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Gideon Falls | A Trinca de Terror, Mistério e Loucura do Celeiro Negro

Quando eu comecei a ler Gideon Falls – Vol. 1 – O Celeiro Negro, eu meio que já esperava o que estava por vir. O material em minhas mãos pulsava em induzir-me para uma trama de mistérios, terror e suspense. Bem, devo dizer que Gideon Falls tem um bocado dessas coisas, e tem outras coisas emboladas. Coisas boas e coisas ruins. O clima que esperamos na publicação é real. Um mistério meio que sufocante criado pelo roteirista Jeff Lemire, vai ditando uma narrativa que assemelha à filmes de suspense ou então a mais nova onda de séries de TV sombrias com o clássico Além da Imaginação. Existem momentos em que você pensa se vale a pena dá uma pausa, ir para uma outra leitura mais leve, ou então continuar. Principalmente se você ler como eu fiz as duas da madrugada. O suspense de Gideon Falls nem é tão aterrorizante assim, mas toda a sua construção, principalmente nos traços do (genial) Andrea Sorrentino, colaboram com o desenvolver de toda a trama.

A trama de Gideon Falls – Vol. 1 – O Celeiro Negro é contada a partir de duas narrativas. A do jovem Norton, ambientada em uma grande cidade, que tem em sua paranoia o Celeiro Negro, ele vive a revirar lixo atrás de artefatos ou pedaços que possam comprovar que não é louco. Ao mesmo tempo ele tem um acompanhamento psiquiátrico da jovem Dr. Xu, que com o passar da trama se vê envolvida na loucura ou possível realidade de Norton. A outra narrativa é do Padre Wilfred. Que chega na pequena cidade de Gideon Falls para substituir o antigo pároco. Wilfred é um sacerdote que tem em sua bagagem um passado nebuloso e desviado da Igreja Católica, e ficar de frente à comunidade cristã da pequena cidade, esquecida pelo mundo, lhe parece mais um castigo do que uma dádiva.

As duas tramas vão se misturando na medida em que o misterioso imóvel fantasmagórico vai fazendo suas aparições e a influência da lenda vai minando cada vez mais a história. A grande sacada de Lemire é criar a dúvida entre as duas tramas, enquanto uma vai apresentando momentos de insanidade, de conto da carochinha, a outra vai nos convencendo que o Celeiro Negro realmente existe.

Norton

O ponto negativo fica para o excesso de clichês que vão conduzindo a história. A própria dupla de protagonistas são clichês clássicos. Um padre que perdeu a fé. Um homem que não se sabe se é louco ou se está falando a verdade. Ainda temos uma psiquiatra que se envolve com o paciente, um velho que investiga o Celeiro Negro e todos o consideram maluco, uma policial emocionalmente envolvida com o mistério do imóvel fantasmagórico e que ao mesmo tempo não acredita nele e uma trama da igreja por trás disso tudo. Até mesmo um grande plot mais perto do final é meio que óbvio, mas pode parecer brincadeira, ele parece ser óbvio de propósito até. Jeff Lemire abusou de tipos que são comuns em diversas outras histórias para serem os condutores de sua trama, mas confesso que “ponto negativo” é algo meio que forte até pode soar como um baita defeito, mas o roteirista escreve muito bem os personagens, e tenta ao máximo tirar todos eles do lugar comum que geralmente são introduzidos. Essa construção do clichê para algo diferenciado se deve muito ao Sorrentino.

Padre Wilfred

Como dito aqui antes, os traços de Andrea Sorrentino são únicos. Eles ditam até as características emocionais e psíquicas dos personagens, como por exemplo Norton. Que sempre está com uma máscara cirúrgica e nunca aparece o seu rosto. O roteiro de Jeff Lemire é bem contado e desenvolvido graças as técnicas que o desenhista usa. A diagramação e os quadros ajudam nos momentos sufocantes da trama, fazendo elevar a expectativa pela próxima página. E ao mesmo tempo, nos momentos de calmaria fazem nossos olhos relaxarem. Vale ressaltar também o fabuloso trabalho de colorização de Dave Stewart. Conhecido pelas cores em Hellboy, Stewart fez das cores personagens à parte. Existem momentos em que estamos acompanhando um devaneio de Norton vendo a sua insanidade cinzenta bem ameno, ou um momento em que o Padre Wilfred está simplesmente conversando em tons pasteis atrativos para os olhos, e ao virar a página no momento de tensão em que o roteiro demanda, um tom vermelho sangue salta para cima do leitor. A colorização é uma das engrenagens que fazem o roteiro funcionar.

Eu não saberia dizer se a história que Jeff Lemire quis contar em Gideon Falls seria possível sem Andrea Sorrentino e o Dave Stewart, acho que o bolo final sem esses ingredientes ficaria sem sabor. Mas a soma dos três, vão conduzindo o leitor pela a história o segurando até o fim, valendo totalmente o investimento. Alguns leitores podem começar a leitura esperando com algo mais hardcore sendo entregue logo de início. Mas não é assim em Gideon Falls. A trama é toda uma construção, com suspense, ora com viés de terror, ora com viés psicológico.

Gideon Falls – Vol.1 – O Celeiro Negro tem formato 26,6 X 17,2 cm, 160 páginas e capa dura. No Brasil, a publicação está sendo pela editora Mino, que recentemente lançou o Volume dois.