Atelier Ryza: Ever Darkness & the Secret Hideout é o vigésimo primeiro jogo na franquia de RPG da Gust que existe desde o primeiro PlayStation.
A série Atelier em geral se destaca dos demais JRPGs pelo simples fato de que, suas histórias normalmente são simples e mais calmas. Como um anime de cotidiano. As personagens tendem a serem donas (ou trabalharem em um) de um Atelier onde fazem alquimia e essa acaba sendo por boa parte o que dita a história. Obviamente existem jogos na série com plots mais sérios, mas normalmente o que a série tem a oferecer são garotas bonitas fazendo alquimia e interagindo com as pessoas na cidade. Mas Atelier Ryza é diferente nesse quesito?
Essa review foi escrita por Luís Silva.
Essa é uma pergunta complicada de se responder, porque a resposta verdadeira seria sim e não. Sim porque ele tem um foco enorme em sua narrativa, e até demora bastante para liberar o Atelier. E não porque, por mais que tenha esse foco na história e narrativa, o jogo ainda tem a vibe calma e aconchegante dos outros da série e ainda se usa a alquimia para criar itens que ajudaram no combate, exploração e em side quests. Mas vamos por partes.
Em quesito de gameplay, o que deve se esperar de Atelier Ryza?
Podemos dizer que existem três variantes de gameplay. A exploração e coleta de materiais para alquimia, o combate e o coração da série que é a criação de itens através da alquimia. A exploração é simples, você controla Ryza no mundo, e anda pela sua vila, campos abertos, matas, vulcões, etc. e enquanto coleta materiais que ficam espalhados no mapa e que são identificáveis por brilharem.
E nessa etapa de coleta de materiais, temos uma adição nova a serie nesse jogo, que são as ferramentas. Ferramentas essas que o jogador tem acesso ao criá-las. As ferramentas funcionam de maneira simples, após criar uma, você deve equipá-la pelo menu (e lembre-se de fazer isso dentro de seu atelier, pois quando sair dele, não poderá equipar elas até retornar ao mesmo), e cada ferramenta tem seu próprio uso. O machado corta arvores, o martelo quebra pedras e assim por diante. Porém, vários locais de coleta podem ser utilizados com ferramentas diferentes e isso vai resultar em itens coletados diferentes no mesmo ponto. Então, no inicio do jogo, é extremamente recomendável que se crie as ferramentas disponíveis para aumentar sua capacidade de coleta de materiais o mais rápido possível.
Um adendo é que basicamente todas as ferramentas ficam disponíveis para criação logo de cara, porém alguns itens não são encontrados até mais para frente no jogo, então não adianta ficar desesperado procurando aquele item que você ainda não tem, porque muito provavelmente ele só ficara disponível em uma área mais avançada.
Além da coleta, que acontece tanto em áreas seguras (como a vila que serve como hub do jogo) como em áreas com monstros, é possível pegar varias side quests com NPCs da cidade. Existem basicamente quatro tipos diferentes de sidequests, que são: conversar com o NPC que dá a quest (essas que são as mais rápidas, simples e com a menor recompensa disponível, mas que serve para preparar o terreno para outras quests que aquele NPC vai entregar), conversar com pessoas na cidade, normalmente tem o padrão de conversar com três NPCs sem nome e depois retornar para a pessoa que deu a quest e receber a recompensa, tem quests de extermínio de monstros, que são autoexplicativas e por último, a grande maioria e que entregam as maiores recompensas são as quests em que o NPC pede para que Ryza criar um item especifico utilizando de alquimia.
Por mais que passe a impressão de simplesmente serem fetch quests, eu recomendo que façam o máximo que poderem, pois as recompensas são itens com qualidade extremamente alta e que vão ajudar demais na sua alquimia.
E falando na alquimia, temos a estrela da série: a criação de itens. Muitas pessoas acabam ficando com o pé atrás com a série por ter um foco tão grande em criação de itens, mas como a base do jogo foi criada em volta desse sistema, ele funciona bem demais. Mas como funciona esse sistema de criação de itens?
Quando o jogador interage com o caldeirão, ele será levado para a interface de criação de itens, onde em primeiro lugar, se deve escolher a receita do item (essas que são adquiridas através da história, comprando livros em lojas ou como recompensa de side quest). Após escolher a receita, você será jogado em uma espécie de “mapa” parecido com o sphere grid de Final Fantasy X. Nessa área estão todos os matérias necessários para criar o item e além dos matérias mínimos necessários também é possível colocar materiais que melhoraram a qualidade do produto final. Existe uma espécie de link de um quadrado ao outro, que conforme mais materiais forem utilizados, mais vão se abrindo e por consequência melhor será o produto final. Pode parecer complicado lendo assim, porém quando se tem acesso é muito simples e prático. Fora que, caso você não esteja afim de escolher manualmente todos os matérias para criar tal item, o jogo oferece uma função de criação automática, onde você apenas escolhe se quer um item de qualidade alta ou baixa.
