Canil é um amadurecimento. Ou pelo menos tem um gosto de amadurecimento. Além do sabor de horror e sangue. Mas a HQ que encerra a trilogia de terror de Marcel Bartholo e Rodrigo Ramos abrilhanta com uma evolução a série que começou em Carniça, continuou em Lama e termina agora. Essa parceria, uma das mais talentosas dos quadrinhos nacionais na atualidade, rendeu o selo Carniça Quadrinhos, abrindo um leque para o horizonte nas produções do gênero.
O amadurecimento que Canil traz para a trilogia, e muito fundamentada com a base da ousadia. A série tem essa marca de criticar e expor mazelas da sociedade e dos maus tratos de seus governantes ou então das grandes empresas e seus conglomerados milionários. Canil não fica atrás e apresenta uma critica social onde envolve, política, ego, abuso de menor, crime organizado e o corrupto sistema carcerário. E no meio disso tudo ainda temos espíritos e o mito da licantropia sendo explorado. E com uma ousadia de inovar em um lobisomen original, monstruoso e único.
Fica impossível analisar o roteiro de Rodrigo Ramos sem mesclar com a arte de Marcel Bartholo. Impossível. Assim como queijo com goiabada, é incrível como eles se completam. O roteiro do Rodrigo é reto e sem firulas. Você assimila bem o que está sendo proposto principalmente na metáfora do Homem e a Besta-Fera Interior. Um rapaz condenado vivendo em uma prisão, quando na realidade a verdadeira prisão é ele mesmo. A agonia, o medo e o prazer depois de transformado é repassado na narrativa de Canil. Assim como o pavor dos outros detentos e oficiais da prisão.
E todo esse horror, agonia, terror e prazer depois da transformação, é bem reproduzida na arte do Marcel Bartholo, que está entre um dos melhores desenhistas nacionais. O olhar profundo e sem esperança do jovem amaldiçoado é como uma prisão, um canil, durante a sua estadia na cela enquanto luta contra o seu monstro interior e entrega sua desistência para a vida exterior. Os obscuros cenários com o tom vermelho sangue, em alguns momentos incomoda. Passa desconforto. Como toda prisão brasileira passa com seu falido sistema. É tenebroso e assustador a sequência após a transformação e o Lobisomem atacando os outros presos e guardas.
Como dito antes arte e roteiro fazem um casamento perfeito em Canil, e acaba transformando a HQ na mais madura em termos de roteiro e arte da Trilogia. Assim como Rodrigo Ramos e Marcel Bartholo repassam esse amadurecimento para o leitor com uma história que traz critica social, terror e repulsa. Tradicional característica da Trilogia Carniça.
Carniça, Lama e Canil podem ser adquiridas no site e pelas redes sociais dos artistas. Links abaixo: