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Sword Art Online: Aincrad – Livro 1

Surpreendendo a todos que estavam presentes em sua palestra no Anime Friends 2018, a Editora Panini resolveu – finalmente! – se abrir para o mercado de Light Novels, e, sob o selo “Romance Panini Books“, anunciou diversos títulos. Dentre eles, “Sword Art Online: Aincrad“.

Completo em dois volumes, esse é o “material original” que deu origem ao animê que, com o perdão do clichê… ABALOU AS ESTRUTURAS da indústria com seu COLOSSAL SUCESSO. Mesmo achando que não preciso introduzir SAO para ninguém, não custa nada, não é?

Inicialmente publicado como uma webnovel, o arco inicial de SAO fez sua estreia em 2002. O autor, Reki Kawahara, escreveu uma cacetada de capítulos na internet, até conseguir que sua obra fosse publicada em 2009. Daí pra frente é história.

Mas a história que queremos contar hoje não é essa, mas sim sobre a edição nacional e como ela está, onde vive e do que se alimenta. Vou começar pelo conteúdo do livro, e depois falo sobre detalhes técnicos – como capa, tradução e revisão, qualidade do papel, e essas coisas de sommelier.

Comparação de tamanho, moeda de cinquenta centavos para padrão, vocês sabem como funciona.

Existem dois tipos de consumidor para esse produto, e para cada um deles, haverá uma experiência bem diferente. Existe o consumidor de primeira viagem – o cara que nunca assistiu ao animê de SAO e que estará conhecendo a obra e as personagens pela leitura – e o consumidor manjado – que já assistiu o animê e já sabe do que se trata. Eu me encaixo no segundo grupo, e vou dar início por ele.

Se você já conhece SAO e já assistiu o animê (que está disponível na Crunchyroll e na Netflix, aliás), a novel é incrivelmente melhor do que você poderia esperar. Claro, ninguém nunca espera muita coisa de Sword Art Online (inclusive isso vem fazendo a sua recente temporada, Alicization, ser até que decente), e essa expectativa baixa acaba servindo de impulso pra qualidade do livro.

Toda a história de Aincrad, do beta-test ao final do jogo, acontece dentro do livro um. O autor deixa todas as histórias paralelas (famosas “side quests” dos RPGs) para serem contadas no segundo tomo, fazendo com que o primeiro seja um condensado de apenas dois personagens: Kirito e Asuna.

Temos, então, praticamente duzentas páginas inteiramente dedicadas a explicação de como o relacionamento dos dois protagonistas veio a ser. Já que você já sabe de tudo que aconteceu, ter esse “flashback” sobre os acontecimentos do passado e entender de forma mais profunda de onde eles se conheceram e essas coisas românticas aí, acaba sendo uma expansão do universo.

Créditos da edição brasileira.

Só que a porca torce o rabo se você for um novo leitor. Os acontecimentos são jogados pra lá e pra cá, as personagens têm interações tortas, dramas nunca explicados e personalidades que não se encaixam com o pouco que vemos delas. A decisão de dividir o arco em “parte principal” e “todo o resto da história” foi, na minha opinião, um tiro no pé. Tanto que durante a adaptação em animê, resolveram colocar tudo em ordem cronológica.

Uma das partes mais importantes de uma Light Novel, muito mais do que sua história ou seu desenvolvimento, são as suas personagens. Light Novels são obras focadas em suas personagens. Quando você não gosta do protagonista, nem a história mais interessante do mundo pode salvar sua leitura.

A falta do “miolo” da trama faz com que as personagens pareçam rasas, sem motivações e incoerentes. Você conhece um Kirito egoísta no primeiro dia de jogo, e algumas páginas depois, encontra-o socializando tranquilamente com seus BFFs, e mais algumas páginas além, você o vê choramingando por “não ter o direito de ter amigos” ou algo emo desse jeito. Simplesmente não dá para entender o que se passa na cabeça do espadachim. E a culpa nem é sua. A culpa é do autor, que fez diversos desenvolvimentos para mudar a personagem, e simplesmente NÃO TE CONTOU.