Existem também “receitas mutadas”, que é basicamente, você escolher criar um item, e durante o grid desse item seguir um caminho onde liga a uma outra receita. Se fizer isso, o item que será criado não será primeiro escolhido e sim esse do caminho novo. Dessa forma liberando a receita padrão dele. Tente sempre usar isso, pois as armas e equipamentos mais fortes estão disponíveis apenas assim. Não deixa que a explicação complexa e confusa o assuste, o sistema é bem simples uma vez que se pega e possui muitas opções de customização para o mesmo item. É algo viciante ficar criando itens e foram horas perdidas apenas nisso, coletando materiais para criar um item para poder criar outro item e assim por adiante. É facilmente a parte mais divertida do jogo.
E enfim chegamos no combate. Atelier Ryza abandonou o combate por turnos básico da série e optou por algo mais próximo do ATB. No começo esse combate leva um tempo pra se acostumar, mas depois de um tempo, ele simplesmente funciona. Porém não é nada excepcional.
Durante o combate se tem três personagens e eles atacam automaticamente caso não se esteja controlando-os. É possível controlar a party inteira, mas é algo tão frenético que depois de um tempo eu deixei que a IA cuidasse dos outros personagens, utilizando-os apenas em momentos específicos. Cada ação durante o combate é ligada a um botão do controle, sendo círculo o ataque básica, X se mover no campo de batalha, quadrado utilizar itens e triângulo são as skills dos personagens.
Existe também a barra de AP. Essa barra é utilizada tanto para subir o nível de táticas quanto para executar as skills. Ataques normais recuperam AP. Subindo o nível de táticas, não só se abre mais possibilidades de combos de ataque normais, que funcionam como uma espécie de QTE, como também afetam skills, que ficam mais fortes dependendo do nível de tática. Para utilizar itens primeiro deve-se equipa-los no atelier. Um fator importante a se considerar é que os itens não tem um limite, mas sim um contador chamado Core Charge ou simplesmente CC. Cada item utiliza um valor próprio do CC e quando chegar a zero, não se pode mais usar item nenhum. Porém pode-se utilizar um dos itens equipados para recuperar o total de CC, mas tal item ficará indisponível para uso até retornar ao Atelier, então deve-se pensar bem em quando se deve utilizar e qual item “sacrificar” para recuperar.
Durante as batalhas, seus companheiros pediram para você realizar uma ação, desde atacar com magia, usar itens, diminuir status dos oponentes entre vários outros tipos, e caso seja concluído, o personagem executara uma espécie de golpe especial. Então fique sempre atento ao que eles pedem, pois pode acabar determinando o resultado da batalha.
Em questão gráficas, no PlayStation 4 normal o jogo roda liso sem nenhuma queda de frames e é bem bonito. Não é nada surpreendente, mas tanto o cenário quanto o modelo dos personagens principais são bem feitos e agradam aos olhos. O que não agrada são as animações durante as cutscenes. São travadas, e em boa parte do tempo, sem vida. A dublagem passa toda uma emoção na fala, porem o modelo 3D dos personagens não consegue representar isso visualmente.
Mas o aspecto técnico em que o jogo brilha mesmo é em sua trilha sonora. Os compositores da Gust estão de parabéns pelas ótimas músicas. Toda música combina com o ambiente em que tocam e são muito boas, e destaque especial para o tema de batalha normal e o tema de boss. São facilmente um dos melhores que o gênero tem a oferecer em memória recente.
E finalmente, sobre a história do jogo, ela funciona. É simples e cumpre seu objetivo. Os personagens principais são carismáticos e conseguem carregar a trama, e os secundários tem o seu charme. É interessante ver a resolução dos conflitos de cada e como crescem durante a jornada. Porém vale ressaltar que por boa parte do tempo todo o roteiro segue uma pegada mais para o lado do slice of life, então pessoas que não gostam do gênero podem se incomodam pelo fato de que o plot não está andando a todo momento.
Vale ressaltar também que, se fizer apenas a história principal, o jogo é relativamente curto, podendo chegar a ter menos de 25 horas de duração, mas não recomendo isso, pois existem também historias nas side quests, que conforme vai fazendo, uma vai ligando a outra em suas histórias, pois como toda cidade pequena, na vila todos se conhecem, então houveram vários momentos que eu fui surpreendi pela rota que a side quest daquele NPC pegou.
Atelier Ryza é um bom jogo, que abraça tanto quem é novato pela serie quanto quem é fã de longa data. O sistema de alquimia é robusto e pode parecer assustador, mas se apresenta de maneira gradual e é fácil de se acostumar. O combate em tempo real pode ser um ponto negativo para alguns, principalmente em dificuldades mais altas, porém não é de todo mal, apenas precisa de um pouco de prática. Com personagens carismáticos e uma historia que é interessante o suficiente pra manter o jogador interessado, ambientações lindas (mesmo com NPCs e animação no geral horríveis) e com uma trilha sonora fenomenal, Atelier Ryza: Ever Darkness & the Secret Hideout é um jogo que com certeza vai manter os fãs da franquia e vai chamar muito mais pessoas para a mesma, independente de ter sido pela ideia inicial de um par de coxas bonitas.
Agradecimentos à Koei Tecmo pelo envio do código para análise. O jogo será lançado no dia 29 de outubro para PlayStation 4, Nintendo Switch e PC. Novamente, a review foi feita por Luís Silva.
Ouro – Recomendável