O que acontece em Vegas, fica em Vegas?
Army of the Dead foi anunciado originalmente em 2008 e demorou 10 anos até que finalmente a Netflix adquirisse os direitos de produção e decidisse lançar o longa. Depois de tantos anos de espera, finalmente o longa foi lançado na plataforma de streaming com Zack Snyder em sua direção e sendo o responsável pelo primeiro filme de um universo que aparenta ter um futuro bem promissor.
No filme, Las Vegas é infestada de zumbis após um acidente envolvendo uma carga da Área 51. Depois desta introdução e diante de toda a tensão política envolvendo a situação e o planejamento de destruir a cidade com uma bomba nuclear acompanhamos Scott Ward, um ex-militar responsável pela evacuação da cidade no dia do acidente, e seu grupo de mercenários que tem como objetivo invadir e assaltar 200 milhões de dólares de um cassino. O tom do filme já é estabelecido nas primeiras cenas, apresentando a já tão conhecida e criticada assinatura do diretor que logo se torna diferente ao apresentar uma introdução colorida mostrando os primeiros acontecimentos da cidade.
A trama de Army of the Dead é bem simples e rasa, entretanto os ganchos gerados a partir dela não são e isso é notado não só na introdução do longa como também em diversos elementos espalhados durante sua exibição. O bom disso é que a história consegue ser bem desenvolvida sem precisar enrolar o telespectador com explicações desnecessárias durante a exibição. Infelizmente há arcos desnecessários que servem apenas para prolongar o tempo de duração, sendo aproximadamente três horas de filme. No fim, a história e sua conclusão são satisfatórias e deixam o telespectador curioso com o futuro deste universo.
Quanto aos personagens apresentados: suas motivações são extremamente superficiais e não geram carisma com o público. Aqui dedica-se um bom tempo de tela para introduzir eles mas não há desenvolvimento dos mesmos, o que sabemos sobre é que cada um tem uma habilidade específica para a situação onde por exemplo um é responsável por abrir cofres, outro pilota helicóptero e por aí vai. Não há preocupação em desenvolver mais do que isso, e é interessante pois a dinâmica do grupo funciona como se cada um fosse de uma classe diferente em um jogo de RPG, dando um certo aspecto de videogame ao filme semelhante ao visto na franquia Left 4 Dead ou até mesmo ao Payday. Resumindo, nenhum personagem se destaca fazendo com que o protagonista do filme seja de fato a cidade de Las Vegas e este grupo sirva apenas para conduzir uma das diversas histórias deste universo.O único problema deste falta de carisma por parte dos personagens é que gera arcos desnecessários como é o caso da relação entre o personagem de Dave Bautista e sua filha – não há desenvolvimento e acaba que seu término passa batido. No fim das contas, estes arcos tomam um tempo de tela desnecessário que prolonga a exibição do longa e não cumprem nenhum papel em específico na narrativa.
A fotografia do filme merece destaque: Snyder abandona aqui sua estética já conhecida e adota um tom mais colorido que torna o filme mais divertido e descompromissado com a seriedade. Além disso os efeitos estão sensacionais ao misturar efeitos práticos com CGI, trazendo maior naturalidade ao longa. Inclusive deve-se destacar a substituição no elenco feito de última hora: Tig Notaro entrou para a equipe ao invés de atrasar o filme com refilmagens e afins, o ator anterior foi substituído digitalmente pela atriz – sendo esta gravada em estúdio com telas verdes. Em alguns momentos se estranha essa substituição por conta da movimentação da atriz, mas é bem feito e quase não se nota durante a exibição.
O mais interessante no longa são os zumbis e suas dinâmicas: sendo semelhantes aos apresentados na adaptação do livro Eu sou a Lenda (2007) e do filme World War Z (2013), as criaturas se comportam de forma inteligente como se vivessem em uma colônia e com consciência de cada organização. Infelizmente não se explora tanto esse lado durante o filme, mas na introdução mesmo se explica de forma perfeita como a epidemia começou. Deixando mais perguntas do que respostas, fica óbvio os diversos ganchos deixados pelo diretor para responder futuramente em outras mídias.
É nítida também a liberdade autoral que Zack Snyder teve para conduzir o longa durante sua produção, passando pela estética e assinatura clássica do diretor até pelo desenvolvimento da trama sem nenhum corte que comprometesse o desenvolvimento da mesma. É sensacional ver aqui o que o diretor consegue fazer sem interferência de terceiros, comprovando que seu pior inimigo era sua parceria anterior. Para os fãs de seu trabalho, este filme é um prato cheio e marca sua nova trajetória no audiovisual junto ao seu corte de Liga da Justiça.
Então, é bom?
Army of the Dead é uma junção entre Esquadrão Suicida e Madrugada dos Mortos que consegue revigorar e homenagear o gênero com maestria. O longa cumpre tudo o que prometeu em seu marketing e entrega um blockbuster de zumbis digno de ser visto nos cinemas, onde o protagonista é Las Vegas propriamente dita e os personagens servem apenas como instrumentos para desenrolar a história deste mundo e deixar ganchos para sequências e prólogos. Em suma, Army of the Dead é um bom filme do gênero, divertido e que consegue entreter o telespectador deixando-o curioso para o que está por vir no futuro promissor deste filme.
Nota: 4/5 – Ouro