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O Hulk de Ang Lee

Sem dúvida alguma o Hulk, alter ego de Bruce Banner, é um personagem bastante conhecido pelos fãs de quadrinhos e dos filmes de heróis. Atualmente vivido por Mark Ruffalo no cinema, o personagem foi criado por Stan Lee e por Jack Kirby tendo sua primeira aparição no quadrinho The Incredible Hulk nº1 em 1962.

O Gigante Esmeralda que conhecemos era para ser cinza, entretanto, por conta de erros na gráfica ganhou a coloração esverdeada e, além disso, sua criação foi inspirada no clássico ”O Médico e o Monstro” de Robert Louis Stevenson. Em sua origem dos quadrinhos, o Hulk nasceu através de um teste militar após Bruce Banner salvar um jovem que estava na área no momento errado – como resultado, a explosão de raios gama fez com que o doutor não morresse, mas sim se transformasse no monstro que conhecemos.

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Em 2003, o personagem ganhou uma nova adaptação para os cinemas – nova, pois anteriormente já havia uma série de televisão e filmes do personagem com outros grandes nomes da editora como Thor e o Demolidor – dirigida por Ang Lee, diretor responsável por filmes conhecidos como O Tigre e o Dragão, As Aventuras de Pi e Projeto Gemini. Na época, o cinema de Heróis como conhecemos hoje estava em sua fase inicial com X-Men (2000; dir: Bryan Singer) e Homem-Aranha (2002; dir: Sam Raimi), sendo estes em conjunto com Hulk e outros títulos da época podendo ser considerados até uma espécie de vanguarda do gênero, afinal, é inegável que os elementos que deram certos nestes longas foram aproveitados em diversos títulos atuais.

Em Hulk, Ang Lee criou um filme autoral ao mesmo tempo que fez a adaptação dos quadrinhos. A narrativa caminha em uma frágil linha entre o rídiculo e o dramático, acertando bem no seu tom e não se comprometendo, tornando-se fielmente cartunesco. Para isso, o diretor usou em sua fotografia cores vivas e em sua edição divisão de quadros para dar a sensação de que o espectador está lendo uma história em quadrinhos. Em um determinado momento do filme ainda, o corte de uma cena para outra simular uma troca de página. Atualmente, junto com alguns efeitos visuais, esse momento envelheceu mal – entretanto é uma excelente cartada utilizada pelo diretor e é uma passagem bem interessante de se observar.

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Na trama, houveram algumas modificações em relação a origem do verdão: seu pai, David Banner, trabalhava para o exército e experimentou em si próprio um soro criado para melhorar o soldado. Com isso, ele acaba passando para o seu filho. Alguns anos depois, Bruce Banner não se lembra de seu passado e, trabalhando junto com Betty Ross, sofre o acidente com a radiação gama. Após isso, todos já sabem o que acontece: o General Ross entra em cena e quer caçar o monstro verde a todo custo para usá-lo como arma militar. Junto com isso, seu pai reaparece e Bruce descobre o que houve em seu passado.

O diretor foca mais no drama entre pais e filhos e em como isso influecia no desenvolvimento do Hulk do que no comportamento destrutivo do herói e isto, talvez, tenha sido o motivo de rejeição do filme na época. Lee se preocupa mais em mostrar a tragédia presente na vida dos personagens e em como Bruce está lidando com o retorno de seu pai abusivo e com o surgimento de sua segunda personalidade do que em mostrar cenas de ação onde o Hulk, literalmente, esmaga.

O CGI do Hulk também foi um ponto que provavelmente trouxe as críticas negativas ao longa, visto que pela limitação da época não dava para se esperar um visual excelente (como visto em seus sucessores, O Incrível Hulk, de 2008 e em Os Vingadores, de 2012). Porém, depois da segunda transformação, o telespectador se acostuma com o visual. Uma curiosidade é que durante a primeira transformação, a cor do Hulk é meio acizentada por conta da história citada na introdução deste artigo.

