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Torre Entrevista | Dan Goldman

Um dos grandes lançamentos dos quadrinhos aqui no Brasil no final de 2017 foi com certeza Imobiliária Sobrenatural de Dan Goldman. Publicado pelo Plot! Editorial, o selo de quadrinhos da editora Alto Astral, e lançada oficialmente na CCXP, a HQ conta sobre uma empresa que vende casas desassombradas. Você pode ler a nossa resenha sobre Imobiliária Sobrenatural clicando AQUI.

Dan Goldman é autor de obras aclamadas pela crítica como Shooting War, Priya’s Shakti, 08: A Graphic Diary of the Campaing Trail entre outras. Apesar de ter morado no Brasil alguns anos atrás, Imobiliária Sobrenatural é o seu primeiro trabalho publicado no país.

Um dia, então, Felipe Castilho, editor da Plot! me falou que Dan Goldman estava vindo ao Brasil para lançar a HQ por aqui, e me falou que uma entrevista com o autor poderia ser realidade. Contato feito (obrigado Felipe!), Dan foi super gente boa, muito solícito e simpático, e recebeu as nossas perguntas que você, lindo leitor, pode ler a seguir:

Você está lançando finalmente Imobiliária Sobrenatural aqui no Brasil. E lendo a HQ percebe-se que a história é sobre crises com um tempero fantasmagórico. Crise no mercado imobiliário, crise no casamento, crise pela falta de dinheiro…  De onde surgiu a ideiade misturar isso tudo com esse tom de sobrenatural?

Nós vivemos num tempo de crise e senti que está piorando ainda mais. Quero falar sobre isso, porque essas épocas revelam nossas forças e fraquezas… e tudo isso é fonte de um bom drama. Quando um personagem não tem nenhuma outra forma de providenciar para a família ou para a empresa, o leitor entende a essência dele de verdade. É misturando esses dramas universais com coisas sobrenaturais e metafísicas, que a estrutura narrativa se conecta com conceitos que nos abrem as outras maneiras de experienciar a estória.

Foto: Papo Zine

Eu li que existiram planos para Imobiliária Sobrenatural se tornar série de TV ou até mesmo um longa metragem. Ainda existem essas possibilidades? E se viesse a acontecer como você veria a sua obra sendo adaptada para outra mídia?

Sim. Eu estou trabalhando com uma equipe de produtores em Los Angeles para adaptar o série para a tv a cabo. Meu sonho tem sido montar um show com ideias mais profundas sobre a vida depois da morte, amor e consciência em nossa “cultura-pop” (que contém mais pop e menos cultura) que ainda se mantém bem anti-intelectual.

A coisa mais importante para mim é a história, a narrativa. Acredito na ideia da narrativa transmídia que existem entre formas diferentes de mídia ao mesmo tempo (por exemplo, O Matrix)–e sempre penso qualquer forma de mídia servirá melhor a estória e as jornadas dos personagens.

No painel que você participou na CCXP, você falou que tem um projeto que é voltado para o Brasil. Poderia adiantar alguma coisa?

Quero que a história se mantenha em segredo, mas posso revelar que ela irá falar muito de corrupção espiritual nas cidades e nas florestas, a força venenosa do capitalismo, e o retorno dos espíritos nativos meio-esquecidos. Quando morei em São Paulo, gostava de passar meus dias em Sebos, tentando ler e entender alguns livros antigos de lendas e folclores brasileiros. Mas agora, já falei demais.

Você chegou a conhecer algum quadrinho de artistas brasileiros durante a CCXP ou por esse período que está aqui no Brasil?

Encontrei os trabalhos de Marcelo D’Salete em 2011 quando fui convidado para a Rio Comic-Con, e neste ano peguei o livro novo, ANGOLA JANGA, na CCXP. As obras dele são importantes, representando a face afro-brasileira antiga (e moderna) que a mídia nacional prefere ignorar por uma fantasia de ser branco e rico. Conheci também os trabalhos do ilustrador Kako, e dos excelentes quadrinistas Georges Schall, Hector Lima e Felipe Cunha.

Durante a CCXP, conheci as obras de Psonha, de Felipe Castilho e de Tainan Rocha que gosto muito. O show foi gigantesco, e por isso não tive bastante tempo na Artists Alley para conhecer todos os animais mágicos de lá.

Painel do Dan Goldman na CCXP.

Você é um dos grandes nomes no mercado de webcomics.  Este segmento não é tanto explorado aqui no Brasil como acontece nos Estados Unidos; por exemplo, a primeira empresa de quadrinhos online, a Social Comics, só apareceu aqui tem dois anos. Com todo o avanço que a tecnologia deu, o mercado evoluiu bem ou ainda tem mais a crescer?

Hoje em dia, eu acho que “webcomics” é uma nomenclatura bem do passado. HQs digitais precisam ganhar um nome novo porque as tecnologias de touchscreen, realidade-aumentada (e virtual, ou misturada) estão crescendo agora, e HQs tem que fazer parte na evolução da forma.