O que pode ser concluído disso tudo é que, por mais contraditório que isso pareça, ser spoilado do livro, ao assistir ao animê, é a melhor forma de aproveitar a leitura.

Ednaldo Pereira – Ednaldo Pereira (E.P.)

Tenho alguns pontos a levantar sobre a tradução e revisão da obra, também. No geral, o primeiro volume foi bem consistente e apresentou pouquíssimos erros (contei apenas dois). Mas algumas decisões tomadas me deixaram com a pulga atrás da orelha.

A começar pelos honoríficos. A tradução optou por manter os honoríficos nos nomes das personagens (por exemplo, Kirito-kun, Asuna-sama, etc). Falando apenas por mim, sou contra deixá-los em qualquer tipo de obra e que são facilmente substituíveis por equivalentes no idioma que você está traduzindo, mas entendo quem gosta deles, e só peço uma consistência ao utilizá-los. A grande questão é que ao deixá-los, você está, essencialmente, não traduzindo uma parte do texto. Se você opta por deixá-los, é sua obrigação explicar ao leitor o que é isso, e o que diabos significa.

Em uma passagem, Kirito se sente incomodado ao ouvir uma personagem chamar Asuna de “Asuna-sama”. -sama é um honorífico que denota o maior grau de respeito, normalmente utilizado para com líderes religiosos e políticos. A reação do Kirito é normal, afinal, estranhar que uma garota comum seja chamada por -sama é o que qualquer um teria sentido. Mas em momento nenhum isso é explicado. Se você não sabe o que o honorífico significa, a passagem se torna inútil.

Outro ponto é sobre a utilização de termos em inglês. Imagino que no original em japonês, todos os termos que estou citando estavam, também, em inglês, por isso a escolha de mantê-los num idioma estrangeiro. Mas, de novo… Estamos falando de uma edição brasileira, que deveria estar em português. Nem todo mundo sabe inglês, e manter nomes e frases num idioma diferente do nosso acaba impedindo que certas pessoas leiam a obra completa.

Entendo que é preciso manter em inglês para trazer a “autenticidade” que o autor queria, visto que os termos estavam em inglês no original, mas ainda é fácil de mantê-los lá, mas sem prejudicar a leitura. A NewPOP tem um caso semelhante com Log Horizon, e eles souberam resolver o problema: lá, o termo em inglês é imediatamente seguido por sua tradução para o português. Não é tão difícil assim.

Em cima, SAO. Embaixo, Log Horizon. É uma solução simples…

Esses são pontos importantes de se levantar, não só por querer ser bom samaritano e defensor patriótico, mas também pelo próprio marketing que a editora está fazendo. Ao chamar as suas Light Novels como “Romances“, ela está tentando desvincular a imagem de “mangá” de suas novels, tentando fazer o livro ter um mercado mais amplo. E um mercado mais amplo (fora do ‘nicho Otaku‘) não faz a menor ideia de o que é um honorífico, e nem é obrigado a saber inglês. Se quiser manter esses elementos, o mínimo que deveria ser feito é adicionar uma nota de rodapé.

Mas tirando esses pontos, que são mais implicâncias pessoais do que qualquer coisa, a leitura foi bem fluida e teve poucos “truncamentos” e os diálogos pareciam naturais. A parte física do negócio também está de parabéns, pois o papel e a capa, ambos tem um bom toque e fazem a leitura passar rápido, e as ilustrações ficaram excelentes.

Fazendo as malas e empacotando tudo, dá pra dizer que pra quem já é fã da série, pegar esse livro é um excelente negócio. Só o que dói é o bolso, pois o preço está um pouco salgado. É um preço pagável, caso você esteja disposto a fazê-lo, mas com certeza é um preço muito acima do que Sword Art Online vale.

Por Vini Leonardi

Cavaquinho na roda de pagode da Torre. Químico de formação, blogueirinho por diversão e piadista de vocação. "Acredito que animês são a mídia perfeita para a comédia, e qualquer tentativa de fazer um show sério é um sacrilégio", respondeu ao ser questionado sobre o motivo de nunca ter visto Evangelion.