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Mesmo com um CGI limitado, o filme apresenta boas sequências de ação como a primeira transformação de Bruce em Hulk e sua fuga pelo deserto. Porém, o confronto final entre o protagonista e o vilão foi extremamente fraco e deixou a desejar. A escolha de vilão também não ajudou muito, o Homem-Absorvente tem o poder de – como o nome já fala – absorver qualquer material da natureza e com os recursos limitados era evidente que não seria bem aplicado. Entretanto, no fim das contas, funciona. Um último elemento que ajuda a compor o longa de Ang Lee é a trilha sonora feita por Danny Elfman, que combina perfeitamente com o personagem e com a tensão e o tom dramático do longa.

Por mais que o Hulk de Ang Lee tenha tido uma baixa bilheteria e recebido críticas negativas há 17 anos atrás, é inegável que sua montagem cartunesca inspirou diversos filmes, como por exemplo Scott Pilgrim Contra o Mundo (2010; dir: Edgar Wright). Além disso, mesmo que tenha envelhecido mal por conta de seus efeitos visuais e sua edição, o longa apresenta uma excelente releitura do Hulk e um ótimo estudo de personagem e sua relação com Betty Ross, General Ross e seu pai. Hulk merece mais atenção, pois é uma experiência extremamente divertida e única com os fãs do gênero ao mostrar uma das inspirações do que conhecemos hoje nos filmes baseados em histórias de quadrinhos.

 

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Projeto Gemini é simples, porém pioneiro e revolucionário

Três anos após seu último filme, Ang Lee volta às telas de cinema com o seu novo espetáculo visual, Projeto Gemini, filme que havia sido engavetado pela Disney nos anos 90. No filme, Henry Brogan (Will Smith) é o melhor assassino profissional do mundo, com uma taxa de sucesso maior do que de qualquer outro, mas, quando decide se aposentar, acaba se tornando um alvo da Agência de Inteligência de Defesa dos Estados Unidos, para quem trabalhava anteriormente. Enquanto luta para se manter vivo, ele se depara com um clone de si mesmo e descobre que as ações do governo americano são para esconder um grande segredo, que só Brogan, com toda sua experiência, é capaz de desmascarar.

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Em termos de história, é algo bem simples, é uma trama rasa e que provavelmente funcionaria melhor no passado, mas não que isso seja um problema. É melhor que tenhamos algo bem estruturado do que uma trama pretenciosa que deixa inúmeros furos. Como dito, o filme tem um tom de filmes nostálgicos de ação, principalmente por ter sido desenvolvido nos anos 90 (O filme havia ido para a ‘geladeira’ pois, na época, os efeitos visuais não eram bons o suficiente para reproduzir o que o filme queria passar).

Um problema no filme é explicar demais, todo momento somos apresentados à algo que cedo ou tarde receberá uma explicação enorme, algo que o próprio espectador poderia deduzir sozinho. Uma coisa ruim também, é que eles não explicam a coisa que motiva o filme: Não falam de como o clone do Henry foi criado. Isso é algo que incomoda, mesmo eles fazendo uma longa explicação sobre toda vida do clone, não explicam como ele foi criado.

Os diálogos são coisas bem superficiais também, muitos não tão bem feitos, porém, alguns até memoráveis. O longa sabe trabalhar muito bem seu tempo, cenas de luta, ação, comédia, drama, todas se encaixam como uma luva. Mais uma vez provando que, ser simples não significa ser ruim.


O elenco do filme também tem um grande destaque nesse filme. Will Smith na maioria do filme tem uma atuação aceitável, é como se fosse o mesmo padrão dele em todos os filmes de ação, porém, em cenas mais dramáticas, o ator consegue entregar uma carga emocional no ponto certo, e funciona de forma esplêndida.

Então, somos apresentados a Danny, personagem interpretada pela Mary Elizabeth Winstead, e sinceramente, ela rouba todas as cenas que aparece. Carismática, com uma atuação muito bem feita pela Winstead, ela é a melhor personagem do filme, junto com o Júnior, o clone do protagonista. E é engraçado pensar que, o personagem interpretado por Benedict Wong, Baron, era para ser um personagem feito para o alívio cômico, acaba competindo com a Danny para ver quem consegue conquistar mais o público; isso é bom, já que os dois fazem seu papel com maestria.


