O timing para o lançamento de She-Ra e as Princesas do Poder não poderia ser mais perfeito. Em uma era onde filmes de heroínas são realidade e o público feminino interessado em quadrinhos só cresce, era uma questão de tempo até She-Ra receber uma repaginação e ser apresentada a uma nova geração. Felizmente, a nova série animada produzida pela Dreamworks, é uma aula não apenas de narrativa, mas de reimaginação. O show explora temas como liderança, amizade, mas para o redator o qual vos escreve, o que torna este reboot tão especial é simples: Mudança.
A mudança a qual eu me refiro, não é aquela feita pelos produtores, para uma nova versão. A mudança a qual eu me refiro, é aquela a qual possui um papel dentro da narrativa e do desenvolvimento dos personagens: A mudança narrativa. Isso se reflete na relação entre a protagonista, Adora e a antagonista, Felina, a qual são puramente, a alma da animação.
“Eu acho que Adora e Felina são o centro, a heroína, a vilã, a luz, a escuridão, mesmo que você veja que elas não começaram tão diferente, que elas eram próximas. Eu acho que a série explora bastante a ideia de como as duas confiam nas pessoas ao seu redor, mas também percebem, quando se afastam, que limites devem ser traçados e você deve se proteger quando um relacionamento, mesmo com uma pessoa amada, está lhe causando dor e mágoa e impedindo que você está tentando se tornar.” – Palavras de Noelle Stevenson, a criadora da nova versão, sobre a protagonista e a antagonista. Antes de convergir no tema das mudanças, uma análise sobre as duas personagens deve ser feita.
Primeiro, Adora. Ela foi criada pela Horda, uma organização militar caçadora de princesas. Foi sempre reconhecida como a cadete mais competente, sempre pensou que estivesse agindo para o bem e possui laços de amizade forte com Felina, protegendo-a constantemente das ordens de sua superior: Sombria. Um dia, após encontrar uma espada mágica e entrar em contato com Cintilante e Arqueiro, dois soldados da Lua Clara (Rival da Horda), a sua concepção muda por completo e percebe que todas as atitudes da Horda possuíam fins malignos. Ela inicia sua jornada para desconstruir o seu passado, abraçar uma nova vida e se tornar a heroína She-Ra.
Segundo, temos Felina. Também criada pela Horda. Foi sempre reconhecida como uma pária, tinha ciência dos atos maléficos da organização, mas aceitou sua condição. Possuía laços de amizade forte com Adora, a qual sempre a protegia. Um dia, Adora diz que não voltará para a Horda. Felina fica com raiva e é moldada por Lorde Hovak e Sombria para se tornar uma capitã. Sua jornada como vilã se inicia. Não para desconstruir seu passado, mas permanecer agarrado a ele.
Na obra, o Grande Gatsby, por F. Scott Fitzgerald, o protagonista Gatsby é apaixonado por uma mulher de seu passado chamada Daisy, a qual está casada com outro homem e constituí uma família. Ele formula um plano para reconquistá-la, o que acaba o levando, por triste ironia do destino, à morte. Assim como Gatsby, Felina acredita que o passado precisa ser vivido, que a vida nunca mudará, assim como ele, ela não aceita que Adora está a deixando, não acredita que a vida pode mudar, precisa mudar, o que a leva aceitar uma condição de vida extremamente sofrida. O destino de Felina é pior que o de Gatsby, pois ela ainda está viva e carrega a raiva de ser abandonada.
Adora, por outro lado, é também em partes, Daisy, entende ao seu modo, que a vida muda, que as pessoas as quais conhecemos nem sempre estarão ao nosso lado, devido às nossas atitudes, mas não podemos viver para elas, devemos viver para nós mesmos. Você pode ser como Felina, permanecer o lugar e fechar os seus olhos para a realidade, sofrendo silenciosamente, até este sofrimento se transformar a raiva. Ou você pode ser como Adora, mudar, expandir os horizontes, estar com medo, mas estar disposto a experimentar o que há de diferente na vida. A escolha é sua.
Esta é a verdadeira mensagem de She-Ra e as Princesas do Poder.