Em uma era de live-actions de desenhos e histórias queridas da infância, ou ainda o aprofundamento de vilões e suas histórias por trás da vilania, como Malévola -também da Disney– nos aproximamos da trajetória de Cruella de Vil dessa vez, anteriormente encarnada pela talentosíssima Glenn Close. Muitos facilmente deslizam e acabam desagradando o público ou ainda não despertando interesse, o que não se aplica à Cruella, o mais novo live-action do momento que conta a história da vilã do famoso desenho 101 dálmatas.
Dirigida por Craig Gillespie (Eu,Tonya), a trama narra a vida de Estella (Emma Stone), uma jovem vigarista que desde pequena é decidida a ser uma designer de moda. Com uma personalidade forte e criativa, ela chama a atenção de uma famosa e assustadora estilista, a Baronesa Von Hellmann (Emma Thompson), enquanto lida com seus traumas de infância, revelações e seu lado mais rebelde, sombrio e vingativo, a Cruella.
Já no começo é apresentado o perfil marcante e os eventos trágicos que marcaram a jornada da personagem, o que permite criar uma afinidade por ela apesar de já conhecermos seu histórico como vilã. Esse sentimento não é algo inusitado na história do cinema, visto que constantemente nos vemos mais interessados na história do antagonista do que do mocinho, como no filme Coringa (2019). Ao passo que assistimos a ascensão de Estella vemos também seu plano de vingança, sendo esse mais um fator que nos aproxima dela pelo desejo de justiça ao seu passado. Até pelo menos a metade do filme já se tem uma visão diferente quanto a protagonista, como uma anti-heroína e não vilã, o que se dá em grande parte pelo carisma da atriz. Além disso, suas aventuras com os dois amigos ladrões são cativantes, assim como a sua determinação em viver o seu sonho. Em adição, a construção dos personagens secundários possuem o necessário para estimular a simpatia do espectador, sem muitos excessos ou faltas. Tudo se desencadeia de uma forma excelente, com uma aura empolgante que se estabelece durante todo o filme.
O grande ponto positivo, sem dúvidas, é a escolha dos figurinos. Eles são o coração do longa, com uma extravagância perfeita que contrasta com o cinza de Londres, que por sua vez teve uma ótima ambientação e apresentação. Cada nova criação ou espetáculo da protagonista era mais marcante que a outra. O trabalho da produção de figurino foi realmente impecável e criativo, expressando a personalidade da história que será, sem sombra de dúvidas, uma grande referência quando se fala desse gênero. Além disso,a demonstração da era punk rock da década de 70, com o acompanhamento de uma trilha sonora ideal, harmonizou ainda mais o enredo.
Emma Stone claramente entrega tudo em sua atuação, que foi única e arrebatadora, sobretudo a partir da metade do filme. Apesar da personagem já ter sido interpretada por Glenn Close, Stone consegue dar um novo ar sem ser inferior, de maneira única que prova como ela se encaixou perfeitamente no papel. Assim como a performance de Emma Thompson que, como de costume, não deixa a desejar. A junção de duas atrizes tão talentosas foi mais um dos pontos altos, e a competição entre as duas intérpretes na trama é divertida e eletrizante, visto que as duas contracenam com uma ótima simetria.
Alguns dos pontos negativos se dão principalmente pelo CGI dos cães e de outras cenas, que ficaram um tanto toscas. Além de certas cenas muito arrastadas ou que não deveriam ter tanto tempo de tela, dando a sensação, às vezes, de algo enrolado.
Chega-se ao final e vemos uma Cruella perfeitamente encarnada, com seu tom de loucura e frieza que muito provavelmente não seria tão impecável sem Emma Stone no papel, que, com seu carisma e multifacetas entregou uma divertida live-action. Sob essa nova perspectiva da icônica vilã, sem a atmosfera pesada das animações antigas e do filme de 1996, o longa pode se consagrar como mais um dos acertos da Disney.
Nota: Ouro