Categorias
Tela Quente

A singularidade de Invencível no mundo dos super-heróis

Com tantas produções de super-heróis hoje, fica difícil achar uma que se destaque e realmente nos surpreenda, sem os mesmos eventos ou discursos previsíveis, e “Invencível” pode se encaixar dentro desta categoria.

“Invencível”, ou “Invincible” em inglês, é a nova série animada da Amazon Prime Video baseada nas histórias em quadrinho criadas por Robert Kirkman, autor também do universo de The Walking Dead. Na trama, Mark Grayson (Steven Yeun) é filho de um poderoso super herói, Omni-Man (J.K.Simmons), mas que não apresenta seus superpoderes até seus 17 anos, e que agora precisa se equilibrar entre sua vida de um garoto normal e de um super herói que enfrenta ameaças para proteger a Terra, isso com o auxílio de seu pai.

Invincible': TV Review | Hollywood Reporter

O elenco de dubladores da animação é sem dúvidas algo que precisa ser comentado e levado em conta para o seu sucesso. Temos Steven Yeun (The Walking Dead) dublando o protagonista, J.K. Simmons (Homem-Aranha) como Omni-Man, Sandra Oh (Killing Eve) e também Zazie Beetz (Coringa). E ainda, participações de figuras muito estimadas como Mark Hamill, Mahershala Ali, Ezra Miller, Lauren Cohan, entre outras. Certamente, a equipe de dubladores é vasta, com nomes que você provavelmente já ouviu antes. Esse foi um ponto forte e o que propiciou parte da personalidade única da série.

O primeiro episódio começa até então de um jeito despretensioso e típico do gênero: a equipe de heróis, chamados Guardiões do Globo, derrota os vilões. Em seguida, somos apresentados à trama de Omni-Man e seu filho, Mark Grayson, que deseja logo ter seus super poderes e seguir os passos do pai. Tudo parecia singelo e inofensivo, até o final do episódio, quando se tem a quebra de expectativa chocante que foi talvez a parte crucial para evocar a sensação de querer assistir mais. Parte disso se dá pelo enredo que vai sendo construído de forma excepcional, sempre cativando o telespectador e envolvendo-o com seu leque de personagens e arcos de forma divertida. 

Steven Yeun and the Cast of 'Invincible' on Bringing the Best-Selling Comic  to Life

É claro que a sátira permeia a obra, uma vez que os personagens são claramente inspirados em super-heróis já conhecidos. Contudo, essa não é a única e principal finalidade da animação. As histórias dos personagens são bem desenvolvidas e dispõem de algumas das famosas narrativas que gostamos de ver em um super-herói, afastando-se portanto do foco de uma sátira. Dado o alto teor de violência e cenas explícitas de tripas e globos oculares para fora, diga-se de passagem, pode suscitar uma lembrança da sérieThe Boys”, também da Amazon Prime Video. Entretanto, diferentemente de “The Boys”, “Invencível” não se preocupa em apenas fazer piada dos super-heróis das gigantes da editora. Ela tem seu humor próprio e não-óbvio, seu próprio universo sem ridicularização. E isso é ótimo, visto que as produções de heróis quando não pertencem à Marvel ou DC sempre são meramente sátiras.

Invincible Kills Off Its Version of the Justice League | CBR

Depois do episódio 7, que foi insanamente arrebatador e com um ritmo frenético, chegamos ao oitavo e último episódio da temporada, com muitas explicações, sequências atônitas e uma perspectiva até filosófica da relação de Mark com seu pai, e sobre o que significa ser um super-herói. E é claro, a ansiedade para uma próxima temporada de uma história rica em conteúdo.

“Invencível” tem o que todo fã do gênero super-herói gosta e um pouco mais: equipes de super- heróis; o mocinho versus o vilão; as particularidades de cada personagem e lutas de deixar boquiaberto. Também, o fato de não possuir tanto os já conhecidos clichês é um aspecto excelente, somando com todos os elementos necessários para viciar e deixar aquela curiosidade pro próximo episódio, surpreendendo mais a cada um que passa. Sua criatividade em um ramo já tão desgastado por produções similares umas às outras é de fato seu triunfo. Com certeza foi uma ótima surpresa do ano e, felizmente, sua segunda e terceira temporada já foram confirmadas pela Prime Video.

