Isekai. Essa é uma palavra que pode não ter muito sentido em português (e não tem mesmo), mas que adquiriu enorme proporção na mídia japonesa por conta da – literal – avalanche de títulos desse sub-gênero que tomou as prateleiras orientais.
Essa postagem de hoje é sobre o Volume 1 da Light Novel de “Re:Zero – Começando Uma Vida em Outro Mundo“, escrita por Tappei Nagatsuki, com belíssimas ilustrações de Shinichirou Otsuka, e publicada no Brasil pela Editora NewPOP.
É só que simplesmente não dá pra resenhar uma Light Novel Isekai, sem falar do próprio gênero Isekai antes: Traduzindo do japonês, “Isekai” significa “Outro mundo“. É um gênero que viu um crescimento tão grande quanto o da população chinesa, que retrata personagens sendo transportadas (por quaisquer desculpas esfarrapadas que sejam) para uma outra realidade, normalmente (mas não necessariamente) fantasiosa. Os motivos para a explosão do gênero são diversos mas não cabem ao momento, então ficaremos apenas com a introdução.
Dito isso, podemos cair de cabeça nessa tempestade de emoções que foi o primeiro volume de Re:Zero. Com um título que trás “Isekai” logo de cara (do japonês, Re:Zero Kara Hajimeru Isekai Seikatsu), não se podia evitar um começo cheio de confusões e mais perguntas do que respostas.
Subaru, nosso protagonista, é um “Hikikomori” (mais conhecido no Brasil pelo Fantástico termo “Nem-Nem”), que sabe-se-lá-Deus o motivo, acaba sendo teletransportado para um outro mundo. Utilizando-se de seu vasto conhecimento de histórias Isekai, adquiridos por ficar em casa o dia todo, Subaru consegue manter a calma, e procede em fazer todas as escolhas erradas possíveis.
O primeiro capítulo é involuntariamente hilário. Toda vez que o protagonista toma uma decisão, logo em seguida ele se arrepende amargamente, e vê-lo se dando mal nunca deixa de ser engraçado. Se a série se centrasse em simplesmente mostrar o Subaru se ferrando por suas más escolhas, eu não teria nenhuma reclamação a fazer. Acontece que, como toda história que se passa num mundo fantasioso medieval, precisamos ter uma história digna de um RPG. E como qualquer jogo do gênero deve ser jogado, as personagens também decidem ignorar completamente a missão principal e fazer todas as trezentas side-quests que lhe são oferecidas.
A “missão principal” do volume é bem simples e poderia ser resolvida de forma rápida, fácil e sem baixas. Eu consigo imaginar, no mínimo, sete ou oito tipos de desenrolar para a história onde tudo acabaria bem. Mas como o nosso protagonista parece sofrer de lapsos mentais convenientemente posicionados (já falo disso), temos a descoberta do maior ponto da novel: o “Retorno na Morte“.
Viagens no tempo precisam ser tratadas com cuidado pois, quando usadas da forma errada, podem acabar com uma história. Eu, particularmente, detesto viagens no tempo e vou matalas. Re:Zero revolucionou o gênero Isekai quando, não contente com ser um simples Isekai, decidiu também ser uma Light Novel de loops temporais. De forma tão bem explicada que levanta mais dúvidas do que você já tinha (como se ser transportado pra um outro mundo já não fosse estranho o bastante), Subaru possui esse poder de voltar no tempo sempre que morre.
É o tipo de ferramente de roteiro que, pra mim, acaba completamente com qualquer tensão que uma história poderia criar. Isso é dito pelo próprio protagonista, que sabe que se alguma merda acontecer, ele pode simplesmente resetar o mundo e estará tudo bem. Contudo, ainda é muito cedo para julgar. Com a pequena quantidade de ‘loops’ que tivemos até agora, não dá para saber como o autor vai lidar com isso. Alguns exemplos famosos mostram que mesmo situações dessas podem gerar tensão, se usadas corretamente (Bites the Dust vem à mente). Alguns exemplos famosos mostram que mesmo situações dessas podem gerar tensão, se usadas corretamente (Bites the Dust vem à mente).
O elenco de Re:Zero é algo a se destacar. Todas as personagens são muito bonitas (graças às belas ilustrações de Shinichirou Otsuka), têm uma personalidade bem definida e conseguem se firmar bem na história proposta. Todos… Menos Subaru.
Parece ser algo padrão em histórias japonesas: Fazer o protagonista o cara mais absorto e desgostável possível. Não só sua personalidade e ações são horríveis, como ele também parece ser o único personagem mal-escrito da trama. Lembra dos lapsos de memória que eu comentei antes? O Subaru é um cara que possui um conhecimento enorme de… diversos tópicos. Ele os usa abundantemente durante o primeiro capítulo da novel. E apesar de várias vezes se dar mal por conta disso, ele consegue sim tomar algumas decisões sensatas com base neles.
Mas em diversos momentos ao longo do volume, Subaru parece simplesmente ESQUECER princípios básicos. O autor decide torná-lo burro sempre que lhe é conveniente, para fazer a história prosseguir no rumo planejado. A maior prova disso é que as melhores passagens do livro são justamente aquelas onde Subaru não está presente, ou está incapacitado de abrir a boca ou pensar. Basicamente, Re:Zero seria muito melhor sem ele, mas infelizmente estamos presos a esse protagonista. Pode se tornar até algo positivo, já que, quando se está no fundo do poço, o único caminho é pra cima.
Se você gosta de mundos de fantasia medieval, no melhor estilo Tolkien, The Elder Scrolls ou Warcraft, a ambientação vai com certeza te prender. Junte isso com um elenco de personagens excepcional, uma narrativa divertida (nos momentos mais leves da história) e descrições de cenas de ação muito bem elaboradas, e Re:Zero pode ser a sua praia. É só aguentar o protagonista mais irritante dos últimos anos.
Mas, agora que o conteúdo já foi analisado, podemos ir ao que realmente importa: a qualidade da edição brasileira. Afinal, somos todos sommelier de lombada, não é?
Como sempre, a NewPOP caprichou na impressão. A capa é linda (ambas são, inclusive. Vale como item de colecionador!), as ilustrações internas estão com qualidade excelente, e o papel é ótimo. O formato “pocket” (chamado assim por aqui, mas que é o original japonês para a obra) facilita muito a leitura, e ainda economiza espaço na estante. Nesse quesito, só pontos positivos para a editora do Sr. Júnior.
Já a parte escrita possui algumas coisas que ficaram entaladas na garganta. A revisão sempre foi um problema, e apesar das incansáveis tentativas de melhorar (que estão funcionando! Não me levem a mal, está muito melhor do que era antes!), ainda vemos erros de digitação e palavras sobrando ou faltando. No volume como um todo, pude contar seis erros que se encaixariam nessa categoria.
A qualidade do texto está boa. Apesar de uma ou outra frase que poderia ter sido escrita de forma mais fluida, e um exagero no número de artigos antes dos nomes das personagens, a leitura aconteceu sem nenhum problema.
Re:Zero – Começando uma Vida em Outro Mundo – vale a pena? Eu diria que meu julgamento final é que sim, compensa a compra e rende uma boa leitura. Desde que você entenda que se trata de uma Light Novel. E se você não sabe do que se trata uma Light Novel, pode aprender clicando aqui.
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