Agora, a parte mais importante de todo filme, seus efeitos especiais. O quê tem de tão especial nos efeitos visuais do filme? Uma tecnologia pioneira chamada 3D+, e cenas de ação feitas com autenticidade.  Mas, o que é o 3D+?

Desde o início do cinema, todos filmes eram projetados a 24 quadros por segundo, o que se tornou um padrão em todo audiovisual. Porém, em Projeto Gemini, o longa foi filmado em 120 quadros por segundo, e nas salas de cinema onde o 3D+ está disponível, o filme é exibido em 60 quadros, mais que o dobro da taxa tradicional. As imagens se assemelham muito à sensação de estar jogando um video-game, e como o efeito consegue trazer mais imagens, existe muito mais profundidade, assim deixando o espectador mais imerso e com maior desfrutação das cenas. Isso, além de conseguir passar o espetáculo visual que Ang Lee queria, se prova sendo uma das experiências mais imersivas que se tem no cinema atualmente. E quem odeia sessões 3D, não precisa ter medo ao assistir esse filme, pois vale muito ver nesse formato.

Inicialmente, pode-se até causar um grande estranhamento ao assistir o longa nesse formato, a fotografia é mais limitada, a movimentação de câmeras são bem diferentes, mas isso não é algo ruim. É pioneiro, e devemos aprender a respeitar isso. Então, antes de ir assistir o filme, certifique-se que o seu cinema oferece a opção 3D+, pois é a melhor maneira de ter uma experiência única. É uma diferença brutal do 2D para o 3D+, são visões extremamente diferentes.

E falando dos efeitos de rejuvenescimento que utilizaram no Will Smith, está simplesmente fantástico, assim como os efeitos em um todo. As primeiras cenas com o clone jovem do protagonista podem dar um sentimento ambíguo em um primeiro momento, mas ao longo do filme, o efeito melhora e acaba se tornando uma das partes mais marcantes.
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Em termos técnicos, o filme também acerta. Nele temos uma boa trilha-sonora, que funciona em todas as cenas, algo que impressiona e ajuda bastante na imersão que o diretor quis passar. A edição do filme também não conflita, e nem cria problemas, é bem feita.

Algo que pode dividir opiniões, se dá na hora da direção e fotografia, logo que é extremamente fora de um padrão já criado no audiovisual. Pode agradar muita gente, ou pode gerar um belo estranhamento. Pensando no que Lee queria passar no longa, toda essa nova imersão inovadora, eu acredito que funciona, e que futuramente terá uma enorme evolução quanto esse assunto. Mesmo limitado por tais quesitos, o filme não deixa de criar cenas bonitas, mesmo sem um filtro ou coisas do gênero, a fotografia é bem limpa e também tem um tratamento visual que funciona com o tom que o filme passa.

Em suma, o filme de certa forma funciona, tem seus momentos e tem seus erros. Mesmo apresentando um roteiro um tanto ultrapassado, ele diverte e cumpre seu papel em entreter o espectador. A tecnologia e a inovação que o filme traz em sua bagagem também é única e merece seu devido respeito, querendo ou não, o longa já entrou na história do cinema e do audiovisual, mais uma vez, Ang Lee fazendo história. É o primeiro filme a ter essa tecnologia, e com certeza veremos os filmes de heróis utilizando isso no futuro.

Se quiser se aprofundar mais na história apresentada, juntamente ao longa, o livro contando a história mais aprofundada e mostrando um pouco mais dos personagens será lançado dia 16 de outubro. Agradecendo a Paramount Brasil, que nos disponibilizou uma edição, é possivel comparar com o filme e as cenas são extremamente fiéis, com uma diferença ou outra, é mais um modo de se envolver no universo do filme.

Nota: 3,5/5