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Surfista Prateado: Parábola e a crítica de Stan Lee ao fanatismo religioso

Antes de mais nada,  é importante ressaltar que falaremos aqui sobre uma história em quadrinhos de 1988. E se você é um colecionador de quadrinhos, com certeza ou leu ou ao menos deve ter ouvido falar de Surfista Prateado: Parábola, HQ escrita por Stan Lee e ilustrada por Moebius.

“Mas por que falar de um quadrinho antigo e que já foi relançado tantas vezes por aqui?” Bom… O quadrinho pode ser antigo, mas infelizmente o tema é presente, e existe desde o início da humanidade.

Por ser um tema um pouco delicado, peço a todos que leiam de cabeça aberta e não associem a X ou Y. Pensem no contexto geral, e como tudo isso influencia nossas vidas e rotinas em sociedade. Ah…. já ia me esquecendo, o texto pode trazer SPOILERS, então aconselho ler o quadrinho antes de começar (Você consegue encontrar ele clicando aqui).

Logo no início, nos deparamos com o pânico da população a respeito de um objeto não identificado que se aproxima da Terra. Em poucas páginas já conseguimos ver o que o medo do desconhecido consegue causar na humanidade: Caos, tumulto, e o individual se tornando maior que o coletivo naquela atmosfera “Salve-se quem puder”.

Desespero da população nas páginas iniciais

A vontade de saber respostas, o medo de lidar com o desconhecido, ou até mesmo a simples necessidade de se curvar e adorar alguma coisa, tudo isso podem ser considerados fatores que levam a criação de uma nova crença. Teorias surgem e claro, com a ajuda de “intérpretes” das suposições criadas, surge uma nova “Religião”.

O personagem Colton Candell foi criado para retratar exatamente esse tipo de “Intérprete” de teorias de uma maneira bastante extrema e cumpre perfeitamente esse papel. No aparecer de uma figura misteriosa ele aproveita da sua influência e começa a disseminar entre a população todas suas convenientes verdades distorcidas.

 

Candell e Elyna

A figura misteriosa é Galactus, um vilão muito conhecido dentro do Universo MARVEL e por se alimentar de núcleos de planetas, também recebe a alcunha de “Devorador de Mundos”.

À medida que a crença se espalha, o fanatismo começa a se libertar, e quando surgem os questionamentos, a violência acaba prevalecendo como forma de doutrina, quem não concorda é espancado (Familiar?).

Para entender o contexto do quadrinho precisamos fazer um pequeno resumo do que havia acontecido no Universo MARVEL antes de tudo: “O Surfista prateado era um arauto de Galactus que se recusou a destruir a Terra e com a ajuda dos heróis terrestres conseguiu impedir sua destruição, como castigo, foi aprisionado pelo antigo mestre dentro do planeta por uma barreira invisível e ficou exilado (esse exílio também é comparado à história de Lúcifer, o anjo caído, condenado a ficar aprisionado no inferno, o que deixa ainda mais genial a escolha dos personagens para protagonizar a história, invertendo completamente os papéis). Além disso, Galactus também prometeu não destruir o planeta.”

Agora que sabemos mais sobre o que ocorreu anteriormente podemos retomar com uma pergunta: “Por que Galactus voltou se ele havia prometido não destruir mais a terra?” Ele observou duas características bastante incomuns nos seres humanos: A capacidade de se autodestruir e a busca constante por salvação.

Usando de todos esses pontos fracos, ele põe abaixo as leis criadas pelo homem e instaura o prazer próprio e o individualismo como propósito de todos, levando-os a autodestruição.

Logo a necessidade de adoração acaba e o medo começa a prevalecer, famílias começam a não questionar para não serem acusados de heresia e apenas aceitam o que está acontecendo.

E é aí que entra o papel do Surfista Prateado, trazer bom senso a população. De forma bem paciente ele tenta mas quando começa seu discurso, ele é alvejado pelo próprio povo que quer salvar. O terror e a mudança de opinião dos adoradores de Galactus só muda quando ele mata uma inocente, Elyna, irmã do agora reverendo Candell, derrubando o helicóptero que ela usava para tentar impedir a “auto-escravização” da humanidade.

Com a saída de Galactus do planeta, mais uma crítica é exposta no quadrinho. Mesmo depois de tudo que aconteceu, os seres humanos ainda pedem salvação, dessa vez para o Surfista Prateado, e começam em poucos segundos a tratá-lo como um deus, como se nenhuma consequência do que acabou de acontecer tivesse tido importância. Nesse momento é exposto a necessidade de liderança da espécie, a busca por sempre adorar um ser inanimado e isso automaticamente passa ao leitor uma sensação de medo. Medo não por ficarem assustados com um quadrinho, mas sim por perceberem que a situação é real, e só foi retratada de um modo diferente.

A facilidade de se criar uma religião hoje em dia, de convencer a todos que aquilo ali é uma verdade para as perguntas que sempre buscaram, deixar escutarem o que sempre quiseram ouvir… Isso é bastante perigoso e só pode ser superado quando começamos a questionar. As perguntas sempre irão nos levar mais longe do que as respostas.

Escrita por Stan Lee há mais de 3 décadas, a HQ nunca se tornou tão atual quanto no presente momento. Lembre-se que questionar não significa não ter religião ou não ter fé, até porque eu não sou ateu. Qualquer tipo de fé cega e intolerante faz mal, tanto para você quanto para a todos os que estão ao redor, portanto sempre pergunte! Um abraço a todos e até a nossa próxima aventura.

Por Guilherme Chaves

Administrador Público de dia, Projeto de Cheff de noite e redator da Torre nas horas vagas.