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Cowboy Bebop e sua restrição à fidelidade visual

Eu sempre tive uma curiosidade muito grande para assistir Cowboy Bebop, afinal, todos dentro do meu ciclo de amizades em fóruns na internet comentavam sobre esta grande obra de Shinichiro Watanabe. Porém, nunca tive um certo tempo para assistir – até o anúncio da Netflix sobre a produção de seu live-action. Dessa forma, decidi assistir as duas versões em conjunto para formar uma opinião a respeito de sua adaptação e, bem, até que me surpreendi positivamente com a versão atual (claro, tem seus defeitos, mas não deixa de ser bom).

Resumindo de forma breve a minha opinião quanto ao material original lançado em 1998, o anime de Cowboy Bebop me cativou desde o primeiro episódio com a sua ambientação e com os personagens apresentados. A forma cuja a animação decide narrar a história dos protagonistas e a forma que você descobre sobre o passado de cada um com o decorrer dos episódios faz com que você se sinta imerso totalmente naquele universo e parte da própria tripulação.  Não só isso, como também toda a trama e a forma pelo qual é narrada em episódios únicos com uma aventura diferente conquista, além de toda a estética da obra.

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Pode-se dizer que, a animação de Cowboy Bebop é uma obra-prima única. Entretanto, sua adaptação live-action falha nesse sentido ao decidir se restringir apenas na fidelidade visual e na trama, cometendo graves erros em seu roteiro e em sua narrativa, entretanto, isso não significa que é uma adaptação ruim.

E, antes de discutir isso, devo dizer que considero uma falha a ideia de que uma adaptação precisa ser 100% fiel a obra original – caso contrário, o nome seria fidelização e não adaptação. E outra, quem iria querer ver a mesma história recontada de forma real? Só ver o caso de Rei Leão, que definitivamente é a ”adaptação mais fiel” em live-action de uma animação e foi bem medíocre. Enfim, acho este um conceito falho e que a adaptação tem que dar a total liberdade para o diretor mostrar a sua própria interpretação da obra original. Dito isso, vamos ao que interessa.

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Lançado neste mês de novembro na Netflix, o live-action de Cowboy Bebop segue a mesma trama e o mesmo objetivo que a animação japonesa: aqui, acompanhamos Spike Spiegel e Jet Black, dois caçadores de recompensa,  que viajam pela galáxia a bordo da Bebop em busca dos seus próximos alvos. Conforme a trama progride, temos a adição de Faye e do cachorrinho Ein no elenco dos protagonistas, todos estes com suas tramas passadas que se desenrolam conforme a narrativa progride.

A premissa e a trama da série live-action são praticamente as mesmas que estão presentes dentro da obra original e isso é observado logo no início com os frames e as aberturas idênticas aos da animação. Entretanto, a forma que a direção trabalha elas deixa bastante a desejar.

O principal interesse em continuar assistindo a animação é compreender mais sobre o misterioso passado dos protagonistas e como todos foram parar na situação presente, pontos que na adaptação são entregues na primeira oportunidade aparente para o telespectador, da forma mais mastigada possível. Dessa forma, não se cria um vínculo com eles e tudo passa despercebido.

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E são nítidas as falhas de roteiro e de direção quando se observa que o live-action de Cowboy Bebop adapta, dentro de dez episódios com quase uma hora cada, apenas cinco da animação original. E, dentro destes, repete tudo que foi observado a respeito dos personagens numa obrigação de que o telespectador entenda que ‘x’ é ‘x’ e ‘y’ é ‘y’, muitas vezes até mesmo subestimando a inteligência do próprio ao entregar toda sua essência de bandeja logo nos primeiros minutos.

Por último, diante de tantos defeitos, o pior está no vilão principal da obra. Vicious está totalmente descaracterizado (não fisicamente, mas sim em questão de desenvolvimento) e a interpretação de Alex Hassel para o personagem é medíocre. Não só isso, como também Julia e todas as interações e subtramas que envolvem ambos são deploráveis e deixam muito a desejar.

Porém, deixando de lado estes pontos negativos, a adaptação consegue trazer com maestria todos os elementos da obra original: a mistura de elementos sci-fi com western e jazz, a fotografia e os momentos icônicos da série. Não só isso, como também o trio de protagonistas apresentam uma química excelente e interpretam de forma única estes personagens em tela.

Neste caso, fica evidente que a adaptação de Cowboy Bebop se restringiu tanto em manter uma fidelidade visual e estética com a obra original que acabou se esquecendo de manter um bom roteiro e uma direção coesa. No fim, os principais elementos da obra original estão presentes e apresentam um charme único quando vistos em tela. É nítido que o live-action seria melhor caso seguisse às riscas o conceito da obra original de ser uma aventura espacial diferente a cada semana, entretanto, por mais que tenha seus defeitos, o título funciona bem e se prova como uma adaptação extremamente divertida de um excelente anime.

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Então, é bom?

Longe de ser perfeito ou considerada o melhor, o live-action de Cowboy Bebop consegue cumprir o seu papel como uma boa adaptação, entretanto, o seu foco em excesso na fidelidade visual restringe a obra e deixa de lado outros elementos técnicos importantes, principalmente em seu roteiro. Por mais que não deva agradar os fãs da obra original, que desejavam ver uma cópia idêntica, Cowboy Bebop é extremamente divertido e tem seu charme diante de tantas adaptações de animações japonesas.

Nota: 3/5