Nota: Diamante

Review: Steven Yeun leads 'Invincible,' a brightly colored superhero  cartoon series | Datebook

Categorias
Tela Quente

Sound of Metal e a importância da sonoridade em um longa

São poucos os filmes que conseguem transmitir a veracidade de um sentimento ou de uma situação para as telas. Que usam todos os artifícios cinematográficos disponíveis com maestria conquistando a imersão do público. O Som do Silêncio (Sound of Metal, em inglês) se encaixa devidamente nesse perfil, sendo uma das boas surpresas do segundo semestre de 2020.

Baterista de um duo de Heavy Metal/punk com sua namorada Lou (Olivia Cooke) sendo a vocalista, Ruben (Riz Ahmed) de repente fica surdo, o que acaba colocando em jogo sua carreira que estava para decolar com uma turnê e também a vida como conhecia. Sendo ex-viciado em drogas, ele vai para uma clínica de deficientes auditivos (um termo que aliás é debatido durante o longa) a fim de evitar uma recaída por conta dos acontecimentos. Sua namorada possui um papel importante nesse aspecto apesar do pouco tempo de tela no geral, sendo ela quem o encoraja a ficar na clínica e dá apoio emocional, o que destaca a atuação de Olivia Cooke que consegue transparecer a preocupação da personagem na situação.

Contando com Riz Ahmed -que participou do universo Star Wars atuando em Rogue One– como protagonista e dirigido por Darius Marder, o longa é original Amazon Studios.

Desde o título até a premissa do filme, é importante que o telespectador se atente às cenas que põem em evidência os sentidos e sensações, sendo elas oferecidas mesmo na primeira cena onde há uma guitarra que causa incomodidade, talvez uma prévia do que estava por vir. É feito um jogo de comparação quando foca-se em sons cotidianos da vida de Ruben, como a cafeteira ligada ou o liquidificador e depois quando ele perde a audição há um completo silêncio, possibilitando que tenhamos a mesma sensação de perda e a mesma experiência que ele, o que é crucial.

Sound of Metal", da Amazon, é um dos melhores filmes de 2020 | A Gazeta

Mas o design de som não operaria perfeitamente se não houvesse uma atuação à altura, e Riz Ahmed não peca em momento algum em sua performance, pois além de aprender Língua de Sinais Americana e bateria para o filme, ele exterioriza o que chega mais perto e real da reação de alguém que sofre a perda de algum sentido bruscamente: o estado de choque, depois a negação e a aflição.

Os diálogos entre Ruben e Joe (Paul Raci), orientador da clínica, são responsáveis por nos fazer compreender o real objetivo daquela comunidade e da principal linha de pensamento desenvolvida no longa: questionar a ideia de que pessoas surdas são deficientes e de que precisam de aparelhos auditivos, ou de qualquer reparação para viverem plenamente na sociedade. Dessa forma, perder a audição não é o real problema, e sim a dificuldade em aceitá-la. Apesar disso, desapegar de sua vida antiga e abraçar o desconhecido não é um processo fácil, e esse fato faz com que o telespectador sinta empatia pelo protagonista e suas decisões ao longo do recorte de sua jornada.

Portanto, Sound of Metal é uma experiência sensorial desconfortável e necessária para entender a realidade de quem a vive e também daqueles que se veem forçados a vivenciá-la com o intuito de alcançar a sensação de pertencimento, e ainda, uma mensagem sobre resiliência. Com uma fotografia em tons frios, diálogos e representações corpóreas profundas vemos a evolução e o aprendizado de Ruben, desde o momento em que o silêncio faz com que ele surte, até o momento final em que ele prefere a calma do mesmo. Assim, começando o filme na agitação da bateria, Ruben encerra-o na calmaria do som do silêncio.

