M. Night Shyamalan, desde sua estreia como diretor, sempre foi uma figura controversa no cinema: há quem o ame e quem o odeie, mas uma coisa é certa, ele já não carrega a mesma energia de outrora. Com o passar dos anos, essa exaustão tornou-se visível, especialmente em seu mais recente longa-metragem, Armadilha.
Mesmo apresentando uma trama relativamente simples, Armadilha tenta, de alguma forma, se destacar ao propor algo um pouco diferente. No entanto, a execução do filme se perde em meio a essa tentativa. O suspense, que inicialmente prende a atenção do espectador, gradualmente se desfaz, afundando em uma sucessão de previsibilidades que beiram o melodrama. Ele começa com força, mas logo se transforma em um desfile de previsibilidades e reviravoltas fáceis, tirando o impacto que poderia ter causado.
A grande questão com Armadilha não está em sua premissa, mas na incapacidade de Shyamalan de manter o ritmo e a tensão que ele inicialmente cria tão bem. O filme promete muito mais do que entrega, e a sensação é de que o diretor tenta replicar a fórmula de seus trabalhos mais icônicos, mas sem a mesma precisão e frescor. Isso faz com que Armadilha pareça uma sombra dos seus filmes anteriores, uma obra que tenta capturar a genialidade de seus melhores momentos, mas acaba ficando aquém.

Armadilha, com direção e roteiro por M. Night Shyamalan, segue Cooper (Josh Hartnett) e sua filha adolescente. Ambos estão em um show de música pop quando Cooper percebe a presença excessiva de policiais ao redor e isso o deixa inquieto. Rapidamente, ele consegue descobrir com a equipe que trabalha no local, que ambos estão no epicentro de uma armadilha montada para capturar um serial killer. O que deveria ser uma noite de diversão entre pai e filha, se transforma em uma luta desesperada pela sobrevivência, enquanto tentam escapar das garras do assassino que os cercou. Contudo, a verdade é que Cooper está fugindo dele mesmo. O filme acompanha a angustiante jornada de Cooper e sua filha enquanto são perseguidos implacavelmente, com uma trilha sonora que intensifica cada momento de suspense e adrenalina. Entre reviravoltas chocantes e confrontos emocionais, eles precisam encontrar uma maneira de desvendar o plano do assassino e sair vivos dessa situação desesperadora.
Ao longo de Armadilha, a previsibilidade se torna um obstáculo inescapável. Desde os primeiros momentos, o longa-metragenm parece prometer reviravoltas impactantes, mas Shyamalan escolhe os caminhos mais seguros, optando por soluções fáceis e desfechos que qualquer espectador mais atento já pode antever. Essa previsibilidade acaba minando o suspense que deveria ser o coração seu coração, deixando a sensação de que tudo está acontecendo de acordo com um roteiro já desgastado e sem frescor.
Shyamalan, em seus melhores momentos, sempre conseguiu subverter as expectativas do público, entregando finais inesperados que elevavam suas obras a outro patamar. No entanto, em Armadilha, ele parece perdido entre tentar repetir essa fórmula e inovar, mas acaba não fazendo nem uma coisa nem outra. As reviravoltas, quando chegam, não têm o impacto desejado, pois o filme se revela um exercício de fórmulas já saturadas. Essa falta de ousadia compromete a tensão e a surpresa, elementos essenciais para um bom thriller.
Além disso, o diretor comete o erro de subestimar a inteligência do público. O medo do desconhecido, que deveria manter o espectador à beira do assento, desaparece rapidamente, e o que sobra é uma sucessão de cenas que se arrastam sem emoção real.
Em vez de entregar um clímax memorável, Armadilha se contenta com uma conclusão insossa, que reafirma a falta de criatividade de Shyamalan nesta fase de sua carreira. As decisões pífias no roteiro e na direção transformam a obra em um trabalho que, apesar de competente em sua produção técnica, é incapaz de deixar uma marca duradoura.

Josh Hartnett, por sua vez, não é um ator sem talento, longe disso. Ele já demonstrou em outras produções a capacidade de criar personagens cativantes. No entanto, em Armadilha, ele sofre com uma caracterização que falha em causar o impacto necessário para seu papel. Hartnett entrega uma performance sólida, mas a construção de seu personagem é superficial e, por mais que ele tente transmitir ameaça ou pavor, a falta de profundidade no desenvolvimento do vilão faz com que o espectador não sinta medo genuíno.
A ausência de uma caracterização mais amedrontadora para o personagem de Hartnett também prejudica o envolvimento emocional do público. Em um thriller, o antagonista deve ser capaz de provocar tensão, mas aqui, ele acaba se tornando mais uma peça genérica em um quebra-cabeça previsível. Josh, apesar de sua dedicação, não consegue superar as limitações impostas pelo roteiro, e seu personagem acaba sendo uma figura sem peso.

No final das contas, Armadilha é mais uma prova de que Shyamalan, um cineasta outrora rentável, está preso em um ciclo de repetição e escolhas seguras que comprometem a originalidade de suas obras. Mesmo com uma premissa promissora e atores competentes como Josh Hartnett, o filme se perde em sua própria tentativa de ser mais do que realmente é. A previsibilidade e a falta de profundidade transformam Armadilha em uma experiência frustrante, uma que não causa o impacto esperado e que dificilmente será lembrada entre os grandes thrillers do gênero.
NOTA: 2,5/5