGNAÇÃO sobre moda. Sim, moda.
Esses caras são da área de ciências da computação. Eles trabalham com dados, números e computadores. O material mais perigoso que existe dentro daquele laboratório são as latas de cerveja na geladeira. POR QUE DIABOS ELES USAM JALECO?
Tá bom, tá bom, eu entendo que o jaleco acaba sendo mais uma ferramenta de roteiro e uma forma de arraigar o esteriótipo de “cientista” nas personagens, eu sei disso… Mas nossa, que ódio sobrenatural que me deu!
A pior parte é que, mesmo que eles PRECISASSEM usar jaleco (coisa que não precisam), eles estão quebrando umas vinte e sete regras de segurança ao vestir o jaleco com saias, bermudas, chinelos, calçados com salto, meias-calças, cabelo solto…
Na parte técnica, não tenho muito o que comentar. O show é extremamente feijão-com-arroz e traz aspectos bem medianos tanto em arte, animação, direção, música e dublagem. Se bem que, nos dias de hoje, estar na média em todos esses quesitos por três episódios inteiros já é mais do que o esperado, não é? Cortesia do estúdio Zego-G (que animou “Grand Blue” e “My Roommate is a Cat“), com direção de Tooru Kitahata (responsável por, entre outros títulos, “Haganai” e “Hinako Note“).
Se bem que, tanto a Opening quando a Ending são excepcionalmente boas.
Resumindo: uma comédia de rachar o coco de tanto rir, que funciona muito bem para o público geral, e tem um gostinho especial para quem já adentrou esse mundo. Estou positivamente surpreso com a qualidade do show e da força de seus primeiros três episódios, e não poderia dar uma nota menor que 9/10 para a minha primeira estreia de 2020.
Você pode assistir Science Fell in Love, So I Tried to Prove it na plataforma de streaming Crunchyroll, com novos episódios disponíveis, com legendas em português, toda sexta-feira.