 

Categorias
Cinema Tela Quente

O Novo Filme do Borat Incomoda por ser real (Mas incomoda quem tem que Incomodar)

O Ministério da Informação do Cazaquistão apresenta,
uma produção do Ministério da Agricultura e
da Vida Selvagem,

em associação com o Centro Almaty de Controle de Doenças:
A Resenha de Borat: Fita de cinema seguinte

 

Um ano complicado. O 2020 entrou para a história por ser um ano em que uma pandemia varreu o mundo e vitimou milhares de pessoas ao redor do globo. 2020 está sendo um ano pesado onde vemos casos de violências aumentando, racismo/preconceitos/xenofobias cada vez mais sendo explícito, líderes mundiais que tomam decisões equivocadas por simples orgulho e por nuances de ideologias políticas que disfarçam interesses obscuros próprios. E vemos cada vez mais as pessoas apoiando esse tipo de coisa.

E na quase reta final desse pardieiro trágico disfarçado de ano, temos o retorno de um polêmico personagem. E ele volta em momento muito oportuno. Borat: Fita de cinema seguinte traz de volta o segundo melhor repórter do Cazaquistão, com seu humor ácido e terrivelmente realista. Aqui temos Sacha Baron Cohen em grande forma, assumindo novos disfarces e buscando passar mensagens contra aqueles que consideramos os grandes vilões do mundo. O roteiro escrito por Sacha em parceria com Peter Baynham, Anthony Hines, Dan Mazer e Dan Swimer, é afiado e atinge de Disney passando por Kevin Spacey. Da Primeira Dama dos EUA e o Brasil. Nada escapa.

Mas apesar de tudo isso, o filme não é engraçado. E lá embaixo explico o motivo.

Borat: Fita de cinema seguinte não é tão impactante quanto foi o primeiro filme, sim o fator surpresa meio que se perde na continuação. Mas é o filme mais necessário que foi lançado em 2020 se tratando de como o mundo está reagindo a políticas fascistas, racistas, machistas em geral. Sacha ainda coloca pessoas em situações incomodas e aperta a ferida até o pus espirrar. E sim, como disse antes, é necessário colocar esse tipo de pessoas contra a parede. Como nas cenas que desmontam as finas camadas de hipocrisia como no baile das debutantes e na clínica médica, quando sua filha engoliu um brinquedo.

Aliás tem que ser destacado (e muito) a dobradinha Sacha Baron Cohen e Maria Bakalova. A atriz está imperdível como Tutar Sagdiyev, a filha adolescente e única da família que segue e acredita no pai. Pode-se dizer que a personagem é o ponto mais importante de Borat: Fita de cinema seguinte. Ela consegue ser engraçada e bizarra, como o seu pai tinha sido no primeiro filme e ainda evoluir para repassar uma mensagem importante. E essa mensagem é um tapa na realidade da sociedade e seus costumes patriarcais que são fortes.

Tutar Sagdiyev vive para satisfazer a sociedade patriarcal e desde tempo foi criada desse jeito. Como acontece na vida real de muitas outras meninas e mulheres, ela é condicionada em ficar como sempre como o ser inferior, que a vida é como o conto de fadas que ela assiste desde pequena, aceitando a submissão praticada por uma… digamos… “cultura”. O aterrador é saber que isso é a realidade em todo mundo, em qualquer país…

Mas Sacha Baron Cohen sabe muito bem onde atingir e expor as pessoas que praticam esses e outros costumes nefastos, ele atua em cima de suas decisões e onde eles se espelham: em seus líderes políticos e figuras da mídia. Quando ele mira em Rudy Giuliani, ex-prefeito de Nova York, que atualmente é advogado e conselheiro do presidente dos EUA, Donald Trump, ele sabe que está atingindo não somente um politico como Trump. Mas também toda a sua campanha (o filme foi lançado propositalmente momentos antes da eleição presidencial americana) e o orgulho de seus eleitores que acreditam no discurso de família em primeiro lugar que esse tipo de político branda sem praticar na vida real.