Atualmente você está com um projeto muito bacana, que ainda é inédito no Brasil: Priya’s Shakti em parceria com Ram Devineni e Lina Srivastava. Trata de um assunto bem delicado que é a violência contra as mulheres na Índia. E você esteve naquele país. Quando Priya’s Shakti foi lançado na Índia, inicialmente teve alguma rejeição?

Na realidade, não. Mas eu fiquei nervoso na época – sendo o único não-indiano na nossa equipe – mas foi mais por isso. Durante meses, eu fiz uma investigação cultural para representar a cultura indiana, roupas e artes e deuses deles. Se a cara do meu trabalho fosse inautêntica, a missão do nosso projeto não serviria os jovens, o que era o nosso objetivo.

Felizmente, a primeira HQ foi lançada e rapidamente viralizou, saíram muitas notícias, quando nós fomos para a Índia, fizemos workshops com os jovens e fomos indicados com honras pela UN Women (ONU Mulheres). Nosso segundo livro também foi viral.

Cena de Priya’s Shakti.

Eu fiquei sabendo que cópias físicas de Priya’s Shakti foram distribuídas em escolas rurais na Índia para servirem de projeto piloto para criar consciência em crianças e jovens sobre o mal da violação e sobre como as vítimas de estupro são tratadas. Eu particularmente achei fantástico isso. Era o ponto que vocês queriam chegar ao criarem a HQ?

Absolutamente. Nossa equipe conversou durante nove meses antes de escrever o roteiro: sobre como montar esse projeto e de que forma poderíamos criar consciência nesses jovens. Não queremos apenas criar diversão… queremos transmitir a mensagem do ativismo no mundo real dentro dos quadrinhos.

Você sempre foi bem ligado em política, e isso reflete em alguns de seus trabalhos ao longo da carreira. Você deve estar sabendo do momento conturbado que vivemos aqui no Brasil. Acho que as sucessões de escândalos de nossos políticos dariam até boas HQs. Nos estados Unidos, como você enxerga o início da “Era Trump”? Rende alguma história?

Não quero criar uma obra só contra o Trump. Assuntos políticos são pústulas na pele. Seria mais poderoso montar uma obra contra a máquina global que ele faz. Isso é um câncer de ego e ganância que está infectando todas as nações do mundo. Trump e Temer e nacionalismo e racismo e sexismo são sintomas de problemas muito mais profundos.

Quais são os planos para 2018?

Quero salvar o mundo — e depois, vou dormir.

Para quem não pôde ir à CCXP e quer mais uma chance de comprar Imobiliária Sobrenatural e conseguir trocar um bom papo, na Ugra Press em São Paulo, vai rolar o Plot Day com participação de Dan Goldman, Felipe Castilho e Tainan Rocha (de Realezas Urbanas). Saiba mais sobre o evento AQUI.

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O selo Plot! irá publicar Tank Girl no Brasil em 2018

Para a alegria de muitos, Tank Girl voltará a ser publicada no Brasil. O selo Plot! da editora Alto Astral vai trazer as loucas aventuras da personagem criada pelos lendários Jamie Hewlett e Alan Martin. Aliás, será os primórdios da fase da dupla que vai compor o primeiro volume. Tank Girl One vai reunir as primeiras histórias da garota, seu tanque e o famigerado canguru.

Criada em 1988, Tank Girl surgiu nas páginas da Deadline Magazine. Maltrapilha pilotando um tanque de guerra em um deserto futurista da Austrália, apesar de ter em suas histórias fortes referências da cultura pop britânica, suas histórias vão de missões para organizações passando por desventuras com o Booga, seu namorado, um canguru mutante. Jamie Hewlett e Alan Martin trabalharam com a personagem até meados dos anos 90. Depois disso, Tank Girl seguiu com HQs esporádicas, e Hewlett ficou envolvido com a criação do visual da banda Gorillaz enquanto Martin chegou a fazer algumas minisséries dela em 2007.

No Brasil, algumas histórias da Tank Girl foram publicadas pela extinta revista Animal durante a década de 90.

O planejamento da Plot! é publicar em 2018 duas edições, Tank Girl One, que como já foi dito aqui, será um compilado de históricas clássicas, eoutra edição com histórias mais recentes, produzidas por outros artistas. Mas sem ter uma ordem cronológica entre os dois volumes.

Desde sua fundação, em julho desse ano, o selo Plot! vem trazendo HQs dos mais variados estilos, como as nacionais Peek a Boo – A Masmorra dos Coalas, Kombi 95 e as recentes Realezas Urbanas e Imobiliária Sobrenatural (a primeira publicação gringa do selo). As duas últimas foram lançadas durante a CCXP 2017.

Ainda não foram divulgadas informações sobre data de lançamento ou valor dos volumes. Fique ligado na Torre de Vigilância para mais detalhes sobre o retorno da Tank Girl ao Brasil.