Quando eu falo que Borat: Fita de cinema seguinte não é engraçado, eu na verdade armei uma falsa chamada para você, estimado leitor, chegar até esse ponto da resenha. Sim, você caiu na minha pegadinha. E sim, Borat tem momentos engraçados, mas ao mesmo tempo os momentos vão desnudando pessoas e atos terríveis onde Sacha aperta as fakes news como as que negam o Holocausto, ou eleva pessoas a cantarem que devemos queimar outras pessoas por terem posições políticas diferentes e cutuca o conservadorismo presente em todo lugar. Quando acontece essa transformação, o filme aborda, em sua forma ácida, assuntos sérios que são assustadoramente reais, a comédia fica por ali mesmo e faz  os espectadores (não todos, infelizmente) pensar.

Como eu disse lá pelo meio do texto, Borat: Fita de cinema seguinte não tem o mesmo impacto do primeiro filme, mas é tão importante e tão necessário como o seu antecessor. Arrisco dizer que ele é até mais importante, dado o momento em que vivemos. Tornando-se assim um dos melhores filmes do ano. E com um final totalmente genial!

Categorias
Cinema Entretenimento Tela Quente

A Vastidão da Noite: Uma Homenagem aos Clássicos

A Vastidão da Noite (The Vast of Night) foi lançado originalmente ano passado, no festival Slamdance e foi bastante aclamado pelo público. Neste ano, a Amazon adquiriu os direitos de distribuição e o filme chegou recentemente no serviço de streaming, Prime Video. O longa apresenta um excelente roteiro e se solidifica como uma ótima homenagem aos clássicos como a série The Twilight Zone de 1959, Contatos Imediatos de Terceiro Grau (dir: Steven Spielberg), dentre outros do gênero sci-fi.

The Vast of Night: Confira o trailer do filme sobre aparição de ...

A trama de passa em uma pequena cidade, durante a década de 50 e se desenrola durante uma noite. Durante os eventos está ocorrendo um jogo de basquete local e, enquanto o longa de desenrola, acompanhamos o radialista Everett e Fay, a operadora da central telefônica. Após perceberem uma frequência de rádio estranha e receberem ligações de diferentes pessoas relatando um objeto não identificado nos céus, ambos decidem investigar o que está acontecendo.

O longa é o primeiro dirigido por Andrew Patterson e se apresenta como um excelente autoral. Com baixo orçamento, o diretor conseguiu criar uma trama sustentada através dos personagens e da tensão criada através da fotografia e de sua edição. Em conjunto com a sua estética e sua ambientação, o filme prende o telespectador e cria uma boa imersão para que o mesmo se sinta intrigado com a situação – mesmo com a ausência de efeitos especiais.

The Vast of Night (2019) | Crítica De Cinema | CineAddiction

O único problema do longa é que ele pode se apresentar arrastado em alguns momentos, isso pois ele se sustenta apenas nos diálogos dos personagens e nos eventos que estão sendo anunciados pelos ouvintes da rádio através de ligações para a central. Entretanto, o filme apresenta a duração certa de exibição para que o telespectador não se sinta entediado e o mesmo poderia ser um excelente episódio de uma série do gênero.

É bem complicado fazer uma crítica sobre o longa sem expor muito sobre sua trama e a experiência que o público virá a ter durante sua exibição e, caso isso seja feito, o filme perderá completamente a graça. Entretanto, mesmo que não tenha tido tanta divulgação por parte da Amazon Prime Video, A Vastidão da Noite é um excelente trabalho autoral que, apesar de suas limitações orçamentárias, consegue trazer uma experiência sólida ao telespectador e se torna um bom filme do gênero. Além disso, é uma linda homenagem aos clássicos que consolidaram o sci-fi no que ele é atualmente.

Nota: 4/5

No período da Guerra Fria, enquanto acontece a corrida espacial entre os Estados Unidos e a União Soviética, dois adolescentes de uma cidadezinha americana são obcecados pelo rádio. Quando eles descobrem uma estranha frequência de ondas aéreas, suas vidas e o mundo inteiro podem estar prestes a mudar drasticamente.

O longa está disponível na Amazon Prime Video.